Entre aquelas quatro paredes não tinha braços, tinha uma espera imperatriz pela picada do senhor luzidio que me faria adormecer fatal.
Tentava com a força do corpo derrubar os muros brancos, mas era em vão, toda a força era em vão, toda a esperança era em vão.
Os arrepios percorriam-me o corpo quando pensava em ti, quando sabia que me tinhas deixado ali sem sequer te lembrares de nós.
Eu sei, eu deixei-me levar pelo brinquedo branco que encontraste um dia sobre o lavatório quando me viste desmaiada junto à cama, perdoa-me, eu não queria, mas foi inevitável, tu ias-te embora todas as manhãs deixando-me ali presa à espera do teu olhar, à espera dos beijos que nunca me deste. O frio instalava-se em mim, eram pedras de gelo que se entranhavam no meu peito e o brinquedo, oh, o brinquedo salvava-me de ti, ele fazia-me embriagar em lembranças que se tornavam reais por momentos, imaginava que estavas ali ao meu lado, deitado e sorrindo como nos primeiros tempos e brincavas com o meu corpo, os teus dedos mastigavam-me o corpo e eu sorria, eu sorria e mexia nos cabelos, mordia os lábios imaginando que eras tu que o fazias, oh, e sabia bem, sabia a tempo, amor e afecto.
Porque me fechaste entre as paredes brancas da morte?
les fleurs mortes.