... não haverá nada que me indique os caminhos na escuridão.
Caminhos esses que normalmente me levam até às melhores pessoas da vida.
O chão, seco e árido, sob os meus pés, encharca-se a cada passo meu, secando logo de seguida após a minha passagem. A minha pessoa chove incessantemente, qual mar infinito dentro de mim, é tudo parte da minha natureza de água e ar.
Caminhei sobre este deserto nocturno, escolhi um sítio para assentar e construí a minha cidadela, solitária, a minha vida, sob o Luar.
Com o passar dos anos, a areia, árida e infértil, deu lugar a largos lagos e plantações, fruto da minha constante chuva. A cidadela foi aumentando, conforme os meus horizontes e conhecimentos, a arquitectura alterou-se num leque de estilos diferentes, do Clássico ao Gótico, ao Barroco e ao Pós-Moderno. Desde Castelos a Igrejas, que jazem agora no chão, após derrocadas de Lógica e Razão.
No entanto, sentia-me sozinho. Abandonado neste mundo só meu. E, deixando os prados e mares para trás das costas, afastando-me da segurança e conforto da minha cidadela, parti à descoberta de outras cidades, de outras pessoas.
Segui o caminho que o Luar me indicou, encontrei inúmeras cidades, todas com estilo diferente do meu, todas diferentes e... no fundo, todas iguais. Conclui, então, que, no fundo, na total diferença uns dos outros, todas eram iguais. Todas as cidades, e suas naturezas, crescem, desenvolvem-se e unem-se a outras.
Em todas as cidades encontrei uma pessoa, diferente de mim próprio. Estudei-os a todos, procurei tornar-me amigo, alguns ergueram muralhas, de todas as formas e feitios, expulsando-me do seu território. Vou-me embora então, e procurar outra cidade, pensava para mim próprio. E assim fiz, sempre que encontrava alguma muralha, algo que me mostrasse que não era bem-vindo. Afinal, todos gostamos de um pouco de solidão de vez em quando.
Continuo na minha viagem, voltei várias vezes à minha cidadela inicial, pequena comparada com muitas que vi e conheci. Mas é minha. E sorrio sempre que lá retorno. É domínio meu, mas povoado por todas as pessoas que conheci, repleta de Embaixadas de todas as aldeias, vilas, cidades e metrópoles. Edifícios onde encontro todas as memórias, os conhecimentos, os contactos, as vivências com as pessoas.
Continuo a caminhar, sempre com o chão completamente encharcado sôb os meus pés. Pois afinal, esta doce e imaculada chuva nunca parou.
E desejo que nunca pare.
Joel David Rodrigues
4/12/2010