Não te temo!
Faz tempo que deixei de te temer!
Mesmo quando me entras pela porta dentro
Como um espinho
Como uma cuspideira
E me encontras sentado à lareira do desassossego
Sem lágrimas para chorar o desatino
De uma desilusão maior que eu!
Se abri as portas ao vento… Ele fustigou-me o rosto
Com a violência de um ciclone de sofrimento feito…
Se abri as janelas ao sol… Ele queimou-me a pele
Com o ardor de um vulcão em erupção…
Sim, estou aqui, mais uma vez só, como sempre o fui
Navegando nas águas agitadas de um desespero
Que a nenhum porto me conduz…
Levanto a cabeça e não tenho mar…!?
Houvesse alguém que entendesse a minha alma?
Se quero atravessar uma ponte, partem-se as tábuas…
Se quero aninhar-me num galho de árvore, quebra-se a pernada…
Neste descaminho que tem sido o meu destino
Contento-me com a sorte de já não querer mais nada!
Às vezes, entre uma esperança e outra, encontro fôlego
Para dar mais um passo na distância e no tempo,
Então acredito que a felicidade me aguarda num jardim
Sentada num banco de orvalhos e relento…
Engano-me! Simplesmente me engano! Não há fôlego!
O que há são martírios e ilusões cansadas de o serem
Promessas de alguma coisa que jamais se concretizará…
Já lá vai o tempo em que acreditava no amor…
Faço um pacto com a solidão:
Em troca de apenas uma lágrima
Ela não me fere mais o coração!
antónio casado