Mas sim... é a pura verdade, meus meninos, dizia o velho lobo, deitado na sua cama em palha, onde ele passou uma grande parte da sua vida.
-Mas, Avô, podes tu uma vez mais nos contar como esse grave acidente aconteceu? Sempre te vi deitado, como foi que isso se passou, avôsinho?
-Sim,sim, conta-nos, avô, disse um segundo pequeno lobito.
-Sim, sim, eu vou-vos contar tudo como vocês insistem... eu vou-vos contar como esta infelicidade aconteceu, como esta infelicidade se abateu sobre mim.
-Continua, continua, avô!
-Vocês, meus pequenitos, já ouviram falar de uma história de um dos nossos irmãos
que comeu uma avósinha, não é assim?
-Sim,sim, avô, já ouvimos falar dessa história, é verdade que ele comeu a avósinha?
-Mas não, meus queridos netos, mas não. Isso não passou de uma história maldosa para nos fazer passar por animais ferozes. Algum de vós, já comeu algum homem?
-Ah não, avô, nunca!
-Mas com certeza, meus meninos, nós comemos como os homens. Os homens procuram os animais
que em seguida matam nos campos, ou então criam-os nas quintas, para depois os matar e em seguida os comer, também os vendem para ganhar dinheiro, nós, como todos os outros animais, não podemos fazer a mesma coisa, nós precisamos de comer e nós caçamos outros animais, eu compreendo que é horrível de sermos obrigados a matar para nos sustentarmos, mas a vida é assim constituida.
O homem sempre afirmou que nós o atacamos, ora, isso é falso; nó, os lobos, não atacamos o homem, mais eles não gostam de nós porque vamos caçar as ovelhas.
-De acordo avô, mas diz-nos como te aconteceu esse grave acidente.
-Não estejam apressados, eu já estou velho, muito doente, deixai-me respirar um pouco.
-De acordo avô, descansa, nós temos todo o nosso tempo.
O velho lobo procurou outra posição na cama para retomar um pouco de forças.
-Se tu quiseres avô, tu nos contarás o resto amanhã.
-Não, eu posso continuar. Como eu vos dizia, entre nós e o homem, a paz não reina, mas que fazewr quando no inverno a alimentação escasseia, se faz rara?
Um dia, a neve caía. Os campos estavam brancos e não havia nada para comer e então, toda a nossa família foi à procura de uma ou duas ovelhas para podermos comer.
Nós chegamos a um local onde as ovelhas dormiam. Um cão, deu o alarme em começando a ladrar, o pastor veio com uma espingarda e começou a fazer fogo sobre nós. Felizmente nenhum de nós ficou ferido, nós fugimos e eu com o medo e por infelicidade minha, não vi um precipício e caí de muito alto. Eu quis me levantar e não consegui, as minhas pernas tinham perdido a força e eu fiquei ali deitado. Todo o resto da família fugiu e mais tarde quando tudo estava mais calmo, vieram buscar-me.
Como eu não podia andar, pouco a pouco, eles conseguiram trazer-me até esta gruta para viver provisoriamente mas eu não tinha a possibilidade de me curar, tinha a coluna vertebral partida e fiquei paralisado para o resto da minha vida.
-E é por isso que nós vivemos ainda aqui? Foi aqui que nascemos e crescemos, não é assim avô?
-É isso mesmo, meus nétinhos, é por isso que nós somos todos aqui. No dia em eu deixarei este mundo, sois vós a decidir onde quererão viver, ficar aqui, ou mais longe.
-Ah não, avô, eu quero ficar aqui, nós também, disseram todos de uma só voz.
O velho lobo, ferido para sempre, deixou que algumas lágrimas corressem pelo focinho,
-Meus nétinhos, nós não somos de maus animais, nós lutamos como todo o ser vivo por poder viver. Nunca se deve de fazer mal a quem quer que seja, nós devemos respeitar as outras raças de animais para sermos respeitados, se todos os seres vivos, se respeitassem mutuamente, a vida seria bela. Prometam-me, meus nétinhos, que depois da minha morte, que vocês vão respeitar todos os outros!
-Prometido, responderam todos os lobitos.
-Mais diz-nos avô, é verdade que um de nós comeu uma avózinha?
-Mas não, meu querido, mas não! Isso foi uma história escrita por um homem para ganhar muito dinheiro em se aproveitando da inocência das crianças-homens. Nunca um lobo, comeu um ser humano.
A. da fonseca