Saudade,
de um tempo pausado,
reflectido;
de um estar de lado,
com sentido;
No lado certo da vida,
no da razão e sentir,
com o coração aberto,
de olhar desperto.
Globalizávamos o pensamento
precedendo os mercados;
contraditando e sonhando.
Num tempo a preto-e-branco
fazíamos escolhas lógicas
negando rolhas psicológicas.
Passada a época,
por agora estamos no tempo
das tatuagens.
Hoje, a Alma irreconhecível
em profusão de ferretes gravada
documentando na pele a posse
dos senhores. Do corpo e do mundo.
Se hoje do sonho saudades tenho,
daquele reflectido tempo,
é a própria memória que me exclui
dos tempos de hoje,
da tenaz global.
Acorrentados e de alma tatuada,
impedidos de seguir nosso caminho,
inibidos de criar o nosso templo,
o que de livre resiste?
Ah, irmãos, ver-me-eis vacilar,
procurar caminhos entre as pedras,
nas arestas que me ferem
e me renovam a humana pele.
José Jorge Frade