Há algum tempo perguntam-me
O que é o sofrimento?
Amigos distantes,
parentes próximos,
pacientes presentes,
seres passantes,
E cada um deles carrega
dentro de si, no peito
a própria resposta
no entanto, sem jeito
Insistem na busca
de outra explicação
para as dores da vida
escrita, lida, dividida
Quando surge uma tragédia
que abala os alicerces
de nossa frágil existência
decerto vem os temores
De que o sofrimento
represente uma expiação
de que o tormento
torne-se uma danação
Mas, como sentir a vida
sem experimentar a dor?
Como assistir a partida
sem vibrar com o gol-eador?
O sofrimento tem o poder
de nos chamar atenção
para a diferença entre "o ter" e "o ser"
em um mundo de tão marcante solidão
Onde a dor e o vácuo espirituais
Cada vez mais tomam o cenário
Das angústias e doenças materiais
No corpo sem mente, da mente sem corpo
Para compreender o sentimento
que evoca do mais simples ao terrível sofrimento
é preciso aceitar nossa condição vulnerável
mas, lutar porque o ser humano é transcendental
Por isso, não devemos ter medo
dos males, das intempéries súbitas
não há mar sem turbulência ou tornado
até que chegue a esperada calmaria
Assim, devemos seguir viagem
enfrentando os desafios da longa travessia
com serenidade, firmeza, fé e confiança
condições essenciais para a caminhada
Esta consciência de nosso papel
em um longo processo de aprendizado
nos torna mais sensíveis ao farol
que ilumina o nosso barco até a chegada ao porto.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito na manhã de domingo, 2/1/11.
Imagem: Por de sol entre as rochas no Oregon, EUA.