*O Vizinho do 2011
É o 31 de dezembro. Vamos este ano para o Clube do Náutico? 800 reais a mesa para quatro, 200 para cada.
E ficar trancada entre quatro paredes vendo o povo comer e beber até não poder mais? Não gente melhor ir para a praia, aqui pertinho do Náutico, 40 reais a mesa rsrsr...
Muito melhor.
Lá também as pessoas ficam bebendo e comendo, dá no mesmo.
Não, não dá no mesmo. Já viu algum humano se agrupar em algum lugar de lazer que esteja, para não comer, beber, contar piada e rir?
Com uma grande diferença, lá, fora do clube, gargalhamos, com o direito ao vento frio, natural, roçando nosso corpo, gente de todas as raças misturadas com se fossem todos iguais, o local popular oferece este direito universal do Divino.
Pronto nós vamos para a mesa de 40 reais.
Muita gente no calçadão da beira mar, o aterro da praia de Iracema, há umas quatro quadras, superlotado com show de música, o mar rugindo ao nosso ouvido, uma embarcação velejando em pequena distância e as luzes da orla marítima completaram o quadro para uma tela viva.
Moça quer que eu pinte sua foto ao vivo, 40 reais, 30, 20, 10. O artista carente de alguma grana saiu desolado.
Vamos dar uma voltinha para ver mais gente. Tem de tudo: vendedores, pipoqueiros, criança brincando, gente sentada na areia, lá olhando o mar, comendo bebendo rindo, batendo palma.
Um homem sozinho numa mesa, solitário, o copo na mão, o olhar pedindo afeto e companhia. Pensei: solteirão, viúvo, separado involuntário, divorciado, nem um amor, mulher ou namorada, amante ou ficante, um amigo sequer? Quantos mais estão neste momento enfrentando a solidão, ou num hospital sem afeto e a segurança de sentir-se amado, protegido.
Enfim voltamos a nossa mesa de 40, e olha que faltou mesa. A opção de alguns foi sentar na areia, com toalha, ou sem, para esperar o velhinho de 2010, fenecer e encarnar no 2011. Tomara eu, que sem os vícios de personalidade e caráter do 2010. Que seja uma criança sempre moderna, acompanhando o progresso maluco dos nossos dias, porém sem perder o equilíbrio, a dignidade e a paz que a convivência humana necessita.
Até que chegou a troca do trono, o velhinho foi sumindo com aplausos, chuva de fogos durante 15 minutos e em nossas mãos o recém nascido 2011.
Ele, o 2011, está em nossas mãos para que possamos ensiná-lo a andar, nadar e voar. Somos nós que o alimentamos e construímos nossa e sua história lado a lado, dia a dia, hora à hora, minuto a minuto segundo a segundo, formando este grande Brasil de muitas cores, raças e credos.
Deus esteja conosco.
Sonia Nogueira
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