A partir de agora
vou partir
como se os teus dedos fossem cor de malva;
amanhã serei sempre a
fotografia que despertou da
poeira das mãos.
A partir de agora
vou ausentar-me do meu corpo
como luz que se arrasta
pelo espectro silencioso;
daqui a uma semana
coroo-te com flores molhadas
enroladas na prata semeada.
São tantos os sabores
tantas as coisas abandonadas
como semanas que são belas
isoladas do mundo.
Poucos são os medos
poucas as almas entorpecidas
lembrando anos sem sono
pintados de prazer.
Enormes são as flores acordadas
e o sexo da manhã.
ouve-me:
sou recorte de fotografia
ferrugem de livros
e alfinetes abandonados.
grita-me:
és lâmina imaginada
brilho de navalha
e colchas ensanguentadas.
A partir de agora
nomeio-te perfume
nas cortinas do quarto
nos tapetes de tinta.
A partir de agora
todos os corpos soterrados
moram petrificados no teu.
Amanhã serei a tempestade
e o vício do cigarro;
daqui a uma semana
vou deixar de saber quem sou…
nesse dia escrevo-te de novo.