As franjas prateadas
a dançarem ao sabor do vento
pelo canal, dão,
segundo quem sabe,
sinal de mau tempo.
A mim não escapa
A beleza rara.
Meus olhos
acostumados aos montes
se encantam
com as coisas aqui da marinha.
Um ritmo diferente,
um estímulo pouco encontrado,
um olhar contracorrente.
Da varanda me arrisco,
num mergulho seco,
a desvendar,
pela palavra,
esse oceano novo.
**
Braçadas largas e firmes
levam minh’alma
para além do alcance da vista.
Lá onde os redemoinhos
engolem os sonhos.
Meu corpo fica...
...aquém do limite
da bóia branca
que repete silenciosa
o alerta materno:
“Querido. Não vá além daí”.
**
Desde os passos mínimos
marcados na areia de Copacabana,
passando pelas bebedeiras
adolescentes no litoral Capixaba,
pelos beijos ao luar melado
nas praias de Búzios.
Desde sempre há
esse encantamento pelo mar.
Imenso mar
onde todo o peso do dia-a-dia
é deixado,
onde as vagas resgatam
o vigor esquecido,
e de onde um outro ente
surge renovado.
**
Eu aqui e agora
Vendo as franjas prateadas
Desfilarem pelo canal,
sou o próprio mar.
Um oceano de lembranças para onde
todos os rios passados convergem,
onde todas
as embarcações vividas navegam,
e onde a certeza do todo
repousa submersa
nas profundezas
que meus olhos físicos
não alcançam.
**
Eu sou o mar...
a olhar para si mesmo,
da varanda,
nas franjas prateadas
das águas do canal.
Frederico Salvo