Serei poeta?
Serei poeta com tão poucas palavras?
Serei poeta com versos tão esparsos?
Serei poeta com tão tímida poesia?
Mas se não o fosse, o que mais seria?
Profeta de um apocalipse urgente?
Ator de uma cena censurada?
Acrobata dos trapézios indizíveis?
Um caminhante para o nada...?
Ademais, com que metro se mede a poesia?
De quantos paus-poemas se faz a canoa para a travessia?
Sim, talvez poeta.
Talvez um poeta minguado, de um tempo minguante, de minguadas emoções...
Talvez nem isso, mergulhado na descrença,
e já cansado das canções,
somente um homem que procura.
(Que a procura, neste tempo, justifica tantas coisas...)
E quem sabe, num soluço final, nem mesmo este consolo...
Um homem apenas ! Um homem de nada,
de um nada profundo, portentoso
e repleto de um inédito temor,
gigantesca interrogação!