Cartas de amor a ti – I
Porque sem ti o céu não faz sentido. De onde ele iriam buscar o azul, senão ao poço de inesgotável azul dos teus olhos? Esse imenso azul que tu tens, nessa forma bonita com que olhas para mim…
Já estou com saudades tuas. Hoje também não vieste. Espero que amanhã já voltes à escola, porque os dias parecem tão maiores sem ti por perto. Parece que este inverno dura como que se existisse desde sempre, está tão frio quando tu não estás cá, os dias são tão cinzentos. Não é que não haja sol; ou tantas cores no mundo, mas quando não te vejo, parece que os meus olhos perdem todas as cores.
Não vejo vermelho nem verde, nem amarelo ou castanho, não vejo o cor-de-laranja, não vejo o preto e o branco; nem vejo o cor-de-rosa e até mesmo o cor de pele… e não vejo o azul. O azul que só os teus olhos têm. Sem o azul dos teus olhos todo o azul perde a cor ou não existe como cor, já não sei se caminho com os pés na terra, ou se estou de pernas para o ar no meio do céu. Porque és tu quem dá cor ao céu!
Pelo menos ao meu.
No outro dia fiz um desenho e pintei o céu de vermelho. A professora ralhou muito comigo, pois não sabia porque é que eu pintava assim o céu. Mas era por ti porque quando eu não te vejo tudo é diferente, as coisas parecem tão estranhas.
Às vezes parece que o mundo pára, quando lá de vez enquanto ouço falar de ti. Dizem que estás doente e só voltas daqui a uma semana. Ou que estás de férias com os teus pais; numa outra terra do país, ou noutro país mesmo, não conheço os nomes das terras de que falam. Nunca sei muito bem em quem acreditar ou qual das versões é a verdadeira.
Eu só sei que para mim o mundo acaba no portão da escola, e só começa no meu quarto e dos meu irmãos e depois acaba outra vez na feira onde vamos ao domingo, ou naquele centro comercial onde fazemos as compras do mês todo, ou naquela rocha que eu e o Miguel subimos no outro dia. Devias ter-nos visto lá em cima. Conseguimos ver tudo o que estava lá em baixo! E depois estivemos a brincar aos cavaleiros. Mas eu só pensava em salvar-te.
Espero que voltes então amanhã, que eu ainda morro de saudades e depois quando voltares já não me podes ver outra vez. Espero que melhores muito e possas voltar. Gosto muito de ti meu azul.
Um beijo para ti do teu Tiago.
Amo-te Maria.
(Escrita algures entre 1999/2000; 9/11 anos)
Nunca esquecerei os teus olhos.
Re: Cartas de amor a ti – I (1999/2000 - 9/10 anos)
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