Cidade calada… sepulcral
Sangro nas pedras mortas absorto do sopro eterno
O teu silêncio catastrófico é poluente
Lembrei-me ao acaso de parar os relógios e sair para rua nu…
Estou a dançar num campo de lírios onde caíram os meus amores
Um universo de fantasmas cegos celebra a catarse do mundo
Esta cidade está seca de sentir como os espectros cegos de olhar
Indiferente ao ruído estou de repente deitado, com os fantasmas num esbugalho de olhos amedrontado
Sangro agora nas pedras mortas absortas do sopro eterno
O chilrear, as buzinas e todos os lírios esmagados
Acordam-me do delírio do abandono da cidade
Desço agora uma avenida num elogio á vida
Os ardinas, engraxadores, proxenetas, varinas
Realidade reincidente que sopra transpiração
Os barcos o musgo no cais humedecido
Grito, partem-se os espelhos que nos fazem iguais
Já não estou mais perdido no meio dos fantasmas
Sou os carris do comboio o maquinista do sonho
Um campo de lírios na cidade é medonho
Grito o mundo para matar os fantasmas
A cidade é de gente, é protoplasma.