Poemas : 

Do amor indizível

 
Tragam me as crianças novinhas
nascidas do útero de mulher,
com seu riso tenro, doce e desdentado
que eu preciso muito delas...
Que venham também os outros animais pequenos. aqueles macios, como os gatos, coelhos,
filhotes de cães de olhos cativantes e sedutores. Convoco as réstias de luz nas frestas da porta holofotes, que iluminam a dança leve das partículas em suspensão, balé mágico, lembrança da infância.
Insurja instantâneo todo o poder do amanhecer, triunfo imperial do carrossel solar
em sua majestade, força e leveza,
certeza a tudo iluminar, sem ameaças e alardes, de quem se sabe senhor da rotina dos dias
ao sorver com delicadeza, o orvalho da pétala em flor.
A tudo mais que há e que existe,
do mais belo e do mais delicado,
que venha agora para me socorrer
eu convido, intimo e conclamo:
venha estar comigo nessa hora,
em que eu preciso tanto de sua companhia.
Pois quero falar sobre o meu amor
e sobre a mulher a quem amo tanto,
mas não tenho as palavras.
Ó desdita, ó fracasso. Elas me faltam,
todas opacas, pequenas, mesquinhas.
Quero falar, quero dizer, quero gritar
mas tudo o que consigo é apenas esse entorpecimento, dos lentos movimentos
que desistem em seu nascedouro,
sábios da sua incompetência
e da sua vocação para o fracasso...
Ó meu indizível amor, que em seu mero existir asfixia e estrangula
todas as minhas tentativas de dizer-te.
Tão próxima e tão distante, tão linda.
Tão delicadamente linda, inatingível às palavras e aos gestos,
cometa olímpico que risca o céu encanta os olhos, surpresa instantânea.
Quero o poço dos teus olhos,
Quero me afogar em tão boa companhia
Quero não ser, desistir de qualquer coisa, Abdicar de qualquer presente em que não figures como o futuro.
Quero ser em ti, quero ser contigo,
Quero ser inteiro, um pedaço teu,
Quero que tu me sejas, ainda que impossível
Ò meu amor, meu indizível amor.

 
Autor
marcusmatraga
 
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