O corpo corre apressado
O dia ainda vai alto
Corre de alma trespassada
Pela chuva ou pela geada
Por murmúrios em espalhafato
Movem-se queixas ao desbarato
Das costas doridas, cansadas
Dos pés e das pernas pesadas
Assim é a lide no campo
Os ossos gemem com mágoa
Parecem mesa sem tampo
Fonte com falta de água
E eu, olho de lado.
Caminho em passo contado
Encolho os ombros, não vejo
As gentes do vilarejo
Que labutam dia e noite
Talvez um dia me afoite
E lhe ofereça um sorriso
Agora, falta-me o siso
E finjo, não estou nem aí
Espera, aquele velho sorri
Leu-me o pensamento
Olho para ele sem jeito
Menina repare é o vento
Que encana no seu peito
Esta é que não entendo.
Pois olhe fique sabendo
Tenho mais o que fazer
Diz-me o velho, foi um prazer
Trocarmos duas palavras
Olhares são como travessas
De cadeiras desengonçadas
Mas olhe que na cidade
Eu perdi a mocidade
Voltei e aqui encontrei
Na azafama sem ter tempo
O tempo que desperdicei
Em horas de contratempo
Segui caminho a direito.
Pensando se será defeito
Não olharmos as gentes simples
Como canteiros de fores
Algo não está igual
Não sei descortinar o mal
As costas me doem estafadas
As pernas ficaram pesadas
A alma enegreceu
No rosto uma lágrima correu
Um dia nasci no campo
Um dia também labutei
E hoje desconheço o pranto
Das terras que então pisei.
Antónia Ruivo
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Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.
Duas caras da mesma moeda:
Poetamaldito e seu apêndice ´´Zulmira´´
Julia_Soares u...