Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 118

 
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1

O rastro do infinito encontro em ti,
Nos astros que espalhaste em teu caminho.
O quanto eu te desejo sempre vi
Da eternidade em glória eu me avizinho.

Eu sei do quanto a vida nos maltrata
Distante da esperança de um amor,
Se a sorte de sonhar já se retrata
Tomando em alegria, farto ardor.

Eu quero a tua boca, sem limites,
Mergulhos entre conchas, caracóis.
Por isso os meus carinhos; não evites
Se neles, dentre trevas, sei faróis...

Desejo, qual insano aventureiro,
Beijar-te calmamente o corpo inteiro.
Marcos Loures


2

O prazer que assassina enquanto cura,
O verso que não diz do mal ou bem,
Macabra fantasia, criatura
Que segue cada passo e nunca vem.

Convenço-me do quanto se tortura
Quem sabe que não teve mais ninguém
Além da mão soturna da amargura
E bebe a madrugada por alguém

Distante dos seus olhos, infinita,
Vestígios espalhados nas andanças,
O coração que estava de mudanças

Ao vê-la assim ausente já palpita,
Palpites que não quero nem aceito,
O amor há tanto tempo está desfeito...
Marcos Loures


3


O poeta do amor bebeu da morte
O riso alucinante, em amargura.
Vencido pela sina, frágil sorte,
Aguarda tão somente a vã tortura

De quem ao se entregar em pena e corte
Mostrou que a vida morde com doçura.
Por mais que a fantasia nos recorte
O fim em plena paz, já se procura.

Os versos que pensei foram falácias,
Anêmica esperança sem hemácias
Matando pouco a pouco, o meu lirismo,

A flor apodrecida no jardim,
Na fétida esperança vi meu fim,
Num último momento, quero abismo...
Marcos Loures


4


O pobre carpinteiro sobrevive
Em todas as misérias, injustiças.
O poder que corrompe sempre vive
Matando dia a dia em vis cobiças.

Aqueles que o venderam continuam
Na pútrida jornada, sem descanso.
Vestidos de senhores sempre atuam
Imolam o cordeiro por ser manso.

Nos governos, igrejas, nas empresas,
Cuspindo em cada filho teu, meu Pai;
Qual fera que mordendo suas presas,
Numa tocaia eterna sempre trai.

Exposto em cada esquina sem perdão,
Vendido como carne em podridão...


5

O peso do passado em minhas costas
As chagas que carrego ainda pesam
Enquanto as horas tolas me desprezam
As mãos entrelaçadas, sempre postas.

No fundo, deste jogo eu sei que gostas,
Enquanto nossos corpos já se entesam
Os medos e alegrias se revezam
Cortando os nossos sonhos, más apostas.

O novo alvorecer se descortina
Tomando tua imagem cristalina
Vivenciando o risco da vitória

Em frágeis sensações, doce menina,
O amor que nos transtorna e nos domina
Estende em suas redes dor e glória
Marcos Loures


6

O seu caminhar célere na sala;
Passando por qualquer novo orifício,
Demonstra o quanto audaz, no seu ofício.
Perturba totalmente, e sequer fala...

Não respeitando nada, sal ou bala,
Qualquer coisa servindo como vício;
Nas mais altas montanhas, precipício,
Vive qualquer lugar, mesmo na vala...

Com certeza não sabe ser amiga,
Companheira de todos, tão antiga.
No campo, na cidade vem, estraga,

Seu nome representa vera praga;
Roubando, produzindo velha chaga
Não posso suportar essa formiga...
Marcos Loures



7


O sentimento nobre e mais humano
Que a vida em alegria me declara,
Encontro no teu corpo o soberano
Prazer que tantas vezes procurara,

Vagando por estrelas, vou insano,
Bebendo desta fonte em água clara,
Não me deixo levar mais por engano,
Meu passo em tuas pernas já se ampara

E mostra ser possível a liberdade
Do amor que me ensinou tranqüilidade
A cada novo gesto declarado.

Eu vejo finalmente a bela aurora
Que em raro amanhecer já se assenhora
No encanto a deus amor glorificado.
Marcos Loures


8

O sentimento em ti, feliz aporta.
Durante a vida inteira eu procurei,
Minha esperança estando quase morta
Encanto nos teus braços; vislumbrei,

Estando do teu lado, sigo em frente
Não temo mais sequer os temporais,
Felicidade em glória se pressente
Tramando após naufrágio um manso cais.

Acasos tantas vezes acontecem
E neles eu percebo esta alquimia
Das mãos e dos desejos que obedecem
Aos sonhos que trazemos, fantasia.

Completos, dois parceiros em dueto,
Ao farto amanhecer eu me arremeto...


9

O sentimento em mim, batendo forte
Farnéis que hoje carrego em meu bornal,
De um tempo aonde amor sendo usual
Não preconizaria farpa ou corte.

Por mais que a solidão agora aporte
Ainda me recordo mar e sal,
Subindo calmamente algum degrau
Ao fim da longa escada, um belo Norte.

Marasmos destes dias tão iguais
Palavras repetidas e banais
Não podem traduzir o que hoje eu sinto.

Deveras, vou distante da verdade,
Não tendo mais sequer fraternidade,
Um mundo tão diverso teimo e pinto...


10

O sentimento brota e se recria
No eterno carrossel feito esperança,
Girando numa eterna alegoria,
Ressuscitando enquanto a vida avança.

Semeadura em solo mais fecundo,
Nas mãos de um lavrador que assim se entrega,
Do quanto de desejos eu me inundo,
A terra já responde em mansa entrega.

Amor assim não morre, sobrevive
À dura caminhada pela vida,
Aonde eu procurei, por onde estive
Resposta a tanto tempo percebida.

Mosaicos entranhados, vida afora.
Bonança em tempestade revigora...
Marcos Loures


11

O sal da terra trago em minhas mãos,
Vasculho, procurando em todo ser,
Quem dera poderia conhecer,
Aquele que transforma seus irmãos...

A mansidão traduz amores vãos,
Num único tormento por viver;
Instante tão feliz, novo saber.
A vida fecundando tantos grãos...

No teu martírio louvo a liberdade,
Procuro-te sem nada, sei que tarde;
Mas nunca poderei, de ti, fugir.

Castiçal de lanternas a luzir,
Um brilho sem igual, jamais vivi.
O teu nome traduz felicidade...


12

O senador vaqueiro se mostrando
Um homem tão comum ao arranjar
Mulher que não queria trabalhar
Deixou sua despesa em contra bando.

Ao ver a casa enfim, já desabando,
Resolveu num momento, sem pensar,
Deixar tomar assento devagar
Aquilo que o estava incomodando...

Porém pobre coitado não sabia
O que uma ex-mulher se faz capaz.
Ao alagar a casa em água fria

Ventilador decerto sempre traz
Quanto mais a bosta assim fedia
A rês valorizava sempre mais...
Marcos Loures



13

O sapo toda noite lá no brejo
Ao namorar coaxa sem parar
O sapo boi lançando o seu trovejo
Começa logo cedo a martelar.

Comendo pernilongo ou percevejo
Mosquito e vaga-lume no jantar
O sapo vai mostrando o seu desejo
E a sapa não quer mesmo namorar.

A serenata vai a noite inteira
Com toda a saparia no romance.
Se quero dormir não tenho chance

Vontade de fazer qualquer besteira
Um dia vou perder a paciência,
E acabo já com toda a sapiência...
Marcos Loures


14

O sapo mal sabia quanto a sapa
Queria ser do brejo, uma rainha,
Quem ama da verdade não escapa,
Senão sua alma fica mais sozinha.

As coisas não consertam com um tapa,
Quem pensa desse jeito não se alinha,
Se o galo solta a franga, o dono capa,
No fim cacarejou, virou galinha.

Massacres de mentiras não resolvem,
Nem viram a verdade que se quer.
Por isso seja como Deus quiser,

Que os erros com o tempo se dissolvem,
Mas tendo num amor total franqueza,
A gente vence em paz, a correnteza...
Marcos Loures


15


O sapo da lagoa ao ver princesa
Que andava solitária pelo prado
Soltou como coaxo um alto brado
Ao ver em sua frente tal beleza.

Depois de tantos anos de tristeza,
O pobre se pensando apaixonado,
Olhando embevecido para o lado
Felicidade enfim, tinha a certeza.

A moça se assustando com o bicho,
Saiu correndo sem olhar pra trás.
A sorte desditosa, um vão capricho

Ao mesmo instante alaga depois seca.
Amor que se mostrou assim fugaz,
Levou princesa e trouxe perereca...
Marcos Loures


16


O sapo comandante da lagoa
Gritando que já foi já foi já foi,
Levando a vida inteira numa boa,
Um sapo pequenino vira boi

Assim como um grilo faz bagunça
Uma arruaça imensa na janela
Enquanto o porco vai e ronca e fuça
Mamãe vai preparando na panela

O pato que arrumou a confusão
Mexendo com cavalo e com o galo,
Papai foi pra cidade comprar pão
Montado na garupa do cavalo.

De noite a saparia recomeça
E a vida vai passando sem ter pressa...
Marcos Loures


17

O sangue se esvaindo de teus olhos,
Estúpida lembrança do que fomos,
No quanto restarão destes abrolhos
Mergulho no passado, velhos gomos.

E nada dói mais fundo que a saudade
Nem mesma esta incerteza em que se dá
A farsa em que esta amarga falsidade
Propõe o que sonegas desde já.

Agindo deste modo, nada herdando
Talvez na fantasia, algum alento,
O beijo da serpente envenenando
Matando pouco a pouco em fogo lento.

Carcaças que carrego do passado,
Lembrando deste tempo malfadado...
Marcos Loures


18



O sangue dos pequenos e inocentes,
Martirizando toda a humanidade,
As águias rapineiras e dementes
Em nome de uma estúpida verdade

Dilacerando os frágeis penitentes,
Até quando? Não vejo a claridade
No meio dos espíritos doentes
A morte da razão na impunidade.

Celeiro que gerou o Redentor,
Aquele que ensinando o sacro Amor
Morreu crucificado por nós todos.

Os corpos das meninas e meninos,
Heróis tanto judeus ou palestinos
Condenados por trágicos engodos...


19

O sacrossanto sexo em seu fulgor,
Compõe a nossa vida, encharca a pele.
Ainda mais se feito com amor,
Na sorte abençoada que revele

A força deste laço encantador,
Não deixa que emoção já se congele,
E mostra a tentação a nos propor
Que uma alegria imensa assim atrele.

Louvando a sensual mulher que eu amo,
Eu agradeço em prece, ao Deus que é sábio,
Tremendo em cada beijo, sinto o lábio

Daquela a quem desejo e tanto clamo
Desnuda de pudores imbecis,
Fazendo o nosso amor bem mais feliz...


20

O rumo desta vida; jamais mudo
Eu tenho bem aqui esta certeza
Do jeito que enfrentei a correnteza,
Com coisas tão banais eu não me iludo.

Amor vai me servido já de escudo
E nele encontro a paz e tal leveza
Que possa permitir total beleza,
Que com carinho imenso sempre ajudo.

Não quero repetir os mesmos erros,
Erguendo o meu olhar, alçando os cerros
Percebo toda sorte que buscara,

Por isso, tenho a força de saber
Que à margem da alegria e do prazer
A vida se tornando então amara.
Marcos Loures


21

O rosto tão suave da verdade
Explicitando a vida que se faz
Distante do que possa em liberdade
Trazer a todo ser, imensa paz.

O canto libertário adentra o ninho,
Porém farta injustiça engaiolando
Não deixa sobrevir ao passarinho
O belo que se entorna deslumbrando

O céu que se permite em azulejo,
Mas assum preto cego jamais vê
Restando tão somente este desejo
De um dia o novo encanto em que se crê

E sabe-se capaz de iluminar
Mudando a face algoz a nos tocar...
Marcos Loures


22


O rosto do poder se mostra estúpido
E bebe cada gota da esperança.
No olhar de um povo simples, sempre cúpido,
A fome se promete a cada dança.

Abutres não disfarçam sua fome,
Rasgando a carne frágil do campônio,
Aos poucos devorada, se consome
Entregue ao paraíso de um demônio.

Na mão já não carregam mais chicotes
Disfarçam-se em amigos, protetores,
Na fome tal matilha de coiotes
Espalham a miséria sem pudores.

Depois já reunidos no Congresso,
Brindando, tão amigos, - sangue-expresso..


23

O ritmo deste sonho, encantador
Espalha na avenida da esperança
O vento tão gostoso, alentador,
Fazendo em explosão, divina dança.

Marcado pelos traços de um amor
O tempo delicado agora alcança
O peito deste louco trovador,
Fazendo desde já total festança.

Ensaios que tivemos no passado,
Nas alas da alegria, desfilamos.
O gozo deste dia iluminado,

Aos poucos toda a vida em harmonia,
Retalhos de cetim, quando encontramos,
Relembram o esplendor da fantasia.
Marcos Loures


24

O riso que se escarra em minha face
Fazendo-me um palhaço sem futuro,
Tristíssimo motivo num disfarce
Abraça-me convulso, torpe e impuro.

Satânicos delírios neste esgarce
Que lambem meu sentido, opaco, escuro,
Bisonhos estandartes onde espace
O manto mais vetusto quase puro...

Num estertor agônico me entrego,
Na mão trago a fornalha que te queima,
Ao menos o diabo que eu carrego

Retesa-se num riso qual sardônico,
O meu cadáver lúbrico não teima,
Implode em um formato arquitetônico!



11725


O riso preconiza a mansidão,
Por mais que dissimule a solidão
Demonstra o quão pacífica tua alma
E mesmo em tempestades, sempre acalma...

Navego por espaços siderais
Usando dos meus sonhos, ganho astrais
Mergulho no oceano de teus braços
Firmando, ao firmamento, velhos laços...

E traço a solução para os problemas
Que a vida, não consegue equacionar,
Fartando-me da luz deste luar

Que trazes nos teus olhos. Mas não temas
O fim da nossa estrada é congruência,
O amor ensina a paz, perdão, clemência...


26


O riso escancarado de um sarcástico
Demonstra quanto é cáustica a mentira
Enquanto em um abismo nos atira,
Promessa de um tormento, algoz bombástico.

Sorriso de ironia, feito em plástico
Acende da ilusão, intensa pira,
Em vão a poesia não transpira,
O salto diz amor, finge fantástico.

Macarrônicos versos são comuns
A quem não sabe dar real valor
Ao frágil sentimento e mata amor

Captando e não deixando nem alguns
Momentos que permitam a esperança,
Partindo; não nos deixam nem lembrança...
Marcos Loures


27

O rio num momento; vê o mar,
Na foz ao se entregar enfrenta o sal.
A força à qual se dá; descomunal,
Incrivelmente, faz-se navegar.

O quanto eu desejei e pude amar
Num rito tão fantástico, qual nau
Que adentra a fortaleza sem igual
Podendo calmamente desfrutar

De toda a maravilha assim exposta,
Nas águas e nas ondas do oceano.
Por mais que nas tempestas, desengano

A calmaria chega e por resposta,
Em mansa placidez se descortina
Sofreguidão que incita e me domina...
Marcos Loures


28



O rio nega a foz e a correnteza
Rolando pelas pedras, seixos, mágoas.
Arcando com o vento da tristeza
A sorte se deserta, seca as águas.

A sede que matara a cada sonho
Na boca delicada em prontidão
Revejo o quanto quero e te proponho
Um novo amanhecer, novo clarão.

Cevando em nossa vida esta guerrilha
Que um dia vencerá qualquer poder.
A luz que se irradia mostra a trilha
Levando fatalmente ao bel prazer.

Precisos sentimentos, com bravura
Amor já se embebeda em tal ternura...


29

O rio não tem mais inundação
E desce calmamente para a foz.
Nas mãos do amor intenso, ouvindo a voz
Trazendo os seus acordes, coração.

E mesmo que vier a negação
Ou mesmo a solidão que é sempre atroz,
Mergulho o sentimento neste algoz
Torcendo que venha a viração.

Deixando já de lado a poesia
Eu sinto que preciso do carinho
De quem ao espalhar tanta magia

Conquista e logo chama para a festa.
Deixando para trás qualquer espinho,
Amor adentra a casa e desembesta.
Marcos Loures


30


O rio deslizando em cachoeira,
O vento assobiando mansamente.
A mata se entregando vorazmente,
Aguarda a noite plena e verdadeira...

Os sapos, as corujas nesta beira
De rio, tanto amor solto se sente
Nas pedras, nos remansos... Claramente,
A terra se enamora mais faceira.

Rios, matas... Meu sonho delirante...
Sozinho, procurando minha amante,
A vida me traz cura, noite sana...

Dois olhos graciosos se debruçam;
Claridade do amor, já me esmiúçam,
Acordo em teu olhar, benção! Joana!
Marcos Loures


31

O Rio aqui de cima neste hotel
Milhões de focos soltos como estrelas
Multicores caídas lá do céu,
Parecem pisca-piscas, lumes, velas...

Estrelas vão desnudas num bordel,
Na Lapa, tantos gringos para vê-las
No bolso do marujo mel e fel,
Em sangue canivete a convertê-las

Ouvindo o burburinho das buzinas
Revejo boa parte do que fui.
No caos e desencontros das esquinas

A calma me tomando, solto o sonho.
O Rio que deixei já não me influi
Mas mesmo assim, saudoso... Olhar risonho...

Marcos Loures



32


O retroalimentar da mesma mina
Numa inerente força que não cessa,
Enquanto esta saudade me domina
A sorte não permite uma promessa

De um dia que seria em paz intensa,
Levando à calmaria, o vendaval.
Por mais que a gente lute, a vida é tensa
Causando uma agonia sem igual.

A par do que tivemos noutros tempos
Lembrança volta e meia vem à tona.
Gerando novamente contratempos
Teimosamente a paz nos abandona

Tal moto perpetua os sofrimentos
Meu barco já não tem rosa dos ventos...
Marcos Loures


33


O resto que me sobra por herança
Disputo com os cães e com os gatos
Entulhos vão enchendo nossa pança
Jogados nos esgotos, pátios, matos.

A morte talvez seja uma esperança
Rasgando os imbecis e maus contratos
Fogueira de ilusões, amores fartos,
Voracidade insana já se avança.

Mordazes os meus versos? Nada disso.
Apenas o retrato mais fiel
Do quanto amor perdeu beleza e viço,

O sexo inda sacia e reproduz
Em milhares iguais soltos ao léu
Trazendo em suas costas, mesma cruz...


34



O resto do que fui caminha a esmo
Sem rumo ou direção. Rosa dos ventos
Perdida em tempestades e tormentos,
E o canto entristecido, sempre o mesmo...

Entorno meus lamentos pelas ruas,
O mundo vai girando, bar em bar,
Queria pelo menos te encontrar,
Aonde, em que planeta tu flutuas?

Errático satélite; perdi
Paragem que eu julgara mais segura.
Retendo nos meus olhos desventura

Reflexos do luar batendo em ti,
Qual fora um pirilampo em lusco-fusco,
Escombros deste sonho; inútil, busco...


35

O relógio batendo tantas horas
Toda minha energia abandonada...
Cavalo corrediço pede esporas,
Abelha procurando outra florada...

O tempo vai voando sem demoras,
Deitada no sofá, abandonada,
Os olhos marejados... Não imploras
A vida se esquecendo, na calçada...

Não posso me conter, és imprecisa,
A luz não te deixou nenhum lampejo.
A mão que te percorre, mansa, lisa...

O relógio dispara, me contenho...
Ao te ver reacende meu desejo,
Mas triste, ao perceber, já cerro o cenho...
Marcos Loures


36

O rei que conheceste morre aos poucos,
sem ouro e sem castelo, sem gibão.
Nem gritos que se espalhem, fortes, roucos,
apenas aguardando a solução

daquilo que sonhara mas não veio,
da moça que princesa não vingou.
Restando uma lembrança feita seio,
e o tempo que, inclemente, já passou.

Agora, este reinado segue pobre,
deixado quase ao léu, desolação.
Do rei que se fez luto em devoção,

nem mesmo a sua origem, rica e nobre
o salva da tempesta que se fez,
do amor que se findou: insensatez...


37

O que trago em meu peito é tão banal
Faz parte deste sonho que não tive,
De um mundo mais preciso e natural
Formado pela luz que se revive
Distante da incerteza; ou bem ou mal,
Maniqueísmo estúpido que vive

Em cada situação mal resolvida.
Nos olhos deste velho feiticeiro;
Amor, que se embargando, nega a vida.
No pranto que se fez som derradeiro
De toda esta esperança em despedida...

O que trago no peito, cessa abrigo
E vive te espreitando, vento amigo...

Marcos Loures


38

O que seria; amor, de minha vida
Se nunca houvesse tido esta presença
Que torna uma existência mais querida
Trazendo a plenitude em recompensa.

Por vezes custo a crer, mesmo duvido
De ter a sorte imensa de poder
Durante a tempestade enfim, ter tido
A calmaria feita no prazer.

Eu não existiria sem você.
De que me adiantaria vir ao mundo,
Numa procura insana em que se vê
Tão somente o vazio. Eu me aprofundo

E encontro em nosso amor uma esperança
Da vida em mansidão e temperança...
Marcos Loures


39


O que seria a vida sem te ter?
Apenas o vazio e nada mais,
Encontro uma razão para viver
Tocado por teus lábios magistrais.

Envolves o meu corpo e com prazer
Eu sinto os teus perfumes sensuais.
Na fonte delicada me embeber
Fazendo destes gozos, rituais.

E ser o que talvez jamais sonhasse
Distando deste encanto sem igual,
No peito eternamente é carnaval

Contigo não encontro mais impasse
Impávido; percorro os infinitos
Usando os teus sorrisos tão bonitos...


40

O que serei eu? Perco meu caminho
E não me encontrarei, tenho certeza.
Sou cenário sem brilho, sem beleza.
Um pássaro sozinho pede ninho

Mas não encontra, sonha, o pobrezinho,
A vida se demonstra com rudeza
Mata qualquer traço de pureza
Engaiola de novo o passarinho...

Vago pelas estrelas, vou sem fim...
Tentei um novo mar, mas nada enfim,
Tudo o que me sobrou, simples vazio...

O que serei senão o que não fui
O barco que não vai, tempo não flui
Apenas observando tudo, frio...
Marcos Loures



41




O que me resta? Festa, fresta, crosta?
Nada mais temeria, nem Maria,
Na mão cruzada, em rezas, decomposta.
Tendenciosamente, a noite é fria...

Maravilhas sortidas, mares, costa...
Nos teus favos, melindres, fantasia...
Tua boca escancara a dor exposta,
E me cospes, rubores e franquia...

O que restará? Corpos, corvos, vícios?
Nada mais temerei, nem precipícios,
As retinas cansadas nada sentem...

Meu tempo, meu provento, vento... Séptico,
Minhas curas, lamúrias. Epiléptico,
Convulso, expulso, exposto. Amores mentem...


42

O que me invade, queima, arde traz luz,
Não me deixou jamais perder o canto.
As bodas entranhadas, minha cruz.
As cordas esquecidas, fino pranto.

Não quero nas esquinas um Jesus,
Já existe um mendigo e seu espanto.
Não quero a casa escura. Jorra pus
Das feridas rasgadas no teu manto...

Uma mortalha assaz fendida, pútrida.
A certeza voraz nova, antipútrida.
Nas esquinas que formam essa rua,

Vertentes solitárias, solidárias...
A tarde enlanguescida anda mais nua...
A dor que nos invade, libertária!


43


O que falar de ti, meu grande amigo?
Irmão é muito pouco. Pois nem todos
Os irmãos estão juntos neste abrigo
Que é nossa salvaguarda frente engodos.

Às vezes na eminência do perigo
Fugindo das charnecas, limos, lodos
Não ficam e se vão num "nem te ligo".
Irmãos são quase sempre, Amigo é todos...

O certo é que nem sempre nosso irmão
Consegue ser amigo por inteiro,
Nos traços mais profundos da união

Dois corações unidos na amizade
Num sincronismo belo e verdadeiro,
Irmanam-se em total sinceridade...



44



O que dizer do amor que nos tomou?
Palavras já não bastam. Muito além
De tudo o que tivemos me tocou
O sentimento imenso deste bem.

Tão próximo de ti eu sei que estou,
Eu não penso em mais nada, a vida vem
Coroando tanto tempo que passou
Na nossa vida procurando alguém

Que faça nosso canto mais feliz
Que traga uma esperança em cada olhar.
Amor que não sacia, já quer bis

Na cama, na canção. É de verdade
O sonho que sonhamos sem parar,
Agora traduzi: felicidade!



45



O que dizer destas mãos que me acarinham?
São sedas perfumadas, sem espinho;
São noites que as estrelas adivinham,
Delícias delicadas, fino vinho.

Por matas e vertentes se encaminham,
Encontram solitário passarinho,
Nos rumos mais tristonhos já se alinham,
Buscando, em tempestades, manso ninho!

Mãos de fada, enfadonhas as quimeras.
Nas flores que fecundam primaveras,
Nos olhos que me espreitam de tocaia.

Nas barras que seguro, tua saia,
Nos vértices dos céus, livre sonho.
As mãos tão delicadas... E eu, medonho!



46

O que dizer das mãos que me acarinham?
Quais sendas perfumadas, sem espinho.
Belezas que as estrelas adivinham,
Delícias delicadas, paz e ninho...

Nas matas e nascentes, já caminham,
E fazem de quem fora tão sozinho,
Um homem tão feliz. Aonde aninham
Já forram com perícia e com carinho.

Mãos de fada! Pra sempre, quem me dera,
Colhessem no meu corpo a primavera,
Cumprindo o meu destino, sem tocaia,

Nos vértices dos céus, liberto sonho,
Calor que cedo emanas, te proponho,
Carícias mais audazes, sob a saia...


47


O que dirá quem te viu em tal momento
Aonde as dores formam leito insano,
O campo das discórdias no tormento
Que enluta todo o sonho sobre-humano.

A vida é bumerangue em sentimento
Que altera num segundo cada plano,
Mordaz, a boca cospe e como um vento
Abaixa ao fim da cena um roto pano

Sementes de ilusão, as amizades,
São quase que um oásis nesta trilha.
Do lenitivo dado, na vigília;

Permitem que se tenham liberdades
No salto que nós damos num escuro,
O verdadeiro amigo, um ser mais puro...
Marcos Loures



48


O quase ainda manda nos meus dias
Quase poeta, quase um trovador,
Quasimodo perdido em plena dor
Quaresmas, lobisomens, fantasias.

Quarando no quintal as alegrias,
Quadrados inexatos a compor,
Qualitativamente sem fulgor,
Quarto crescente mata poesias.

O quanto diz do tanto que não trago,
Na quântica ilusão de um mero afago
Esquartejado, sigo ainda em pé,

Quartéis abandonados, sem defesa,
Esquadros desenhando esta incerteza
Quando restar ao menos sonho e fé...


49

O quasar que pulsava no meu peito
Deixado nos escombros do que fui.
Sacio cada gozo do meu jeito
A roupa da esperança sempre pui

Vertiginoso salto sobre o nada,
Alcanço este vazio qual funâmbulo
Noctâmbulo vadio se equilibra,
Num passo feito insônico e sonâmbulo.

A morte nunca tarda e já calibra
O bote necessário e até bem vindo.
Vitupérios esqueço, elevo a fronte,

Percebo o monstro cego se emergindo
Na lua que escurece este horizonte.
Amiga, eu me despeço por aqui,
A dor e o sofrimento? Eu esqueci...


11750

O quanto sou feliz contigo, amor
Permite que imagine um paraíso,
Jardim abrilhantando rara flor,
Destino que em bonança eu sempre viso.

Num átimo, a beleza sem igual
Tomando cada verso, dita o mote
Sorriso muitas vezes casual,
A lua assiste tudo em camarote

Beijando com seus lábios cor de prata
Acena com vontades e ciúmes.
A pele bronzeada me arrebata
Deitando sobre amor doces perfumes

Derramas teus farnéis feitos carinhos
Ao abrires - volúpia- os teus caminhos


51

O quanto ser feliz é o que nos resta
Amor já não suporta qualquer baque.
Toda felicidade a que se empresta
Não veste black tie, tampouco fraque

Amor sem ser de araque é sempre assim,
Faz festa tão somente por poder
Viver o que melhor encontro em mim,
Sem medo de ganhar ou de perder.

Acendo o quanto quer a cada instante,
Não teme as curvas, tolas, bebe espinho.
Em si, amor se mostra triunfante
Produz e se inebria em puro vinho

As vinhas de um amor; esteja certa
São feitas no lençol sob a coberta...


52

O quanto se evolui em mutação
Expressa em teoria o que se molda
A vida permitindo nova solda
Entrega-se à total divagação.

Tristão que vai vivendo sem Isolda
Metralha a própria inércia em geração
Fomenta nova forma de expressão
Meu corpo no teu corpo já se solda.

Roldanas, engrenagens desconexas
Complexas ferramentas que utilizo
Nas côncavas entranho outras convexas

Sem nexo vou cerzindo um verso tolo,
Do grão antes rugoso agora liso,
Não faço nem sequer farinha ou bolo...
Marcos Loures


53


O quanto representa pra quem sonha
O gosto da manhã; em luzes fartas.
Do quanto tu desejas; não apartas,
Beleza que alegria em paz componha.

A vida será sempre mais risonha
Se em cima desta mesa, abertas cartas,
E quanto mais teu brilho; aqui repartas,
Resposta não será jamais tristonha.

Silêncios muitas vezes dizem nada,
Também uma expressão: felicidade,
Por mais que se perceba a tempestade

Teremos a manhã iluminada
Por sóis que tu derramas sem saber
E encharcam minha vida de prazer...


54

O quanto que não trago e cultivei
Expressa a mais cruel, pura verdade,
Perdendo o que restou, tranqüilidade,
A cada novo sonho naufraguei.

Partindo do que busco e não achei,
A vida só me trouxe esta saudade
Que agora reproduz a falsidade,
Dizendo que da vida nada sei.

Quem dera se forjasse a primavera
Das garras mais audazes de uma fera
Um dia mais perfeito e deslumbrante;

Na luz do imaginário sol imenso
Um belo amanhecer do amor intenso
Mostrando um novo encanto num instante.
Marcos Loures


55


O quanto que já tive em meu passado
Demonstra que em verdade inda resisto,
De estrume tantas vezes rodeado
Eu sei que depois disso ainda existo.

O mar que se faz tênue e engalanado
No quase que encontramos, sonho misto
De dores e de risos faço o brado
Que teimo em soluçar e nisto insisto.

O vento tantas vezes foi benquisto
Embora me deixasse mais cansado,
À queda deste império assim assisto

E parto na procura de outro Fado
Não quero a tua cruz nem ser teu Cristo
Apenas eu te quero do meu lado.


56


O quanto que eu amei, foi tudo em vão,
Farrapos estendidos na janela.
Destino no vazio, a vida sela
E leva o barco em nova direção.

De tudo que se fez recordação,
Eu lembro-me do sonho que revela
Estrela tão fantástica e mais bela,
Brilhando bem mais forte na amplidão.

Depois de ter perdido assim seus rastros,
Vagando sem destino pelos astros
Meus olhos simplesmente irão buscar

A paz que se fez trágica e distante,
Das dores eu me sinto um navegante
Rolando a noite inteira bar em bar.
Marcos Loures


57

O quanto que é possível liberdade
No peito de quem luta por justiça,
No amor vejo a possível claridade
Matando a fera amarga da cobiça.

Há tempos um judeu em fantasia
Imolado por crer num novo tempo
Aonde amor, perdão, já poderia
Vencer qualquer problema ou contratempo.

Daquilo que Ele disse, muita gente
Vendendo o que de Graça recebeu
Expulsa do hospital, todo ser crente
Que a força da serpente não venceu.

Assim, em ironia e podridão,
A corja vende amor, rouba o perdão.
Marcos Loures


58

O quanto poderemos? A esperança
Dançando sobre as árvores famintas,
Usando neste céu, diversas tintas
Promessa da manhã sincera e mansa.

Além do que este olhar deseja e alcança
Arcaicas injustiças vãs, extintas,
Jamais para ti mesmo, irmão, não mintas
Na vida seja arqueiro, amor é lança.

Pesando na balança, ser feliz
Não pesa tanto quanto o que se diz.
Unidos, nós podemos, com certeza!

Um tempo onde se veja a liberdade
Rompendo preconceitos. Sem a grade,
Na ação nações conjuntas: fortaleza!


59

O quanto me entreguei sem ter limites
Não sabes meu amigo, como é duro
Andar cambaleante em céu escuro,
Da dor e da tristeza, vis convites.

Por mais que solidário às vezes grites,
Distante de mim mesmo, não procuro
Saltar pra liberdade o enorme muro
Não ouço mais pedidos nem palpites.

De bar em bar, a vida perambula,
Vagando sem sentindo, nem porquês
Fantasma que hoje sou e que tu vês

Somente a solidão, cruel adula...
Na insana companhia da bebida,
Perdendo pouco a pouco, a minha vida...
Marcos Loures


60


O quanto me apetece cada parte
Dos sonhos desfrutados por nós dois,
Não posso suportar mais tal descarte,
Sabendo do vazio do depois.

Esquece nosso amor: tu me dizias
Nas noites mais gostosas que tivemos,
O barco se perdeu nas maresias
Quem dera se eu tivesse ainda os remos...

Sem vela, sem lamento e sem vintém
O quadro se desenha mais nefasto.
Depois de tantos anos, sem ninguém
Dos portos da ilusão, eu já me afasto.

E trago em minhas mãos somente o calo,
Estranho galinheiro, este sem galo...


61


O quanto eu te desejo, não disfarço
Derrama sobre o mar de imensas ondas
Escandalosamente bebo cada passo
Deitando em poesia velhas rondas.

Trazendo os pedregulhos do passado,
Mergulhos proferidos, imprudências.
Em flores e fulgores, sigo atado
Sentindo o farto olhar, hipnotizado.

Enchentes, explosões e temporais,
As vagas penetrando cada praia.
Eu bebo cada gozo e quero mais,
A noite em convulsão logo desmaia

No todo sem limites, acredito
Espalho eternidade no infinito!
Marcos Loures


62

O quanto eu quero ser a poesia.
Estende em nossa vida este tapete
Mudando todo o rumo, amor nos cria
Um sonho que eu bem sei não se repete;

Estrelas espalhadas no colchão
As luzes na ribalta da esperança
Rodando em carrossel tal turbilhão
Aos poucos consolida esta aliança

Sentir tua presença junto a mim,
É ser um ser liberto sem algemas.
Consigo conceber o amor enfim,
Distante das mentiras e dilemas.

Eu sinto o quanto é bom poder dizer
Do amor que nos emprenha de prazer...
Marcos Loures


63

O quanto em ilusão amor perfuma.
Vagando por estrelas belas, claras,
Curando as chagas, pragas, as escaras,
Evaporando um sonho que se esfuma,

Bebendo o maremoto em alva espuma,
Escunas se perdendo em noites raras,
Sorvendo as velhas dores tão amaras,
Matando em louco viço, amor espuma.

Sidéreas emoções, palavras vis,
Amargas sensações, sonhos febris,
Essencialmente louco e formidável.

Noctâmbulo desejo em doce espera,
Amar é renovar-se em primavera
Trazer dentro de si, o inalcançável...

64

O quanto é persistente quem deseja
Poder alçar enfim, felicidade.
Mesmo que esconda em si fatalidade
Amor glória maior e tão sobeja.

Quem luta e nas batalhas já dardeja
Uma ilusão que, mesmo em liberdade
Procura ver a paz, tranqüilidade,
E dela ser cativo, amor almeja.

A solidão se mostra dura fera,
Saudade em violência desespera
E deixa tão somente um vago imenso.

Por isso e tão somente é que procuro
A claridade em dia tão escuro,
No amor que assim espero e tanto penso...
Marcos Loures


65

O quanto é necessário o bem querer!
Menina que se fez mulher e amante,
Em teus carinhos posso conceber
No palco- minha vida, luz vibrante.

"Minha alma cheira a talco", renascida
Fortalecendo os sonhos que eu tivera,
Refaço em cada passo, a nossa vida
Condeno nosso amor à primavera.

Embora o tempo seja sempre o rei,
Contigo ele caminha mansamente.
A ti, a cada verso dediquei
O sonho de viver eternamente.

Mirando em teu olhar, vejo e confesso
Das minhas esperanças, o regresso...
Marcos Loures


66


O principesco sapo foi pro brejo
E nele coaxando fez sucesso.
Fugindo de Lisboa ou do Além-Tejo
No Rio de Janeiro, recomeço

E tento ser feliz, mas a princesa
Ao ver o meu abdômen de batráquio
Convida toda noite para a mesa
O tolo do vizinho, o tal Eustáquio.

Não resta na verdade solução
Se o príncipe é guloso o que fazer?
O amor nunca serviu de refeição
No fundo o que preciso é de prazer,

E o sonho se perdendo diz que foi
Há tempos para o brejo, o sapo-boi...


67


O quanto é necessário navegar
Por mares tão distantes e sombrios,
Invernos se sucedem aos estios
E a gente vai tentando suportar.

Não posso e nem devia acreditar
Nos velhos e terríveis desafios,
Tecendo novamente os mesmos fios
Imagens se confundem: céu e mar.

Sem ter múltipla escolha, sim ou não
Apenas me restando a solidão
Depois de tanto sonho, sempre inútil.

O velho coração já não suporta
Saber deste vazio atrás da porta,
E a vida se transcorre, amarga e fútil...


68

O quanto é necessário estar em paz
Vendendo esta minha alma à prestação
Se à pé o meu destino não me traz
Eu pego sem pudor, a condução.

Enjeito o que se mostre mais fugaz
O resto não me deixa, encarnação.
E o bote que se espera, se falaz
Aguarda seu momento: precisão.

Ilíadas venci, mas deixo Tróia
Penélope se cansa de Odisseu.
Estóica fantasia se perdeu

Bucólica figura da jibóia
Que morde enquanto assopra, sem veneno,
E enquanto me sorri, ao longe aceno...


69

O quanto de preguiça tu me dás
Matando a minha sede, trazes sono.
Amor quando se deu a Satanás
Deixando como herança um abandono.

Fugindo deste amor, nosso Alcatraz,
Eu tenho um novo tempo em que ressono
Dormindo no passado aonde vás
Percebo que somente fui um mono.

Aguardo mais notícias, mas não vêm.
No coração mineiro cabe um trem
Apenas se quiser quero de novo.

A cama perfumada dá saudade,
O resto? Na lixeira, e com vontade.
O gosto do teu corpo quer? Eu provo!
Marcos Loures


70


O quanto de amigável resta aqui
Depois do que sonhei e não retive
O amor que tantas vezes persegui
E sei que dentro em mim, resiste e vive.

Somando o que perdi e o que ganhei
Elas por elas. Sinto que valeu.
A porta que em momentos adentrei
Agora tão distante se perdeu.

Mas peço que tu lembres da estadia
Do amor que tantas vezes foi inútil.
Embora minha pobre poesia
Pareça aos teus ouvidos, sempre fútil

Espelha na verdade o sentimento
Marcado em solidão e sofrimento...
Marcos Loures



71

O quanto a noite em luzes principia
Permite que se sonhe colorido
Porém a tempestade e a ventania
Sonegam qualquer lume ali contido.

Eu sei que talvez seja um exagero
Um verso que se faz em pessimismo
De tudo que em verdade, penso e gero
Não quero só falar em cataclismo.

Mas quando vejo o abismo se alargando
Na estúpida rapina que se trama
Castelo da esperança desabando,
A voz já não se cala e assim declama

Sonhando com a força da amizade
Deixada há tanto tempo, na saudade...
Marcos Loures



72

O quadro na parede representa
Os sonhos que se foram pra não mais.
O amor que tantas vezes apascenta,
Em nós se transformou em vendavais.

A vida se mostrando violenta,
Palavras se tornando tão banais,
Apenas o vazio representa
O que restou do amor. Voltar? Jamais...

Não quero mais as pedras, nem caminhos,
Deixando para trás velhos espinhos
Quem sabe poderei amar em paz...

Se tudo o que tivemos se perdeu,
De todo o sentimento, meu e teu,
Nem mesmo uma saudade, o vento traz...
Marcos Loures


73


Ó prenda, nas coxilhas te buscando;
Seguindo o cantar do minuano,
No mate, meu amor se temperando.
Espero te encontrar, mas desengano

Te leva pros arroios mais distantes.
Tomar as tuas mãos, guapa guria,
Vibrar os nossos sonhos delirantes,
Nestas belas estâncias da alegria...

Te guardo na guaiaca-coração,
Não sabes quanto quero-te morena.
Envolto nestas tramas da paixão,
Na sensação divina, amada e plena

De ter teus braços sempre do meu lado,
Mineiro-jardineiro apaixonado...

Marcos Loures


74

Ó Prenda desejada, quanto quero,
Carinho que tu trazes para mim.
O sonho mais airoso que eu espero,
Na boca tão carnuda e carmesim,

No gosto mavioso me tempero
Vivendo todo amor que sei, enfim.
Num sentimento manso, duro e fero,
Te quero sem temor, melhor assim...

Meus versos te buscando a cada dia,
Corcéis que já cavalgam pelo azul
Do céu que se azuleja em poesia

Vibrando em cada nota, tudo encampa,
Viajo num momento até o Sul,
Procuro minha prenda pelo pampa..



11775




O preço que se paga é mesmo caro,
A liberdade é bem que se conquista
Com sangue, com suor; ao desamparo
Montanha tão distante que se avista.

O dote desejado, pois mais caro,
Está nos pés macios do passista,
Nos olhos da mulher que amo e declaro,
Nos sonhos deste antigo comunista.

A boca miserável, desdentada,
As armas esquecidas no porão,
As cores do luar do meu sertão,

A morte em tantos campos espalhada,
É flor que necessita de cuidado,
Num solo em tantas mortes, adubado...


76

O prato dos desejos eu refogo
E como pedacinhos de prazer
Mergulho sem limites no teu jogo
E faço desta entrega o meu viver.

Sabendo que virás de tarde, eu logo
Esquento este edredom e passo a crer
No estio que tu trazes com teu fogo
Querências renovando o bem querer.

Esgarço minhas dores, vou liberto,
De ti quero ficar sempre mais perto
Apertos que passei, simples passado.

Jorrando as alegrias noite imensa,
Bendigo a nossa rara recompensa
Voltando a me sentir um felizardo.
Marcos Loures


77
O pranto que salgou cada momento
Aonde eu procurara ser feliz,
Agora se tornando este lamento
Não sabe qual criança o que te diz.

As cordas do passado, eu arrebento,
E volto ser apenas o aprendiz
Que um dia imaginara ser ungüento
Aquilo que hoje trago em cicatriz.

E quando estás comigo, eu bebo a sorte
Que tanto me inebria feito um corte,
Aprofundando assim, minhas feridas.

Mas quando o meu castelo em ti desaba,
Restando do palácio, simples taba
Aonde caberão as nossas vidas...


78

O povo pelas ruas, esfaimado
Não sabe na verdade discernir
O bem que se mostrara no passado
Numa presença bela a se investir

De todo este poder imaculado,
Mostrando o quanto é belo repartir.
Cordeiro entregue a lobo desgraçado
Morrendo pra de novo ressurgir

Depois de tanto tempo o belo Rei
Exposto nas vitrines natalinas,
Numa inclemente, dura e triste lei

Servindo como fonte de riqueza;
Aos olhos dos meninos e meninas
Vendido no comércio. QUE TORPEZA!


79

O pouco se derrama em quase nada
E faz do que é fartura, desengano.
Entrando novamente pelo cano,
Minha alma parecendo depenada.

Usando a fantasia como escada,
O quanto imaginei ser soberano
Apenas derrubando sina e plano,
Prepara a cada instante a derrocada.

A moça debochada inda faz bico,
Empobrecendo o sonho outrora rico,
E quando não está de bom humor

O olhar para outras bandas, eu estico,
Porém pago com juros outro mico,
Refém dos desencontros deste amor...


80


O porejar sublime, teu rocio
Tomado gota a gota me inebria.
Do quanto eu te proponho e me vicio
A noite em mil loucuras principia.

Nas grutas, furnas, locas, explosões,
Inundação de gozos e de risos,
Na cama em que se entregam furacões
Certeza de delírios mata os sisos.

Rolando sobre nós estrelas nuas,
Uma arquejante insânia nos colore.
Entregue a tais prazeres continuas,
Teu corpo que eu perceba e que eu decore

Os rumos que me levam aos orgasmos,
Sem medo, sem limites, sem marasmos...
Marcos Loures


81

O poder que traz uma amizade
Nos molda para a luta, esteja certo,
Escuridão valora a claridade,
Oásis se enobrece no deserto.

Apenas a distância mostra o perto,
Uma ilusão seduz realidade
Porém somente em plena liberdade
A gente reconhece um peito aberto.

Assim quando se faz a tempestade
A calmaria é tudo o que queremos,
Por ela nós lutamos e sabemos

Que nós temos na paz, finalidade,
E enfim poder contar com alegria
Vivendo nossa vida em harmonia...


82

Ó pobre carpinteiro, não sabias,
Do preço que hoje cobram pelo Amor
Nas mãos incontroláveis as sangrias
Que fazem nos cordeiros, um Pastor.

O Rei que entre mendigos morarias
Fazendo do perdão, mote e louvor,
Agora nas mais ricas pedrarias
Percebe o seu altar se decompor.

A corja vendilhã te expondo nu,
Vendido como massa de manobra
Serpente que aos milhares se desdobra,

Rapineiros esgares do urubu
Que explora uma carniça redentora,
Cevando com a dor, farta lavoura..
Marcos Loures



83

O peso que me deste fraudulento,
O rosto que me mostras enrugado.
Nos braços que me ergueste fui detento,
Amores que sangraram no passado.

Não peço nem desculpas nem alento.
Retorno desse sonho apaixonado.
Amores que singraram pedem vento.
Agora vou ficar aqui do lado...

Não quero me omitir deste defeso,
Nem volto minhas costas para o mar.
Amores que sangraram, indefeso

Deixaram coração que quis amar...
Amores que sangraram, vou obeso
O peso que roubei deste luar...
Marcos Loures


84

O peso do passado ainda cobra
Os juros pelas dores que causou.
O vento que deveras te levou,
O sino mais constante volta e dobra.

Desígnios contumazes desta cobra
Que um dia em bote fútil me picou,
Do quanto de emoção me destroçou,
Passado sobre as flores já soçobra.

Imagem carcomida se reflete
No espelho que por certo, só repete
A velha ladainha: ser sozinho.

Atordoado; vejo que ao final,
Tristeza se fazendo um ritual,
Destrói o que pensei abrigo e ninho.


85


O peso da saudade me esmigalha,
Transforma a minha força em simples pó
Restando-me somente esta mortalha
Lembrando-me, cobrindo, que estou só.

Não tendo o refrigério da navalha
O mundo me tragando, duro mó,
Não quero que tu sintas nem mais dó,
Nem mesmo a morte vem e me agasalha

Meus olhos embotados, na verdade,
Apenas refletindo a mocidade
Perdida há tanto tempo, no passado.

Refém de uma ilusão; sinto saudade
Do pouco que bebi da liberdade
Deixando-me p'ra sempre, embriagado..



86

O peso da palavra corta fundo,
Adaga que entre sílabas perfura.
Farnel pleno de mel e de amargura
Perfume delicado ou nauseabundo...

Das cores mais diversas eu me inundo
E posso ser venal, mas com ternura.
Ao mesmo tempo mata, alívio ou cura.
O verso, este fantasma vagabundo...

As farsas que se criam, poesia,
Verdades encobertas, falsos guizos.
Lidar com tais cristais, brilhos diversos.

Ao mesmo tempo amor, dor e agonia,
De infernos tão dantescos; Paraísos...
Usando por buril somente versos...
Marcos Loures


87

O pesadelo outrora tão remoto
Chegando tão feroz sem poesia
Transtorna totalmente cada dia,
Do nada que já tive; o vago broto.

O mundo se repete, e neste moto
A gente vai matando a fantasia.
Não tendo mais sorriso que eu queria
Os olhos no vazio, agora eu boto.

Na dura caminhada pela vida,
Estrela que guiara está perdida,
Não vejo nem mais sombra da alegria.

Sombria, cada noite se perdeu
E quem sonhou demais sem himeneu,
Jogado sempre às traças, ventania.
Marcos Loures


88

O pernilongo até que ainda encaro,
É bicho xexelento, mas tá bom.
Percebo pernilongo pelo faro
Pior se desafina ou muda o tom.

Porém picada sempre perigosa
Daquelas doloridas, na verdade
É dessa criatura tenebrosa
Que vive na total obscuridade

Arrasta pelas pedras, pelo mato
E tem em duas presas tal veneno
Que mata se não trato, eis o fato.

Pois medo deste bicho em mim já sobra
Faz pernilongo ser café pequeno
Mordida venenosa de uma sogra...
Marcos Loures


89


O pensamento voa
Sem asas pra voar
Virando uma canoa
Encontro mais o mar

Viver a vida à toa
Com quem eu quero amar.
Felicidade é boa
Não canso de sonhar

Com quem amor revoa
E encontra onde aninhar
Um som que assim ressoa

Fazendo outro ecoar
Minha alma já se escoa
No mar a te buscar...
Marcos Loures


90

O peito, deste amor, bom funcionário,
Não deixa que se atrase uma esperança
Sonhar eu sei ser sempre necessário.
Quem teima, com juízo vai e alcança.

Amiga, neste teu aniversário
A gente comemora com festança,
Um bem que se mostrando forte e vário
Conquista pela simples temperança.

Que Deus iluminando os teus caminhos
Demonstre quanto amor; amiga espalhas.
Se a liberdade esquece das cangalhas

Mais fortes, poderosos, os carinhos.
Na data benfazeja comemoro
A festa de quem amo, pois te adoro!


91

O peito se tornando, aberto, exposto
Demonstra assim o quanto amor domina.
O tempo de viver já determina
De toda a minha história, cada gosto.

Amanhecer me encontra mais disposto,
Frondosa e necessária a minha sina
Setembro apascentando o frio agosto,
A primavera chega; em clara mina.

Assim, ao ver as flores pelos campos,
Vagando pelas noites pirilampos
Mostrando em lusco fusco outro caminho.

O coração que outrora fora vago,
Agora ao perceber um manso afago
Não quer e nem pretende andar sozinho...
Marcos Loures



92


O peito não sossega, a mão se atreve
E busca a liberdade. Mesmo tarde.
Uma alma se sentindo bem mais leve
Tentando prosseguir sem dar alarde

Recebe o vento forte da esperança
E beija as corredeiras deste rio.
Mas quando no chicote, uma aliança,
Futuro se mostrando tão vazio...

A terra tem seus donos, coronéis,
A bala de um revólver faz estragos.
Tocaias preparadas são cruéis
Os sangues espalhados formam lagos.

Destino de jagunço é mesmo assim,
Com sangue vou regando o meu jardim...
Marcos Loures


93

O peito escancarado segue aberto
E trama um novo encanto, uma ilusão,
Que traga ao meu caminho, a redenção
Que o faça navegar, solto e liberto.

Sentindo esta presença aqui por perto
Percebo em vento manso, a sedução.
Porém ao acordar, o mesmo não
Traduz o que eu carrego, um vão deserto.

Procuro pelos sons que recebera
Nos cantos mais diversos, primavera.
Os pássaros se foram, revoando...

A seca se espalhando em meu inverno,
Interminável, duro, frio, eterno...
O nada, meu olhar vai vasculhando.
Marcos Loures


94

O peito enamorado diz: laurel!
De todas as batalhas, vencedor.
Alçando num momento todo o céu,
Espalha em seu caminho, brilho e flor.

No quanto quero agora te propor,
Eu vejo o delicado e farto mel,
Trazendo à nossa vida o bom sabor
Matando o que já fora tão cruel.

Reféns desta divina sensação,
Andamos pelos bares da cidade,
Vivendo novamente a mocidade

Jogada há tanto tempo no porão.
Amor que se renova em atitude,
Segredo para eterna juventude...


95


O peito de um sujeito apaxônado
Bateno bem mais forte disparano,
Trazeno uma aligria pru seu lado,
Viveno um grande amô sem tê engano

Sentino u seu perfume, meus amô,
Incontra nos cantêro já brotano
A belezura toda dessa frô
Que um dia me dexô quage chorano.

Num dêxe que esse sonho assim desande
Morena trais o sor do Rio Grande
Prás mata mais bunita das Gerais.

Fazeno da viola sertaneja
O puntiá que a lua mais deseja
Beleza sem iguá, ela mi trais...
Marcos Loures


96

O peito de quem ama é só festança;
Riacho atravessando o vilarejo
No litoral o mar traz a lembrança
Do tempo em que, riacho, era desejo...

Eu me pego no sonho a procurar
Sintomas e sinais do que virá.
Quem dera se amor fosse o farto mar
Aonde o pobre arroio chegará.

As águas vão buscando paciência,
Um dia, no final da nossa história,
Na areia desta praia a florescência
Do sol ao laurear clara vitória.

Quem tem imensidão como destino,
Jamais se perderá em desatino...
Marcos Loures


97

O peito de esperanças se repleta
Não deixa mais espaços pra tristeza
A refeição, querida se é completa
Permite um bom banquete em cada mesa.

Decerto tantas vezes imagino
A dor ou a saudade como amiga,
Cansado de viver tal desatino
Permito que o amor sempre consiga

Vencer minhas defesas, velho dique,
Promessa de gostosa inundação.
Se o barco, no caminho for a pique,
Eu tive, pelo menos a emoção.

Assim eu não permito tais dilemas,
Há tempos que eu rompi tristes algemas...


98

O peito apaixonado já soçobra
O barco vai cortando esta procela,
Enfrenta com malícia cada dobra,
Redobra o meu amor, saudade dela.

Recebo o que te dei, amor em dobro,
Dobrões neste tesouro descoberto,
O rumo/timoneiro, enfim recobro,
Navego a calmaria em mar aberto.

Sabendo que terei enfim, uma ilha
Aonde possa ver a bela ilhoa,
Nos vales encantados, sigo a trilha,
A vida do teu lado é muito boa!

Morena graciosa e sensual,
Sereia do meu mar, sensacional!


99

O peito amarrotado pelos cantos
Jorrando o podre sangue da esperança,
Aonde o meu olhar não mais alcança
Ainda resta um traço feito encantos.

A mão abençoada com seus mantos
Tentara dar a nós sua fiança,
Matando a cada dia uma criança
Depois não reclamemos dos espantos.

Os olhos de um menino maltrapilho,
Permitem vislumbrar o melhor trilho,
Porém na negação que agora trago

Um cúmplice canalha; reconheço,
Condenado ao eterno e vil tropeço,
O coração pedinte segue vago.
Marcos Loures


11800

O passo que se mostra a cada dia
Depois de certo tempo faz liberto
O peito que tivera por deserto
Refrão tão repetido em mão vazia.

Inverno de repente já se estia
O quanto que carrego, sem aperto,
Distante se tornando bem mais perto,
Vigora agora a lei feita alegria.

Não quero reviver a dura seca,
Também não necessito de ama-seca
Eu quero simplesmente estar amando.

Se o tempo traz verdade e mata a crença
Começo e recomeço, recompensa,
Não quero e nem me importa desde quando.
Marcos Loures
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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