Os dias foram passando
Nas ruas desertas
O viajante do tempo
Observava as criaturas
Dormindo sob as marquises
O carrinho cheio de papelão
A barriga só com um pastelão
O jornal aquecendo as noites
São dias que se repetem
Aos olhos do visitante
É a outra face da cidade
Das vidas que insistem
Não são mendigos, nada pedem
Apenas livram as calçadas
Das caixas, dos embrulhos desfeitos
Na saga da sobrevivência, cansam e dormem.
As suas moradias distantes
Fazem das ruas seus lares
Faça frio ou calor, pouco importa
Todas as estações ao sabor da brisa
O intrépido cavalheiro
Encontra um casal de catadores
Uma breve troca de olhares
E lhes oferece um prato
Uma prenda rara necessária
Para suportar aquela noite friorenta
Eles agradecem a divina providência
E o viajante deixa escapar uma lágrima
Assim seguiu o misterioso Senhor
Enquanto se agitavam jovens em bares
A tudo ouvia atentamente, gemidos e preces
Sua missão destinava-se aos humildes, sem penhor.
Mas, todo o alimento contido em um prato
Do bar na Lapa, à quentinha na Rua dos Andradas
Era o contraste de vidas desiguais, um paradoxo
Pois ambos tinham sua razão de ser, deveras...
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 27/12/10.