Espaço vazio de quem tem pressa
Corpo frio como quem tem nada para ter
Boca fechada do mudo que fala da calma
Coração sem porto certo de tantas partidas
Espaço vazio de quem nunca existiu
Olhos que de tão furados nada enxergam
Peito de andar em cada ser só pra ter
Ternura e nada do ser pra beber
Espaço vazio cheio de pouco amor
Como quem trabalha muito e nada faz
Como beber a pressa em um só gole e se afogar
Fora do poço ainda moço e morrer devagar
Espaço vazio dentro do espaço vazio
Como gerar filhos fora da estrada
Fica de lado como meio fio de rua sem roupa
Como filhos do medo e do segredo do escuro
Espaço vazio preencha, por favor, não fique assim.
Se nada fizer acabará cheio de tão só, só de si.
Sem ter pra onde ir, ficará só e só não é jeito de ficar.
Pessoas filhas do silêncio e da inocência da dor
José Veríssimo