VIVES NA POESIA
O Verão chegou...
Sinto o calor sufocante,
infiltrar-se pelas paredes,
pelas frestas do tempo.
Decidi,
por momentos,
abandonar as quatro paredes,
que me abrigam,
e aqui estou,
sentado
no banco de madeira,
do meu terraço,
pequeno como a casa adjacente,
mas grande...
Grande como a vida
que ainda procuro.
Mas que faço eu aqui?
Papel nas mãos trémulas,
vontade de te sentir em poema.
Sabes,
não é fácil estar aqui,
assim,
a pensar em ti,
vagueando pelos sonhos,
talvez meras utopias.
Portanto resolvi,
hoje não vou rimar.
Se tu viveres,
nas rimas dos meus poemas,
esta é a única forma que tenho,
de estar longe de ti!
Faço-o,
porque este pensamento constante,
me inunda de incerteza
Medo do que não tenho,
de não saber o que desejo.
Medo de desejar não ter,
para que não possa perder.
Contudo percebi...
Não, nas rimas não estás!
Onde te procuro e isolo então?
Na poesia?
Vou então deixar de escrever,
Só assim posso fugir.
Mas ao fugir da poesia
fujo de mim!
E se de mim me ausento,
não existo!
Não existindo,
nada posso ter...
Só uma hipótese me resta,
a ti me entrego
ao amor não renego,
mesmo quando a poesia não presta,
à solidão me nego,
puxo pelo meu ego,
fazemos uma festa,
na alegria pego
as nossas raízes rego,
a vida fica mais lesta...
<br />RMC