Bem o sei, são fogos-fátuos,
estes meus versos vulgares.
No entanto, talvez, reflitam,
em parte, ao menos, o encanto
dessas cousas singulares,
profundas, cíclicas, breves,
que ao mais insensível dos homens
podem às vezes tocar...
O tronco repleto de orquídeas,
no ermo recanto de um pasto,
sob um lampejo solar...
Acordes de Vivaldi, às estações,
na via de um vilarejo
envolto em franco luar...
Espero, assim, te afugentem
rumores de passos, prantos
de séquitos ancestrais.
Que te amenizem, temores.
Façam-te ver que há poesia
(ainda) e melhor que esta:
há uma poesia que vibra
acima e à volta, dos homens,
acima e à volta dos crimes
dos homens, os mais brutais...
Espero, assim, que a lembrar-te
a infância, a escola, os amores,
cantilenas, madrigais,
em os guardando, um momento,
os tenhas por teus, não mais.
Bem o sei, são fogos-fátuos.
E a quem importa o destino
que a um livro de versos dês?
São meros torrões de terra
estes poemas que lês...
(Do livro "Estado de Espírito", de Sersank)
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