Vestiram o manso cordeiro
com a pele de lobo esfaimado.
Temiam-no assim mascarado
e assim foi, até ser carneiro.
Parecia caçador verdadeiro,
embora nunca tivesse caçado;
para comer bastava um prado
e água fresca de um ribeiro.
Tanto temia-o o seu rebanho,
que até quando ele balia
fugiam, sem acharem estranho.
Era um ser que não se conhecia,
preso a um fardo tamanho,
já que nem uivar ao luar podia.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.