Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 106

 
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1

Neste canto sereno, querida,
Minha glória é te ter junto a mim.
Nessa história seguindo, na vida,
Tenho o brilho de ser teu, enfim...

Se trouxemos as dores antigas,
Disfarçamos tão bem, meu amor.
Te preparo, nas novas cantigas,
Novo tempo sem mal, sem rancor.

Meu carinho por ti, gigantesco,
Meu amor não termina, jamais.
Pesadelo, terrível, dantesco,
Te perder, não terei, nunca mais...

Venha agora, comigo, sem medo;
Ser feliz, é o nosso segredo...


2

Neste canteiro enorme da paixão
A rosa que se esmera em perfumar,
Depois de certo tempo abre o botão
Quem sabe poderá de novo amar?

Eu quero ser, quem sabe, o colibri
Que pousa nesta rosa e que a deslinda,
Não sabes, mas te quero sempre aqui,
Tu tens este poder; ó rosa linda!

Por vezes, ao beijar-te me espezinhas
Bem sei que pode ser tua defesa,
Mas quero tuas noites sempre minhas,
Amor sempre nos serve cama e mesa.

Permita que te toque um passarinho
Que cego, tantas vezes perde o ninho...


3

Neste caminho simples pro futuro
Deixei as amarguras para trás,
Por mais que tanto escuro quanto duro,
Pretendo desfrutar do amor em paz.

Nesta estranha ousadia do querer
Passei a desejar amor intenso,
Eu sei que vou tentar sobreviver
Sem ver esta mulher em que só penso.

Não vejo mais problemas em ter fé
De que esta noite venha e serei teu,
Preparas com certeza o meu café
No doce de teu corpo, sonho o meu...

Mas sinto que, querida, se revela
A solidez do amor à luz da vela...


4


Neste caminho encontro meu tesouro
No rosto da mulher que sempre quis.
Não quero uma riqueza, nem quero ouro;
Com ela já me sinto mais feliz!

Tem toda uma alegria de viver
E traz uma esperança sem igual.
Envolve de carinhos meu prazer
Nas noites de desejo sensual.

É lua e sol que brilham no meu céu
Reflexos em minha alma, calmaria,
Na cama, uma pimenta em doce mel,
Trazendo sedução e ventania...

Neste caminho encontro minha amada,
O sol que me invadiu a madrugada!


5

Neste beijo molhado escandalizas ;
Avisas que chegaste devagar,
Fazendo tempestades destas brisas,
Alisas o meu peito sem parar...

Tu és minha esperança mais querida
Da vida que duvida e não se cansa.
Na lança que descansa e foi sentida,
Saída se procura e não se alcança.

Colores o meu peito em teu amor,
Amar é mar gigante em que lanço,
Sem ranço sempre avanço sem pudor,
A todo instante avante e não me canso..

Por mais que te pareça estupidez
Amor ensandecido, assim se fez...
Marcos Loures


6


Neste beijo gostoso, querida,
Nós selamos amor, bom viver.
Depois duma esperança perdida,
Minha vida, já vai renascer.

No carinho do beijo, molhado,
Lambuzado, com gosto de mel.
Meu destino ficou bem marcado,
Sob a luz cristalina do céu.

As carícias também foram tantas,
Que não pude esquecer, meu amor.
Na ternura abundante me encantas
Esperança de amor salvador.

Neste beijo, carinho divino,
Novamente, virei um menino...


7

Neste bar simplesmente a vida passa,
Nada me impedirá viver a noite,
As minhas esperanças, a cachaça.
O frio me servindo como açoite...

Por entre garçonetes e fumaça,
Quem me dera encontrasse que me acoite,
A vida não repete este chalaça
Da lua cortesã, nosso pernoite...

Dançávamos colados, tanta valsa...
Sonhava com teu beijo, noite fria...
A dama dos meus sonhos vai descalça

As mãos não têm juízo, mão vadia...
Nos dedos uma jóia que sei falsa,
Nos olhos um desejo, poesia...
Marcos Loures


8


Neste anjo que se esconde dentro em mim,
Palavras formam asas, me fomentam,
No puro sentimento voa sim,
Meus sonhos nos teus olhos sempre aumentam.

Cativos pensamentos vão enfim
Formar estes desejos que arrebentam
Tomando tua boca carmesim,
Em versos que teus dias reinventam...

A vida que se faz doce promessa,
Não pode recolher velhos espinhos,
Mas sabe que o amor traz a remessa

De novas alianças a cada dia.
Se feitas com ternuras e carinhos,
Prometem novamente uma alegria...


9

Neste amor que eu quero
Espera feliz
Um toque sincero
Que agora me diz

Que quando te espero
Do amor aprendiz
O sonho libero
Tu tens o que eu quis

Estrela primeira
Dos céus desse amor
Minha companheira

Em ti meu torpor
Mas venha ligeira
Provar meu calor.
Marcos Loures




10

Nesta alma tão gentil, por certo em sonho,
Tão cedo se torturam meus desejos...
Vivendo num sutil campo risonho
Despida se invadindo de azulejos.

Esta alma segue etérea pro futuro,
Desvenda cada passo que encontrou.
Procura por amor profano e puro,
Angélica moldura se pintou...

E rastros destas manhas pueris
Espalha pelos campos dos prazeres,
Minha alma se traveste em louca atriz
E invade esses domínios do quereres.

Encontra a tua alma sertaneja
E louca, transtornada, te deseja!


11

NESSES VERSOS QUE FIZ PROCURO VER
O BRILHO DO QUE FOMOS E SENTI.
DE TUDO QUE PENSEI PODER VIVER
SOMENTE O QUE SONHEI , E TE PERDI...

PERCEBO NOS TEUS OLHOS SEM QUERER
O MEDO QUE SINCERO ME ESQUECI,
O VENTO QUE TE TROUXE POSSO CRER
EM TOLOS SENTIMENTOS, LEDO, RI...

O GOSTO QUE PRESSINTO NO TEU BEIJO
ME FEZ DE TI REFÉM, DE TEU DESEJO.
REFEITO DESTES SONHOS QUERO O MUNDO.

VESTINDO MEUS SEGREDOS, SEM RECEIOS,
ENCONTRO NOS MEUS OLHOS,OS TEUS SEIOS.
MERGULHO SEM TEMER, E VOU PROFUNDO...
Marcos Loures


12

Nesses distantes ermos eu perdi-a,
Nas combalidas noites encontrei-a.
Tantas vezes com ardor traduzia
O medo que devora, tudo anseia...

Embalde procurei, passei meu dia
Na busca inútil, perco minha teia,
Encanto me propõe a melodia
Atroz da vida tonta e me incendeia...

O medo preparava seu pavio,
Os olhos esquecidos nesta chama...
Os tempos rememoram, quente e frio,

Amantes se deitaram noutra cama...
Nos ermos que perdi, vencido o cio,
Chafurdávamos sujos, mesma lama...


13

Nesse vento tão frio, a madrugada
Suplica pelo amor que já perdi...
Desculpe se permito minha amada
Os restos de esperança, guardo aqui...

Janelas de minha alma, tão fechadas,
Não deixam mais meu canto solto ao vento,
As noites me torturam, des’peradas,
Deitado do meu lado, o sofrimento...

Quem dera se encontrasse meu caminho,
Por entre tantas sendas mais floridas,
Destino em desatino, estou sozinho...
Buscando as nostalgias vãs, perdidas...

Meu canto em solidão, triste lamento,
Do amor que não me sai do pensamento...


14

Nesse último estertor de minha vida
Refaço as minhas contas e te digo,
Ainda necessito deste abrigo
Do labirinto escondo uma saída.

Uma esperança tola e distraída
Afronta ao fim da tarde um vão perigo,
Embora já sem forças; quero e brigo
Buscando a mocidade assim perdida.

Na lida uma alma esquálida percebe
A luz que inda clareia noutra sebe
E tenta em salto inútil desvendar

Segredos do que foi e não voltou,
Trafego nos cadáveres que sou
Fazendo da alegria um doce bar...
Marcos Loures


15

Nesse teatro Noh, somos artistas
Saltimbancos apenas e não mais.
Resquícios do que foram vãs conquistas
Expressam nossa sanha: amar demais.

Amores que em promessas beijam cais
Passando velhas dores em revistas
Das ondas se perdendo, buscam cristas
Encontram nas areias, pantanais...

Insânia nos vestindo, cruamente
Aos pés ata grilhões, sangra em corrente,
Paixão morrendo aos poucos, merencória.

Embora num mergulho eu vá com tudo
Embate que perdemos; não me iludo,
Amor contra razão em luta inglória
Marcos Loures


16

Nesse mundo fugaz, tu és meu vício.
As minhas mãos descem marginais,
Buscando-te na veia, quero mais...
És o meu sonho, duro precipício.

Amor que não se entrega, sei fictício,,
Morrendo na promessa do jamais,
Aquele que enfim, tanto fez ou faz...
Não deixa nem sobrar sequer indício.

Viciado, portanto, sem ter cura,
Na busca interminável por ternura
Matando essa criança dentro em mim...

Dos lábios que sonhei, distante assim,
A tua ausência, amada, me tortura
Secando cada flor deste jardim...


17

Nesse minuto, nesse exato instante,
Passeiam loucos nos jardins do céu...
Cobertos pelas suas mantas, véu...
Num só momento, ficarão diante

Do grande trono do Senhor. Avante!
Estão cobertos de poeira e mel,
Andando, vagam certamente ao léu;
Em cada movimento semelhante...

Os seus caminhos se cruzaram, sinto
Vir vindo novo sentimento. Absinto
Embriagando de loucura e paz.

Pelos jardins, vão caminhando, santos...
Os seus segredos são guardados, tantos
Medos sentidos, descansar jamais...
Marcos Loures


18

Nesse banquete; glórias e concertos,
As fantasias, loucas e completas...
Os sonhos impossíveis de um poeta.
No final dessa festa, mais consertos,

Nos tremendos reparos, meus acertos,
Amor novo, Cupido trouxe setas.
As mágicas orgias tão diletas;
E refeitos, meus sonhos vão despertos...

No banquete, bacantes e nudez,
A noite espreita, espera sua vez.
A morte tocaiando, ri-se, espúria...

Nos olhos, lacrimejo, minha mágoa,
A chuva torturante, traz tanta água.
Mas na minha alma em seca, resta anúria...


19



Nesse balé maldito, roda a vida,
Numa dança cruel, sem sentimento.
Não poderei jamais fugir, mas tento;
Quem sabe então verei uma saída...

Na contradança; o bem querer. Perdida
Uma alegria, o dia passa lento.
Não deixo de pensar um só momento
Na noite que se foi, na despedida...

Apenas vislumbrando uma farsante
Que escondes em sorrisos e disfarces.
Espelhas, na verdade tantas faces,

Num gesto mais cruel e provocante.
Jamais serei comparsa ou teu amigo.
Dançar em tal balé? Eu não consigo!


20


Nesse amor que sonhamos para nós,
Nocivo e delicado, salvador.
Atamos, desatamos tantos nós
Que tecem nossas teias, nosso amor...

Pois quando te procuro não duvide
Que a noite se anuncia toda nossa.
Amor quando em amor tudo decide
Entranha se deseja e já se empoça.

Vasculho cada canto e cada encanto,
Desejo teu amor sem penitência
Na pura entrega mansa sem espanto.
Mistura de carinho, impaciência...

A noite vai passando sem saber,
Nestas mágicas rédeas do prazer...


21

Nesse abastardamento, nosso amor...
Inclementes percebem nosso fim...
Causando sem ter pena, um estupor
Matando, lentamente, impede o sim...

Amor que se firmara perde cor,
Não quero revestir-me deste brim,
Empalideces, passas, um trator...
Perdido vou morrendo, espadachim...

Neste caramanchão de buganvílias,
Os olhos esgarçados de saudade...
Nossos jardins, prometem tantas tílias,

Nada restou senão essa incerteza,
Matar o nosso amor, que crueldade!
Abastardaste, louca, tal beleza...


22

Nessas tênues vertentes deste rio
As águas que te banham deliciam.
Diluo meus desejos no teu cio
Pelúcias que os amores propiciam...

Desfilo meus dedos em teus portos
Atraco meu navio no teu cais.
Os medos não demoram, vivem mortos,
Pois sabem que temor não terei mais...

Cortejo cada toque mais profano,
Remessas de delírios e prazeres
Noturnas fantasias sem engano,
Que são tramadas, basta tu quereres...

Eu quero teu amor, manso cortejo,
Em tantas explosões do meu desejo...


23

Nessas sombras dos verdes arvoredos
Deitada mansamente no meu colo,
Expondo seus mistérios e segredos,
Voando com meus sonhos, sai do solo.

Comigo, decolando deste chão,
Nas asas deste que nos comporta
Estendo o nosso sol numa emoção
Abrindo, do infinito a velha porta...

E vamos passeando pelos ares,
Conforme nossos olhos já pediam.
Colhendo as maravilhas dos amares
Em mares que jamais nos deixariam

Viver sem poder ter essa brandura
Da sombra tão macia da ternura...


24

Nessas horas vagantes, sou procela,
Num sentido senil que tanto arvora...
Nessa fila de banco, uma demora
No final dessa rua, Rua Bela.

Quando fiz papagaio, da janela
Lateral do meu quarto, quis a flora...
Mas nessas tentativas, perco a hora
Da consulta marcada por Gisela.

Fingi que não queria beber cloro,
Tomar um formicida, dar risada.
Nesses vários papéis que mal decoro,

Existe verdadeiro compromisso:
O de nunca ser tudo ao menos nada...
O que tenho, pergunto então, com isso?

10525



Nessas folhas caídas , meu outono
Distante de uma bela primavera
tragando o pensamento em abandono
inverso se aproxima, esta quimera

transborda tão somente mal ressono.
Inverno terminal. Ai quem me dera;
Meu Pai me concedesse; como abono,
um último suspiro que amor gera.

nos meus tempos felizes que se foram
Menino, procurando o seu futuro,
Não sabendo, entretanto quanto é duro

O perder dos amores que ficaram.
As esperanças todas, se acabaram.
Já fui. Agora espreito sobre o muro...


26

Nessas conchas marinhas, seus segredos;
As ondas que marulham prisioneiras...
Dedilham esperanças tristes dedos,
As noites que vieram, derradeiras...

Os versos me traduzem quaisquer medos.
Coqueiros, caranguejos, mar, esteiras...
Meus olhos vão buscando os arremedos.
As noites que sangraram, as primeiras...

As cordas das montanhas azulejam.
Nos cantos dessas conchas sei o mar...
Meus olhos os teus olhos se desejam.

O rumo das estrelas caminhar...
Saudades nos meus olhos já latejam,
Nas conchas, ondas, mares, quero amar...
Marcos Loures



27

Nessa tristeza sinto, mesa e bar,
Distâncias se completam na aguardente;
Quem me dera, poder, tão de repente,
Rever a tua boca e te beijar...

Minha cabeça roda sem parar,
Despeço-me da pútrida serpente.
Nesse bar melancólico e demente,
As cadeiras vazias têm lugar...

Amei demais e sinto que perdi,
Não tenho outra verdade; pois, sem ti,
nada de mim restou, estou no fim

Na pele, tens delícias de cetim,
Na boca a sutileza do carmim
Reflexos deste amor roçando em mim...


28

Nessa terra de amor e de esperança
Eu vejo uma rainha que caminha.
Nos olhos desta moça uma aliança
Que traz a poesia nossa, minha...

Na tela que pintei os olhos teus
Estrelas se esconderam. Nem a lua
Permaneceu; me dando seu adeus,
Porém o brilho intenso se acentua.

Na terra desse amor que tenho tanto
Meu canto mais suave te procura;
Entregue ao teu carinho e ao teu encanto,
Que traz a maravilha da ternura...

Na terra da esperança nosso amor,
Em meio a tempestades, salvador!


29


Nessa nossa cavalgada
Coletando mil estrelas
Tua pele arrepiada
Estas tocas doces, belas

Te fudendo a noite inteira
Quero a xana e quero o rabo
Putaria corriqueira,
Se começa não acabo

Quero a boca no meu pau
Minha língua em teu grelinho,
Num gostoso bacanal

Vou na frente e como atrás,
Vou depressa e de mansinho
Como a gente ninguém faz!


30

Nessa noite, fantasmas me perseguem,
Descobrindo o recanto onde descanso,
Por mais que fantasias eu navegue,
O rio que pensei, nunca foi manso...

Mortalha dos amores, foi entregue,
Nas mãos dos tais fantasmas, sem remanso...
A dor que não permite que eu navegue,
O passo incoerente onde me tranço...

Nessa noite, miasmas me definham,
As almas dos amores já me enfrentam,
Os rumos, meus caminhos, desalinham,

A vida se parece vil batalha,
Lutando tantas vezes, sei que tentam,
Caminhando no fio da navalha...


31

Nessa noite eu quero que o luar
Invada esta janela do meu quarto,
Aos raios desejosos me entregar
Até dormir, cansado, morto... Farto...

Da teia dos teus braços sou refém
E não desejo nunca uma saída.
Tu és toda a certeza deste bem
Que é parte crucial de minha vida.

As emoções misturam-se, prazeres,
Entorpecido sigo noite afora,
Roçando nossos lábios, mil quereres,
Sabendo quanto é triste o ir-se embora.

Eu quero a solução mais ardorosa,
Na noite que vivemos; maviosa

32

Nessa minha oração, peço perdão;
A quem, por amor, segue o meu caminho.
Quem me fez contemplar, e sou daninho,
Andorinha sozinha no verão...

Quem me trouxe certezas, por paixão,
Me embriaga, bebendo amarago vinho.
Fermentando, devora de mansinho
Tudo o que restou. Sem solução...

Vindo da noite, gritam pesadelos,
Para viver melhor, não quero tê-los,
Mas, mal fecho essa porta, a força é bruta...

Amor, transfigurado, nem me escuta,
Cansado, vou vivendo essa labuta,
A minha vida envolta em tais novelos...


33

Nessa imortalidade, nosso amor,
Se rende a teimosia, tantos medos.
Vivendo da maneira que se for,
Sabendo da distância e dos segredos.

O fio que nos une é tão flexível
Embora tantas vezes posto à prova.
Amor que se parece perecível
A cada novo tempo se comprova.

Rondando pelas trevas, nem se afeta;
Cabendo em meus problemas, soluções;
A vida se provoca e se completa,
Unindo tão diversos corações...

Depois de termos rotos os temores,
Imortalizaremos os amores...


34

Nessa alvorada pássaros cantando
Fazendo tanta festa numa praça
Perdida no passado mais longínquo...
O tempo nunca pára, sempre passa

Estes mesmos pardais da minha infância
As andorinhas se foram, mas voltaram,
Porém os meus folguedos de criança...
Ah! Já faz tanto tempo se acabaram...

As árvores da praça continuam
Assim como estes bancos no jardim...
Saudade vai batendo, vai batendo,

Trazendo essa lembrança dentro em mim.
Tristezas num momento se atenuam
Sentindo assim teus braços me envolvendo...
Marcos Loures


35

Nessa alameda insana de um amor,
Um velho caminheiro se perdeu.
Quem dera se inda fosse um bom ator.
Porém até roteiro ele esqueceu.
Carinho que julgara- sonhador-
Pudesse ser somente teu e meu

Agora ao ver ao longe, no horizonte
O brilho deste sol que ora te abraça,
Deitando o seu poder em outra fronte,
E o teu sorriso manso, pleno em graça,
Que em nova direção teu peito aponte,
Enquanto o sonho meu já se esfumaça...

E sinto que te perco dia-a-dia
Na lua assim sem brilhos, fugidia...


36

Neófito nas sanhas de um amor,
Amargurei cruéis desilusões.
Pensando em teu olhar, meu refletor
Chuviscos transformados em monções.

No sol das esperanças peguei cor,
Mas nada que chamasse as atenções
Daquela por quem tive este labor,
Minha alma freqüentando os teus porões.

Nos alçapões da sorte, um passarinho,
Encontra a fria grade, uma gaiola.
Na lama da tristeza já se atola

O que restou das velhas fantasias,
Meu brado vira apenas burburinho,
Novelo da amargura, tu desfias..
Marcos Loures


37

Nenhum amor resiste à solidão,
Decerto nela encontro um triste adeus.
Teus olhos tão distantes já dos meus
Não podem definir a sensação

De ter a cada noite em duros breus
O medo de viver sem ter razão.
Meus olhos com certeza, mais ateus,
Não tem sequer mais rumo ou direção.

Sou teu e disso faço o meu caminho
Em meio à tantas pedras, sem destino.
A rosa se desnuda e sem espinho

Transforma-se em perfumes benfazejos.
Tu sabes que sem ti, me desatino
E morro me afogando em meus desejos...
Marcos Loures


38

Nem tudo que és capaz já te convém

Por isso é necessário ter cuidado.

A amizade se faz no querer bem

Tentando confortar o bem amado,


Nem tudo o que fizeres edifica,

Às vezes te destrói, só depois sentes.

O perfume em quem dá, na certa fica

Entranhado. Se amor tu não consentes


De nada vale a vida; pois amor

É base para ter felicidade.

Num edifício feito sem temor

Tijolos são os atos de amizade


Que enfrentarão as chuvas e tempestas.

Inveja e possessão abrem as frestas...


39

Nem tempo nem distância nos destrói.
Se nós somos metades mais perfeitas.
Nem mesmo a solidão que tanto dói,
Impedem nossas sortes já refeitas.
Apenas todo amor, enfim constrói,
Te sinto em cada noite em que tu deitas.

A tua boca chama e logo venho,
Morena sedutora, meu desejo...
És tudo o que mais quero, onde me embrenho,
No sonho delicado, em cada beijo.
Extasiado, tanto amor te tenho..
Eternidade assim, em ti prevejo..

E juntos vamos, gozo e alegria,
Desejo que esta noite sempre cria...


40

Nem sempre conseguimos, mas escute
A voz do coração e siga em frente,
Enquanto houver um sonho, teime e lute,
Vitória com certeza se pressente

Nas mãos que não se cansam da batalha,
Arquétipos rasgados e esquecidos,
Felicidade vem pra quem espalha
Os cantos da alegria, destemidos.

Não posso duvidar do amor que move
Montanhas, cordilheiras. Quando chove
Tu és a proteção na qual se abriga

Os sonhos deste velho aventureiro.
Sabedor do valor tão verdadeiro
Que existe nos teus braços, cara amiga...
Marcos Loures


41

Nem sei se este causídico causava
Nos outros ( falsidade ) uma impressão
Melhor do que o pelintra bonachão
Quando alguém mais ingênuo o contratava

Vendendo a consciência, não pagava
Nem na mesma moeda, a direção
Forjada com seu ar de vendilhão
Enquanto, sem falar, só debochava;

Um dia; um cidadão desesperado
Depois de ter sem dó assassinado
Aquela a quem, outrora, tanto amou.

Dizendo assim- Meu sonho se acabou,
Matei minha mulher! Esse advogado
Respondeu então: DIZEM QUE MATOU!
Marcos Loures


42


Nesta cova que herdaste por consolo,
Toda herança maldita que sobrou,
Vivendo deste imenso e seco solo,
Somente o que contigo carregou;
Amigo, neste mundo em que me imolo
Percebo que de nada adiantou

A cruz em que o cordeiro consagrado
Há tanto tempo morto, em sacrifício,
Deixada como um sonho abandonado,
Tornando-se pra muitos seu ofício.
No sangue há tanto tempo derramado,
A flor que mais cresceu foi a do vício

Espalhado pela terra, em tantas faces
Moldadas, escondendo mil disfarces...
Marcos Loures


43

Nesta carnificina anunciada
A mão do que não pude faz estragos.
Derrubo meus castelos, mato a fada,
Não quero dos demônios mais afagos.

Alavancando o medo, vejo o fulcro,
Rasgando a minha tênue fantasia.
O quanto sobrará deste sepulcro
Que a vida em mares negros, sempre cria.

Gerando tão somente o mesmo cardo,
Espículas rasgando este molambo
Que um dia imaginara ser um bardo,
E aos poucos, sem limites, já descambo.

Suspensas ilusões tomando o ar,
A nuvem nega o sol que eu quis brilhar...


44


Nesta canção de amor; eu te proponho
Dançarmos esta noite sem parar,
Minha esperança nos teus braços ponho,
E esta canção vai solta; ganhando o ar,

Te pega pelas mãos e te convida
Ao sonho que pretendo realizar;
Vivermos tão eternos nesta vida
Nos passos desta dança, flutuar...

Com palavras sinceras, eu desejo
Te fazer mais feliz a cada passo,
Em cada novo canto um novo beijo
E juntos, navegamos pelo espaço,

Eu te proponho agora uma canção
No compasso ritmado da paixão...


45


Nesta beleza rara, escultural,
Suave calmaria leva o mar.
Contorno de vitória triunfal,
No campo das batalhas do luar.

Beiras a perfeição, és divinal,
Uma sílfide leva-me a sonhar.
Beleza sem igual, fenomenal,
Tradução mais correta: verbo amar.

A boca carmesim, doce e pequena,
Os olhos exclamando: formosura,
Acena com propósito de cura.

As pálpebras fechadas: vera cena,
Dormita tão serena criatura.
Acordado, venero esta morena!
Marcos Loures


46

Nem pude terminar este castelo
Que em sonhos eu criei para nós dois.
Saudade que em mil versos te revelo;
Deixaste nossa vida pra depois.

Tocar a tua pele tão macia,
Sentir o teu perfume junto a mim.
Manhã sem ter teus lábios, tão vazia,
Que faço se esta dor não tem mais fim...

Quisera sem pudores, ter-te nua
E ser o teu parceiro noite afora.
O mar mais revoltoso continua,
Porém meu barco ao léu jamais se ancora.

Encontra quem tentara ainda um cais
Desilusões somente e nada mais.
Marcos Loures


47

Negando o que se fora amargo fel
Poeira no meu peito toma assento
Depois de ter tocado imenso céu,
Achado que era Deus por um momento,

Provado da ilusão, perfeito mel,
Ausência se tornando sofrimento.
Vagando sem destino o meu corcel,
Refaz esta ventura em pensamento

E; viva, uma saudade faz do afago
A tempestade imensa em calmo lago.
Depois de tanto tempo, sobrou nada.

A gente se perdendo em noite fria
Matando o que restou de poesia
Tornando a nossa sina malfadada...
Marcos Loures


48

Negando com vigor a claridade,
O céu de minha vida é nebuloso.
Não tendo no horizonte, a liberdade,
O tempo se mostrando caprichoso.

Retumba a tão dorida tempestade,
O quanto que não tenho, mata o gozo,
Vencido tão somente por saudade,
O medo se tornando desairoso.

Chegando pouco a pouco em noite fria,
A nuvem de falenas quer o lume
Apenas encontrando alma vazia

Não deixam mais sequer algum perfume.
E quase no final da noite imensa,
A vida não promete recompensa....
Marcos Loures


49

Negando cada verso que compus
Os dias vão em mágoas, desgraçados.
A mão que entediada me conduz
Expressa sentimentos torturados.

Legado que carrego, a minha cruz
Em dias mais cruéis, desventurados.
Negando a claridade, morta a luz,
Em trevas os antigos flóreos prados...

Apenas nos meus olhos, ansiedades,
Temíveis, doloridas tempestades,
A vida vai secando cada veio.

Os olhos se tornando rasos d’água,
A solidão no peito já deságua.
A morte se tornando o meu anseio...
Marcos Loures


10550

Negando bruscamente o meu porvir
A voz do meu passado não se cala,
Tomando com firmeza quarto e sala,
Não deixa nem sequer o sol se abrir.

Quem dera se eu pudesse te pedir
Ao menos um carinho, mas se cala
Minha alma, da tristeza, uma vassala;
Algoz que nada mais possa impedir

Agônica expressão que toma a cena,
O beijo que recebo me envenena,
A mão que me acarinha, desabriga.

Ouvir o mar distante sob a lua,
Numa tênue esperança, continua
Trazendo em seu marulho uma cantiga.
Marcos Loures


51

Negando a ventania e o vão granizo,
Amor faz deste estio, eterno mote.
O passo que se dá, sendo preciso,
Não deixa nem serpente, medo ou bote.
Fartura que se mostra em um sorriso,
Do mel de tua boca quero um pote.

O vento em mansidão, agora avisa
Da doce melodia que me alcança.
Palavra mais sublime e mais concisa,
Na brisa se transborda; nossa dança.
A cada novo verso mais se frisa
A força deste amor, uma esperança.

Rebenta, no caminho, pedregulhos,
Não deixa mais restar sequer entulhos.


52

Negando à fantasia o seu espaço,
Pressinto num momento de inquietude
Que ainda me permito ao teu abraço
Mudando de caminho e de atitude.

Quem sabe na amizade o meu sustento,
Trazendo algum alento, uma esperança.
O quanto que eu desejo e mesmo tempo
Criar alguma forma de aliança

Que possa permitir algum remédio,
A droga que fascina e me entontece
Legando à solidão a dor e o tédio,
Um novo amanhecer assim se tece.

Nos braços que estiveram do meu lado,
Um novo amanhecer tão esperado...


53

Negando a dor solene, amargo drama
Avanço sem temores, ganho o cais,
Estrelas derramadas, sensuais,
Decoram todo o quarto, nossa cama.

Desejo que atendamos quando chama
Em movimentos loucos, divinais,
Não quero te perder, amor, jamais,
À noite uma vontade nos inflama

E o jogo continua sem descanso,
Depois a calmaria de um remanso
Sentindo o bom perfume das madeixas

Que tocam o meu rosto- tentação,
E entregue a tais desígnos da paixão,
Decifro teus desejos, tuas deixas.
Marcos Loures


54


Nefastas, minhas noites se esgarçando
Medonhas fantasias. Podridão.
A morte se declara e desde então
O tempo entre meus dedos escoando...

O Amor, um cruel vândalo tomando
O que restou da estúpida ilusão,
Naufraga a minha torpe embarcação
Sem regras, sem o leme e sem comando.

Os corvos sobre mares de heliantos
Crocitam no horizonte e já são tantos
Que nublam mesmo em pleno meio dia

O céu que tolamente azulejei,
Grisalha realidade toma a grei
E entorna a tempestade em agonia...


55

Nefasta humanidade, esgoto aberto
Que exala em podridão seu cerne obscuro,
Vestindo esta carcaça com apuro
É como fosse um tétrico deserto

Nas garras desta fera, mal desperto
Tento uterino abrigo, calmo e puro,
Porém, intransponível, este muro
Condena sem perdão ao passo incerto.

Envolvido somente por mecônio,
Sulfúrica impressão deste demônio
Que trago dentro da alma, inexorável.

Eu tento resistir, inutilmente,
Tentáculos escusos, plenamente
Tornando este ar terrível e intragável...
Marcos Loures


56

Nefasta criatura andando solta
Qual fosse um lobisomem em sexta-feira.
Matilha de calhordas faz escolta
Vasculha sem pudor cada lixeira.
Imagem nauseabunda me revolta
Diabólica figura, a mensageira

Estúpida da súcia mais abjeta
Enquanto vaga à toa pelas ruas
Vociferando asneiras se completa
Uivando para estrelas, pensa luas,
Procura a companhia predileta
Nas podres e infelizes almas cruas

Ao espalhar infernos, pária escroto,
Mimetizado bóia num esgoto...



57

Necrofágico sonho, amortalhando
Um ser que em liberdade tenta a paz.
No gládio destemores se entornando
Num gozo mais profano e sempre audaz.

A pérfida emoção me transtornando
Carnívora ilusão se faz voraz,
O resto da alegria vai sugando
Anêmica esperança, o sonho traz.

Malditos os teus olhos, dura fera,
Os teus grilhões impedem meus caminhos
Negando a floração da primavera

Escárnio demonstrando num sarcasmo,
Na viperina face entorna em ninhos
A imensa sensação de um louco orgasmo...


58

Necessito de um beijo, quem me dá?
Amores temerários, não os quero.
Querida, tantas vezes, onde está
A noite que tragamos, peço, espero...

Preciso urgentemente, não dará?
Que faço destas flores? Desespero?
Não sei se Rio Grande ou Amapá
Só sei que sem amor, cadê bolero?

Me visto, me revisto, quedo mudo.
Me mudo me remendo, fico manso.
Não posso nem pretendo, mas contudo,

Meus versos são inúteis, um desejo...
Meu grito segue embalde, já me canso...
Imploro simplesmente por um beijo!!!!
Marcos Loures


59


Navego um mar intenso de prazeres
Arcanjos encontrando no caminho
Bebendo desta festa em mil talheres
Adentro com certeza o belo ninho

Que sabes com fineza ofereceres
A quem se fez amante e de mansinho,
Percebe este prazer que tu mais queres.
Vibrando em frenesi, tanto carinho...

Banhando tuas praias com meus mares,
Encontro em tua tez belos altares
Aonde professando em prece insana

Recebo teus desejos sensuais,
Invado tuas sendas, catedrais
Erguidas para a deusa mais profana...


60

Navego no teu mar, ondas e ventos,
Depois em tais procelas, eu naufrago,
Transbordo meu amor em sentimentos,
Qual gato vou buscando o teu afago.

Ronrono nos teus braços, por momentos
Depois mergulho insano neste lago,
Amor sem ter limites, eu te trago,
Desejos que na cama têm assentos.

Em sensações tão loucas, pueris,
Eu galgo meus prazeres, quero o bis.
Amar é simplesmente me afogar

E crer sem ter temores na ilusão
Que toma nossa vida, e qual um mar,
Explode depois na arrebentação...
Marcos Loures



61

Navego neste mar, tranqüilidade;
As âncoras jogadas nos teus braços.
Depois de imaginar já ser bem tarde
Estreito fortemente nossos laços.

Eu sei quanto é preciso a liberdade
Mas nada me detém, nos teus abraços
Encontro no prazer diversidade
E assim já vão mais firmes os meus passos.

Num frágil sentimento que tomara
A vida de quem soube ser amara
A sorte destrutiva que maltrata.

Querida, eu te dedico este soneto,
Trazendo uma esperança, eu te prometo
Meu verso em transparência mais exata


62

Navego entre teus mares e me perco
Vibrando de emoção; naufrágios busco,
De todos os delírios eu me acerco
Deixando no passado o lusco fusco.
O quanto nosso amor se fez mais brusco,
A dor é pra quem ama, um bom esterco,

Ouvir a noite inteira os teus apelos,
Cerzindo com palavras cada bote.
Misturas entre sedas, nossos pelos,
E a volta ao velho e santo, amargo mote.
Calor ao derreter terríveis gelos,
Galope aonde houvera simples trote.

Apago os meus rancores, chego a ti,
A estrela que em mil versos persegui...




63

Navego com delícias por teus mares,
oceanos divinais de brandura,
desfruto a maravilha de pomares,
mergulho nos teus braços, a ventura

de ser teu companheiro de viagem
por céus, tantas estrelas como guias.
Felicidade é meta, uma estalagem
aonde nós teremos alegrias.

Tapetes de galáxias, nebulosas,
corcel que se liberta em asas plenas.
No teu caminho, amada, tantas rosas.

Teus olhos, meus faróis, teus braços, redes,
teus lábios doces fontes, matam sedes
de quem já se entregou em belas cenas...
Marcos Loures


64

Navegas tuas mãos por sobre mim,
Com tal sofreguidão que não resisto,
Eu quero o teu carinho até o fim,
Desejo sem igual, jamais foi visto.

Teu corpo no meu corpo um estopim,
Teus seios em meu peito, eu tudo assisto
E vou neste tempero sempre assim,
Do teu prazer, amada, não desisto...

E toco-te com lábios mais audazes,
Que buscam a nascente dos prazeres.
Mirabolantes gestos são capazes

De todo o doce gozo que quiseres,
Depois a boca aberta em um sorriso,
Bebendo o que vier do paraíso...
Marcos Loures


65

Navega entre enxurradas, barco à vela
Papéis que se transformam; liberdade,
O vento que o carrega nos revela
Do quanto a vida traz fragilidade.

Pintando esta paisagem numa tela
Encontro virtual tranqüilidade.
Corcel que nos meus sonhos, gozo sela,
Moldando esta emoção que agora invade...

Efêmeros momentos de alegria
Que valem toda a vida, eu te garanto.
Se a noite se apresenta mais sombria,

Dos olhos gotejando dor e pranto,
Criar um frágil barco de esperança
Que um dia, imenso mar, decerto alcança...


66

Navalha e canivete na cintura
Bornal trazendo um resto de esperança,
A faca penetrando esta amargura
À margem do riacho da lembrança.

Tomando no boteco se depura
A dor de ser refém desde criança
De um medo que ancestral vira amargura,
E sempre que ele pensa vem e alcança.

Nas manhas do moleque já crescido,
Manhãs adormecidas na saudade,
Restou talvez, quem sabe, uma amizade,

Do tempo que se fora, transcorrido
Nas léguas dos caminhos não trilhados,
Dos sonhos que mal teve, abandonados...


67


Naufrago nos teus mares, meu saveiro,
Tu és já com certeza, o ancoradouro,
No qual com esperanças eu me douro
Bebendo deste amor tão verdadeiro.

Maravilhado eu sinto o doce cheiro
Do amor que transformou no nascedouro
A vida num raríssimo tesouro,
Trazendo esta alegria ao garimpeiro,

Ourives que lapida a jóia rara,
Encanto que em teus braços se declara,
Querendo no oceano, navegar

No porto que é teu corpo encantador,
Aporto com volúpia, franco amor,
Tomando a mansa areia, devagar...


68

Naufrago no teu corpo, doce enchente
Vazando pelas margens, algas, águas.
Tocando em cada rio, um afluente
Eu deixo para trás antigas mágoas

E invado tua praia sem licença
Avanço pelos cabos, ilhas, portos.
Não vejo ser possível desavença
Embora meus caminhos sejam tortos...

Ao invadir teu cais com meu saveiro
Adentro cada ponto de chegada.
Mergulho no teu corpo e vou inteiro,
Não deixo, meu amor, sobrar mais nada...

E tudo se transforma em tempestade,
Só resta bendizer felicidade....
Marcos Loures


69

Náufrago dos sonhos, cais distante,
O mar entre sargaços, celacantos,
Fantasmas dos meus olhos, desencantos,
Um pesadelo a mais, a cada instante.

Ourives que perdeu seu diamante,
Mortalhas me servindo como mantos.
Salgando todo mar com os meus prantos,
Por mais em agonia, essa alma cante.

Do amor que fugidio, já morreu,
Bem antes de poder trazer o alento
Que mitigasse enfim, meu sofrimento,

Estrela que de mim tanto esqueceu
Vagando em outros céus, brilhando intensa,
Deixando ao coração medo e descrença...
Marcos Loures


70

Nem preciso dizer quanto te quero...
As cordas esquecidas do meu pinho...
As notas que procuro enquanto espero,
Roubadas no cantar dum passarinho...

Nem preciso dizer quanto venero,
A boca que me morde, com jeitinho,
O mundo que navego, não tem clero,
Totalmente profano o meu carinho...

Nem preciso dizer que te esperava...
A tarde que sonhei, audaz e brava,
Nas mãos que acariciam, meus pecados...

Amores que perdi, desesperados...
Compensam esta espera que passei...
Castelos que constróis, neles sou rei...
Marcos Loures


71

Nem mesmo uma vontade de ficar,
Apenas a distância tão sofrida
De quem quis aprender demais amar,
E foi-se numa estrada, vã, perdida...

Mas sinto que talvez, uma esperança,
Aporte nesta porta sem bater.
No vento que me trouxe, na lembrança,
O gosto e bom perfume do prazer...

Amada, por favor, te espero aqui.
Imerso na terrível solidão.
Esqueça se, meu rumo; já perdi,
Encontro em teu caminho, a salvação.

E peço, meu amor, esta alegria,
E traga, pros meus braços, novo dia!


72

Nem mesmo a sombra passa pela rua
Escura de meus sonhos esquecidos.
Eternamente morta, ausente a lua
Os astros se perderam, distraídos...

Tão somente escuridão que continua
Em rumos mais diversos, repartidos
Palavra sem sentido, nua e crua
Vagando entre vazios divididos.

Vivo buraco negro dentro da alma,
Não deixando nenhuma claridade.
Mas ando sem problemas na cidade,

Mantendo incrivelmente toda a calma.
Mesmo sem nada ouvir, sigo o caminho,
E Deliciosamente, ando sozinho...

Marcos Loures


73

Nem mesmo a solidão, barca vazia,
Impede aventureiro coração
Que busca o paraíso na amplidão
Deitado sob o sonho, a fantasia.

Contendo da tristeza uma sangria,
O vento se mostrando em turbilhão,
No fogo tresloucado da paixão
Projeto de esperança não se adia.

Ardendo nos teus braços, fogaréus,
Adentro com firmeza claros céus
E bebo cada gota deste orvalho

Enquanto em sedução gozos espalho
Tramando um novo tempo de viver
Hedônicos caminhos do prazer.
Marcos Loures


74

Nem mesmo a nossa morte nos separa,
Atados por eterno sentimento,
Sabemos, meu amor, como é tão rara
A vida que vivemos, sem tormento.

Te quero tantas vidas que vierem,
Nas doces emoções que nos envolvem,
As almas desejosas, sempre querem
Na sensação que dás, eterna, jovem...

Meu coração jamais se calará
Nos versos que te faço, a cada dia.
A lua que nos trouxe brilhará
No canto deste amor, em poesia...

Amada, eu não temo mais o fim,
O bom de toda vida vai, em mim...


10575



Nem deixam os amantes mais em paz,
Invejas de outra gente solitária
Distante da sublime luminária
Falenas se matando em fúria audaz.

Apenas a vontade satisfaz?
Decerto sei que é sempre necessária,
Porém a claridade temporária
Não mostra todo o bem que amor nos traz.

Faminto de teu cheiro, teu perfume,
Bebendo a cada dia farto lume
Um mundo mais perfeito descobrindo,

Imito em pensamento a bela lua
Que ao ver-te assim deitada seminua
Entrando no teu quarto te sentindo.
Marcos Loures


76


Nem árvores frondosos já tombadas
Nem mesmo algum riacho que se seca,
Bandeiras esquecidas, destroçadas.
Homens fazem da morte a sua Meca
Cadáveres servindo de almofadas
A quem quando destrói não vê que peca.

Porém da natureza, uma armadilha
Num bote mais certeiro, seca e fome.
Pegadas vão formando a dura trilha
Que aos poucos, nos devora e nos consome.
Os lobos no poder, voraz matilha
E o povo ensandecido, o resto come.

E ao Deus maravilhoso em seu ofício,
Indago se valeu Seu sacrifício.


77

Negaste teu amor a quem, um dia,
Vivendo uma ilusão te quis aqui.
Meu canto se transtorna, uma agonia,
Tomando seu lugar onde vivi

Os sonhos que julgara de alegria,
Em pesadelos mostram quanto em ti
Destrói-se sem motivo a fantasia,
Até uma esperança eu já perdi...

Mas canto minha vida sem tristezas,
Apenas aprendi como se faz.
Deixando para o lado as incertezas,

Seguir cabeça erguida minha estrada,
Depois de tudo a morte vem em paz,
Do amor que não me deste; levo nada....


78


Negaste o teu carinho em verso triste,
Matando o que nos fez bem mais felizes.
A solidão aponta o dedo em riste
E faz as minhas sortes meretrizes.

Um passarinho morre sem alpiste,
Abriste novamente cicatrizes,
Somente uma esperança inda resiste
Depois de tantas dores e deslizes.

Amiga, tu prometes inda ser,
O que me poderia ser melhor
Restando simples gota de prazer,

Percebo um amanhã menos nublado,
Teu rosto; ainda guardo e sei de cor,
Dentro do coração vai retratado...


79

Navego pelos mares da esperança
Neste caminho sem saber de volta
O quanto se aproxima e me revolta
Depois que a poesia nada alcança,

Jogado pelos cantos, sem lembrança
Do todo que sentira em tua escolta
A mão não me segura e se me solta
Invado sem saber de confiança

As ermas madrugadas em sarjetas
E quando outro caminho me prometas
No fundo sei somente do vazio.

E o tanto que pudera adivinhar
Perdido neste encontro sem luar
Traduz o quanto quero e desafio.


80

Negando cada passo rumo ao mar
E sei da praia ausente e nada mais,
Ainda quando vejo os vendavais
O tempo se mostrando a divagar,

Pudesse nos teus braços mergulhar,
Quem sabe noutros tempos, desiguais
Os dias entre tantos, triunfais
Erguendo para além o vago olhar.

Espero sem sentido nem razão
As horas que decerto me trarão
Somente um lenitivo, e quando vejo

O todo se esvaindo num instante
A sorte no vazio não garante
Sequer o que pudesse num lampejo.


81

Negar o quanto pude e não sabia
Vencendo o dia a dia mais audaz
E sei que a fantasia se desfaz
Matando o quanto posso, alegoria.

A sorte desenhada se desfia
E deixa o meu caminho para trás
E o rústico cenário tanto faz
Marcando com terror o dia a dia.

Esparramando o sonho sem destino,
E quando noutro passo eu determino
A minha mansidão, mesmo que vaga

A pútrida verdade se decifra
E a vida se traduz em leda cifra
E o corte a cada instante se propaga.


82


Ninfetas e lolitas, sonhos vãos
E os dias entre turvas consciências
As sortes não seriam providências
Colheitas sem saber dos novos grãos.

Os tempos entre tantos são meus nãos
E os cortes nos meus sonhos evidências
Dos partos onde as mortes, sem ciências
Invadem madrugada; abortam grãos.

Grisalhos os cabelos de quem sonha,
A sorte se mostrando mais bisonho,
Neste retrovisor a vida capotava

E o quanto do passado se perdeu,
Meu mundo na verdade não é teu,
E o todo se transforma me medo e lava.


83



Níveas as manhãs onde buscara
Sorriso de quem amo e nunca veio,
O tempo se mostrando em tal receio,
A sorte na verdade sempre rara,

Somente coletando nova escara
O olhar se presumindo em ar alheio,
E o quanto poderia em devaneio,
A morte a cada curva se prepara.

O ocaso se transforma em tal momento
E quando alguma luz, inútil tento,
Esbarro nos meus erros mais constantes,

E o caos se desenhando após o medo
Ainda quando posso me concedo
Vencendo estes tormentos que adiantes.


84

Negar a minha sorte
E crer noutro futuro
Aonde se conforte
O quanto inda procuro

No passo feito em corte
O dia mais seguro,
E a vida sem aporte
Prepara o solo, duro.

Esvaio em verso e medo
E quando quis assim,
No nada me concedo

E bebo até o fim,
A vida sem segredo
O sonho dentro em mim.


85


Na cúpula dos sonhos
A sorte se desenha
E quanto mais risonhos
A vida traz na lenha

Momentos enfadonhos
E neles já contenha
Os dias que bisonhos
A dita não se empenha.

Resulto deste ocaso
E quando ali me aprazo
Esbarro nos meus erros,

Planícies, vales, ermos
A vida traz em termos,
Apenas ledos cerros.


86

Na mão esta roseira
No olhar enamorado
A vida que se queira
O tempo em novo brado,

A sorte derradeira
O canto do passado,
A lua verdadeira
O sonho desejado.

E assim nada pudesse
Além da rara messe
Do amor sem mais fastio

E o todo continua
Beleza rara e nua,
Ainda a desafio.


87

Nefasta madrugada
Aonde o dia traz
Após a degradada
Imagem mais mordaz

O tempo quando invada
E dite o tom tenaz
Da sorte desenhada
Em nada, morta a paz.

Espero qualquer dia
E quando pude ver
A morte me traria

O novo alvorecer
Matando a poesia
Gerando o desprazer.


88

Não vejo mais o fim
Nem mesmo o quereria
A sorte em fantasia
Trazendo este estopim.
Vivendo dentro em mim
A noite mais sombria
Traçando desde assim
O quando poderia.
Resulto deste ocaso
E quando assim me atraso
Esbarro neste engano.
Opaca madrugada
A sorte desejada
No fundo enfim me dano.


89

Repare muito bem
Os erros do passado
E quando a noite vem
Traçando o quando evado

Esbarro neste alguém
E sei do adivinhado
Caminho onde também
Não tenho outro traçado.

O verso se traduz
No quanto pude crer
E a farta e bela luz

Já não mais posso ver
Aonde se conduz
Um triste alvorecer.


90

Necessitando a sorte
De quem se fez além
Do quanto inda retém
E nada me conforte,

O passo não suporte
A vida em tal desdém,
O quanto quero bem
No fundo aumenta o corte,

Esbarro no vazio
E sei que desafio
O verso em redenção,

As noites mais sombrias
Matando as fantasia
Momentos não virão.


91


Negando cada engano
Matando a minha luz
O quanto deste plano
Ainda me conduz

E o tempo em ledo dano
O corte feito em cruz
O risco sobre o pano
O parto contraluz

Fechando assim a porta
O sonho se deporta
E mata quem sonhara,

Depois deste veneno
Aonde eu me condeno
Renego tal seara.


92

Negociando a queda
Ainda que pudesse
Trazer o quanto enreda
E dita a rara messe,

A sorte se envereda
E nada mais tropece
A vida não mais seda
Quem sabe o que se esquece.

Resplandecente lua
E nisto continua
O todo não permite

O quanto se fizera
Do todo em primavera
A vida sem limite


93

Vivendo a cada dia
O quanto pude ou mais
Em frente aos temporais
O todo se faria,

Na sorte em poesia
Ou mesmo em dias tais
Os passos desiguais
O corte não traria.

O mundo se calando
Moinho onde se mói
O tempo já destrói

E mostra desde quando
A vida não condiz
A morte, por um triz.

94

No caos gerando o medo
E o tempo em ventania
O quanto além procedo
Traduz o que eu veria

Assim na fantasia
A vida sem segredo
O rumo me traria
O tempo desde cedo.

Esgoto cada verso
E sei que sigo imerso
Nos antros mais vulgares

E sei dos meus sinais
E neles outros tais
Realçam meus altares.


95

Reinando sobre o nada
A sorte se desfia
E gera a alegoria
Há tanto, desenhada

A noite na sacada
A lua em poesia
A sorte me traria
A vida prateada

Resumos de um passado
Aonde quero e invado
Gerando novo sonho,

E o tanto quanto pude
Embora siga rude
Traduz o ser risonho.


96

Ouvindo este marulho
Na praia da esperança
A vida quando amansa
Prepara o que me orgulho

E sei quando mergulho
Do todo quanto alcança
E a sorte já se lança
Além de algum entulho.

Esvaio num instante
E o nada se garante
Ainda quando pude

Vestígios de outros tempos
Em meio aos contratempos
Matando a juventude.

97

Eviscerando a sorte
Aonde nada houvera
Sequer a primavera
Além do que me corte,

A porta não suporte
O quanto ainda espera
E gera a louca fera
E nela sei a morte

A marca se aprofunda
Uma alma moribunda
Negando qualquer luz

E o parto se anuncia
Aonde a voz sombria
Aos poucos me seduz.


98

Idolatrando o sonho
Enfrento os meus enganos
E sei dos mais profanos
Caminhos e me ponho

Audácia no enfadonho
Momento em tantos danos,
Os dias soberanos
O corte mais bisonho.

Apenas não consigo
Vencer outro perigo
Tocaias entre espreitas

E sei do quanto pude
Viceja a plenitude
E em vão tanto deleitas.


99

Repare muito bem
E veja o fim do caso
A sorte por acaso
Jamais deveras vem,
E o quanto sei de alguém
E nisto sempre atraso
O mundo quando aprazo
Traduz outro desdém,
Refaço cada passo
E sei que nada traço
Somente o fim de tudo,
E o medo se anuncia
E nisto a fantasia
Ainda desiludo.

10600

Ninando cada sonho
Aonde poderia
Ousar ser mais risonho
E crer nesta alegria

A morte não proponho
Tampouco outra agonia
O mundo mais medonho
Marcante alegoria,

Expresso o quanto posso
Num mundo sou destroço
E sei do quanto resta

De toda esta verdade
Ainda quando brade
O quanto enfim não presta.
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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