não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
ainda tenho de encontrar as palavras para te dizer tudo – tudo é pequeno. tão pequeno dentro. quero dizer: és tudo. mas tudo é tão pouco. tão só. tão curto. tão.....vazio. como eu. sem camisa branca. sem colarinhos engomados. sem botões de punho. sem roupa feita à medida. sem anel. nem branco nem amarelo. nem nada. não há nada que diga tudo. e ainda tenho tudo para te dizer. tanto. mas só os teus olhos sabem. só – e tudo é quase o nada. nada – és tu sempre tudo o que quero. tudo o que sinto quando respiras a meu pé – eu sou um tudo nada. um tudo nada de amor. um tudo maior que o céu. que o futuro. que a vida. que o tempo que resta – quando vejo os teus olhos. quando os olho por dentro. onde guardas ainda o menino que um dia te abraçou como se todas as primaveras de março morressem no teu sorriso. tudo dentro de mim diz que não tenho ainda o que deveria ter para te abraçar. para te beijar. para te segredar ao ouvido: tu és o meu tudo – mas não. não tenho esse tudo quando estás perto. não há palavras. a boca treme e até a ternura que trouxe do passado fugiu para um lugar que não conheço – dentro de mim tudo desaparece – tenho os olhos nas mãos. quando adormeces encosto-os ao teu peito. no teu cabelo enrolo a vida em caracóis bem apertados – deixo de respirar. o ar é todo teu. tudo é teu nas noites onde me desculpo por não ter tudo. um homem sem tudo é um homem desesperado – dormes. dormes como se fosse teu o primeiro sono. quando o amor era uma criança pequena – guardo no peito todas as lágrimas. as que afogam o coração até ao dia em que um de nós tenha de partir. são também tuas. todas – são tantos anos amor. são tantos anos. foram tantos anos que o meu coração migrou. está no teu peito. e é o teu nome que bate no meu peito agora. és a minha vida. és o corpo. o corpo que corre . que abraça. que grita. és. desde o dia em que me pediste tudo. não tinhas de mo pedir porque tudo és tu – tudo o que quero amor. tudo o que quero. é guardar os teus olhos para o dia. onde o tudo deixará de ser tudo. tu não estarás e eu partirei para um lugar diferente de tudo o que tive – não quero chorar por ti. não seria capaz. tu és tão bela. sempre foste. a pele ainda cheira às flores que um dia colhemos em junho. loucos. começamos a falar de amor até hoje. nunca paramos. mesmo quando de porta aberta o vento fazia gelar os corpos. nós falávamos. falávamos de amor. cada vez mais loucos – somos amor. tudo é amar-te – tu és tudo. tudo o que tenho para não chorar – de ti amor quero as lágrimas – quero que sintas a pele fria. gelada. de quem vai para o inferno. por saber que não mais te verei. quero sentir os teus lábios quentes. na minha carne gélida. quero que recebas a chave que me encerrará para sempre no lugar dos que sabem que o amor terreno não é eterno. quero os teus beijos desesperados por deslaçarmos as mãos . quero as tuas mãos ao pescoço e ouvir: nós fomos tudo um para o outro – jamais te poderei dizer tudo. não sei escrever amor. não sei amor. perdoa-me mas não sei fazer palavras. só sei dizer que não aguento viver sem ti.