Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 102

 
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101

Amor total
quando estou
junto a ti ...
(ivi)


Perdido em meio às luzes da cidade
Bebendo cada gole da ilusão
Buscando conceber felicidade
O vento me responde sempre: não;

Caminho pelos becos sem alarde,
Eu sei que na verdade foi em vão,
Agora, com certeza se faz tarde
O tempo se esgotando sem perdão;

O amargor refletido no meu canto,
Causado pelo imenso desencanto
Apenas traduzindo este vazio.

De quem por tantas vezes se perdeu,
Se a lua dos meus sonhos se escondeu,
Agora só me resta o intenso frio...

102

Variar? Pensei!
Impossível? Mas que droga!
Juro que tentei...
Meu coração fechou a porta

Paixões passaram
Como relâmpagos se foram
Só o que em mim deixaram
Amontoado de restolho

Permanecem às lembranças
Radicadas em minha pessoa
Lembranças das lambanças

Que nos faziam sorrir à toa
Das noites de versos rimados
Que até hoje meu peito soa

FADA

Pudesse revolver o meu passado
Voltar cada momento que vivi.
A morte vem rondando por aqui
Eu sinto esta presença bem do lado.

O céu que outrora fora enluarado
Eu sinto que faz tempo já perdi.
Meu barco hoje está desgovernado
E o cais, eu te garanto, não mais vi.

O fim se aproximando, anoitecer...
O coração sem forças pra bater
Meu canto entristecido, sucumbindo...

Bradando o seu cajado, a velha amiga.
Rondando a minha cama, lá se abriga,
Irônica, eu percebo, está sorrindo...

103

ÀS VEZES, POR EMOÇÃO, A RAZÃO MOFA.

Os filhos em rebeldia vão agindo
Mãe Natureza devolve a ingratidão,
Cansou-se de sofrer e com razão
Muda as regras e vai nos castigando.

Teimamos em más ações, só destruindo
Nosso mundo, na cegueira da ambição.
Perdemos o norte e na contra mão
Desabamos, na ilusão de estar subindo.

Não vale um céu azul, sem o ozônio
É querer inteligência sem ter crânio
É ver o imenso mar sem ver um peixe.

Permanecer no erro? Não se queixe
Ao ver ventilador em tua farofa.
Às vezes, por emoção, a razão mofa.

Josérobertopalácio

Enquanto a natureza é destruída,
Castelos são erguidos nos escombros,
Matando pouco a pouco toda a vida,
O homem nada vê por sobre os ombros.

A seca prenuncia o temporal,
A fome se espalhando pela Terra
E o homem, criatura vil, boçal
Não ouve quando Vida sofre e berra.

Herança que deixamos para os nossos
Apenas tão somente frágeis ossos,
E os grandes arvoredos destroçados.

Assim quando cobrarem, no futuro,
A inválida aridez de um solo duro,
Ficaremos somente assim: calados...

104

Mensagem:
Domas meu coração / chicote e jeito,
Com artimanhas que a vida te ensinou
Voltando a ser aluno, ex-professor,
Meu coração inda diz-se satisfeito.

Adentras as artérias do meu peito
Os batimentos seguem a teu dispor
Carinho, chicotada, alegria, dor.
Domado, segue ele a teu respeito.

Pra quem foi um Don Juan, sei que vai mal.
Achou a forma do seu pé. Infernal
Sua vida, a meu ver, mas que nada!

Só bate aos encantos de sua fada
E enquanto, na paixão, da sua mancada;
Eu saio de mansinho pra putada

Josérobertopalacio

Faz tempo que não bebo nem um gole.
Cigarros escondidos pela casa.
A natureza às vezes chega e bole,
Mas quando vou sair, a vida atrasa.

Esqueço da aguardente e da cerveja,
Só tomo o meu suquinho natural,
E quando a fome aperta e aqui lateja,
Eu olho de mansinho e digo tchau.

Um cafezinho, às vezes, um leitinho,
Arrasto meus chinelos pelo quarto,
Andando como fosse bem velhinho
Às nove vou dormir, disto estou farto.

Porém se eu não andar tão pianinho
Sou pego de surpresa pelo infarto....

105

Mensagem:
Somente o doce mel da tua boca
Acende fagulhas em meu peito
Atiça meu corpo – Fico louca!
Aumenta mais e mais o meu desejo...

Amor de tanto fez ou tanto faz?
Não quero pra mim nem pra ninguém
Somente o teu amor me satisfaz...
Somente o teu carinho me convém...

Outra vez contigo puder estar
Sob o lume das estrelas – constelação
Na cauda de um cometa contigo viajar

Fazer mais uma vez feliz meu coração
Trocar versos contigo é te beijar
Como dantes viver nova emoção...

FADA

Sentir teu corpo nu tocando o meu,
Debaixo dos lençóis, o Paraíso,
É tudo o que mais quero, o que preciso,
Contigo atingirei meu apogeu.

Teus seios, tua boca, tua pele,
Vencendo os nossos medos e temores.
Podendo ver o céu em raras cores,
A ti, o meu desejo me compele;

Completas os meus sonhos, sabes disso,
Tu és este Eldorado que cobiço.
Fornalha que mantém acesa a chama.

Deixando estes pudores pra depois,
Saber das maravilhas de nós dois,
Vivendo sem limites nossa trama...

106

Suaves nuvens
a bailar pelo céu ....
Ahh, amor dedicado,
que é sempre lembrado ...
(ivi)

Havia um certo tempo em minha vida
Que o céu se emoldurava com estrelas,
Agora, que esperança está perdida,
Mal posso na verdade compreendê-las.

A vida se esvaindo entre meus dedos,
Bailando no meu céu nuvens sombrias,
Incrível superar antigos medos,
Sabendo serem parcos os meus dias.

Vencido pelo fogo da batalha,
Tecendo com meus versos a mortalha
Que um dia servirá de vestimenta.

A sorte está lançada, eis o meu fim,
Flores estão murchando em meu jardim,
Minha alma algum sorriso ainda tenta...

107

Recomeçar quem me dera
Retornar aos tempos de outrora
Decerto mudaria nossa estória
Bufaria pra galera

Pra te fazer contente
Ser tua matusquela
Demasiada estridente
Pros diabos ser donzela

Declarar tudo que sinto
Falar pelos cotovelos
Pra te ver sempre sorrindo

Te virar pelo avesso
Estória sem medo
Teria um belo desfecho

FADA

Errantes mil cometas vagam loucos
Percorrem todo o corpo de quem amo
Momentos tão felizes são bem poucos
Viagens multicores; quero e tramo.

Ser teu e prosseguir nesta balada,
Nas danças e nos ritos mais sutis,
Adentro noite afora, madrugada
E grito ao mundo inteiro: sou feliz.

As roupas esquecidas pelo chão,
Os corpos se misturam, e se fundem
Na força de um divino furacão
As pernas se entrelaçam, se confundem...

E assim, dois viajantes sem juízo
Conhecem bem de perto o Paraíso...

108

E na Poesia
eu me embriago
de Amor por ti ...
(ivi)


Sorvendo de teus lábios este absinto
Que tanto me inebria quanto cura,
Falar do amor intenso que ora sinto,
Depois de tantos anos de procura

Sangrando esta emoção interminável
Singrando este oceano de desejos
Sagrando nosso amor incomparável
Momentos de prazer, fartos, sobejos.

Naufrágios entre braços e acalantos,
Vivendo sem pudor os teus encantos
Cantando o coração, um passarinho

Decifras meus anseios e vontades.
E quando o pensamento, logo invades
Semeias esperança em meu caminho...

109

Perdi os sentidos
neste beijo
apaixonado ...
(ivi)

Um beijo, tão somente e nada mais,
Alvissareira noite que se arrasta,
Depois de conhecer o porto, o cais,
A vida por si só, ora me basta.

Cerzir com fios de ouro o meu destino
Ardentes emoções decifro e bebo
O que pensara sonho de menino,
Futuro mavioso assim concebo.

Querer cada momento e sempre e tanto
Seguir os teus caminhos, ser teu Par
Tomado pela força deste encanto
Eu pude finalmente me encontrar

E sei que nada mais pode impedir
O amor que este teu beijo fez surgir...


110

Nada tem valor
nesta vida
se não tivermos
o Amor
no coração...
(ivi)

Se o amor é mola mestra desta vida,
O velho timoneiro nas tempestas,
Das emoções diversas que tu gestas
A que propulsiona tua lida,

A estrada entre espinheiros é cumprida
Raríssimos sorrisos, guizos, festas.
As curvas tão freqüentes e funestas,
Batalha costumeira a ser vencida...

São tantas decepções, tantos senões,
Mas saiba, vale a pena este caminho.
Envolta pelas trevas, nos porões

Algum fio de luz vencendo a noite
Chegará de surpresa, de mansinho
Curando as vergastadas deste açoite.

111


Sorrindo mesmo quando a dor chegar,
Liberto coração não teme nada.
Sequer a tempestade em pleno mar,
Aguarda a calmaria na chegada.

A primavera, um dia há de voltar,
Jamais acreditar na derrocada,
Possível, certamente navegar
Após a noite escura, uma alvorada...

Os riscos costumeiros da viagem,
No peito semeando tal coragem
Voragens e procelas? Não temer...

Assim, feito esperança interminável,
O mundo será sempre mais saudável,
Com força pra lutar e pra viver...

112



Guardo uma canção na alma
decantando o tempo,
carregando as pedras da vida
construídas na saudade
que você deixou...
Em meu corpo
fragmentos brotam
entre um vale e outro,
deixando marcas
de um passado
respingado de vida,
soprando os sonhos
de um amor que surgia
na veia da ternura,
inebriado de encanto...
Quantos planos...
Quantas promessas...
Tuas asas pareciam
réstias de sol,
tuas páginas de vida
eram o livro onde
escreveríamos o nosso amor...
Minha fome de poesia
seria a ceia do pão
e o linho dos lençóis...
As palavras tingiram
o céu, e sobre a folha
de teu corpo meus desejos
jorraram versos de amor...
O belo assustou o que
não foi dito e tudo se
deteriorou nas reticências...
Chove agora lá fora e a água se
mistura ao meu pranto,
ao gozo final de um
amor em seu último suspiro...
Por que essa saudade de você
não vai embora?
Por que teima em fazer
morada em meu coração?
Meus versos vagam pela noite,
caíram palavras pelo caminho
e voo sozinha o espaço que
me resta...
Perdi o rumo
do teu coração...
E não suporto tanta saudade!

Dedete


Saudades das belezas das Gerais,
O Rio Carangola, a queda d’água
Crianças entre velhos mangueirais,
Meu sonho em Muriaé logo deságua.

E volto num momento a ser criança
Sonhando com teus sonhos; ilusão...
Se Minas inda mora na lembrança
Ficou pelo caminho o coração...

O tempo traz as mesmas armadilhas,
A vida determina outras paragens
O Rio vai lambendo as suas ilhas
Prepara outra emoção, novas viagens...

Mas sempre restará felicidade
Em forma de lembrança, de saudade..


113


Quando esperei saudade encontrei riso.
Quando procurei vida, achei distância...
Quando quis a vontade, eis inconstância!
Nas vezes em que louco; fui preciso...

Quando só busquei guerra, paraíso...
Se quis maturidade, tive infância.
Nesse mar que sonhei, só sei estância...
Quanto mais me escondia; mais aviso.

A saudade brincando foi criança,
Na mortalha infinita do teu canto.
Quem sempre procurava, não avança.

Nos meus sonhos serranos, precipícios;
No que quis ser vadio, resta o pranto;
De teu amor nada resta, nem resquícios!


114

Juventude perdida como dói,
Maltrata cada dia sem ter pena,
A distância cruel de longe acena
E a memória sedenta, se corrói...

Fui feliz não sabia e se destrói
O sentimento. Busco a velha cena
Procuro te encontrar, mas a safena
Implantada no peito, como sói

Acontecer, remete ao velho enfarte,
Medo sutil da morte me apavora...
Tentando ser feliz viro descarte

Mas quem me espera cínico catarro,
Que por mais que eu fugisse disso agora;
A velhice emergente tira um sarro...


115


Meu Senhor Me perdoe se não posso
Ter minhas mãos tão limpas quanto quero.
Perdi meu tempo. Busco amor sincero;
Muitas vezes, percebo, quase roço,

Outras tantas procuro pelo Vosso
Amor, mas não prossigo. Sei tão fero
Quem me propôs viver, quem dera vero
Sentimento que nunca mais endosso...

Nos meus caminhos, tortos e sem nexo,
Busco as mudas gentis dos sentimentos.
Tantas noites, amor dizia sexo...

Agora mais cansado, nada busco.
Eu nem sei de torturas, nem lamentos...
Só sei que na luz, teimo ser tão fusco...

116



Pernoita o olhar no silêncio da tua falta
É pálida a madrugada no meu espelho
Busco ainda estrelas no olhar, tosco desespero.
A névoa dos cinzentos desencantos é densa
O vazio renitente da solidão embaça a visão numa espera
Imprime imperativo o desejo... Sem trégua.
Vislumbro na noite a porta entreaberta do sonho
Nela... Meus olhos ainda te encontram.

Karinna

Ouvindo um velho blues, a noite escorre
Saudades de quem foi e não voltou,
Eu bebo mais um copo, e um novo porre
A foto na parede é o que restou...

O quarto esfumaçado denuncia
O câncer se aproxima lentamente,
A história se repete a cada dia
O sonho, ledo sonho volta e mente...

Quem sabe noutra vida, noutro espaço
O mundo já me basta, e no cansaço
Eu faço outro soneto, outra mentira.

E a Terra sem sentir nenhuma pena,
Reflete em meu espelho a velha cena,
E indiferente a tudo, segue e gira...


117

Vem aqui,
que eu
pertenço a ti,
somente a ti...
(ivi)


“Eu não existo sem você”, querida
A vida não teria algum sentido
Estrada sem destino, vã, perdida,
O velho coração já consumido

Pelos erros na ausência da esperança
Bebendo a tempestade de um vazio
Enquanto a morte chega, a noite avança
A vida tão somente por um fio...

Sem ter a sua boca junto à minha
Sem ter os risos seus, sua alegria
O frio de um inverno se avizinha
E morre sem sentido, a poesia.

Querendo o seu querer, ser de você
É tudo o que minha alma, tola, crê...


118

Ainda restam
na minha lembrança
tuas palavras,
a Poesia,
onde floresceu
nosso Amor...
(ivi)

A liberdade mora em plena dor
E nela se refaz a cada verso,
Viver cada momento este universo
Marcado por espinhos, bela flor.

A história se repete, e como for,
Eu sigo mesmo ausente até disperso,
Nos braços de quem amo, vou imerso,
Vibrando as velhas cordas de um amor.

Não posso mais calar, nem mesmo quero,
Mesmo no sofrimento, ser sincero
Bailando sobre os restos da esperança;

Mergulho no vazio de teus olhos,
Estrelas, as recolho e dos abrolhos
Semeio o meu jardim feito criança...


119

E me banho
nestas fontes
de águas cristalinas
relembrando nossas
carícias, nossa paixão,
nosso Amor...
(ivi)


Mergulho nestas águas cristalinas
Banhando-me dos sonhos mais felizes
Estrelas vão vagando, meretrizes
Mil luas observando tão ladinas...

A ninfa se desnuda e me irradia
Matizes tão diversos e brilhantes
Cometas sem destino, galopantes
Transformam negra noite em claro dia.

Satélite de ti, entorpecido,
Hipnotizado, calo-me e navego
A um mundo até então desconhecido,
E a toda esta beleza; enfim me entrego

Perdendo o que me resta de juízo,
Tocando com as mãos, o Paraíso...

120

O amor traz as surpresas mais felizes,
Dos beijos aos carinhos sem pudores,
Estrelas derramadas, multicores,
Dos sonhos, dois eternos aprendizes.

Do encanto que me falas que me dizes,
Eu bebo a fantasia dos licores
E vivo intensamente tais amores
Sem medo dos engodos e deslizes....

Procuro desvendar cada segredo,
Mergulho sem defesas, vou sem medo
E teimo em te querer aqui do lado,

Amar é conceber céus tão diversos,
E canto com prazer nestes meus versos
De um jeito mais gostoso, mais safado...


121

Aguardo esta resposta que não vem
E espero simplesmente, nada mais.
O quanto que desejo diz ninguém
No fundo não seria assim demais.

O quase se prepara para aquém
Os dias se repetem, sempre iguais,
O que não deveria segue além,
Os risos não seriam tão boçais...

Mascaro o sofrimento com sorrisos,
Irônicos os versos, meus poemas,
Repetem na verdade velhos temas,

Os passos são deveras imprecisos.
Agora que se fez outra manhã
A vida se mostrou de novo, vã.


122


Tu tens tanta magia em teus quadris
Que assim tu me conquistas num segundo,
Contigo, com certeza sou feliz,
De cores e de luzes, eu me inundo...

Outrora sem destino, vagabundo,
Desde que te encontrei, eu peço bis,
Nas tramas do desejo me aprofundo,
E tudo o que fazemos não desdiz

A força inesgotável da paixão
Que doma sem vacilo, o coração
Fomenta a fantasia de quem ama.

Os deuses estão vendo quanto amor
Invade nossa cama sem temor,
Mantendo eternamente a viva chama..


123




A resposta pode ser qu'inda demore,
porque não decidi qual vou te dar.
Espera, por favor, ah, vai, não chore,
contempla a luz clara do luar.

Sorri enquanto escreves teu poema,
que fala de um amor mal resolvido.
Embora repetindo o mesmo tema,
o verso é sempre bem construído.

A vida se renova a cada instante,
quem sabe amanhã sou tua amante.

HLUNA


Tu sabes muito bem que isto é meu sonho,
Estar bem junto a ti, ser teu amante.
Por isso, a cada verso eu te proponho
Um novo amanhecer mais deslumbrante.

Cansado de ficar só e tristonho,
Encontro finalmente este diamante,
Que faz o mundo ser bem mais risonho,
Teu corpo sensual e provocante...

A lua nos bendiga e santifique
O amor que nos foi dado por um Deus
Que ouvindo estes lamentos, todos meus

Implora que esta deusa agora fique
E seja a companheira de meus dias,
Sorvendo cada raio que irradias...



124

Olá Marcos Loures,
é uma honra um halo de luz
que se evidencia de mil cores
teres aceitado a amizade que seduz

tratas dos corpos pela ciência
da alma utilizas versos poesia
trazes da amizade a consciência
que nos alimentamos de maresia

que frutifique aqui a tua humanidade
homens e mulheres luso descendentes
é na raiz donde emana a nossa sanidade
que o mundo gira em nós tão evidentes

João Raimundo

Amigo eu te agradeço esta fineza
Composta em belos versos e garanto
Que embevecido estou pela beleza
Inigualável, rara do teu canto.

A vida nos prepara tal surpresa
Usando a poesia como manto,
E quando vejo em ti tal gentileza,
Mantenho mais distante a dor e o pranto.

Sou Loures e isso herdei de Portugal,
Nas veias corre o sangue tropical
Porém minha alma está nas lusas praias

Das lágrimas que salgam vasto mar
Também eu pude outrora derramar
Até chegar um dia, em terras maias...


125


Que este amor enviado pelos deuses,
Supere todos as amarguras
E ao passar dos meses,
O amor, esteja nas alturas.


Orquídea azul


Amar além de todas as fronteiras
Eternidade feita em mil carinhos,
As horas do teu lado, derradeiras,
Bebendo em nossas bocas raros vinhos...

Vontades tão frequentes, costumeiras
Fazendo dos espaços nossos ninhos,
Hasteio em nossos Céus verdes bandeiras
São feitos de esperança estes caminhos...

Sem medo de sofrer, sem amargura,
O mesmo sentimento que nos cura
Num único momento me inebria.

Escuto da janela a voz do vento
E envolto no calor do sentimento,
Encontro nos teus passos, poesia...


126


E vivo,
assim,
eternamente,
pra te Amar...
(ivi)

Vivendo por amar quem não me quer
Sonhando com abraços impossíveis,
Dois corpos num só ser, indivisíveis
Poder te conceber minha mulher.

Sentir tua presença, ser teu par
Vencer os desafios desta vida,
E a história de nós dois; assim cumprida,
Sem nada que me impeça de sonhar...

Porém a manhã chega e este vazio,
Invés de teu calor, somente o frio
E este desejo insano de morrer...

Pudesse ser feliz por um momento,
Quem sabe assim, talvez o sofrimento
Fingisse pelo menos me esquecer...


127


Fazer deste lugar o Paraíso,
Estarmos abraçados, praia e lua,
A deusa dos meus sonhos, bela e nua
Deixando um velho tolo sem juízo...

Teu corpo delicado e mais preciso,
A festa dos anseios continua
Dionísio em seu festejo assim atua
E louco de vontades, teimo e biso...

De todos os lugares, o melhor,
De todos os encantos, o mais forte,
Sem nada que me impeça, sei de cor

O que fazer na noite do meu bem,
Enquanto a fantasia mansa vem,
Bendigo a toda instante a minha sorte!


128

Meu querido, não tenho ciúmes, tu podes ter mil amores.
Só não se esqueça dos meus belos minutos contigo no além.
Dos teus mergulhos em êxtase dentro das minhas flores.
E do meu contentamento por possuir o amor de alguém.


Vejo-te desnudando e este teu olhar que consegues ler,
Desvendando com teu corpo, o meu jeito abocanhador.
E todas as palavras que somente meu corpo sabe dizer.
Fusão de desejos, onde tu entendes o sangrar do amor.


Só preciso que me traga energia e renove toda minha emoção
Vem paixão da minha vida, bombeie amor para o meu coração.
Eu te quero e é tão puro este amor, que te peço até em oração.


Lembres sempre do meu afeto, não me deixe esquecida.
A tua chegada faz-me tão feliz, divinamente enriquecida.
É um renascimento para matar esta saudade tão dolorida.



Grácia Kátia

O amor quando demais gera sangrias
Incontroláveis sonhos, gozos fartos,
Misturando tristezas e alegrias
Abortos de emoções, divinos partos...

Desejos se confundem e se tocam,
Prenúncios de delírios e torturas
E quando os sentimentos já se trocam
Os méis geram prazeres e amarguras...

Amar além de tudo é ser divino,
Eternizando a força de um menino
Que um dia quis voar e não sabia...

Não tema, pois o amor, se ele te encharca,
Enfrentando o oceano em frágil barca,
Sem poder controlar a hemorragia...


129


- POR VOCÊ
Preparo as arapucas, armadilhas
São tantas artimanhas em que me meto,
As dores vão ladrando, são matilhas
E os erros, sempre os mesmos que cometo.

E quando no vazio eu me arremeto,
Distante da alegria tantas milhas
Escondo o sentimento em algum gueto,
Contrária direção por onde trilhas...

Vieste, mas não viste os olhos meus,
Apenas escutaste cada adeus,
Não tiveste o trabalho de buscar

Sequer a minha sombra pelas ruas.
E olhando para além tu continuas
Só resta-me esconder sob o luar...


130



E quando o cair da tarde se vislumbrar,
Um novo anoitecer se fará,
E a lua com seus encantos,
Vai meu amor me mostrar,
Para nos meus olhos, o brilho voltar...

ORQUÍDEA AZUL

A lua refletindo em tua pele
Prateia este sorriso divinal,
E a louca fantasia me compele
Ternura num delírio sensual...

O corpo desta sílfide perfeita
Deleite para os olhos de quem ama,
E enquanto a lua ao longe enfim se deita
O sol que me irradias vem e chama

Deitando junto a ti, praia deserta,
O vento sussurrando mil promessas
A natureza aos poucos já desperta
Sedenta, mil carícias recomeças...

Quem dera fosse assim, sonho divino,
E ausente de teus braços, me alucino...


131

Bicho preguiça quero só teu colo,
Deitado no remanso, curva do rio...
Conhecer teu amor, de pólo a pólo...
Deixar meu coração bater vadio...

Quando estirada estás, no mesmo solo,
Vagabundo procuro, quero o fio
Que me possa prender, dentes amolo
Pronto para morder, quero teu cio...

A pantera cruel, de firmes garras,
Cravando no meu peito, as suas presas.
Nas suas serenatas, as guitarras

Deliciosamente dissonantes,
Refletem teu gemido. Vão acesas
As luzes que refletes ofuscantes...


132

Tua beleza, crime sem castigo,
Me fascina qual fora meu pecado;
Quero viver somente do teu lado
Um mundo mais tranqüilo, em paz e amigo

Distante deste sonho, enfim prossigo
Cada momento a mais, desesperado,
Esperando poder ter encontrado,
Em plena tempestade, o meu abrigo.

Na tua fuga, busco por meus olhos;
Em vão, pois os carregas, tento ver
Mas nada enxergarei. Qual andarilho

Vagando entre desertos, nos abrolhos
Que a vida semeou, vou sem prazer
Perdido, sem destino, senda ou trilho...


133



A rua está suave o vento finge
O tempo está sombrio sem o sol
Apenas no disfarce do arrebol
Para acalmar a noite como esfinge

Com rosto de mulher corpo gigante
Deitada no umbral dos sonhadores
Velando na calada o modo amante
Das horas que mitigam os amores

Carente da palavra que revela
A alma já cansada pede abrigo
O sonho desprovido a ti se anela

Decanta mente e sonho desprovidos
Das noites em calmaria eu pré/sigo
Dos sonhos resguardados e perdidos

sogueira

Perseguindo as pegadas que tu deixas
Enquanto caminhaste pelas ruas,
O velho sentimento mata as queixas
E deusa dos meus sonhos, tu flutuas.

Enredo-me em teus braços, liberdade,
No afã de ser feliz, bem que podia
Trazer para o mundo a claridade
Que maravilhas fartas, irradia

O canto que me enleva e me consola,
O risco que corremos, sem temores,
E o pensamento voa, assim decola,
Semeia pelo espaço, luzes, flores.

E tu que és primavera; doura o sol,
E entornas teus encantos no arrebol...


134


Fazendo da esperança a minha luta,
Usando de metáforas diversas,
As noites solitárias, vãs, dispersas,
Fugindo desta ausência, audaz e bruta.

Nem mesmo a voz do vento, a noite escuta,
E enquanto noutros cantos sonhas, versas
As velhas fantasias vão imersas
Ao renascer o dia, nova labuta.

Credenciando a gente para a morte,
A vida, companheira e má consorte,
Armando as arapucas e tocaias.

Alheio a teus encantos, durmo só,
Refaço-me do medo, e volto ao pó
Morrendo em novas ondas, outras praias...


135


Lembrando das canções do meu passado,
Ouvindo a tua voz suave e mansa,
Saudade, sem perguntas já me alcança
E sinto-te presente lado a lado,

O velho pensamento, solto, alado,
Resiste a qualquer forma de mudança.
Por mais que tão comprida, a minha andança
De ti, o meu viver segue habitado.

Resisto a qualquer nova fantasia,
São tolas ilusões e nada mais...
O barco que se atraca em firme cais

Acostumou-se à velha calmaria
E resta calmamente neste porto,
Futuro? Há tanto tempo, inútil, morto...


136


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- AONDE ANDA VOCÊ?
Trazendo nos meus olhos tal imagem,
O rosto do passado ainda brilha,
O que julgara outrora maravilha,
Agora se apresenta qual miragem.

A vida pra quem sonha? Uma bobagem,
Minha alma sem destino, uma andarilha,
A cada nova esquina, outra armadilha,
Fazendo do vazio, um deus e pajem...

Aragens tão diversas das que quis,
Outrora inda podia ser feliz,
Agora vago tolo pelas ruas...

Esqueço do que fomos nada além
De uma estação vazia, perco o trem
E noutras nuvens, nua, tu flutuas....



137


Perceba quanto é bom poder sonhar,
Vagar pelas estrelas, no infinito,
Lançando bem distante um forte grito,
Aprendo num segundo a navegar...

Montanhas no horizonte, no além mar,
O quanto desejei, foi tão bonito,
Porém o meu futuro estava escrito
Nas curvas que aprendi a contornar...

Chegando de mansinho, a morte ri,
Aos poucos a percebo bem aqui,
Beijando a minha boca mansamente...

Quem dera se Inda houvesse alguma chance,
A esperança fugiu de meu alcance,
A vida vai rompendo esta corrente...


138

Angústia e podridão, vermes rodeiam
O corpo decomposto, exposto e vão
As nuvens se aproximam e campeiam
As rapineiras aves vêem ao chão

Farejam desde já minha carcaça,
O fim se aproximando inexorável,
Quem fora caçadora, agora é caça.
O mar jamais seria navegável...

E, incrível que pareça me apascento.
Depois da tempestade, uma bonança.
Distante de cumprir qualquer intento,
O frio interminável já me alcança.

E a boca, desdentada, vã, canalha,
Em meio a tal cenário ri, gargalha...

139


Mal pude disfarçar meu desencanto
Ao ver tua chegada, após a chuva
O amor que antes julgara com encanto,
Não cabe mais nos sonhos, frágil luva.

E quando tu partiste até pensei
Que nada mais teria em minha vida,
O sofrimento vivo, norma e lei,
Toda esperança ausente, já perdida.

Porém esta carcaça que hoje resta
Apenas arremedo, garatuja
Somente a realidade assim atesta
Que a carne é sempre fátua, podre e suja...

Foi bom ter te encontrado; espelho amigo,
Envelhecendo enfim, morro contigo...


140


Tua presença bela e sedutora
Convites sensuais, doce loucura,
A provocante sílfide decora
A cama com cetins e seda pura,

Os lábios da tigresa, suas garras,
O fogo nos seus olhos, a magia,
E enquanto com as pernas tu me agarras,
A noite se promete mais vadia...

Um cálice de vinho, um bom licor,
Suave transparência, seminua,
Nas hordas divinais, o raro amor,
Deitados sob a luz da deusa lua

Que embevecida, beija e te prateia,
Derrama sobre nós a clara teia...


032


Por amor
entreguei-me a teus desejos
alcancei caprichos
cobri de beijos
o mais ardente amor
dei asas à imaginação
seduzi os teus apelos
sem moderação...

Por amor
cheguei faminta a
teus abraços
invadi teus pensamentos, espaços
abri as portas de teu coração
embriaguei-me na clausura
de ser perfeita candura
amai-te com sede de mulher...

Por amor
ofertei-te o paraíso
perdi o meu juízo
mudei a rota do destino, este pobre sonhador
perfumei a pele de teu corpo
guerreei na paz de tuas mãos
e na overdose de tua boca
saboreei a mais perfeita emoção...

Dedete

Ao encontrar-te o amor se fez inteiro,
Sem medos e pudores, sem rancor.
E envolto nos teus braços, com ardor,
Eu mergulhei num mar mais verdadeiro,

Sentindo a tua pele, gosto e cheiro,
Ardendo no teu fogo, em teu calor,
Sorvendo de teu gozo, este sabor
Nas ânsias deste encanto, este braseiro...

Na mágica presença sem igual,
A noite se fazendo magistral,
Um sensual caminho a percorrer.

Poder te amar sem ter limite ou fim,
Cevando com mil flores o jardim


033


Castelos construídos de um desdém,
Vazia madrugada, noite fria.
Vagando solitário, sem ninguém,
Minha alma vai morrendo, assim, vazia.

Quem teve nesta vida um doce bem,
E um dia se banhou em alegria,
Percebe como é triste ser alguém
Que morre, pouco a pouco, todo dia...

Perguntas: - Por que choras meu amigo?
As horas vão passando cruelmente,
Somente no meu peito, uma tristeza

E um sonho em que buscando um novo abrigo
Perdido em solidão, vou tolamente
Beber da seca fonte da incerteza...


034

Percebo em teu sorriso a falsidade
Que tanta vez encanta, mas destrói,
O amor quando demais, tudo corrói,
Permita-se viver à saciedade...

Não pude conviver com claridade,
O brilho nos meus olhos cega e dói,
Se os castelos na areia amor constrói,
O que me bastaria: lealdade...

Mas nada do que tive ainda resta,
A noite solitária e vã, funesta
Retrata o que sobrou de tantos anos...

A marca da pantera em minha pele,
Ao velho precipício, a luz compele,
Matando totalmente sonhos, planos...


035


Passos sujos de sangue nas calçadas,
Olhares tão vazios, vida à toa,
Ouvindo estes clarins nas alvoradas
O pensamento ao longe ainda ecoa...

E as mãos sem esperança decepadas,
O naufragar sem bóia da canoa,
Antigas esperanças derramadas.
A vida que eu julgara, outrora, boa

Mergulho numa insana correnteza,
Não tive e não terei força e destreza
Apenas caminhando contra o vento.

Sentindo o fogo ardendo nos caminhos,
Os dias que terei sempre sozinhos,
Matando pouco a pouco o sentimento...


036


E a noite
se alonga
até
eu te encontrar...
(ivi)


As horas vão passando lentamente,
Ponteiros do relógio torturando,
Há tempos que eu estou te procurando
Virás ao fim da noite, finalmente...

O tempo me contempla cruelmente
Pergunto desde sempre, como e quando
O dia nascerá suave e brando.
Porém a realidade chega e mente

Outra noite vazia, sem ninguém,
Apenas este frio que ora vem
Dizer que é tudo inútil, tudo vão...

Porque não poderia ser feliz?
Minha alma como velha meretriz
Ilude novamente o coração.


037



Se às vezes eu me iludo é por querer
Pensar na solução que nunca veio,
E tanto te desejo, quanto anseio
Em meio a desafios, percorrer

Os mares do sonhar e do prazer,
Olhando para a vida sem receio,
Desabaladamente, perco o freio,
Nem mesmo a realidade irá conter...

Mas quando tudo acaba e nada tenho,
Fechando novamente o amargo cenho,
Percebo quão inútil, fútil vida...

E ouvindo novamente a consciência
Eu perco finalmente a paciência
E dou minha batalha por perdida...


038



Um velho dinossauro em extinção
Que luta pelo arcaico classicismo,
A poesia é feita do cinismo,
Sem rumo, sem destino e direção.

O verso que hoje faço, sei que é vão,
Eu vejo o precipício e em tal abismo,
Vagando tolamente ainda cismo,
O soneto morreu de inanição...

Acaso poderia ainda crer
Nos velhos mandamentos, leis e normas,
Se tudo o que tu lês, logo deformas

Fazendo a poesia ao bel prazer.
Perdoe este animal agora extinto,
Esta realidade é o que ora sinto...


039

- NEGO
Fecho meus olhos,
vagarosamente...
Te vejo,
chegando a mim...
(ivi)


Apenas a fumaça do cigarro
Envolvendo os meus olhos sonhadores,
E quando da ilusão eu me desgarro
Procuro pela luz de outros albores.

As marcas do que fomos logo varro,
E teimo em meu jardim sonhar com flores,
A velha sutileza de um escarro
O tempo ressuscita antigas dores.

Quase que consegui fugir, mas morro,
A solidão em forma de socorro
Alia-se aos fantasmas que carrego.

Da vida, a melhor parte foi contigo,
Encontro nos escombros meu abrigo,
E teimando em viver, inda te nego...



040




Eram teus rios/
Em corredeiras das mãos/
Corpo e alma, conjunção./
Eram afluentes/
Em esverdeados olhares/
Minérios gravitavam espetaculares./
Eram teus líquidos/
Entre tua rigidez/
E a minha maciez./
Toques de eterno fluíam/
E incontidos liquefeitos/
Os versos na derme/
Represados em reversos/
Transmutaram-se dolentes/
Invadiram-me contentes./
Instante mutante, sinto-te aqui/
Como um mar jade passional/
Espumas de nós, carícias de sal. /
Karinna*/

Entranham-me teus mares azulados,
Salgando cada parte de minha alma,
Os sonhos tantas vezes mareados,
O vento toca a praia e já me acalma...

Mutantes sensações, frio e calor,
Dourando a minha pele o sol imenso,
Irradiando sobre nós, profano amor
Gigante como mar, profundo, imenso.

Tocado pela espuma, mansa areia,
Desnuda-se divina criatura,
A voz inebriante da sereia,
Imagem de delírios, de loucura...

Tomado por total sensualidade,
Do amor bebo a fatal felicidade...


041


Nosso Amor
sempre foi assim,
tu distante de mim
eu te amando
e me enganando,
cada vez mais...
(ivi)


Amar mesmo à distância, tramas tantas
Desígnios, descaminhos, vários mares
Ao mesmo quando tocas cedo encantas,
Espalhas por meus céus teus constelares.

Sidéreas maravilhas, me agigantas
Tornando os meus prazeres teus altares,
Avanças pela noite, nobres mantas
Perfeitas fantasias, mesas, bares...

E inebriadamente assim me entrego,
Por belos oceanos que navego,
Algozes esperanças são as guias

Que trago no meu peito escancarado,
E o quanto estou por ti, apaixonado,
Traduzem as mais simples poesias...


042


Que da palavra semeia amizade
Deixando em cada frase emoção
Rubrica como selo em qualidade
Sonetos que ponteia o coração

Os dias vão passando a vida encurta
Sem medo vou descendo na ladeira
As horas não trafegam com pergunta
Seguindo vão cortando a ribanceira

Até onde a caneta encontra espaço
A tinta desenhar notas em punho
Vou junto a ti criando passo a passo

Mesmo que o dia me traga empecilho
Na noite venha o sono em redemoinho
Há sempre um pedacinho pro teu mundo

sogueira


Tu tens este poder que me fascina,
Retiras empecilhos do caminho,
No olhar tão delicado da menina,
Poderes sem igual; neles me aninho

E busco interminável e rara mina,
Distante de teus olhos me definho,
A vida por si só já determina,
Aonde encontrarei repouso e ninho...

No quanto sou feliz em poder crer
Na doce fantasia de viver
Ao lado deste alguém que eu amo tanto...

Vencer as intempéries, ser mais forte,
Usando o sentimento como norte
Calando desde sempre a dor e o pranto...



043



Ouvir a ventania na janela
Estrondos, vários raios, fogo intenso.
O inferno num momento se revela,
E o dia assim transcorre, segue tenso.

O quarto transformado numa cela,
Na fuga, ansiosamente, teimo e penso,
Nas cores tão sombrias desta tela,
O abismo, precipício, enorme, imenso...

Assim, na tempestade de meus dias,
Distante de teus braços, sigo só,
Terríveis temporais e as agonias

Reduzem a esperança à simples pó.
Ouvindo da janela, a ventania,
Cenário que este amor nos propicia...


044

Às vezes sei que peco por excesso,
Ultrapasso as medidas, vou ao fundo.
E quando sei que errei, eu recomeço,
Girando o tempo inteiro, o velho mundo.

Aos poucos, vou fazendo algum progresso,
No quase o coração, é vagabundo.
Pois aprender é sempre um bom progresso,
E quando me interessa, eu me aprofundo,

Mas chega de conversa e venha aqui
Que todos os hormônios vão à tona,
Lembrar de cada beijo que te dei

É como renascer. Voltar a ti,
Tristeza, velha amiga me abandona,
E volto, num segundo a ser um rei...


045



O teu cadáver beijo com brandura,
Afasto então as moscas carpideiras,
As honras usuais e costumeiras,
A campa que te espera é fria e dura.

Depois de tantos anos de procura,
Das esperanças fiz tolas bandeiras,
As horas escorregam, vão ligeiras,
O amor? Não posso crer que exista cura.

Abraço mansamente o corpo inerte,
Bem antes que a verdade me desperte
Eu sonho com momentos que não tive.

Daqui a poucos dias, nada resta
Senão a podridão crua e funesta,
A morta, mesmo assim ainda vive...


046


Teimando em ser feliz, não poderia
Seguir outro caminho que não esse,
Sem ter dentro de mim, a alegoria
Que ao tempo queima e já floresce.

Receba cada flor, olvide o espinho,
Se nada do que temos valerá,
O quanto é necessário, de mansinho
Viver eternidade desde já.

Legado que carrego junto a mim,
Um tesouro forjado pela dor,
Haveria, talvez outro jardim
Porém monotonia furta a cor,

E gera este vazio inalcançável,
No temerário sonho, indecifrável...


047


Poder morrer de amor e renascer
Nos braços de quem foi e não voltou,
Na doce sensação deste poder,
O quanto de coragem me restou.

Afasto-me deveras do meu ser,
Já nem pergunto mais sequer quem sou,
Apenas noutra vida quero crer,
Florindo o que deveras não granou.

Vieste num momento sem igual,
Tomando a minha Vida plenamente,
Assolaste o meu peito, vendaval,

Porém logo partiste, sem demora.
Se eu vivo, é por que sinto, de repente,
Que a morte chegará a qualquer hora...

048


Ver no retrovisor a tua imagem,
Distante, porém forte e dominante,
Tentando prosseguir minha viagem,
Perdendo a direção a cada instante.

Disperso, penso ser uma miragem,
Que segue este cansado viajante,
Abrir minha janela, nova aragem,
Porém esta atmosfera é sufocante...

Escravizado, teimo na esperança
De poder romper logo tais correntes,
E quando esta visão chega e me alcança

Eu teimo em disfarçar, mas não consigo,
Os olhos seguem vagos quais dementes,
E a dura caminhada, enfim. Prossigo...

049


Jamais eu poderia imaginar
Tua nudez exposta em minha cama,
Há tempos que tentava te encontrar;
Mantendo sempre acesa a frágil chama...

Alvoroçado, passo a te buscar
Após interminável, longo drama,
Teu corpo sob os raios do luar,
A sede de te ter domina e chama

Imagem desbotada do passado,
Resíduos entre escombros do que fui,
Um verso no universo vaga e flui

O dia amanhecendo iluminado.
Um sonho e nada mais, simples migalha,
Que a voz da lucidez cedo atrapalha...

050



Ahh, que bom
que chegas,
assim me deixo
cair nos teus braços...
(ivi)

Chegaste num momento imprescindível,
Num improvável raio constelar,
Tomando toda a casa devagar,
Teu passo manso, quase inaudível.

Fizeste-me pensar ser invencível
Pousaste em minha vida e neste lar
Que outrora fora amargo e vago bar
Criaste um muro alto, intransponível.

No afã de ser feliz, tantos engodos,
Os erros cometidos, foram todos,
E tudo não passou de um ledo engano.

No frio desta imensa solidão,
Ouvir a tua voz? Um sonho vão,
Amor algoz, carrasco, desumano...


051



Não... Não cairei em seus braços.
Saudades ainda fere meu leito,
Maltrata, arruinando os enlaços
Na dor que tomou o meu peito.

Foste o meu amor primoroso,
E também o mais belo girassol,
E por ti, meu sentir foi fogoso,
Gasturas sentidas no vôo, meu rouxinol.

E hoje, deparo contigo querido.
No banco daquela mesma praça,
Na sombra que guardei teu lugar.

Tristeza é o que tenho sentido,
A letra sem tu não se enlaça,
Quero contigo o amor comungar.

Estela Maris


Querer amar-te além do que é possível,
Sentindo a imensa força de um desejo.
Um mundo sensual e tão incrível
É tudo o que nas cartas eu prevejo.

Ouvir a tua voz, sentir teu cheiro,
O arfar de teu respiro junto ao meu,
O sonho que é de amores mensageiro
Há tanto que este olhar já percorreu

Vencidos os temores e os receios,
Ser teu e não querer mais nada.
Sentindo a maciez dos belos seios,
Raiando do teu lado, esta alvorada

Que é como o anunciar de um novo tempo.
Sem medo. sem rancor, sem contratempo...


052



Depois de tantas curvas no caminho,
Perguntas sem respostas, erros vários
Momentos de prazer são temerários
Uma ave necessita de algum ninho.

Depois de perceber quanto é sozinho
Quem se deixa enganar por adversários,
Por gozos sem sentido, temporários,
O amor sem compaixão e sem carinho.

Nas ruas mais sombrias, caminhei,
Fazendo do prazer a regra e a lei,
Engodos cometidos, todos meus.

Encontro a solução na frágil cruz,
E entrego a minha vida a ti, Jesus,
Obrigado Senhor, meu Pai, meu Deus...



053

“O Pão de cada dia nos dai hoje”
Herdeiros do Teu Céu maravilhoso,
Quem desta realidade, teme ou foge
Jamais conhecerá tal pleno gozo,

Permita-me que eu sirva só a Ti,
Que cada ato traduza o Grande Amor,
Pois plena liberdade eu conheci,
Nos braços deste Eterno Redentor

Aberto aos desvalidos, acolhendo
Aquele que sofrendo, aprende amar
Nos olhos deste irmão reconhecendo
O Pai que nos ensina a perdoar.

Recobra minha vida com ternura,
Minha alma, seja em Ti, liberta e pura.


054

Senhor, os meus pecados pesam tanto,
Eu peço-te perdão, e de joelhos,
Os olhos marejados e vermelhos,
Cobri-me plenamente com Teu manto.

Durante a caminhada, quantas urzes,
Mentiras, falsidades espalhei,
Negando e renegando a Tua lei,
Amaldiçoando enfim as minhas cruzes.

Cordeiro que vieste em salvação
Trazendo para tantos, redenção
Escute o meu lamento, por favor.

Derrame Tuas bênçãos sobre mim,
Florindo de esperança o meu jardim,
Cevando a imensidão do puro amor...


055



Tudo posso Senhor, em Ti, meu Pai,
Pois Tu me fortaleces nas batalhas,
Tu és o meu Pastor; nas minhas falhas
Meu mundo nos Teus braços, jamais cai.

Vencer as tentações que são humanas,
Contando com o apoio do Senhor,
Deixando-me entregar ao grande amor
Na força insuperável que me emanas.

São tantas as fraquezas do meu ser
A pobre criatura criando asas
Pensando ter nas mãos pleno poder,

Entregue aos desvarios do pecado,
Pois entre, então, meu Pai, nas nossas casas
Caminhe, por amor, sempre a meu lado...


056


A chuva desabando no telhado,
Alagamentos vários na cidade.
O tempo totalmente alucinado,
Tempestas muito além da realidade.

Raios, trovões gritando em alto brado,
O medo pouco a pouco, tudo invade,
O mundo que sonhei já destroçado.
Não há na cercania quem não brade

E em meio a tal loucura, perco o rumo,
Os erros e pecados, quando assumo,
Perplexa calmaria toma a cena.

E o Cristo, Pai supremo, Deus e irmão,
Na força inexorável do perdão,
Um claro amanhecer, ao longe acena...



057


Entrego-me Senhor à Tua glória,
A minha vida está nas Tuas mãos,
Contigo conheci plena vitória,
Pois vejo Tua face em meus irmãos...

Mudaste num segundo a minha história,
Hoje sou farto campo, com os grãos
Que Tu já derramaste sem vanglória,
Os dias que passei deveras vãos,

Pensando ser o dono dos meus passos,
Ocupando Senhor, tantos espaços
Com a certeza de ser quase invencível.

Agora que Te aceito dentro em mim,
Percebo finalmente porque vim;
E o Paraíso passa a ser possível...


058


Ao ver florir as árvores que um dia
Plantaste no pomar de nossa casa,
Eu percebi o quanto a fantasia
Pode chegar, mas sempre, sempre atrasa.

Das cores que sonhei primaveris,
Apenas os resíduos dos amores
Fingindo novamente ser feliz,
Cevando dentro em mim antigas dores.

Reflito mais um pouco e nada tendo,
Somente este jardim, sem vida e cor,
Segredos do passado; não desvendo,
Tampouco sei falar se existe amor.

Apenas o florir deste arvoredo
Demonstra que este amor morreu bem cedo...


059


Perambulando, um pária coração,
Sem ter sequer paragem nem abrigo.
Vivendo por viver, sem direção
Desconhecendo o amor de um bom amigo.

Rondando bar em bar, nos lupanares,
Prazeres sem limite, sem pudor;
Na cama das vadias, os altares,
Comprando o que julgara ser amor.

Um velho vagabundo, sem destino,
Gargalha-se entre copos, súcias, putas;
No copo de aguardente eu me alucino,
As mãos na jogatina são astutas.

Porém pelas quebradas da cidade,
Jamais eu conheci felicidade...


060



São tantos os pecados que confesso,
Após as virações, o barco segue,
No amor e no perdão, tento o progresso,
Porém meu coração já não consegue...

Carrego no meu peito, a antiga chaga
Herdada desde o Gênese: o desejo.
Que nem mesmo a verdade plena apaga,
Apenas vislumbrando algum lampejo

De luzes nesta treva em que caminho,
Fazendo do pecado a minha história.
O meu final, decerto, tão sozinho,
A morte então será, última glória;

As bênçãos do Senhor; eu as perdi,
Num mundo que sem paz, eu concebi...


061

Perdoe por saber fazer sonetos,
Eu disso me envergonho, esteja certo.
Queria simplesmente os poemetos,
O meu caminho então seria aberto.

Maldito classicismo me persegue,
A métrica escraviza sem pudores.
Por mais que a consciência tola negue,
Eu mato o meu jardim, estrago as flores.

Talvez algum momento ainda possa,
Fazer sem velhas grades, poesia.
Uma alma libertária se remoça,
Enquanto a minha morre: velharia.

Queria a liberdade nos meus versos,
Teria em minhas mãos mil universos...


062



Na paz do Meu Senhor. Felicidade
Na beleza do sol que me ilumina
Num pássaro a voar, a liberdade,
Galope de um corcel balança a crina

No encanto que nos traz uma saudade
No riso delicado da menina,
No amor que nos transmite a claridade,
No brilho do luar, força divina.

Eu agradeço a Ti cada momento,
A vida que me deste, e mesmo a dor,
Que ensina, pois somente o sofrimento

Liberta o coração do ser humano,
Erguendo a minha prece ao Redentor,
Ao Pai, ao Criador, Meu Soberano...


063


Mantendo o coração aberto à vida,
Não temo tempestades nem procelas,
Rompendo do desejo, grades, celas,
Vencendo os dissabores desta lida.

Certeza da missão sendo cumprida,
As luzes revigoram velhas telas,
Abrindo do meu barco, todas velas
Etapa por etapa a ser vencida.

Contando com a força do Senhor,
Sabendo perdoar quem me magoa,
De peixes abarroto esta canoa

Que é feita na pureza deste Amor,
Sem ter sequer limites ou medidas,
Curando com perdão, velhas feridas...


064


Teu corpo convidando para a festa
Orgásticas loucuras noite afora,
Que a chama dos desejos logo empresta
A quem além de tudo, te ama e adora.

Invado este caminho e em cada fresta
Úmida delícia me devora;
O gozo que profano, sempre atesta
O fogo que nos queima e cedo aflora

Tomando cada poro. Calafrios,
Momentos mais felizes e vadios,
Ternura à flor da pele, e na fornalha

Queimando feito um louco, insensatez,
Entregue à fantasia e cupidez,
Na cama, o fogaréu, toma e se espalha...


065


Por tanto que eu te quis e não sabia
Que o amor tem dessas coisas, falsos brilhos,
Mentiras dominando velhos trilhos,
Negando a claridade, morto o dia...

O quanto que vivi na fantasia,
Sonhando com palácios, risos, filhos,
Grilhões entre correntes, estribilhos,
Canções que me falavam da alegria...

Mas tudo se perdeu, e num segundo,
Desaba sem defesas, o meu mundo,
Segredos espalhados pelo vento.

Joguei tralhas, mobílias na janela,
Rompendo sem pensar, a antiga cela.
Liberto o coração, meu sentimento...


066


Dançando noite afora, riso e gozo,
Beijando a luz da lua que irradias.
Um sonho divinal, maravilhoso
Ao som das mais sublimes melodias.

O tempo de viver é caprichoso
Se pleno de loucuras e alegrias,
Amor, louco prazer delicioso,
É tudo o que em verdade tu querias,

Porém logo partiste num cometa,
Vagando no infinito, no universo,
Deixando tão somente um triste verso,

Satélite procura por planeta,
Estrela que se foi pra não voltar,
Escurecendo o céu, cadê luar?


067


Pudesse ser poeta e te faria um canto
Aonde eu poderia expressar meu amor.
Ávido de ti, tomado pelo encanto
Ouvindo a tua voz, espécie de louvor

Eterna primavera, a luz que quero tanto
Sem medo de viver, entregue a teu calor,
Na força deste abraço, amada eu me agiganto
Enfrento a tempestade, apascentando a dor

Pudesse ter um dia, o beijo de quem amo,
Sentindo mansamente a doce calmaria,
Que a luz deste desejo, ao longe me anuncia

Como fosse um farol, que sempre quero e clamo
Realizando enfim, o sonho de um menino
Que diz felicidade em verso alexandrino...



068


Fazer da poesia o ganha-pão...
Mercadoria frágil, sem valor.
O quanto valeria uma canção
Que não falasse apenas de um amor.

Vivendo com meus pés presos ao chão
Sabendo que meu céu furtou a cor,
Esqueço em algum canto, o violão
E deixo, neste instante de compor...

Fazer outro plantão é o que me resta
Olhando a fantasia pela fresta,
Tirando da cabeça esta vontade.

Abrindo o bico, pobre passarinho,
Voando sem ter rumo, perde o ninho
E encontra em sua frente, a velha grade...


069


Falar do meu desejo por você
É simples redundância e nada mais,
Somente quem conhece, sabe e crê
Que tenho no seu corpo, o porto, o cais.

Na leve transparência, sensual,
A camisola aberta me convida,
O amor delicioso ritual,
O dom maior que tenho em minha vida

Saber reconhecer o seu perfume,
Falena que procura um raro lume,
Sangrando de desejos, gozo farto.

Falar de meu desejo, da vontade
De ter sempre a meu lado a claridade
Que toma à noite conta do meu quarto...


070


Tirando a tua roupa devagar,
Desnuda maravilha que domina,
Por mares tão gostosos navegar
Sabendo decifrar do gozo a mina,

Tocando a tua boca, te beijar,
A deusa dos meus sonhos, tão ladina,
A gata siamesa a me arranhar,
No cio que jamais finda, termina.

Entranho tuas grutas, mares, matas,
Deslizo na umidade das cascatas
E bebo cada gota desta fonte...

No encanto da sereia em minhas mãos,
Penetro calmamente doces vãos
E vejo o Paraíso no horizonte...


071


O mel que tu derramas me convida
Banquete inesquecível que teremos,
Delícia no teu corpo, consumida,
Prazer que há tanto tempo conhecemos..

Sacio-me em teu corpo, deusa nua,
Vertentes concebidas, penetradas,
E enquanto a nossa festa continua
A lua se derrama nas calçadas

O vento roça a pele e te arrepia,
Teu corpo em convulsões, doce loucura,
A língua viajante, vai vadia
E o fogo do desejo, uma tortura

Numa explosão de fogos de artifício
O amor feito em prazer, supremo vício...


072


Nas tramas do desejo, mais audaz.
Decifro os teus anseios, sou teu par
E quando nosso amor, louco se faz
Vontade de contigo caminhar,

Seguindo a noite inteira sem parar,
De toda insânia ser bem mais capaz,
O solo, no rocio fecundar
Depois poder dormir em plena paz.

Nas rotas delicadas me perder,
Vagando pela entranha do teu ser,
Sentindo o corpo todo em frenesi.

Encharco-me dos gozos que transpiras,
Acendo neste amor, divinas piras,
E morro pouco a pouco dentro em ti...


073



Colhendo cada flor que me ofereces,
Fazendo do meu quarto este jardim,
Certeza de que ouviram minhas preces,
O mundo renovou-se dentro em mim.

Lasciva, enlanguescente, deusa nua,
Estampa em sua face este sorriso,
Minha alma em conjunção, cedo flutua
Atingindo o Nirvana, o Paraíso...

Nas ânsias desde sempre decifradas.
Teus seios, minhas mãos, bocas e língua
Bandeiras entre sedas desfraldadas,
O amor não morrerá jamais, à míngua

Guerrilhas entre montes, vales, lutas
Invado tuas furnas, doces grutas...


074

Aguardo esta mulher que nunca vem
E temo que jamais eu a terei,
Enquanto a fantasia perde o trem,
Eu procuro encontrá-la noutra grei.

Por sendas mais diversas caminhei,
Resposta se repete: outro ninguém,
Não posso mais lutar, já me cansei,
Apenas o vazio me contém.

E a noite solitária se aproxima,
Quisera ter do amor alguma estima,
Agrisalhando os sonhos, nada resta...

Morrendo pouco a pouco, sigo só,
Retornarei sozinho para o pó,
Que a morte à vida em vão, pra sempre empresta...


075


Ourives da esperança, a poesia,
Entorna-se deveras sobre nós,
Não serei o que virá depois, após,
A noite que se fez amarga e fria.

Só sei que na verdade eu te queria,
O amor foi companheiro, mas algoz,
A dor da solidão se faz atroz,
E impede que ressurja um novo dia.

Na aurora da existência, perco o rumo,
Os erros que cometo, bebo o sumo,
E foge entre os meus dedos, mocidade...

Quem dera ouvir a voz melodiosa
Da deusa que se fez tão majestosa
E reina nos confins de uma saudade...


076


Maldigo a poesia que escraviza
E impede que eu consiga caminhar,
A morte num momento vem e avisa,
É hora de viver e não sonhar.

Se o céu com outras cores se matiza,
Escondo-me deveras neste bar,
Queria desfrutar da mansa brisa,
Porém a tempestade a me tomar

Causando uma fatal ebulição,
Rasgando com vontade o coração
Negando a realidade, me tomando.

E o dia que jamais reconheci,
Distante deste canto, por aí,
Tornando furioso o que quis brando...


077

Mereço alguma chance? Pois talvez
Queimando as velhas fotos do passado,
Recuperando aos poucos, lucidez,
Revejo o meu castelo destroçado.

O velho paletó já se desfez,
O risco de sonhar, deixo de lado,
É xeque-mate, a vida é um xadrez,
O reino, se existiu, foi dominado.

Não quero mais ouvir qualquer lamento,
Se devo prosseguir, sincero, eu tento
E em meio a tais escombros, um farol

Mostrando que além mar existe um porto,
E mesmo que ao chegar esteja morto
Trará pro navegante, um novo sol...


078

Esta ânsia
incontida
te chama
pra mim...
(ivi)


Ouvir o teu chamado me fascina,
Depois da tempestade esta bonança
Gerando novamente uma esperança
Que aos poucos toma a cena e me domina...

Revendo o teu sorriso de menina,
Voltando a ter os sonhos de criança,
Guardada nestes cofres da lembrança
A jóia tão sublime, diamantina...

Após as noites frias de sereno,
No encanto deste canto me alucino,
O mundo que julgara tão pequeno

Agora se agiganta, em perfeição,
Quem fora no passado, este menino,
Soltando as rédeas, livra o coração..


079


Não creio no Teu Deus que é vingativo,
Senhor que traz a lança em Suas mãos,
Soberbo criador, um ser altivo,
Chibata lanha as costas dos irmãos.

Não creio neste Deus que se apresenta
Matando quem discorda do que diz,
Quem ama com fervor sempre apascenta
Perdoa eternamente um aprendiz.

Não creio neste Deus destruidor,
Que outrora protegeu um povo apenas,
Que exige dos seus súditos louvor,
E faz cumprir na Terra duras penas...

Só acredito em Ti, Pai feito irmão
Que traz como bandeira; amor, perdão...


080

Neste meu viver
meu coração
só quer teu Amor...
(ivi)


Em vastas amplidões, nos infinitos,
Caminhos siderais, constelações,
Lançando bem distante loucos gritos,
Vagando sem destino ou direções.

Os dias que virão bem mais bonitos,
Valendo todo o bem dos corações,
Matando o que restou dos velhos mitos
Cevando em calmaria mil tufões.

Refém deste delírio que me toma,
Apenas teu sorriso manso doma
O impávido sonhar de um tresloucado.

Abrindo a minha porta, escancarando,
Sentir o teu perfume penetrando,
Profano, sedutor, mas delicado...


081


Difícil escapar desta artimanha
Que traça o coração humildemente
Vivendo como probo da façanha
Encanta-se por tudo lentamente

E pinta na lembrança tela viva
Com cores e matizes maviosos
É como numa peça que dá vida
Aos anos passageiros ardilosos

É como numa dança que bailando
Desfila toda graça e harmonia
Entrega toda alma vai moldando

Os passos que flutuam pela graça
Neste compasso recorro à poesia
E ao poeta compartilhar desta taça

sogueira


O amor, velha artimanha do querer,
Explode em mil pedaços quem deseja,
Tomando num segundo todo o ser,
Ao mesmo tempo acalma e já lateja

Vencido pelas ânsias deste insano,
Eu pude perceber que não sou nada,
Entregue aos descaminhos do tirano,
A minha vida aos poucos se degrada,

Aguardo após a chuva uma bonança
Que possa me trazer alguma paz,
Mas quando a vida e o tempo avança
Eu sinto-me em verdade um incapaz.

E deixo-me levar pela torrente
Atada nos meus pés, fria corrente...


082


Abutres devorando esta criança
Exposta na calçada, fome e frio,
Uma ameaça tosca que vã trança
Nas ruas e ladeiras, meio-fio.

Uma alma entorpecida desde cedo,
A vítima carrega algum punhal
O corpo apodrecido, um arremedo
Do que se diz justiça social.

Autoridades tomam providência,
O rabecão transporta esta indigente
Livrando desde cedo a consciência
Apascentando assim, a toda gente

Que volta do trabalho, da labuta,
Liberta do perigo, morta a puta...


083

Carbônica estrutura em harmonia
A vida se refaz da própria morte,
E traz por solução um novo aporte
Que é sempre renovada a cada dia.

A tosca humanidade concebia
O acaso como fonte, rumo e norte,
Sem perceber eterno cada corte
Que a nossa consciência desafia.

Seria por acaso esta existência?
Tolice e prepotência tão somente,
É necessário ter a consciência

Ciência do improvável puro acaso.
O refazer se faz numa semente,
Gerada e geratriz dentro de um prazo...


084



As tardes tropicais, primaveris,
Canários entre as flores no quintal,
A força da esperança, velha atriz
Refaz a maquiagem triunfal.

Quando horizonte, aos poucos, resta gris,
E a noite preparando o ritual,
O coração – tolice- inda me diz
Da lua que sonhara magistral.

As mãos tateiam vagas pela cama,
Apenas o fantasma de um amor,
O corpo neste espaço se derrama,

E sem respostas, durmo, solitário.
Suando, exposto ao vão, torpe calor,
Calando o encanto triste do canário...


085

A minha mocidade, morta e louca,
Batendo novamente à minha porta,
Roçando feito o vento, a minha boca,
O frio da saudade, vem, recorta...

Minha esperança, tosca e pouca,
A vida se apresenta amarga e torta,
A voz da adolescência me treslouca
E o sonho morre torpe, e o sonho aborta.

As rugas e o grisalho do cabelo,
Inverno se prepara, frio e gelo,
O fim se aproximando, e o sonho ronda...

Quem dera se pudesse um oceano,
Num ir e vir infindo, louco, insano,
E o tempo travestido em uma onda...


086



Pudesse ter teus lábios num momento,
Um beijo sensual e sem defesas;
Das ânsias do desejo simples presas.
Numa explosão de terno sentimento.

Quem sabe aplacaria este tormento,
Levados pelas fortes correntezas,
Tocados por delírios e surpresas,
O tolo coração exposto ao vento

Tomado pela força da loucura,
No amor que me sacia e me tortura,
Apago os meus engodos corriqueiros

E vestido de estrelas, sigo à toa,
À tona, à flor da pele, uma alma voa.
Aguando de esperanças meus canteiros...


087

O amor preparando o meu Calvário,
Cavando com paixão, sem compaixão,
O tempo se tornou meu adversário,
O quase tantas vezes disse não.

Seria muito bom, novo fadário,
Mas quando te percebo, solidão,
Eu vejo quanto o gozo é temporário,
Ouvindo por resposta, o velho não.

E teimo persistente, nesta insana
Procura pela noite soberana
Que um dia me trará bela alvorada.

Olhando pra mim mesmo, nada creio,
O quanto desejei, cruel anseio,
Transmuda-se de novo, resta o nada...


088



O homem a perder-se, sem noção
Do propósito de vida e assim
De um lindo começo, o triste fim;
O Pai sofrendo com sua ingratidão.

Onde era pra ser paz, desunião
Seu habitat destrói feito cupim
Pisoteia toda a flor do seu jardim
Em atos que o distanciam do perdão.

As normas do Criador ficam de lado
Sem ver que assim carrega grande fardo
Resultante da desobediência.

Sem a noção do que é pedir clemência
Cego de ambição cultiva o horror...
Um dia se verá com o Criador.

Josérobertopalácio

No olhar do Criador, a compaixão,
Olhando para os vermes que criou.
Se todo o sacrifício foi em vão,
Apenas a miséria se espalhou.

Nas mãos do meu pastor, a exploração,
A ovelha que sem rumo desviou,
Perdendo a eternidade no porão
Que a farsa eclesiástica gerou.

Neste eclipse total, farta cegueira,
A renda ao fim do culto, uma bandeira
Expondo esta nudez da alma profana

Do vendedor da falsa pedraria,
Na Igreja do Senhor, patifaria,
O que importa, afinal, vendeta e grana...


089

Pobre soneto morre a cada dia,
Cultura nacional? Farsas à vista,
Quando ouso dizer: patifaria,
No olhar do que se diz real artista,

Terrível, sem controle, maresia,
Por mais que a consciência ainda insista,
Na métrica, cadência, tal sangria,
Prepara pro futuro, esta surfista.

Não vejo contra-senso nisto tudo,
Olhando de soslaio, fico mudo,
Assim caminha a nossa humanidade.

A força dos quadris é bem maior.
Poeta morre à míngua, e o que é pior,
Na bunda da vadia, a eternidade...



090


Se dobras o cabo da Boa Esperança,
Se agora és talvez, ou faz de conta;
Lembrar da juventude, não é afronta
Sobraram os rastros de tua andança.
E velho, voltarás a ser criança
Os passos devagar; mesma conduta...
Feliz se o carinho não te falta.
Velhice! A reta final de nossa andança.
O fim de tudo: a morte, com certeza.
O que virá depois, de sobremesa?

Josérobertopalácio

Quem sabe eternidade? O que me importa?
Não tenho as ilusões do cristianismo,
Se existe após a vida, nova porta,
Ou mesmo um precipício, algum abismo...

A pele que se enruga inda suporta
A curva sem temor, mesmo cinismo,
História que num átimo se corta,
Seria necessário o realismo?

Medonhas criaturas infernais,
Angélicas canções, vagos espaços.
Não quero nem pretendo muito mais,

Por isso ser feliz, obrigação,
De quem tem com a vida estreitos laços,
E deixa bater firme o coração...


091


Não quero o sacrifício de quem amo,
Tampouco tais mentiras da paixão.
O pouco que inda faço sonho e tramo,
O rio invade o mar, inundação.

Se teimo no arvoredo em cada ramo
Eu vejo o meu fantasma rente ao chão,
Sendo o que não seria ainda clamo
Talvez por qualquer motivo ou solução.

Só sei que nestas sendas, vendas trago,
Desejo pelo menos que o afago
Não seja simples farsa, velho engodo.

De tudo que se diz amor demais,
Não ouço mais a voz dos vendavais,
E compro esta metade pelo todo...


092

Imagens falam mais do que poemas,
Dourando esta manhã, sol irradia
Procuro com palavras raras gemas,
Nenhuma se compara à pedraria

Exposta nos penhores da Natura,
Diversidade feita por um Deus,
A mansidão da brisa, tal ternura,
Contrasta com os raios sobre os breus.

Porém o Criador ao ver exposta
A sua criatura aos maus profetas,
Enquanto a liberdade é decomposta

Só resta a fantasia dos poetas,
Imaginário tolo, mas sutil,
Tornando a realidade menos vil...



093


Quero tua vida,
assim,
repleta de Amor!!
(ivi)


Queria estar repleto deste amor
Que um dia me ensinaste, mas perdi
O rumo que levava sempre a ti,
A voz já se calou, pobre cantor.

Bastando a primavera sem a flor,
Em meio a fantasias, concebi
O que pensara outrora estar aqui,
Num cântico supremo de louvor...

Mas como ser feliz se na verdade,
A fome toma conta da cidade
E a humanidade expõe a face escura.

Não me basta talvez um novo grito,
Olhando fixamente pro infinito,
Cansado desta vã, frágil procura...


094


 
Autor
MARCOSLOURES
 
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