De tanto que sofro, em vários dias choro. Canto com tristeza. E não acho a felicidade. Tento disfarçar a tristeza com um riso.
Morro em campa rasa de um cemitério sombrio. Sei que fora da realidade encontro um mundo meu. O fim deste caderno é como o fim de um pesadelo. Não sei se este fim será o ideal. Não sei se morro por vontade minha, se por vontade de outros.
Concentração para mim acabou. Vida para mim não existe. Como já escrevi antes, vivo tristemente, a única palavra que utiliza em maioria.
Para mim estava longe, numa gruta sem conhecer o mundo. Já não faz sentido encontrar um mundo melhor se, para mim, este já acabou. Penso só no fim, pois, é difícil saber como é. Só sei que numa fracção de segundo estamos aqui e lá.
Fujo para este caderno, onde é o único sítio onde posso desabafar.
Só o mundo conhece a alegria como quando se criou. Só eu, e pessoas distantes conhecem meu mundo por fechado de uma história que já acabou. A minha história ainda está longe de acabar. Este é apenas um início e fim de um capítulo.
Sou eu muito afectado com o passado. Sou eu quem conhece o que eles não conhecem.
Pois, desde que escrevo, nunca parei de acreditar que, num futuro muito distante, todos irão conhecer a minha dor, o meu sofrimento. Tudo na vida correu-me mal.
Farto estou de brincadeiras sem sentido. Farto estou de ver tanta loucura no mundo.
Só eu sei o que sofri e, espero, que nunca, todos os que me rodeiam, nunca vivam o que sofri. É o fim…
Mas é só o fim da fase de felicidade na minha vida, apesar de ter sido curta. É o início de uma fase absurda da minha vida. Onde por tontos sem consideração ordenam sem conhecer tudo! Comandam um exército sem conhecer o inimigo e a estratégia.
Não me venero pela minha vida. Nunca me venerarei, pois odeio o meu ser. Sinto arrepios ao escrever isto, mas a verdade é que nasço para ser diferente, sem razão possível.
É tal maldição que recebo ao poder escrever como grandes escritores e poetas. São meras palavras.
Sinto que já vivi tantas vezes a mesma fase. É triste, sei disso. É depressivo não ter vida própria. O corpo dói-me ao escrever, como se a caneta fosse uma faca e a tinta o sangue. É terrível pensar nisto, torna-se quase mortífero, fatal.
Não me interessa saber se cada assunto meu é correcto. Esta folha final é a que transmite a minha tristeza e o meu estado de espírito. Aqueles que algum dia venham a ler estas páginas, eu questiono, como será o meu estado de espírito para escrever sobre tais assuntos.
Morro novamente numa fase igual a outras, da semelhante forma e maneira neste fim que não o é!
Pedro Carregal