O viajante parou.
Numa rua deserta.
Estava cansado. Cansado de tudo.
Não parara um segundo desde que saíra.
Os ares estavam pesados, como que adivinhando mais uma chuvada, ou talvez algo mais. E a vegetação que via a seu lado era mortiça, como se nunca tivesse sequer florescido. Ouvia algo, mas talvez fosse a sua imaginação.
Não se lembra como fora ali parar... Não tinha nada a não ser um casaco, uma caneta e um caderno. E um chapéu-de-chuva imaginado.
Teria começado esta viagem para escrever? Desenhar? Fugir?
Fugir de quem? De quê?
Se si próprio, talvez.
Mas nem isso sabe...
O viajante não fora feito para entender os recantos da sua mente. Retorcida e complicada. Como a arquitectura de uma igreja.
Sentou-se. No chão. Ali mesmo. No asfalto molhado e frio.
Sentou-se, para nunca mais ter de se levantar.
Para ficar ali para sempre. Isolado de tudo, no sossego.
Começara a chover.
A chuva não o incomodava, muito pelo contrário, sempre achara que lhe fazia bem. Para limpar as ideias, e levar todo o pessimismo numa enxurrada.
Sim, a chuva sempre lhe fizera bem.
A poesia é a alma, a alma, somos nós, por conseguinte, nós somos poesia...
Imagem: Google Imagens