Mesmo que a água não corra e o teu braço não inaugure afectos na circulação do meu corpo, estarei contigo. Estarei onde a musica não se escutar e a palavra for secundária. Estarei com o mesmo poema e com a mesma gota de sangue a cheirar-te por dentro das flores e a dar-te o infinito céu , longo como os cabelos dos velhos musicos. Mesmo que falte água para os olhos chorarem e luz nas canções quando elas falam das crianças e dos recem nascidos que gritam como bezerros no dia de acção de graças. Estarei contigo enquanto o vento for o folego da tua respiração e os barcos sigam, como os teus olhos seguem o céu. Agora não terei vontade de morrer, nem me vou esquecer dos pássaros do bairro pobre da minha infancia.
Mesmo que a água não corra e a revolta dos homens entre com a força de uma bala no peito que enfraquece estarei contigo. Estarei sempre, até doer de imaginar tanta solidão dentro da água que se bebe e que o teu corpo a si mesmo chama de rio.
lobo 05