Esse mundo descompassado
há tanto perdeu a poesia.
Eu, fruto amadurecido à força
enrolado num jornal do passado,
teimo em me vestir
com as roupas desse sonho inacessível,
contemplando a réstia
na escuridão do quarto.
Essa criança,
que um dia viu-se dentro delas
antes mesmo do tempo puí-las
e as tornarem rotas,
tem nos ouvidos
o compasso simples dos primeiros passos,
mas agora improvisa
num outro andamento jazzístico composto.
Não que seja de todo ruim,
pois a pedra bruta acaba
por acentuar o brilho quando lapidada,
mas, ainda assim,
guarda em si a nostalgia de ser desejada
apenas como pedra bruta.
Frederico Salvo