1
Não posso mergulhar em fundo poço,
A vida que nasci pede montanha...
O resto do que passo, em alvoroço,
O vento que deixaste o pelo assanha...
Devoro, na verdade vou ao osso,
Não quero conviver com tal patranha,
Tristezas que chegaram, sem endosso
No fundo já não sei quem perde ou ganha!
Uma nova ilusão sempre me anima,
Os dias que passei são meus martírios...
Buscando profundezas, nossa mina...
Acordo volta e meia, sobressaltos...
Jardins da vida, rosas, dálias, lírios...
Nas pedras de minha alma, meus basaltos...
2
Não posso me esquecer quanto te amei,
Nas noites solitárias te procuro.
Será que nesse tempo em que busquei
Eu consegui deixar meu mar escuro?
Eu sinto que esse vento me trará
O gosto da esperança maltratada;
Quem sabe novamente brilhará
A lua que ficara abandonada...
Nos sonhos que esconderam minhas dores,
Vencendo tão cruel caricatura
Da sobra que ficou desses amores
Tornando toda noite mais escura.
Eu sei que tu também estás sozinha,
Quem sabe tua noite seja minha?
3
Não posso me calar,
Preciso te dizer,
Não deixe naufragar
O sonho de querer,
Depressa te encontrar,
No sol que vai nascer,
Encanto a se buscar,
No canto do prazer.
Amiga eu não desejo
Que a dor nos acompanhe,
Na festa que prevejo
Beber deste champanhe
Num mundo tão sobejo
Que a sorte nos entranhe!
4
Não posso destilar o meu veneno
Em coisas que não valem uma rosca.
Pretendo ser, portanto mais ameno,
Nem tudo que se opaca é luz mais fosca...
Se vento ou se não vento, cata-vento,
Peneiro mais palavras se quiser.
Exponho assim o puro sentimento
Que faz da poesia o que bem quer.
Negar uma emoção é ser poeta?
Negar um sentimento é versejar?
A vida talvez seja mais completa
Quando houver liberdade p’ra sonhar...
Achar que amar, sonhar, sofrer é brega;
É coisa de poeta que se nega...
5
Não posso desculpar quem não me quis
Tampouco vou punir ingratidão;
Encontro o que sonhei na mansidão
E posso ser, talvez, enfim, feliz...
Se a tarde vem caindo amarga e gris,
O outono se esquecendo do verão,
É preciso viver cada estação
Do trem que já partiu, não quero o bis.
As rugas testemunham tal mudança,
O velho que se veste de criança,
Ridículo infeliz, caricatura.
Jamais eu calçarei torpes pantufas,
As plantas que criadas nas estufas
Não resistem à aragem que as tortura.
6
Não posso descartar o imponderável
Tampouco posso crer numa mentira
Usada por desculpa. Quem atira
Não sabe ser decerto tão amável.
Enquanto o tempo passa e o mundo gira,
O dia-a-dia torna-se intragável
Adio cada plano imaginável
Deixando sempre aceso fogo e pira.
Caindo em rodopio, caracol,
Jamais suportarei ser girassol,
O pouco que com Deus nos dá fartura
Transcende ao gozo pleno da verdade,
E quando este vazio vem e invade,
Concebo tão somente a desventura...
7
Não posso dedicar a minha dor
E mesmo que eu pudesse não faria,
Por vezes sem querer preferiria
Seguir sem ritual um novo andor...
Estrela se perdendo sem ter cor,
Coragem para a luta em agonia
Se o tempo faz calor ou já se esfria
O medo não teria o que compor...
Caráter é questão que não discuto,
Por mais que vento seja forte e bruto
Astuto como um cão, vago sozinho.
No verso sem pudores, ojeriza
Fazendo do sorriso caos e brisa
Sou um velho alquimista sem cadinho...
Marcos Loures
8
Não posso conviver com tal saudade
De ti, querida amiga e companheira.
E falo-te sem medo da verdade
Que quero estar contigo, a vida inteira.
Tentando demonstrar minha amizade,
Que invade preciosa e tão certeira.
Aguardo que me fales sem demora
Aonde, em que caminho, eu te perdi.
Preciso de teu braço forte agora,
Não vivo mais tranqüilo e quero aqui,
Depressa teu apoio que me ancora
Eu necessito muito, enfim, de ti.
Por isso, minha amiga, não retarde;
Meu peito disparando em louco alarde.
9
Não posso controlar todos os passos
Que tu prometes dar, insensatez.
Não cabem nos meus sonhos tantos laços
Que rompes, minha amada, de uma vez.
Deitando meu cansaço, dias lassos
Augúrios e vontades que prevês
Singrando em outros mares, novos braços,
Perdoe minha insana estupidez...
Amante desairoso, solitário.
Meu barco desde muito naufragou.
A morte prometida em campanário
Mostrando em realidade o que bem sou.
Um vago, quase nada sem futuro,
Um passo que se dá em vão; no escuro...
Marcos Loures
10
Não posso confiar em quem não cabe
Nem mesmo desconfia quando bebe
Bem antes que o soneto em vão se acabe
Sem dar, diz o ditado, não recebe.
Glamour sempre fez parte do poema,
Não quero este amargor de jurubeba
Sem ter quem desafie não mais tema
Um monstro microscópico? Eis a ameba.
São quase vinte mil, mas eu garanto
Que sempre respeitei qualquer limite.
Mas sei que isso machuca, pois sei quanto
Para o caminhoneiro faz rebite.
A merda produzida por Dior,
Decerto o seu perfume é bem melhor...
11
Não posso concordar, eis a verdade,
O jeito é misturar alhos, bugalhos,
Cansado dos meus atos todos falhos,
Agarro o que sobrar da claridade.
Sem ter o que console, o tédio invade
E deixa os meus sentidos em frangalhos
Se um arvoredo perde tantos galhos
A terra mudará tonalidade.
E quando o fim dos tempos se anuncia,
A mão que acaricia traz alento.
Quem dera se eu pudesse. Mas o dia
Não deixa percepção sequer de paz.
Palavra que me dizes, vai ao vento,
E a brisa, meu amor, não satisfaz...
12
Não posso conceber tal conformismo,
Procuro por sementes nos atalhos,
Não tenho testemunhas do batismo,
Os atos que prejulgo são tão falhos...
No medo da verdade, um grande abismo...
Quando pressinto o frio, em agasalhos
Adormeço, esquecendo o romantismo...
Na cama que dormimos, mil retalhos...
Nas ceifas tuas mãos percorrem magras,
No meio deste mar, eternidade...
Prenúncio do que foram simples flagras,
Matéria que propagas fosse rica,
Das podres sutilezas, liberdade...
Nos olhos, esperança brilha e fica...
Marcos Loures
13
Não posso conceber outro momento
Sem ter esta vontade de seguir,
Embora este futuro qual tormento,
Não deixe um sentimento assim fluir...
Se nada do que dizes, cego vento,
Consegue normalmente construir,
Do pão que me negaste, sofrimento,
Nem mesmo um novo engano a prosseguir...
Uma amizade apenas, nada mais,
Um verso abandonado no caminho
Na voz que se conteve na garganta.
Voltar uma ilusão, isso é demais
Pra quem já se cortou em tanto espinho
E, mesmo sem ter paz, de novo canta...
14
Não posso conceber nossas desgraças
Causadas pela dor que nos beijava.
Nossas cidades, fomos ruas, praças,
A lua que nos via nem notava...
Rodavam nossas mentes, as cachaças,
Jagunça solidão nos tocaiava...
Nossas cartas rasgadas pelas traças,
A boca desdentada enfim, sangrava...
Forjaste soluções mais belicosas,
Capachos, nos pisou contrariedade...
Fomos ruas e praças sem cidade.
Nossas bocas abertas, horrorosas,
Estavam, sem saber sequer metade,
Vitimadas d’humores, biliosas...
15
Não posso conceber como chegaste
Trazendo no teu canto uma esperança
A quem por tanta dor; vivo desgaste,
Já não sobrara um sonho de aliança.
Agora quando vejo-te qual haste
Que traz nesta presença nova dança
Pergunto a Deus por onde tu andaste
Imersa em catedrais, minha lembrança...
Tu és o meu sustento e minha glória,
U’a majestosa estátua perolada,
Reverte todo o rumo de uma história
Fadada à solidão, erma e vazia,
Minha alma se encontrando extasiada
Roubando da esperança uma alegria...
16
Não posso conceber a poesia
Deitada nos lençóis destes motéis.
Enquanto a desgraçada se sacia
Deixando no caminho, vãos corcéis
O pente não penteia quem se via
Fartando-se em mentiras, vis papéis
Palavra com palavra faz orgia
Os dedos no teclado, carrosséis.
Abracadabra disse Ali Babá
Abrindo cada porta, mas te digo
Que enquanto a perfeição, tolo eu persigo,
Eu vejo tanta coisa aqui ou lá,
Chamar amor de brega, amiga: o cúmulo.
Camões dá piruetas no seu túmulo!
Marcos Loures
17
Não posso coibir um sentimento
Que tanto traz prazer ao sonhador,
No anseio dos desejos meu alento,
Certeza de um caminho feito em flor.
Coleto cada antúrio; cada rosa,
Sementes espalhadas pelo chão.
A vida sendo em ti é fabulosa,
Deliciosamente: sedução.
Olhar para o infinito e crer possível,
No lume do horizonte, um belo sol.
Outrora imaginara ser incrível
Sentir toda a potência do farol
Que emana de teu corpo e que me guia,
Caleidoscópio prisma da alegria...
18
Não posso cercear uma emoção
Tampouco desprezar um sentimento.
Meu sonho que se foi, num brusco vento,
Deixando aqui sozinho, o coração.
Às vezes esquecendo o pensamento,
Mergulho num resquício de ilusão.
Ouvindo novamente o mesmo não,
Percebo que não resta um só momento.
Palavras bem mais rudes que disseste
Talvez fossem mentiras, ou defesas.
Não cabe mais um sonho que reveste
Meus olhos em teares, fossas, mesas.
Porém quando insensato não depuro,
De teu amor, insano, eu mesmo juro...
Marcos Loures
19
Não posso calar
Amor dentro em mim,
Vivo a te buscar
Amor não tem fim.
Teu corpo tocar,
Boca carmesim,
Até naufragar,
Me perdendo assim
Na noite que queima
Na lua que vem,
Amor não tem teima
É sorte quem tem
Um gosto tão doce
Que a sorte me trouxe...
Marcos Loures
20
Não posso assoviar e chupar cana,
Ou ando para frente ou marcha-ré
Se a gente não quer mais andar a pé
Precisa de um carrinho bem bacana.
Enquanto amor ainda nos engana
Fazendo da injustiça a sua fé,
Tentando vir a ti eu vou até
O encanto desta lua soberana.
Mas logo percebendo um ato falho,
Sou carta que vai fora do baralho,
Eu olho para os lados, nada vejo
Somente uma ilusão que sem critério
Convida amor ao velho cemitério
Aonde se enterrou o meu desejo...
Marcos Loures
21
Não podes, meu amigo servir bem
A duplo sentimento, na verdade.
Quem pensa nessa vida ter alguém
A quem possa viver em lealdade
Não deve se deixar levar também
Em vaga sensação de liberdade
Restando tão somente sem ninguém
Dois amos gerarão tal dubiedade
Que enfim não restará nenhum caminho,
Terá seu fim em negra solidão.
Desagradando sempre irá sozinho
Levando eternamente a acusação
De quem ao destruir o próprio ninho
Carrega a dura pecha de traição...
22
Não podes ver o brilho deste sol,
A tarde emoldurada, várias cores.
O lume não te serve de farol,
Nem beleza incerta destas flores!
Porém, toda a candura dos olores,
A forma delicada, o girassol,
Ternura que carregas, teus pendores!
No canto mais feliz do rouxinol
(Delícia de saber tantos amores!)
Por certo teus sorrisos em malícias
Demonstram feminino ar, armadilha...
Carinhos e desejos, nas carícias,
No olor e maciez da bela tília.
A vida se transborda nas delícias
Dos olhos deste amor. Minha Cecília!
23
Não podes ter o gozo permanente
De toda a serventia em que se alheia
Vontade de luar que inda vagueia
Na noite muitas vezes morna ou quente.
Sem ter a fantasia que me alente
A lua que sonhei, eterna e cheia,
Distante dos meus olhos não clareia
E morre a cada dia, descontente.
Verão sem ter teus braços puro inverno,
Saveiro perde o rumo e então aderno
E náufrago desejo um cais sereno.
Na boca da morena a cena muda,
A queda sobre a pedra pontiaguda
Demonstra o quão expeles, me enveneno...
24
Não poderia
Tampouco quero
Desta alegria
O gosto fero
Se a fantasia
Ainda gero
Amor me guia
Mas nada espero
Senão meu fim
Seco jardim,
Morta roseira.
Doce mentira
Ao vento atira
Tão verdadeira...
9425
Não poderia ser senão mentira
O que disseste, a mim nunca enganaste,
Talvez inda pudesse, mas um traste
Enquanto faz carinho, morde e atira.
Quem sabe outra palavra inda profira
Aquela que mostrou vivo contraste,
Legando ao sentimento este desgaste,
Porém Terra não pára, sempre gira.
Veremos a verdade quando tudo
Se demonstrar com toda claridade.
Não posso me dizer que inda me iludo
Com todo este sobejo gestual.
Quem vive na total obscuridade,
Demonstra agora ter cara de pau...
Marcos Loures
26
Não poderei ouvir o canto desta mata,
Nos frutos que preparo, as mãos da deusa Flora.
Nas hastes desta flor, no véu desta cascata,
A mãe natura em vão, ao homem tanto implora.
A lua traz decerto o brilho desta prata.
Percebo essa promessa, a natureza chora.
Quem ama não destrói, namora em serenata.
Quem sabe não discute agora, faz a hora.
Vestígios de queimada, anseios de vingança.
A fonte da vitória afoga essa esperança.
O mote que me deste enfeito nesta trova.
A mão que te tortura, um peso amargo e triste
O fogo te devora e mais tudo que existe.
Um homem não repara e cava a própria cova!
27
Não poderás partir e me deixar
Com olhos tão perdidos, sem sentido,
Sabendo do horizonte já perdido
Matando a fantasia devagar.
Não poderás partir, pois sem luar
O céu eternamente enegrecido
Jamais verá do sol embevecido
Beleza que busquei e sei sem par...
Não poderás partir, isso eu te peço,
Do amor encantamentos que confesso
Traduzem-se somente em teus carinhos.
Vagando pelas ruas, sem destino,
Apenas o vazio eu descortino,
Meus olhos sem teus olhos, tão sozinhos...
Marcos Loures
28
Não permita que tristes sejam nossos
Caminhos na procura da esperança.
Não quero que tu leves meus destroços
Recolhidos nas ruas. Isso cansa...
Eu quero o teu sorriso franco e aberto
Escancarado em tua bela boca,
Amiga não me traga descoberto
Céu, sem o qual a vida é cega e pouca.
Tua alma, em formosura, uma exceção
De tanta lucidez em mar revolto,
Permita que se trame uma emoção
Num coração deveras leve e solto.
Amiga, compartilhe em liberdade,
De todo esse vigor de uma amizade...
29
Não percebeste amada quanto eu quis
Deitar-me no teu colo e em teus regaços
Saber que finalmente sou feliz
Tocando com carinho os mansos braços
Estreito a cada dia mais os laços
E peço o teu desejo e quero bis.
A lua clareando os nossos passos
Argêntea companheira que me diz
Do quanto é necessário descobrir
Caminho que me leve à tua andança
Em preces tantas vezes vou pedir
À lua que firmando esta aliança
Permita, em cada luz a refletir
Um novo amanhecer em esperança
Marcos Loures
30
Não percebes verdades que não vês.
As farpas escondidas já não ferem...
Quem fora assim calado já tem vez,
As ondas não se movem como querem
Os donos das verdades, dos jornais...
Notícias tão venais não interferem,
Não era finalmente hoje é bem mais...
Por mais que as armadilhas hoje imperem...
Quem tinha a valentia na arrogância,
Quem tentou proibir jardim e rosa,
Quem finge que riqueza é elegância,
Não sabe a maravilha que andrajosa,
Recomeça a sonhar, viver infância,
A grande maioria silenciosa...
31
Não perca essa esperança, companheira,
É pão que nos sustenta e nos dá vida.
Viver sem ter a paz mais verdadeira
É ter toda uma história já perdida.
Perdendo o grande amor, a dor chegou,
Miséria bate à porta e te maltrata,
Amigo que enganando, o vão mostrou,
Incêndio que destrói e que desmata.
Mas tenha fé que um dia tudo muda.
E o tempo no final trará bonança.
Se for preciso conte com a ajuda
De quem te adora e dança a mesma dança.
Conte comigo, estou sempre ao teu lado,
Por mais que o mundo tenha te enganado...
32
Não posso mais comer de quase tudo,
Tampouco dar um beijo mais melado,
O velho coração ficando mudo,
Aos poucos se sentindo abandonado.
Eu sei que na verdade não me iludo,
Jamais fiquei de novo apaixonado,
O que pensei enorme hoje é miúdo,
Prazer agora é coisa do passado...
O tal do diabetes, um problema
A cruz que ora carrego aqui comigo,
A cada beijo doce outro perigo,
Não sei como resolvo este dilema,
Se eu topo esta parada, é um vexame,
Se eu fujo vai ter gente que reclame...
33
Não posso mais cantar em liberdade,
Embora isto pareça ser fatal,
O verso mais audaz, sendo banal
Trazendo no seu bojo a amarga grade.
Por mais que a realidade nos degrade
Eu teimo, e a teimosia me faz mal,
Não sendo este o motivo principal,
Mas basta pra gerar ansiedade.
As críticas se feitas por quem sabe
Permitem um caminho mais suave,
Porém quando do estúpido em que a trave
Enorme; no seu olho já não cabe;
É uma grande ofensa e me cerceia,
Enferrujando a trama desta teia...
34
Não posso mais calar o sentimento,
Ao qual sempre me entrego, sem descanso.
Enquanto a fantasia agora alcanço
Eu vejo nos teus olhos, meu alento.
O amor no qual se embebe o pensamento
Permite ao andarilho este remanso,
Matando da tristeza todo o ranço
Servindo a quem procura algum alento.
Por mais que ele traduza alguma dor,
Possui este poder transformador,
E traz dentro de si, farta esperança.
Quem sabe decifrar os seus sinais,
Caminha em sendas belas, magistrais,
E em pleno Paraíso, segue, avança...
Marcos Loures
35
Não posso mais calar esta revolta
Que há tanto me corrói e não disfarço
Olhando bem atento tudo em volta,
Amarrado nos pés este cadarço.
As viperinas vozes dos ignaros,
Estúpidos venais que sem talento,
Destilam seus humores tão amaros
E vomitam inúteis excrementos.
Querendo nos vender como corcel
O velho pangaré de marcha tosca,
Queimando sorrateiro, à noite a rosca
Escarra baboseiras no papel,
Quem sabe do problema, já destrincha
Enquanto este imbecil senil relincha...
40
Não posso imaginar que nosso amor
Se deixe derrotar pelas quimeras,
Nós somos feito o destemor
Que vence toda sorte de panteras.
O nosso canto é feito em aliança
Marcada por um laço indivisível,
O mote que escolhemos: esperança
Baseados neste ser que é invisível,
Porém nos traz a força de um leão
Porém nos dá a garra para a luta.
Cantamos nosso amor sem ilusão
Vencendo com carinho, a força bruta...
Eu te amo; não se esqueça um só segundo,
Amamos nosso amor maior do mundo!
Marcos Loures
41
Não posso enaltecer um verso tolo
Nem mesmo maltratar a velha musa
Que abrindo devagar a sua blusa
Empresta a maravilha em que me embolo.
Deitando o meu desejo no seu colo,
A velha desdentada vem e abusa
Decerto que ela esteja assim confusa,
Mas semente precisa de um bom solo.
Não vejo que haja dolo nesta Diva
Mesmo que esteja sempre altiva,
Mau hálito maltrata, esteja certo.
De noite em qualquer beco, um bom aperto
Traz logo pra safada um arrepio.
No bote da serpente eu me vicio...
Marcos Loures
42
Não posso e não consigo meu intento
Deixar de tanto amar nunca deu certo,
Se versos nesta vida sempre invento,
Amor já povoou o meu deserto.
Oásis esquecidos não se deixam
Levar pelas areias da saudade.
Sabendo que estes versos já se queixam
Como poder viver em liberdade?
Escravo de meus versos mais vadios
Em cios tão constantes nunca paro
Desculpe por meus cantos tão vazios,
Com nexo e sem sexo, não disparo.
Deparo com teus olhos, minha amada,
Promessa num segundo, está quebrada...
Eu preciso beber urgentemente
Senão meus versos andam livremente...
43
Não posso disfarçar que o sentimento
Domina cada verso que eu fizer,
No corpo desejado da mulher
A minha poesia toma assento.
Fugir deste destino, até que tento,
Banquete necessita do talher,
Bebendo desta vida o que vier
Não posso cultivar o sofrimento.
Vontade de ser jovem novamente
E ter a mocidade que perdi,
Preciso ser feliz, é tão urgente
Por isso, meu amigo; estou aqui
Falando deste amor que não mereço,
Quem dera se inda houvesse um recomeço...
44
Não nego meu amor, pois te venero
E disso tenhas toda uma certeza,
Se tenho que enfrentar a correnteza
Com teu amor jamais me desespero,
Tu és minha vontade e fé, meu clero,
Razão de cada verso e com certeza
Olhando com ternura tal beleza
Sem ter qualquer surpresa: és o que eu quero.
Mas creia que apesar de ser tão teu
Ainda tenho em mim força bastante
Pra poder prosseguir, mesmo sozinho.
Se a estrela que carrego não morreu,
O passo que não sendo vacilante
Acerta com firmeza o seu caminho...
Marcos Loures
45
Não nega nem impede o belo viço
A primavera eterna que nos toma.
O quanto do prazer inda cobiço,
Permite o renascer mago do estroma.
Esfacelado o sonho de quem sofre
O desamor inerte e sem motivos,
Já tendo da emoção a chave e o cofre
Mantendo nossos sonhos sempre vivos
Descrevo com serena mansidão
O sentimento amigo e relevante
Que toma sem licença o coração
Nos olhos da morena provocante.
Mendigo deste olhar, eu quero bis,
Podendo declarar: enfim, feliz!
46
Não mintas a si mesmo, caro amigo;
A gente se conhece é na nudez,
Nossa alma em outro corpo, sem abrigo,
Perderá, com certeza, a sua vez.
Uma alma que se perde não consegue
Saber o que é correto, o que é direito,
Um barco noutros mares que navegue
O seu percurso nunca é tão perfeito.
Muitos pecados nascem deste jeito,
Uma alma que a si mesma sempre negue
Tramando seu caminho já desfeito,
Não tem nem mais um lastro onde se apegue,
Tu queres uma vida sem ressalva?
Apenas a verdade é que te salva!
47
Não meto o meu bedelho em tais histórias
Que possam me trazer dor e alegria.
Se guardo dos amores más memórias,
A farpa que restou: melancolia.
Quem pensa ter somente risos, glórias,
Depois da tempestade ainda havia
Perigo nos escombros, nas escórias,
A solidão se torna a senhoria.
O ferro que feriu logo enferruja,
Paisagem revoluta, amarga e suja.
Sou velha garatuja da esperança,
Às vezes discordante; outras, antálgico,
Um traste sorumbático e nostálgico
Errático desaba enquanto trança...
Marcos Loures
48
Não meta em minha vida, o teu bedelho,
Não posso suportar tal falsidade.
Um pássaro não quer saber de grade,
Também já não desejo mais conselho.
Aponte para longe o teu artelho,
Tudo o que eu quero, enfim, tranqüilidade
Jamais encontrarei. A liberdade
Não gosta de um amor tolo e pentelho.
Se eu faço ou se desfaço, o quê que tem?
Não vejo algum problema em ser assim
Se a seca toma conta do jardim
Repare e por favor, repare bem
Que tudo o mais quero é poder ter
Depois de tanto tempo, algum prazer.
49
Não meço meu amor, nunca se mede;
Amores e carinhos não têm preço…
Se gozos tu me pedes, logo esqueço,
Pois perdão, com certeza, amor me pede.
Quem tanto quer amor, amor concede
Felicidade é mais que um adereço,
Levanta após a queda, num tropeço,
O caminho do qual jamais se arrede
Quem busca a divindade, pois decerto,
Mantendo o coração assim aberto
Legiões constelares vão chegar
Miríades sublimes radiantes,
Os céus nestes momentos fascinantes
Explodem em mil raios de luar...
9450
Não meço mais os medos nem os pés
Que meto pelas portas da saudade
Se vivo ou se virei só de viés
Depende desse sol, da claridade.
Não minto quando canto meu amor.
Mas sinto que perdi essa meada.
A cama tão sozinha a meu dispor
Demonstra que uma noite não é nada.
Apenas as histórias que contaram
De fadas, de princesas e castelos,
Terminam onde amores aportaram
Deixando em seu lugar os meus rastelos.
Que trazem toda dura realidade.
Fantasmas nunca dão felicidade...
51
Não me restará nada deste mundo,
Nem sequer o pó, nada levarei...
Cravaste teu segredo mais profundo,
Pensando que podias com a lei.
Não quero nem me importo se me inundo,
As águas poluídas naveguei.
Meu coração, sincero vagabundo,
Me levará por certo onde cheguei...
Beijos de amor? Mentiras que crivaste
O peito de quem sabe que és feroz...
Meus pés perdidos presos, amarraste
Nos porões da viagem que prossigo...
Distante não conheço tua voz,
As pétalas do amor, levo comigo...
Marcos Loures
52
Não me representaste nenhum nexo,
Tu és completamente desvalida.
Na cama que rolamos, cadê sexo?
És, para mim, total desconhecida...
Não olhas para nada, quer reflexo,
Espelhas podridão és morte em vida.
Côncavo, quando quero ser convexo,
És infernal, cirúrgica dor, és brida...
Cada noite conjunta me amofina,
Não quero perceber-te, és minha sina.
Tuas mãos ao tocar, tudo deformam,
És Midas às avessas, és o mal.
Embora venenosa, se conformam,
As noites que me sangras, animal!
Marcos Loures
53
ão me queres mais. Sinto que perdi
O teu amor querida. O que fazer?
Tantas vezes contigo me escondi
Dos males procurando em teu prazer
A força que encontrara só em ti.
Mas tenho tanta vida por viver,
Não posso mais ficar sozinho aqui
Esperando que apareça um bem querer.
Por isso minha amada, hoje eu saí.
Buscando teu olhar em cada rosto,
Buscando tua boca em cada face...
Mas desculpe; rei morto, outro rei posto.
Não vou ficar aqui sofrendo, à toa;
Perdoe, mas sou franco e sem disfarce:
Agora eu descobri que a vida é boa!
54
Não me queira falar de passado,
Essas águas não movem mais moinho...
Não proponho saudades ao te lado,
Amor que já vivi morre sozinho...
No frio deste quarto, congelado,
Casaco que me deste, dum arminho,
Mão que procura em vão sofre um bocado,
Amor encontra pranto, é seu vizinho...
Não me queira dizer que mudaste,
As pedras que se rolam são só pedras...
Os olhos que mentias, vigiaste,
O resto da canção desafinada,
Amor que já morreu; por certo, medras,
A dor já me envolvendo, escancarada...
Marcos Loures
55
Não me permito mais tais devaneios...
As orcas vão tentando me morder...
Não quero nem pretendo ter receios,
Seria bem melhor então morrer.
Não quero me esquecer seus lindos seios,
Nem quero de você me desprender.
Nas horas que senti serem alheios
Os olhos que, por eles, tento ler,
Perdi meu rumo, meta e poesia,
Nas bordas do que fui sem fantasia,
Vencido pelos olhos da vingança.
Crescendo sem poder ter esperança
As horas vão passando como o dia...
De resto me sobrou uma criança...
A criança que fui quebrou os sonhos.
A dor que me restou, mares medonhos,
Amor nunca passou sonhos tristonhos...
56
Não me perdoaria se eu calasse
Diante da beleza desta trova,
O fato de te amar já se comprova
Trazendo em magnitude o desenlace
Do sonho que mostrando a bela face
Da amiga e companheira que renova
A cada dia mesmo pondo à prova
O amor que em maga luz já se moldasse.
Sem ter medidas vive e se refaz,
Sabujo que procura pela paz
Na terna maciez dos braços teus.
A lua que me trouxe farto brilho,
Desnuda no horizonte em claro trilho,
Fulgura como archote sobre os breus...
Marcos Loures
57
Não me peças que eu mude meu pensar
Nem que assim eu cambie cada passo,
Amiga no futuro a te encontrar
Em cada novo dia, novo espaço
Do princípio ao fim sempre irei lutar
Sem medo e sem sequer saber cansaço.
De tudo é necessário despojar
Na breve sensação de cada abraço.
A luta deve ser sim, voluntária
Sem culpas ou prisões que nos detenham,
Por mais que a noite seja temerária,
O sol que brilhará nesta alvorada,
Permita que os desejos sempre venham,
Trazendo uma outra luz já renovada...
58
Não penso urucubaca, mas a sorte
Tem suas armadilhas, disso eu sei.
As trilhas mais diversas matam norte
Cobrindo num disfarce a velha grei.
Comendo com volúpia feito um frei,
Colesterol prepara para a morte,
Se pára ou se antepara, colherei
O que julgara ser simples esporte.
Medonhas heresias, Santo Ofício,
O beijo se tornou terrível vício
E a traição espera numa esquina.
Leiloo tais apetrechos, gume e faca,
Na reza forte mato a urucubaca
Sabendo ser a vida, uma rapina...
59
Não penso noutra vida, companheiro,
Ao lado da viola e deste rio,
Pescando com certeza o dia inteiro
Quer faça sol ou mesmo até no frio.
Não me chame, querido de vadio,
Não tenho outra vontade e vou ligeiro
Buscando inspiração um verso eu crio
E jogo esta tristeza no cinzeiro.
À noite em lua cheia, no terreiro,
Viola ponteando com saudade
Do amor que já se foi, tão traiçoeiro
Deixando só restar a liberdade,
Também pra que sofrer se o verdadeiro
Amor sempre se faz de uma amizade.
60
Não penso neste amor, em gratidão,
Nem quero que me beijes por beijar.
Apenas te proponho uma emoção
Que faça sem ter asas, revoar...
Não falo desta chaga que carrego
Nem conto a cicatriz exposta em ti.
Eu sei bem d’onde venho e nunca nego,
Só sei que nos teus braços me perdi.
Acendo este cigarro, veja a fumaça,
Assim; o nosso amor não quero ter.
Eu quero te levar, de noite à praça
Depois o teu prazer no meu prazer...
Esqueça essa mão vil do meu passado,
Perceba quanto estou apaixonado!
61
Não penses que estarei sempre sozinho...
Meus passos são gigantes como a lua.
Em Marte construí meu novo ninho,
Minha alma tão serena já flutua...
Não quero que revolvas céu e mar
Apenas não desejo o sofrimento.
Sorria novo canto para amar
Que eu sigo esse meu mar em movimento...
Esculpi meu sorriso de Carrara
No mármore mais duro que conheço,
No meu tombo, minha asa me antepara,
Por isso nunca temo meu tropeço.
As asas que roubei da poesia,
Permitem no meu vôo, autonomia...
62
Não penses que a tormenta seja eterna,
Amiga, com certeza, passará.
Por mais que de tristezas, alma inverna,
Tal qual hibernação, acabará...
E quando a primavera traz as flores,
De novo todo o campo se reluz.
Assim também, querida, são as dores.
O sol inevitável vem, traz luz...
Por mais que seja triste nosso inverno,
Por mais que tenha nuvens, nosso céu.
Não há um sofrimento assim, eterno.
A vida se renova, fel e mel...
Amiga, não se prenda na lembrança,
Reviva todo o brilho da esperança!
63
Não pensei que talvez fossemos tanto
Mas pretendo conter o que já sinto.
Amar demais é quase sempre pranto,
Por isso sem sossego, calmo eu minto...
Navego um turbilhão dentro de mim,
Enfrento um furacão com falso riso.
Vivendo deste todo sou assim,
Fingindo lucidez perco o juízo...
És toda uma beleza que não tive,
És toda uma certeza que consome...
Amor de tanto amor se sobrevive
Quando em amor, matando sua fome...
Eu quero teu amor somente meu.
Meu mundo no teu mundo, aconteceu...
64
Não pense que essa voz, se já cessasse,
Parava de chover tanta saudade,
A vida que em promessas não renasce
Padece sem disfarce, de maldade...
Mistérios denegrindo nossos sonhos,
Proponho nossos passos mais serenos.
Ao menos esquecermos dos medonhos
Caminhos emboscados em venenos...
O lago peregrino do meu peito
Em tantos desafios se perdeu,
Não sei se enfim terei qualquer direito
De fuga ou claridade neste breu...
A luz que salvará, tenho comigo,
Abrigo do teu braço tão amigo...
65
Não pense que deixei de te querer,
Apenas num disfarce me escondi.
Por incrível que isso possa parecer,
Todo o meu cantar é para ti.
Sinto-me enamorado e não mudei,
És mais que uma alegria. Meu encanto.
Amar o teu amor é minha lei,
Por isso; é a razão deste meu canto.
Espero te encontrar em pouco tempo,
Nos campos que sonhamos; minha amada
Assim que se acabar o contratempo.
O tempo pra quem ama não é nada...
E vamos rumos fortes decididos,
Viver os nossos sonhos, pré sentidos...
66
Não pense deste jeito,
Amada derradeira,
Se vivo satisfeito
Desfraldo esta bandeira
Do amor quando bem feito,
Dourando a vida inteira,
Contigo em nosso pleito,
A vida é feiticeira
E mostra a sorte imensa
Que encontro em cada verso,
Querida a recompensa
Mais bela do universo,
Sentido mais diverso,
Vontade tão intensa...
67
Não pensa que me escapas de repente,
Eu vou atrás do amor que propuseste.
Ninguém pode viver impunemente,
Anel que era de vidro, tu me deste.
Mas saiba que terás prazer urgente
Se à noite, em minha cama; tu vieste.
Meu corpo no teu corpo uma semente
Que brota e simplesmente nos reveste...
Teus olhos transparentes, desejados,
Posseiro desta gleba; quero ser.
Nos cortes tantos lenhos, destroçados,
Queimada em nossa roça, fogo intenso;
Fazendo inundações, nosso prazer,
Que nasce de um delírio, forte, denso...
68
Não peço mais perdão pelos meus erros,
Se tudo nesta vida é desengano,
Não trago na minha alma mais tutano,
Nem quero perceber os meus desterros.
Esporo o meu corcel e subo os cerros
Aonde imaginara ser humano
O canto que deveras causa dano
Ao coração imerso em tais aterros.
Na parte me cabe, vou em frente,
Não que isso seja bom, mas não me canso,
Se o peito ainda bate calmo e manso,
Felicidade é bem por certo urgente.
Quem sabe e sempre esconde por maldade
Não vale muita coisa, na verdade...
69
Não passo, nesta vida, de um coitado
A quem já se negou uma esperança.
Saudade vem deixando o seu recado
Nas dores que restaram na lembrança.
Sou nada, nada quero. Esse é meu fado.
Perdi qualquer sentido de aliança.
Depois de ver amor sem ter mais nexo,
Depois da noite escura sem estrelas...
Sobrando tão somente esse complexo.
As dores? Não consigo revertê-las.
O coração passou a ser anexo
As luzes de um amor, jamais revê-las!
Mas digo; meu amor, minha paixão...
Mesmo assim: EU NÃO SOU CACHORRO NÃO!
70
Não passo de um estúpido venal
Tentando em cada frase me enganar.
Distante dos encantos de teu mar,
Invento, nas montanhas, praia e nau.
Perdido, nos terrais, no cafezal,
Avesso à fantasia, o meu cantar
Enquanto se esvazia, devagar,
Mergulha no infinito sideral.
Recolhe em cada estrela alguma luz,
E finge ter luz própria. Ledo engano.
Deixando os versos pálidos e nus
Apenas esqueletos sem proveito.
Por isso é que me calo e não me ufano,
Jamais desnudarei árido peito...
Marcos Loures
71
Não paro de pensar em ti querida,
Pois selo nosso amor com firme laço.
A sorte já lançada e decidida
Desenha-se no céu em fino traço.
Paixão que nos tomou é incontida
Não se deixa cercar, requer espaço
Labirinto das dores vê saída
Contida neste amor, que é feito de aço.
Enfrenta as tempestades e as procelas,
Um peito timoneiro encontra o rumo.
Eu quero estar contigo, e sempre assumo
Enquanto pelo amor, querida, zelas
Eu estarei andando lado a lado
Por quem estou vivendo, enamorado...
Marcos Loures
72
Não ouvirás jamais meu canto derradeiro,
Esqueça do passado, ausente no futuro
O vento que nos toca, além do costumeiro
Esmola um novo tempo, um dia menos duro.
Ouvindo a tua voz, estúpido cordeiro,
O canto do pastor, um salto pelo escuro,
Alada fantasia, o gozo verdadeiro,
Acaso não demora, e nele eu me procuro.
Não quero a picuinha estática mentira
Que a tira não se esgarça e a boca em vão atira
O beijo amorenado, ourives deste sonho,
E quando sou assim, sanando o que não sei,
O tanto que tentara, em vão imaginei,
O quarto destroçado aonde o céu componho...
73
Não ouço nem sequer antigos cantos
Perdidos pela vida em emboscada,
Coleto os meus resíduos pelos cantos;
Percebo não sobrou quase mais nada.
Enfrento algumas vezes meus espantos
E ganho como prêmio a mão atada.
No fio tão cortante de uma espada
Preparo em sortilégio, pobres mantos.
Qual fora um peregrino, vago à toa,
O verso proferido já destoa
E nega, sem perdão qualquer afago.
Um andarilho insano, em ilusão,
Da sórdida aguardente, num balcão,
Buscando uma alegria, bebe um trago.
Marcos Loures
74
Não olhe para mim, tão desejosa,
Mal sabes que não posso me conter.
Colhendo no jardim, perfeita rosa,
Vontade de tocar e me perder...
Não quero te deixar tão vaidosa
Mas ao me olhar assim, com tal prazer,
Convida a desfrutar maravilhosa,
No cálice divino irei beber...
Sorvendo gota a gota em nada penso,
Apenas te desejo, e nada mais...
Por sobre um corpo belo, sempre cismo,
E sei que em festa imensa, amor intenso,
Encontro navegante, um santo cais...
O risco que me toma: priapismo...
9475
Não notas a presença de quem amas?
Está nesta janela te esperando..
Na chuva que se entorna e forma lamas,
Nos raios desta lua te adornando,
No fogo que te queima, fortes chamas,
Está o tempo inteiro te adorando...
Não notas a presença em teu jardim?
Nos lírios e nas rosas, nos perfumes.
Está em cada broto de jasmim,
Está nos teus segredos e queixumes,
Está dentro de ti, dentro de mim,
Morrendo e te matando de ciúmes..
Não vês que estou aqui, faz tanto tempo...
Querendo estar em ti, sem contratempo....
Marcos Loures
76
Não nos separaremos nunca mais
Pois és, em minha vida a garantia
De paz, tranqüilidade e harmonia.
Sem ti eu não serei feliz jamais.
Nos versos e palavras desfiais
Além do que sonhei, toda alegria,
Não sei se caminhar, eu saberia,
Distante dos teus rastros aonde vais.
Envolto nesta rede constelar,
Raríssima tiara reluzente,
Percebi que afinal me sinto gente
Alegre sensação que sei sem par
Rolado este meu canto no infinito
Mercê deste querer, por Deus bendito.
77
Não nos deixa mais sozinho
A vontade de sonhar,
Se da morte me avizinho
Replantando o meu pomar
Em perfeito desalinho,
Nos teus braços encontrar
O meu derradeiro ninho,
Mas eu sinto se esgueirar
Pelas mãos de um sonhador,
Que sem nada a te propor
Teima ter alguma chance
Farta luz que assim te guia
Relutante poesia
Vai perdendo o seu alcance...
Marcos Loures
78
Não nego que te quero, pois é disso
Que faço meu cantar mais delicado,
O sonho que em momentos eu cobiço
Traduz minha presença sempre ao lado
Daquela que em verdades, traz o viço
À vida que pensara em outro fado.
Quem fora tão somente quase omisso
Agora em novo encanto alvoroçado.
Transmites toda a paz que necessito
E todo o meu desejo já suprimes.
Amor tendo a firmeza de um granito
Entoa em maciez cantos sublimes.
As mãos que te acarinham sempre expressam
Momentos em que os sonhos recomeçam...
Marcos Loures
79
Não nego o quanto quero estar contigo
Porém há tantas coisas por dizer.
Do sonho que desejo e que persigo,
Querida; proibiram meu prazer!
Mas faço deste verso qual castigo
A quem não quer deixar sequer viver.
Se eu tenho a sorte imensa como abrigo
Não há quem desobrigue o meu querer.
Não posso mais falar sequer desejo.
Mas quero desfrutar deste pomar.
Sentido figurado: do teu beijo
Eu quero penetrar em raro altar.
Se a poesia exige algum traquejo
Não quero mais sozinho poetar...
Marcos Loures
80
Não me deixas sentir sequer o medo...
Não tenho tempestades, nem as temo...
Amar parece ser o teu segredo.
Nos mares que navego, és o meu remo...
Por vezes, se freqüento meu degredo,
A morte tão silente nunca eufemo,
Aguardo minha dores, simples, ledo...
A teu lado sequer, nunca mais tremo...
Perfume e singeleza, tens da rosa,
Caminhas flutuando pelo céu...
Amada, teu caminho descortina,
Nas mãos desta mulher voluptuosa,
Delícias e luxúrias, carrossel...
És todo o meu amor: Ó minha Adina!
81
Não maltrates amor, eu não mereço.
No relógio essas horas vão passando
O tempo de viver, aos poucos finda...
De tudo o que vivemos, nada sobra
Senão noite perpétua dos prazeres.
Não deixe que esta noite nunca morra,
Nem deixe que esse abraço seja em vão.
Faça de nosso amor, eternidade;
Fale de nosso encanto com alegria.
Não se esqueça amor; sempre serei teu.
O sonho que me invade é nosso sonho.
O tempo que passamos, fantasia...
No mar de nossos beijos, as delícias.
Delicadas e sensíveis, nosso amor!
82
Não maltrate o soneto tanto assim!
Que culpa tem o pobre que se esmera
Em tentar cultivar da Primavera
A rosa mais perfeita do jardim?
Cuspir no alheio prato? Pois no fim
Quem fala sem saber do que se espera
Enquanto a fantasia degenera
Acende da ignorância, o estopim.
Se eu não gosto de Lizt nem de Beethoven
Não vou culpar quem sabe dedilhar
Com toda maestria no piano.
Destruir tão somente é o que convém
A quem confunde Bach com Tião do Bar
E vende a cada verso um tolo engano.
83
Não mais vou conhecer uma saudade
Prometo que te quero mas não vou
Deixar que se perca a claridade
Em tudo que sem medo, me restou...
Vivendo no que sempre quis viver,
Nos ares que pretendo mergulhar
Os olhos de quem sonho posso ver
Na lua que desmaia em manso mar...
Amor que na verdade, me salvara
De quantas ilusões que já perdi.
Acordo sem saber como se pára
O trem que, das saudades, anda aqui.
Amada, como é bom viver contigo,
Embora tanto amor, corra perigo...
84
Não mais trarei meus olhos embotados
Apenas em espinhos, sem perfumes,
Os dias de alegria são passados
Em negra solidão, perdendo os lumes.
Tortura de quem chama e não mais quer,
Insensatez completa, maquiagem.
Embora em teu fascínio de mulher
Promessas se transformam em bobagem.
Secando a minha fonte, nada resta
Senão esta vontade de morrer.
Assim, mal terminando o que foi festa,
Não tenho mais caminho a percorrer...
Somente um verso triste que me embala,
Com olhos embotados, perco a fala...
85
o mais tentar a sorte desumana
Que toma os meus sentidos e me aderna,
Queria ter uma alma soberana,
Porém meu coração agora hiberna.
Quem dera se eu tivesse a noite terna,
Aonde a solidão se desengana,
A melodia intensa, pois eterna
Eflúvios delicados; sempre emana.
E o barco atravessando temporais
Encontra finalmente o manso cais
Que tanto desejou. No ancoradouro
Sublime a calmaria após procelas,
Mas quando o falso brilho tu revelas
Percebo ser inútil tal tesouro...
86
Não mais seria a séria correnteza
Que marca com tempesta festa e gozo.
A boca escancarada enfrenta a mesa
E nisso meu amor voluptuoso
É maço de cigarro chama acesa
Que embarca noutro mar mais perigoso.
Depois de me fartar em sobremesa,
Soçobro em tua praia caprichoso.
Nadando em braços, rios, mares, lagos,
Preciso de carinhos, teus afagos
Que a lua me atordoa em brilho e prata.
O tempo se transforma em aliado,
E o beijo da morena babujado
Convidando a adentrar delícia em mata...
87
Não mais serei nem peça nem pedaço,
Não quero ter completa decisão,
Embora busque sempre a solução
Basta das tais saudades - velho laço...
Quero terminar tanto quanto passo,
Em meio a quedas, sofro sim e chão,
Menina nunca quero teu perdão,
A vida sigo, preso no teu laço...
Eu quero revelia, meu revés,
Não quero ver a vida no viés,
Pedaços dos abraços traz o tchau.
Essa balburdia cheira carnaval,
Minha senzala feita no varal,
As marcas das correntes nos meus pés...
88
Não mais que certo tempo pra pensar
Omito meus desejos, são só meus...
Espero que não cansem de esperar
Os olhos que brilharam nos meus breus...
Não sei mais versos belos, sou vazio.
Cansado de tentar te convencer
Que bem mais importante que este rio,
São as águas que não cansam de descer.
Meus sentimentos passam como as águas,
Transcorrem minha vida, sem sossego.
Derivo nas cascatas feitas mágoas
No mar de teu amor me descarrego...
Mas sigo, sem parar um só momento,
Na busca deste belo sentimento...
89
Não mais eu cantaria o verso manso
Aonde poderia ser feliz,
O vento em calmaria; não alcanço,
Profano coração, não mais me diz
Do encanto que buscara, ora me lanço
Vencendo os temporais em tarde gris,
As liras esquecidas; louco, tranço
Os pés neste castelo feito em giz.
Por séculos, milênios; sentimentos
Jogados sobre o chão no mesmo idílio,
O amor que condenando, traz no exílio
Farnéis que desejara, até aos centos,
O julgo da ilusão algema os sonhos
Promessa de fantasmas vis, medonhos...
90
Não mais esquecerei se sou a sombra
Que em plena juventude se esqueceu
Dos olhos que a saudade sempre assombra
Nas raias da loucura se perdeu...
Eu sou o verso triste que já chove
Com lágrimas no rosto, assim pasmado.
Temendo tanta nuvem que comove
Levando de viés, meio de lado
O sonho que lacrimo a cada instante
Não posso mais dizer sobrevivente
Se caço meu começo delirante
E morro nos teus braços, tão carente...
A sombra que me guia, meu fantasma
Aos poucos vai se erguendo cega e pasma...
91
Não mais escutarei meu coração,
Bem sei que ele machuca e me maltrata,
Quem sabe se terei a solução
Em busca desta lua que retrata
O verso mais doído que já fiz,
O canto solitário deste lobo,
Que nunca, nos seus mares, foi feliz,
E trama neste verso quase bobo
As últimas centelhas deste amor,
Dormido como tudo que já tive,
Vivendo sem saber que se eu não for,
Amor sem ter saudade, sobrevive...
Fingindo que terei felicidade,
Amor que me roubou a liberdade...
92
Não luto, estou de luto, sempre ganhas
Tamanha esta vontade que te entranha
Abocanhando todas minhas sanhas
O gozo sem limites vem e assanha.
Na valsa, salsa, a farsa se faz festa
Refestelada estampas seus bemóis
Atesta o quanto gesta, o nada resta
Acende num instante tantos sóis.
Na fé, teu ceticismo me amedronta
Na contramão da vida sigo as teias
Promessa me arremessa à mesa pronta
Convites sem limites; incendeias.
Teu corpo, uma morfina que amofina
Ao mesmo tempo entorna e me alucina...
Marcos Loures
93
Não ligue pra essa gente que se esconde
Atrás de qualquer máscara, querida,
Perderam, com certeza trem e bonde
E buscam noutra porta uma saída.
Tentando disfarçar sem saber onde
Esquecem de cuidar da própria vida,
Com pose de rainha ou de visconde
No fundo a mesma fruta apodrecida.
O amor quando em prazeres já nos brinda,
Tornando a nossa estrada bem mais linda
Estende os seus tapetes a quem sabe
Viver cada momento com meiguice,
Esquece o que a gentalha amarga disse
Na glória de um sorriso, ela não cabe...
Marcos Loures
94
Não ligue aos puritanos. Vem comigo.
A vida sendo breve não permite
Que a voz injuriosa ganhe abrigo
No nosso amor que nunca tem limite.
Beija-me assim, que a noite é toda nossa
Façamos tanto amor sem escutar
Palavra desta gente que se esforça,
Por não ter amor, sempre o negar.
Façamos destes beijos arco e seta
Que atinja bem no peito, os invejosos.
Que a flecha ao atingir decerto a meta
Ferirá sentimentos orgulhosos.
E assim os puritanos, sem defesa
Se renderão enfim a tal beleza...
95
Não levo com certeza mais ninguém
Assim o meu caminho, eu sigo leve,
O tempo de viver mesmo que breve,
Magias na verdade sempre tem.
Olhando para frente, vou além,
E tendo uma certeza que me enleve
O vento calmamente venha e leve
Meu barco para os braços de meu bem.
Porém se não vier, estou tranqüilo,
Um riso mais sincero; inda destilo,
E faço deste nada uma esperança.
De ter amanhecida a sorte imensa,
Viver já é decerto, recompensa,
Sabendo quem espera já se cansa.
Marcos Loures
96
Não leve tua vida tão a sério.
Precisas de um sorriso pra viver
Quem sabe deste mundo este mistério
Encontra um bom motivo e pode ver
Que tudo que passamos, passará,
Depois sequer lembrança vai sobrar.
Amigos encontrei aos centos cá
Também se eu for embora, vou achar.
Aquela maravilha de menina
Que foi toda a razão do sofrimento.
Sentada na beirada da latrina
Faz força, mas depois... nem eu agüento.
A vida traz recado e dita a lei.
Dela saio do jeito que eu entrei.
97
Não leve estes problemas tão a sério.
Deixe a vida correr qual fosse um rio,
Confie totalmente em teu critério
Que tudo, no final, vai mais macio.
Por mais que tudo tenha o seu mistério,
A solução, querida, eu mesmo crio.
Se no final me aguarda o cemitério,
Não sou eu quem acende este pavio.
Não perca nunca a crença. Uma esperança
Ajuda quando a barra anda pesada.
Às vezes ao dançar conforme a dança,
O barco vai seguindo a correnteza
Mas se preciso dê uma guinada
Porém segure a onda, com firmeza...
98
Não leve esta minha alma tão a sério,
Sou sapo que se esconde em majestade
Não trago nem desejo algum critério
Eu quero é bagunçar a realidade.
Tentando amenizar duro minério
Eu visto a fantasia em falsidade
Um reles menestrel, bobo do império
Jamais eu beberei tranqüilidade.
Indócil este corcel que trago em mim,
Adubo em esperança o meu jardim
E colho as flores todas que eu puder.
Um velho carpinteiro, um vil farsante,
Usando do instrumento mais cortante,
Tentando decifrar uma mulher...
Marcos Loures
99
Não lacre as esperanças deste ignaro
Que tenta vez em quando alguma luz.
Embora me condene ao desamparo
Sonhar inutilmente me conduz
A um tempo em que julgara ser mais claro
Além do que pensei ou já me opus
Por isso tantas vezes eu disparo
Fingindo ter no amor, somente cruz.
No fundo não pretendo outro caminho,
Somente satisfaz saber sozinho
O olhar de quem matou cada ilusão.
Se eu tomo como guia, um verso teu,
O rumo, minha história assim perdeu,
Deixando por refém meu coração...
Marcos Loures
9500
Não jogue meu cadáver no cinzeiro!
Eu faço por clemência este pedido.
Bem sei que encontro em ti um companheiro,
Cinzeiro na verdade é bem fedido.
Se lembre meu amigo verdadeiro
De todo este caminho tão comprido
Eu tenho uma alergia a este cheiro
Prefiro ser mijado, até cuspido.
Mas deixo por lembrança um maço aberto,
Para a minha mulher, a cigarrilha,
Charuto para amigo predileto
Cachimbo é meu legado à minha filha,
Mas peço; por favor, preste atenção;
Cadáver no cinzeiro? Jogue não...