Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 094

 
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1

Não deixe que essa lua vá se embora,
Impeça nosso amor que cultivamos,
A forma com que tanto amor aflora
Não pode ser do jeito que sonhamos.

Eu vivo sem saber destas tais flores
Que tanto semeamos nos jardins,
Amando sem contar com teus amores,
A noite vai perdendo rumos, fins...

A solidão queimando qual quimera
Vazio nos tomando no depois,
As garras tão terríveis da pantera,
Na solidão que estamos, mesmo a dois...

Não sei se poderemos nos salvar
Talvez em outros braços, sim, amar!


2

Não deixe que alegria vire pranto
Nem mesmo que a tristeza nos invada.
Concebo nosso amor em cada canto,
Em cada poesia apaixonada...

De repente te vejo tão distante
Dos olhos que incendeiam em amor.
Não deixe que esta vida, num rompante,
Acabe por motivo qual que for.

Não quero ser um barco sem ter leme,
Nem quero ser caminho sem ter fim.
Por mais que calma a noite, amor já teme
A solidão das noites, tão ruim...

Peço-te que esse amor nunca se esfume,
Desculpe, por favor, o meu ciúme...


3


Não deixe que a tristeza tome conta
Causando no teu peito tal enfado
Um dia tantas vezes malfadado
Parece-nos, querida, como afronta

Mas creia que se amor cedo desponta
E vaga mansamente do teu lado,
O mundo surgirá iluminado
E a vida em alegria feita e pronta.

Navego contra a forte correnteza
Contigo, timoneira e capitã
Do sol de teu olhar esta beleza

Que surge junto a mim, em doce afã
Amor trazendo sempre em fortaleza
Certezas de prazer cada manhã...


4

Não deixe que a tristeza te devore,
Aos poucos te fará mais infeliz.
Perceba que por mais que se demore,
Um dia tudo vem como se quis.

As noites são prenúncios de uma aurora.
Não tema pelas urzes que encontrar.
Pois saiba que a tristeza não demora
Depois uma alegria vem morar...

A cura da tristeza, uma esperança
Que nunca pode estar abandonada.
Pois saiba que o futuro que te alcança
Depende do caminho, tua estrada...

E veja com amor um novo dia,
Repleto de esperança e fantasia...


5

Não deixe que a saudade te consuma;
Aos poucos, se deixar ela te mata.
Dizer-me que com dor já se acostuma,
Mentira. Ninguém ama o que maltrata.

Eu vivo por amar intensamente,
Se tenho ou se não tenho companhia.
A vida vai-se embora, de repente;
Levamos um quinhão de fantasia.

Amiga, guarde sempre uma esperança;
Que a noite não demora, vem depressa.
Não sofra por amor. A vida avança,
De ser feliz, por certo, temos pressa...

Um dia saberás toda a verdade.
Amar é traduzir felicidade!


6


Não deixe que a saudade faça a festa
E tome o coração de um sonhador,
Ouvindo a voz sublime de um tenor,
Uma lembrança então à dor se empresta.

Do quanto é necessário, encanto atesta
E molda um templo feito em clara cor,
Verdejando os teus olhos, folha e flor,
Matando uma amargura em vão, funesta.

Enquanto o sentimento não se adestra,
A vida se tornara então canhestra,
Porém o amor, de tudo a mola mestra

Permite que se creia na fenestra
Aberta neste campo outrora agreste
Gerado com a força de um cipreste...


7

Não deixe que a miséria passe em branco,
A fome nunca é boa conselheira,
Sorriso deve ser aberto e franco,
Uma amizade é para a vida inteira...

Será que tens ouvido para ouvir
E olhos para ver o que tu vês?
Na mão que se estende a te pedir
Imagem deste Cristo em que tu crês.

Passamos pela vida sem saber
Que tantos somos nós, mas um somente.
O próximo reflete o mesmo ser
Que inunda-te de vida totalmente.

O que nos deixará em liberdade?
Somente o pleno amor duma amizade...


8

Não deixe que a miséria nos destrua,
A podre sensação de sermos maus,
A verdade se mostra sempre crua
Nesta proximidade com o caos.

Perceba no sorriso da criança
A fonte que trará um novo dia,
Permita com amor uma aliança
Que posso proteger tanta alegria.

Nos una a armadura da amizade,
Poderemos, quem sabe, imaginar
Um mundo que nos traga a claridade,
Na possibilidade de sonhar.

Louvemos nosso Pai mais verdadeiro,
Que vive em cada ser, assim, inteiro...


9

Não deixe esta peteca
Por certo descair,
Nos olhos da moleca
O mundo a permitir,
Que a vida tão sapeca,
Jamais pare de rir...

Uma esperança vem
De toda a fantasia,
Do amor que a gente tem,
Demonstra que alegria
É coisa que faz bem,
E juro, até vicia...

A mágica da vida,
Na alegria, contida...


10

Não deixe esta esperança adormecer,
Tampouco se permita ao sofrimento.
A vida proporciona este prazer
Que queima, todo dia em fogo lento.

Queria, meu amor, te convencer
De tudo o que me toma o pensamento
Um rio em alegria a se verter
Poeira, brevemente toma assento.

Assim, depois da dura caminhada
Terás a recompensa à sua frente
Pensavas ser herdeira destinada

A ter o nada apenas, mas verás
O quanto o amor se mostra surpreendente
E poderás dormir, enfim em paz.
Marcos Loures


11

Não deixe esta amizade se perder,
Em atos de total desconfiança;
Difícil tantas vezes conceber
A dura expectativa que se alcança.

Não queira transformar o sentimento.
Uma amizade é rara de se achar.
Depois que houver ruptura, num momento,
Rebenta essa barragem, seca o mar...

Amigo, como é bom chamar-te assim,
Palavra que me adoça e que me encanta.
Mas se perder sentido, é tão ruim,
É queda que jamais, bem sei, levanta...

Por isso, companheiro, não me traia,
Te peço, que esta casa nunca caia...

12




Não deixe de pensar em quem te gosta,
Se bem que a gente sempre perde tempo
Com quem vive causando contratempo,
Valorizando um monte feito em bosta.

Não fique se lembrando do punhal,
É bem melhor deixar que a vida passe,
Agradecendo a queda do disfarce
De quem já nos deseja tanto mal.

Louvar a vida e sempre perdoar,
Mantendo esta distância preventiva.
Cavalo dando coice? Deixe estar!

Prossiga que amanhã vem outro dia,
E uma alma deve estar, alerta e viva
Permitindo que ressurja em alegria.


13

Não deixar nem marcas pelo chão
Matando o que talvez inda trouxesse
Além do quanto a gente já padece
Nos braços majestosos da ilusão.

Caindo em cada passo, chego ao chão,
Por mais que a poesia me envolvesse,
O coração vendido na quermesse
Fareja o meu passado, regressão...

E teima em ser cruel, velho covarde,
Enquanto a fantasia queimando, arde
Não posso desfrutar de uma esperança.

Um bêbado de luz jamais percebe
Que em falsa pedraria invade a sebe
Servil e tão vazia, da lembrança...


14

Não deixa um coração bater feliz
Saber que noutros lábios tu sacias
Vontades. Tuas mãos sempre macias
Espalham mil carícias. Por um triz

Seguindo o meu caminho, amor me diz
Que tudo o quanto quero propicias
Trazendo para outrem as regalias
Que um dia, insanamente eu tanto quis.

Mas deixa estar que a vida é carrossel
Uma hora estou na terra outra no céu
Um dia há de chegar, isso eu garanto

Que a gente possa ter uma alegria
E mesmo que isso seja fantasia
Desfrutarei um pouco desse encanto...
Marcos Loures


15


Não deixa simplesmente que eu te chame
O gesto em beneplácito que nega
O quanto a solidão já descarrega
Por mais que uma alma insana não reclame.

Enquanto a fantasia quer que trame
Um novo amanhecer a alma navega
Seguindo em teimosia quase cega
Fazendo da emoção torpe reclame.

Um vaso que partido não se cola,
Amor não freqüentou qualquer escola,
Mas sabe dos caminhos mais exatos.

A refeição completa em vários pratos
Arrebentando assim velhos contratos
Enquanto me acarinha corta e esfola...
Marcos Loures


16

Não deixa refletir senão meu pânico
No quase que jamais será completo,
Se o gozo se mostrando o predileto
Agônica emoção de um ser satânico.

Arranjo meus pedaços, histriônico
Fantasma que tão fútil me persegue,
Por isso sou o Zé que faz do jegue
Um ser quase que humano, mas biônico.

Usando decassílabos perfaço
O traço mais sutil de um povo cru.
Expondo a minha face, sigo nu
E marco com meus ritos cada traço

Famélica figura que, nativa
De heréticas imagens já me criva...
Marcos Loures


17

Não deixa que esta fonte um dia acabe
Sabendo quanto é bom amor sincero,
Além desta alegria que nos cabe
Eu tenho em nosso amor tudo o que eu quero.

Os raios deste sol brilhando tanto
Trazendo uma esperança, vivo amor.
Envolto na alegria, enfim te canto
E roubo deste sol todo o calor.

Amada como é bom viver contigo
Sem medo do tormento e da saudade.
Aqui, eu já pressinto, sem perigo,
Eu posso conhecer felicidade.

Amada, vem comigo, eu te proponho,
Na noite viajar, planeta sonho...
Marcos Loures


18

Não deixa que esperança assim se esfume
Bafejo de teus sonhos sobre mim,
À parte coletando o teu perfume
Recebo estas essências de jasmim,

Voando em liberdade um vaga-lume
Holofote entranhado no jardim.
Os sons da noite aumentam seu volume
E a vida se derrama sempre assim.

As térmitas formando mil casais,
A terra já molhada e acolhedora,
Nos jogos sedutores, sensuais,

Renovação à vista segue a vida,
E sinto neste instante, desde agora,
A dor em esperança convertida
Marcos Loures


19

Não deixa nem escombros pelo chão
O vendaval terrível da saudade.
Matando com firmeza a liberdade,
Não deixa se esboçar nem reação.

Meu dia se perdendo num senão,
Fazendo do viver a falsidade,
Falindo qualquer forma de amizade,
Encontra o mais temível furacão

E o barco naufragando. Um morto-vivo,
Que outrora se mostrara tão altivo,
Perdido sem destino em alto mar,

Enfrenta a tempestade, mas desmaia
E morre mal encontra areia e praia
Depois de ter nadado até cansar.
Marcos Loures


20

Não deixa mais restar sequer entulhos,
Tomando em flores raras, meus caminhos.
Não vejo nesta andança, os pedregulhos
Arranco os cardos, tiro os seus espinhos
Fazendo nos teus braços tais mergulhos,
Trazendo aos corações sublimes ninhos.

Mordisco tua boca, devagar,
Os nossos corpos negam as fronteiras,
De tanto, me cansei de procurar,
Encontro finalmente estas videiras,
O vinho que me faz inebriar
Colhido pelas mãos tão feiticeiras.

Ser teu e ser somente o que quiseres,
Permite este banquete em mil talheres...


21

Não deixa mais o barco soçobrar,
Quem traz felicidade em suas mãos,
Embora meus caminhos sejam vãos
As força posso assim já redobrar.

Por mais que às vezes teimo em encontrar
O fruto mais perene destes grãos,
No apoio que me trazem meus irmãos
Um tempo tão sereno, vislumbrar.

A cargo deste intento não descanso,
E mesmo que inda veja algum remanso
Minha passada é trôpega. Afinal

Depois de coletar dor e tormento,
À flor da pele trago o sentimento
De quem só conheceu, na vida, o mal...
Marcos Loures


22


Não creio ser somente urucubaca,
Tampouco uma mandinga das bem feitas
Eu sei que na verdade não me aceitas,
Pois no fundo tu me achas um panaca.

E quando esta rinite vem e ataca
Distância do meu naso tu respeitas,
Pior do que tivesse mil maleitas
Tu mandas eu fechar minha matraca.

Tentei Maria, em vão, nem deu pelota,
Depois fui recorrer ao agiota,
Daí não tive mais qualquer remédio

O que me resta então? Veja, meu bem,
Já que depois de tanto, nada vem
Só resta o parapeito deste prédio...


23


Não creio ser imagem/semelhança
De um Deus feito em perfeita sintonia.
Minha alma pecadora diz sangria,
Perpetuando assim a tosca herança;

E quando; no infinito olhar se lança
Buscando uma resposta em noite fria,
Um novo desencanto então se cria,
E a vida em desacordo assim avança.

Traição e egoísmo; frialdade,
Dominam desde sempre a humanidade,
Diversa deste Ser Superior.

A fera que se expõe sonega os planos
Daquele que criando os tais humanos
Sangra a cada dia em Seu Andor...


24

Não creio que há remédio, nem a cáscara
Que falam milagrosa, me emagrece,
Usando da verdade tiro a máscara
Obeso a cada dia mais padece.

Nem prece ou oração ou reza brava,
Barriga vai crescendo todo dia,
Entrando no buzum, roleta trava
Motivo para a velha zombaria.

Na hora de jogar minha bolinha
O ventre vai entrando assim de sola,
Quem dera se eu entrasse enfim na linha
Talvez esta morena desse bola.

Mas tudo o que consigo é me irritar,
E toda a geladeira devorar...


9325

Não deixe que este sonho, devagar;
Se escorra cruelmente pelos dedos...
É sempre tão difícil se encontrar
Amor que não se poupa nem dos medos...

Não deixe que este caso traga ocaso
A todas esperanças que nós temos.
Se; louco, nos teus braços eu me abraso,
Eu quero, sem temor, que nos amemos...

Se tenho tal vontade de te ter,
Se tenho essa esperança renovada;
Te peço, meu amor, vamos viver,
Seguirmos toda a noite, a mesma estrada

Em rumo à claridade, fogo e chama,
Que sempre encontraremos nessa cama...


26

Não deixe que este sonho assim se perca
Nem mesmo quando houver um vendaval.
Se necessário, o amor estende a cerca,
Trazendo na amizade, o seu aval.

De tudo o que se fala sobre, acerca,
Por mais que seja apenas casual,
Nas lavras deste sonho, a paz esterca
Promessa de colheita sem igual.

Nós somos tão somente o resultado
Das sensações diversas do passado,
Moldando assim o que virá- futuro.

Sentimentos merecem teu respeito,
Mesmo que tão distantes do teu peito,
Ensinarão um porto mais seguro.


27

Não deixe que este espectro te domine,
A gente não merece sofrimento.
Por mais que a tua morte a sorte assine,
Entenda o temporal, aceite o vento.

O verso solitário que ilumine
A senda que se perde neste intento.
O gozo do servil a bunda empine
Depois não reclamando diz: agüento!

Moeda com certeza em dupla face
Enquanto a vida ainda não desgrace
Eu teimo e não consigo resistir.

Se a gente faz das tripas coração,
O que será sem chuva no sertão
Depois não vem falar do teu porvir...
Marcos Loures


28



Não deixe que este amor acabe assim,
Perceba a alvissareira passarada
Louvando desde cedo esta alvorada
Florada delicada em meu jardim.

Dizer desta alegria que há em mim,
Ao ver tanta beleza numa estrada
Por teu olhar sereno, iluminada,
Delimitando o sonho de onde vim

Buscando cada pétala de luz,
Reflexos deste olhar na gota d’água
Do orvalho em que a alegria já desaba

E tanta maravilha reproduz,
Não deixe que este amor termine agora,
Primaveril delírio que se aflora...


29

Não deixe que esta noite, em vão, termine
Preciso de teu corpo junto ao meu,
Te peço que me ganhes, me domine
Sem ter o teu carinho, quem sou eu?

Apenas uma vaga sem sentido
Morrendo numa areia sem sereia,
Jogada ao infortúnio, neste olvido
Sem ter jamais o brilho em lua cheia...

Não deixe que esta noite seja branca,
Preciso de teu corpo, como a um cais
Náufrago em tempestade forte, franca,
Pois se não for agora... Nunca mais...

Não deixe que esta noite morra agora,
A noite se esfriou. Chove lá fora...


30

Não deixe que esta lua tão redonda
Distante te transforme em sonhador.
Nos mares delicias praias, ondas,
Deitada em minha cama, meu amor...

Não vejo mais incertas companhias
Nas certas ilusões que me despertas.
As horas se passando, morrem dias;
Amores, corações, estão alertas...

Das rosas que me deste, seus botões,
Prometem belas flores no futuro.
Navego por milhares de emoções,
Neste teu mar bravio e um tanto escuro...

Não deixo meu carinho ser deserto,
Por isso nosso amor, cedo eu desperto

31

Não me deixaste luas por herança,
Somente vastidões ocas, vazias...
As tocas escondidas da lembrança,
No tanto que sofri me foram guias...

Não posso receber esta esperança,
As noites sem estrelas são tão frias...
Defendo esta menina que não dança
Nos bailes e nas rimas, nas folias...

Fugindo das humanas incertezas,
A moça que não dança maltrapilha.
Os atos que me negas, impurezas...

Não quero ser covarde nem falaz;
A lua que escondeste, maravilha...
A morte que me deixas, incapaz...
Marcos Loures


32

Não quero a noite eterna sem te ter;
Talvez fosse promessa que fizemos.
Se não consigo mais sobreviver
Meus versos; em carinho, concebemos...

Na noite que virá, sem outro dia,
Espero que me encontres. Dê um jeito.
Não deixe esmaecer a fantasia,
Morrer fazendo amor: Isso é perfeito!

Num ato carinhoso de lazer,
Deitado nos teus braços, cavalgado,
Numa agonia intensa do prazer,
Num gesto assim divino, abençoado..~

A certeza absoluta que preciso,
Entrar pelos portais do paraíso!

33

Não quero a nababesca fantasia,
Ser como este regato em placidez
Tangenciando a frágil sensatez
Funâmbulo que busca uma harmonia.

Luz dicotomizada propicia
Momento singular de polidez,
Mas tanto quanto eu fiz já se desfez
Na chama de uma estúpida ardentia.

Esgoto assim as possibilidades
E sigo simplesmente sem saber
Se ainda encontrarei noutras cidades

Aquilo que jamais esteve em mim,
A porta escancarada deixa ver
A terra desnudada em meu jardim...


34

Não quero a maldição de estar contente
Vencendo a tempestade que se cria
Na fome que se espalha sobre a gente
A mente se tornando mais vazia.

Olhar de quem se mostra penitente
Sabendo da tolice da sangria
De toda uma inocência, amor urgente
Esquece do que fora poesia

Desmente num só tempo amor/Razão
Enquanto as horas tolas nada enjeitam
O monstro se prepara- solidão.

A porta da saudade que se abriu
Em fontes duvidosas que deleitam
Transforma o coração suave em vil...
Marcos Loures


35

Não quero a falsidade que propagas
Mostrando noutra face quem tu és.
Às vezes encantaste em outras plagas
Mil homens se jogaram a teus pés.

Porém não mais pretendo perseguir
O sonho de te ter aqui, comigo,
Amor jamais igual vou repartir
Pois tenho uma noção deste perigo.

Fingiste uma pureza que não tens,
Ludibriando assim quem tanto amou.
Eu dediquei a ti meus caros bens
E nada, simplesmente me restou.

Fingiste ser mulher deveras séria.
Mas como me explicar esta Neisseria...


36

Não quero a caridade de quem ri
Tampouco o beijo falso da pantera
Que enquanto me vomita e degenera
Estúpida procria o que há em ti.

Lacaio do que um dia pressenti
Sarcasmos coletados desta fera
Abrindo com seus pés esta cratera
Que cavas onde estás; lá ou aqui.

Tua Alma condenada à perdição
Jamais resgatará, pois vendilhão
Debaixo das vergastas e chicotes

Expulsos do que outrora foi um lar,
Ninguém os poderá mais perdoar,
Debandam-se; matilhas de coiotes!


37

Não quero a calmaria dos enganos,
Somente uma verdade me liberta,
Enquanto a poesia já deserta
Não tenho compromisso, nego os planos

Jamais quero tampar com frágeis panos
A realidade amarga, a vida incerta,
Palavra mais certeira me desperta
E mostra o quão são torpes os humanos.

Bebendo cada gota deste sangue
Apodrecido imerso em lodo e mangue,
No esgoto, ratoeiras são inúteis.

A porca carcomida tão pesada,
Na morte a cada página estampada,
Retratam quanto somos todos fúteis...


38

Não querendo admitir tanta mentira
Que tramas escondida a cada dia,
Na dor que prometias e sentira;
A vida vai passando em agonia...

Amar-te foi, da vida uma obra-prima
Do amor e da esperança num momento.
Amor e dor quem pode nunca rima,
E joga toda sorte fora, ao vento...

Senhora dos meus sonhos me deixaste,
Aos poucos me derramo em teu ausência
Sem base me mantendo na fina haste
Que ganho em piedade, por clemência...

Não há mais nesse mundo quem convença
A preservar o amor, minha doença...


39

Não quer e nem pretende andar sozinho
Erguendo a cada passo a sua fronte
Aquele a quem amor se deu em ninho,
Trazendo farta luz neste horizonte.

Quem tanto andara só, em desalinho,
Bebendo desta glória em mansa fonte,
Decora com delícias seu caminho
Reconhecendo amor, divina ponte

Que leva num momento ao rumo certo,
Vencendo as tempestades que encontrara,
A luz que nos guiando se faz rara

Oásis mais perfeito de um deserto
Expressa em nosso peito a fantasia,
Propondo com firmeza, uma alegria...
Marcos Loures


40


Não que isto seja sempre muito crível,
Mas quem me dera tento com teu laço;
Vivendo desse amor onde embaraço;
O sabor da vitória ser possível

Eu quero te dizer do amor incrível
Quando nada farei sem ter cansaço...
O mundo que pensei sem teu abraço,
De tão triste, seria incompatível...

Quero a lembrança límpida e gentil,
Sabendo o teu carinho tão sutil
Mergulho nos teus seios, boca aberta;

Esperando, talvez, por esse alerta;
Que nunca mais virá, festa repleta,
Dos desejos mais loucos, meu ardil...


41



Não que eu defenda o aborto, longe disso,
Mas não suporto tal hipocrisia,
Médico tem com vida compromisso
Pois isso jamais foi alegoria.

Não serei puritano, ou tão castiço,
Apenas a verdade é quem me guia.
Não creio em bruxarias nem feitiço,
Tampouco a alguém minha alma julgaria.

O fato é que milhares de mulheres
Morrendo no país da sacanagem
Em meio à corrupção de seus poderes,
À descabida luz da pilantragem,

As filhas de papai vão para as clínicas,
E as pobres sem guarida... Corjas cínicas!


42

Não pude vislumbrar um horizonte,
A noite veio vindo devagar
Tomando em negritude este lugar,
A lua se escondeu atrás do monte

E a vida foi secando a velha fonte,
Deixando mais ao longe algum luar
Que ainda me pudesse fascinar,
Por mais que uma esperança tola desponte.

Morrendo a poesia que eu buscara,
Manhã se tornaria tão amara
Decerto não veria mais o sol.

Porém o teu sorriso de menina,
Emana a maravilha feita em mina
Dourando num segundo este arrebol...


43


Não pude ser feliz, fazer o quê?
Se tudo o que tentei foi simplesmente
Enganos que tomando a minha mente
Traziam por resposta um vão cadê.

Quem sabe; reconhece e não mais crê
No encanto que se fez inutilmente
Enquanto a tempestade se pressente,
A minha casa é feita de sapê.

Não pude resistir à fúria imensa,
Apenas o vazio, a recompensa
De quem tentou buscar felicidade

Nos braços deste mar tão furioso,
Destino tantas vezes caprichoso
Negando ao passarinho, a liberdade...


44

Não pude mais sentir aquele vento
Que tanto imaginei; suave brisa.
Nublada madrugada já me avisa
Daquilo que herdarei: soterramento...

A solidão mordaz serve de alento,
E o medo desenhado se matiza
E em flores desbotadas a alma pisa.
Fugir destes fantasmas inda tento,

Inútil. Não terei mais salvação.
Do carcomido sonho, a podridão
Que o que restou de mim, ao longe exala;

Quem dera se voltasse a primavera...
A carne que se expôs se degenera
E arrasto meus chinelos pela sala...


45



Não pude mais calar, tanto me dói
Saber que não estás junto de mim.
Saudade pouco a pouco já destrói
O que restou de flores no jardim.

Viver cada momento, sem perguntas,
Sentir o que tu sentes, ser teu par
As almas que pensara andarem juntas
Vão se afastando aos poucos, devagar.

Calar o sentimento. Quem me dera!
Não sofreria tanto. Mas prossigo
Teimando em procurar a primavera,
Enquanto inverno traz o desabrigo.

No quase ter nas mãos felicidade,
Deixando este resquício: vã saudade...


46

Não pude mais calar o velho peito
Jogado sobre as teias da ilusão,
Naufrágio desta tosca embarcação,
O rio se perdeu do antigo leito...

Quem dera se inda ouvisses o meu pleito,
Talvez eu encontrasse a solução.
Resposta se repete: o mesmo não,
E como de costume, escuto e aceito...

Ouvindo os mesmos passos que de antanho
Diziam deste jogo jamais ganho,
Há tanto o que dizer e nada falo.

Ao ruído intermitente na janela,
O amor que nunca tive se revela
E o som da brisa traz um manso embalo...


47

Não pude imaginar outra saída
E mesmo te perdendo me encontrei.
O quanto teu amor eu desejei
E nisso desenhei o bom da vida.

Quem sabe tanto sonho não duvida
Fazendo da esperança a sua lei,
Invade com firmeza antiga grei
Sabendo que ao final, a despedida.

Esparsos caminheiros vão sem rumo,
E todos Os engodos eu assumo,
E aguardo tão somente este castigo

De ter a solitária desventura,
Num mar de imensa e pálida amargura,
Distante do caminho que persigo...


48


Não pude decifrar tantos sinais;
A minha parabólica sonega
E enquanto a poesia segue cega
Enfrento turbulências, vendavais.

Aonde encontrarei mananciais
Se não sei mais de vinhos nem de adega
O amor só se completa numa entrega
Por isso o bem querer nunca é demais.

Cadenciando o passo chego ao fim
Adestro o coração; domada fera,
E acendo sem querer este estopim

Promessa de explosão fenomenal.
Nos seios divinais de uma pantera
Incêndio se espalhando no quintal.


49

Não pude decifrar estes sinais
Que um dia me mostraste; sorridente.
Um velho sonhador que, impertinente,
Demora na esperança sempre mais

Ao ver os teus poemas divinais
Credita ao grande amor um fato urgente,
Mas morre num segundo, de repente,
Distante do que outrora quis seu cais...

As pedras vão rolando, nada sobra,
O tempo com certeza vem e cobra
Não deixa pra depois; secando a fonte...

A lua se escondendo traz a treva,
Minha alma agrisalhada agora neva
Nublando totalmente este horizonte...


9350

Não pretendo teu mistério,
Nem concebo teu pecado.
Não vivo num monastério,
Nunca fui santificado,

Perdido sem adultério
Um viver desesperado.
Nunca preciso esse Império
Nem fiquei preocupado...

Vastos mares, oceanos,
Acenas com teu perdão
Não farei mais outros planos.

Respeito essa decisão.
Mas a rosa que plantaste,
Morrendo triste, desgaste!
Marcos Loures


51


Não pretendo saber da vacuidade
Ausência que transtorna uma viva alma,
Não tenho nem domino a faculdade
De saber do remanso, minha calma...

De meus passos sentindo essa saudade
Que me trouxe teus olhos, tua palma,
Amar é superar em paz um trauma,
É saber dessa vida, a crueldade...

Não pretendo mistérios nem segredos,
As águas correrão sempre pro mar...
Importa-me saber de toscos medos,

Se por mal divinal não sei amar?
O sangue me escorrendo pelos dedos,
A noite me esperando tanto bar...
Marcos Loures


52

Não preciso provar quanto eu te quero
Tu és minha rainha e meu desejo.
Viver o nosso amor intenso; espero,
Saber de teu carinho em cada beijo...

Em teu gosto e sabor, amor tempero
E faço meu banquete. Sempre vejo
Tua nudez em sonho... E te venero
Por ser esta delícia que prevejo...

Não deixo que jamais alguém te fira
Prefiro fenecer, se for preciso.
O mundo sem parar por certo gira

Mas caio nos teus braços novamente.
Tu és o meu destino e paraíso,
Vem cá quero te amar e bem urgente!


53



Não preciso do pão, a fome passa,
Não preciso da luz, não temo o escuro.
Nem alegria; circo, rua e praça,
Nem sensação de um ar que seja puro.

Mesmo esperança... tonta e velha farsa,
Eu não temo o chão, frio, pobre e duro.
Trazendo para o sangue esta fumaça
Das fábricas, dos carros... isso; aturo.

Não preciso da boca que me mente,
Não preciso do mar, estrela e lua.
De nada necessito, nem de gente...

Das ruas entupidas, não preciso.
Nem alma quando inútil já flutua.
Mas nunca me retire o teu sorriso...


54

Não preciso dizer quanto eu desejo
As mãos que me acarinham, mansamente.
Vivendo teu amor, te peço um beijo
Que venha e me transtorne, totalmente...

Eu quero que tu sintas meu carinho,
Descendo por teu corpo sedutor.
Vivendo esta alegria, de mansinho,
Chegando à plenitude em nosso amor...

Meu coração reclama tua ausência,
Esqueço minha dor, meu sofrimento,
Estando junto a ti, na convivência
Divina que nos traz amor, alento...

Amor, não necessito nem dizer,
Meu coração não cansa de querer!


55


Não precisas usar a tua lança,
Pois dela não percebo serventia;
Enquanto uma esperança anestesia,
O véu em trevas feito nos balança.

Quem sabe se beber de uma bonança
Terás o que desejas todo dia,
Fartando-se da luz e da alegria,
Enfim terás o riso em aliança.

Permita-se, portanto imaginar,
Um tempo onde viver seja sublime,
O amor sendo distante de algum crime,

Não se resume em simples lupanar.
Roubando das estrelas, cada brilho,
Terás em paz e glória um estribilho...
Marcos Loures


56

Não posso te esquecer um só momento
Pois trazes para mim uma esperança
De um dia ser melhor, morto o tormento,
Felicidade plena enfim se alcança.

Ouvindo tua voz vem à lembrança
Toda a ternura intensa, sentimento,
Fazendo parceria em aliança
Soltamos nosso canto esparso ao vento...

Apaixonadamente sou teu par
Na busca de alegria e de prazer.
Contigo sem limites vou viver

O que de minha vida inda restar.
Em teus braços, querida me envolver
E toda esta magia desfrutar....
Marcos Loures


57

Não posso suportar o teu desdém,
Sequer imaginar tão grande dor.
Um coração deveras sonhador
Procura a vida inteira e ninguém vem.

Às vezes ao pensar que tenho alguém,
Encontro simplesmente o desamor,
Revejo tuas sombras no sol-pôr,
Mas; simples ilusão. Nada, porém.

Terríveis e vazias minhas horas,
Cansado dos infaustos, das demoras,
Eu sei que não virás; são irreais

Os sonhos que debruço nas ameias,
Espaços tão distantes que vagueias
Ancoram esperanças noutros cais..
Marcos Loures


58

Não posso suportar mais tantas brigas,
O amor não deve ser tão maltratado,
Querendo o tempo todo estar do lado
De quem enquanto beija, desabrigas.

Ouvindo mil mentiras, nas intrigas
Deixando o coração despedaçado,
Um sentimento assim ameaçado
Quebrando suas hastes, suas vigas...

Querendo tão somente ser feliz,
Eu sei quanto me queres, mas tão tola
Permite esta agonia que me assola

Amor não pode estar só por um triz.
A noite que virá será medonha,
Se a gente não criar; enfim, vergonha...
Marcos Loures


59

Não posso suportar esta verdade
Que mata a fantasia de quem ama.
Enquanto sem pavios, morre a chama,
O amor se transformou. Fatalidade...

O medo que domina e já me invade,
Durante toda noite ainda inflama,
Porém sem ter ninguém em minha cama,
É triste e dolorosa a realidade...

Eu peço, não desprezes meu amor,
Jamais serás feliz, isso eu prevejo,
Debochas com sarcasmo o meu desejo

Matando um coração tão sonhador.
Sou vítima das tramas da paixão,
Seguindo cada rastro, como um cão....


60

Não posso suportar a tua ausência
Nem mesmo consegui me libertar
Vivendo em nosso amor a penitência
Que marca e nos tatua, devagar.

Herdando tão somente esta demência
Quem dera se eu pudesse te adorar.
Porém sendo difícil, convivência
Sem tréguas, não me canso, irei lutar.

Mas quando a noite chega, a solidão
Chamando por teu nome me maltrata,
Sou vítima das tramas da paixão.

De toda a fantasia, um desvalido,
Cevando uma ilusão, amarga ingrata
Nos braços deste amor, feroz, bandido...
Marcos Loures


61

Não posso suportar a luz do sol
Que teima em adentrar minha janela.
Na solidão completa, um vago atol
Entre as nuvens cinzentas se revela.

Não quero a claridade do arrebol,
Meu barco vai sem leme, perde a vela,
Do amor já fui outrora um girassol,
Porém a realidade desatrela

Deixando, mesmo amarga, a liberdade
Que prezo e que persiste junto a mim.
Não posso suportar a antiga grade,

Nem mesmo disfarçada em amizade.
Reflito o que plantei e de onde eu vim
Cevando a cada dia, a tempestade..


62

Não posso sufocar esta paixão
Que chega e já desmonta a minha base.
Trazendo com sorriso, a sedução,
Transmuda, como a lua, noutra fase...

Às vezes parece alucinação,
Parando a minha vida numa estase,
Em outras vem causar transformação
Muda todo o sentido de uma frase.

Menina o que fizeste assim comigo?
Espero a cada dia o teu prazer,
Mas foges me deixando sem abrigo...

Meu canto te buscando feito um rito,
Meu mundo nos teus braços quero ter,
Soltando esta emoção, busco o infinito...


63

Não quero a sensação sombria da saudade,
Desejo simplesmente tanto amor...
Que traga, ao fim da noite, a claridade;
E toda a fantasia que dispor...

Eu quero a mansidão deste regato
Fluindo calmamente dentre as rochas.
O cheiro tão gostoso deste mato
As horas mais dolentes, calmas, frouxas...

Selando nosso pacto minha amada,
Marcado a sangue e fogo, guerra e paz...
Depois de tantas lutas, madrugada,
Arfando nos desejos, quero mais...

Quero este prazer que me alucina
Nos olhos da mulher, minha menina!


64

Não quero a sensação de ser teu dono
Nem posso definhar de tanto amor.
Não vivo essa emoção, esse abandono,
Transbordo em tentação, louco fervor...

Em cada novo dia, renascer,
Em cada novo canto, me encantar.
Vivendo em plenitude de prazer,
Sorvendo cada gota deste amar...

Sentindo teu perfume, tantas flores,
Desejos maviosos, sensuais,
Sem ter sequer as travas dos pudores
Em noites de prazer, sensacionais...

Nos teus beijos, loucuras de ilusão,
Rebentam na explosão d’uma paixão...


65

Não quero a sensação da embriaguez
Que possa transformar angústia em paz.
Do quanto a realidade já desfez
E a fantasia estúpida me traz.

Por mais que seja dura a lucidez,
E o meu olhar se torne assim mordaz,
Não quero mais a vaga insensatez
Mesmo que me isto me torne mais audaz.

Vencer os pesadelos com sorrisos,
Os dias sempre são tão imprecisos,
E nisso esta magia do viver.

Refaço em pensamento a caminhada,
E vejo os pedregulhos desta estrada
Com espinhos há tanto que aprender...


66

Não quero a placidez que não resiste
Ao gozo do tormento que me encobre
Pintaste teus cabelos deste cobre
Desculpe-me, essa cor nem sei se existe

Apenas não desisto se desiste
Depois de tanto tempo se descobre
Que a morte não fará que o sino dobre
Eu sou um passarinho sem alpiste

Mas mesmo assim procuro um velho canto
Que se canta me encanta e traz meu pranto
Depois destes meus versos peço nexo.

Agora, não me venha com bravata
A blusa que tu vestes, a regata
Levanto e, não se espante, puro sexo...
Marcos Loures


67

Não quero a piedade deste amor,
Eu quero teu amor sem piedade.
Viver as nossas noites no calor
De tantas fantasias, liberdade...

Eu quero o gosto azedo do limão
Tempero para o doce que produzo.
Amor quer a pitada da emoção,
Um pouco, que demais, resta confuso...

Eu quero uma vontade de viver,
Ao mesmo tempo trama um novo dia.
Vontade de viver e de esquecer
A vida, nos teus braços, fantasia...

Eu quero esse aço doce mel e fel,
Um fogo mavioso, em manso céu...


68

Não posso me calar perante a dor
Causada num irmão pela injustiça
Minha alma não será jamais omissa,
Pois tenho no Meu Pai, o Salvador

A prece quando é feita num louvor
Enfrenta com certeza esta cobiça
Enquanto a flor mais bela nasce e viça
Serei de Ti, Senhor, adorador;

E tenho enfim certeza da vitória
Que mostrará deveras toda a glória,
Ungida em perfeição pela palavra.

Apenas tão somente um simples servo,
Na fé que sempre trago e que conservo
E o coração campônio aduba e lavra...


69

Não posso me calar frente à miséria
Que é feita em injustiça e em desamor.
Maior do que o valor da vã matéria
É o que Deus com ternura vem propor.

Pulsando o mesmo sangue em cada artéria
A luz de uma igualdade, forma e cor,
A vida do gigante ou da bactéria
Expressa todo o Amor do Criador.

Não seja a tua mão cruel agente
Nem mesmo mais te omitas quando vês
A fome se espalhando impunemente,

Torturando Jesus em cada esquina.
Demonstrar que em verdade Nele crês
É dar vazão ao que Ele nos ensina.
Marcos Loures


70

Não posso maldizer a primavera,
Esta estação das flores e beleza..
Mas como vale e valerá a espera.
As flores te fizeram realeza,

Mas quando imaginava-se quimera;
Do calor outonal veio a certeza
De que nada seria mais cratera.
De todas fortalezas virei presa...

Menina como pode ser tão bela!
Não pude adivinhar tal formosura.
Nos sonhos meu cavalo perdeu sela...

Beleza igual traduz tantos fulgores...
No rosto emana brilhos e candura.
Outonal maravilha... Belas cores...


71

Não posso mais viver enamorado
Das ondas desses mares fiz quimera
O ranço que ficou do meu passado,
A noite que sangraste me tempera.

Não posso descobrir um novo fado.
A vida me trará quem fora espera.
O rosto que pintei apaixonado;
O mundo nunca pára sempre esfera...

A roupa que bordaste, meu cetim.
A sela que montaste meu arreio.
O tempo que passamos, tudo em mim.

A mão que acaricia pede um seio.
O cheiro destas flores, de jasmim,
O pão que não comeste, de centeio.

Amor que tu me deste, meu jardim...
Marcos Loures


72

Não posso mais querer esse perfume
Deixado como rastro pela rosa,
Seguindo qual falena busca o lume,
Minha alma numa súplica, andrajosa.

Buscando algum caminho aonde aprume
Sonhando com a luz vitoriosa,
Enquanto a fantasia já se esfume
O amor jamais ouvindo verso ou prosa.

Seguro as suas mãos, tento a viagem,
Catando os meus pedaços que arrancaste,
Depois da imensa curva, a capotagem,

A cova da esperança em funeral
Aberta me aguardando é o que legaste
Acorde dissonante, ato final...
Marcos Loures


73

Não posso mais obedecer meus medos,
Nossos espelhos refletindo faces.
Quando, perdido, padeci segredos,
Nas artimanhas conheci disfarces...

Teu belo corpo a passear meus dedos;
A converter meus novos vãos impasses.
Ouço teu nome, trazes arremedos,
Nossos cabelos sinto que embaraces...

Nossa certeza, sobrevive frágil...
É cansativa a luta atroz, insana...
Ao te exaltar eu cobrarei pedágio,

Pois sei de tudo, de mentira tanta...
Ao revelares mostrarás que engana,
Cruel donzela se demonstra santa...


74

osso mais nem creio que pudesse
Romper as velhas grades do passado,
Quebrando este tear onde alma tece
Perdendo cada fio. Emaranhado.

Seria o que se houvesse, mas não há
Nem tento decifrar o que não sinto,
O verso sem remendo desde já
Aperta dos meus sonhos, laço e cinto.

Exposto ao mais temível contra-senso,
Riscando no horizonte, este corisco,
O amor que desejei, por ser imenso,
Morreu por minha conta, medo e risco.

Escorrego no grande tobogã
Do arco-íris que emoldura esta manhã...


9375


Não posso mais negar tais evidências,
Sou teu e ninguém pode me impedir
De ter esta esperança no porvir
Os dias não trarão mais penitências.

Além de simples, tolas, coincidências
Sem nada que consiga destruir
Eu venho nestes versos te pedir
Ao menos, uns momentos de clemência.

Ouvir a voz de um pobre trovador
Que vive o tempo inteiro a teu dispor,
Ungido pela luz dos olhos teus,

Sentir o teu perfume, ser teu par,
Vontade de viver e de sonhar
É como ver a face do Meu Deus...



76

Não posso mais negar que esta paixão
Surgida num momento inesperado
Causando a mais fantástica explosão
Mudou o que eu pensara, no passado.

Assim como um temível furacão
Eu vi o meu destino alvoroçado
Nos braços de tamanha tentação
Um mundo totalmente transformado.

Ardentes os carinhos que trocamos,
Insânias em carícias tão audazes.
Um templo que erigimos ao deus Eros.

Momentos mais felizes vislumbramos,
As pernas que se tocam, quais tenazes,
Vontades e desejos loucos, feros...
Marcos Loures


77

Não posso mais negar a luz intensa
Que invade o sentimento: coração,
Vislumbro no horizonte, na amplidão
O brilho deste sol, a recompensa.

Perdoo sem rancor qualquer ofensa,
A vida nada vale sem perdão,
Aprendo dia-a-dia esta lição
Diversa do que uma alma amarga pensa.

Gerando uma alegria mesmo em trevas,
Gerindo a fantasia quando nevas
Gestando alvorecer tão radiante

Gerânios na janela do meu quarto
De um gesto de carinho não me aparto
Gozando o bem da vida a cada instante...


78

Não posso mais mentir, a vida cega...
Quem sabe sou decerto mais feliz
Viajo por teu corpo prega a prega,
Excrescências da velha meretriz...

Me aproximo, inconstante a bruxa nega,
O rosto deturpado pobre atriz...
O tempo a corroer-te te renega,
A vida se esvaindo por um triz...

Mataste, sem querer, todos os frutos.
És vale que queimada esteriliza...
Os homens que te viram foram brutos;

A noite te negou a doce brisa.
Os restos de teus sonhos, formam lutos...
A morte em teu catarro, já se avisa...


79


Não posso mais lutar contra a corrente,
E deixo-me levar até a foz,
Eu sei que uma ilusão se faz algoz,
Por mais que ser feliz, a gente tente...

Queria me envolver completamente,
E me entregar ao sonho que há em nós,
Porém ao perceber o nada após,
Sonego o intenso sol, queimando, ardente.

Não tendo mais defesas, sigo só,
Sabendo desta estrada o mesmo pó
Aonde tantas vezes me perdi.

Por mais que a noite trague em sonho, o riso,
Quem nunca conheceu o Paraíso
Reage desta forma, como agi.


80

Não posso mais falar, e nem pretendo
Saber desses desejos incontidos
Viver nesses espaços compreendidos
Entre o que houvera sido, vou vivendo


Nas marcas desses dias já perdidos
Do tempo, se esvaindo, mesmo tendo
Quem nada mais podia, nem alento
Singrando velhos mundos conhecidos.


O medo me transforma noutro canto
Num último senão já descoberto
No distanciar tonto, nada perto


Trafegando por mares entretanto
Pelo meu peito aberto a teu encanto
Pelo meu sonho morto a descoberto!


81

Não posso mais falar e nem pretendo
Saber dos nossos sonhos incontidos
Guardados sem porque, tão escondidos.
Eu quero sem segredos ir vivendo...

Eu vejo quantos dias já perdidos
No tempo que se esvai. Mesmo tendo
Esta certeza infinda como alento,
Singrando velhos mundos conhecidos...

Eu não quero ser mais um simples canto
Não temo nosso amor a descoberto
Enfrentarei o mundo, peito aberto,

Temores já morreram, entretanto
Se não vieres junto perco encanto,
Por isso meu amor, eu grito, alerto!


82


Não posso mais conter esta vontade
De falar tudo aquilo que desejo.
Não quero teus pudores, nem teu pejo,
Almejo finalmente a liberdade.

Meu verso te incomoda? Que se dane!
Alguém gosta daquilo que eu escrevo,
Perdoe, na verdade nada devo,
Teu cérebro sem nexo entrou em pane.

Só quero é tu vás roçar nas ostras,
Na pouca educação que tu me mostras,
Sinais de uma existência sem proveito.

Guarde pra ti a tua opinião,
Se eu falo com firmeza da emoção,
Eu somente desnudo aqui, meu peito...


83

Não posso sonegar para mim mesmo,
Os erros cometidos, meus pecados.
Por mais que o pensamento vague a esmo
Segredos que jamais são revelados

Em solilóquio tenho a solidão
Defesa insuperável, fortaleza,
Ensimesmado mudo a direção
Agindo assim, por certo, com destreza.

Olhando de viés, meio de quina,
Observo os meus enganos. Tanto engodo...
Se a nudez completa me alucina
Retrato-me por vezes neste lodo.

E fétido parceiro do vazio
Espectro em falsa luz, eu me recrio...


84

Não posso ser feliz! Isso não cabe...
Quem pela vida sempre teve medo,
Alegrias da vida nunca sabe,
Nem sequer conhecerá o seu segredo...

Procura simplesmente não ter tabe
Vai, asfixiado, cruel degredo...
Quem não sabe que sempre então se gabe,
Não conhece da vida, seu enredo...

Não posso ser feliz... Ah quem me dera!
Dissecando meus medos, sempre estás...
És fonte e resultado da quimera.

Não podes prometer, assim, a cura...
Quem trouxe o desespero nega a paz...
Traduzir este amor? Total loucura!
Marcos Loures


85

Não posso ser feliz se estás sofrendo.
A dor que te maltrata sempre atinge,
E aos poucos vai também me corroendo.
De negro uma esperança amarga, tinge.

Querida, amor me toma num crescendo
E forma em mil sentidos uma esfinge.
Porém nossa amizade concebendo
Impede que eu não veja. A cruz que finge

Jamais ter existido em cicatriz
Exposta em tua pele mostra tudo.
O céu nunca terá claro matiz

Corado em sofrimento de quem amo.
Por vezes eu me calo, fico mudo.
Mas saiba companheira, por ti clamo!


86

Não posso segurar tuas vontades,
Bem sei que já não gostas mais de mim,
O tempo demonstrou quanto é ruim
Um sonho que não trague mais verdades.

Espero que tu tenhas claridades
Já que eu não soube aguar este jardim,
Eu sei que todo amor tem o seu fim,
Só posso desejar felicidades,

E quanto a mim, restando aqui sozinho,
Irei cantar a noite inteira em agonia,
Procuro a solidão, bebo o meu vinho,

Mergulho no vazio, e sem carinho
Sorrio, com o que resta de ironia,
E morro pouco a pouco, mais um dia...


87

Não posso resistir ao teu desejo,
Na força que se emana, poderosa.
Nas tempestades, és um relampejo.
Perfume que tu tens, recende rosa.

A noite dos teus passos, sempre vejo
Na força que te faz tão orgulhosa!
Contigo não resisto nem pelejo.
És sábia mas, no fundo, carinhosa!

Meus versos procurando teu carinho,
Em busca destas luzes envolventes.
Te ter é conhecer a fina sorte.

Não posso mais me ver, nem vou sozinho...
Conselhos que me dás, tão competentes,
Tu és, Alcina, bela estrela forte!

88

Não posso resistir a teu pedido,
Se em fogo meu desejo quer também.
Há muito meu cantar em ti, perdido,
Sonhando noite e dia com teu bem.

Um forte minuano tem trazido
Na voz que de repente, invade e vem
O sonho mais feliz e decidido,
De enfim, depois de tanto; ser de alguém.

Dominas totalmente o pensamento,
Eu quero simplesmente poder ser
Além do mar, do amor, todo momento

Estar contigo, sempre que quiser,
Nas danças, alegrias, no prazer
Te ter minha menina, amor, mulher..


89

Não posso resistir a tal chamado,
Deixando o coração ardendo em chamas,
Na xana umedecida, bem safado,
Enveredando assim, lúbricas tramas.

A chuva vai batendo no telhado,
Rolando, dois desejos pelas gramas,
Teu corpo em delírios atrelado
No gozo mil delícias que esparramas.

Cavalgue o teu corcel, amor não pára.
Mexendo as tuas ancas, vem comigo.
O pulso latejante se dispara

E a gente quer de novo e sempre mais.
Dançando sob a chuva, eu já me abrigo
Debaixo destas pernas sensuais...
Marcos Loures


90

Não posso reclamar de minha sorte,
A vida que me dá também me toma...
Vou, no fundo, esperando a minha morte.
Os beijos impedindo qualquer coma

A farsa de querer parecer forte...
Na boca que me mordes, vil estoma,
Reduzes tantas coisas, flanco e porte...
Bem sei que quem me bate não se doma...

Amar é conceber, traduzir penas,
Lutar intensamente nas arenas,
Amar é transcender ao que era asceta

Nos olhos de quem sonha e percebeu,
Que a noite que não veio se perdeu,
Refletem a minha alma de poeta...


91


Não posso prosseguir se não vieres,
Como farei, amada, me responda...
Não sendo tão somente o que tu queres,
Sou mar que se perdeu, e não tem onda...

Espero que tu voltes, num rompante,
Trazendo toda luz que sei, mereço...
Teus olhos refletindo um diamante,
As ordens que me dás, eu obedeço...

Amando quem se fez o meu destino,
Vivendo cada dia mais feliz;
Amor que persegui desde menino,
Me abrace; eternamente um aprendiz..

Que canta, nestes versos sem cansar,
A glória de poder, enfim, te amar...


92

Não posso prejulgar quem se apaixona,
Chamando de tolice, o sentimento
Que quando nos invade é como um vento
Deixando vir os sonhos sempre à tona.

E quando a solidão já desabona
Trocando uma alegria por lamento,
Feliz por ter conhecê-lo em um momento
Sangria desatada se tampona.

E o jogo recomeça novamente,
O coração fareja e assim pressente
Procela que virá impunemente.

Tomando enfim de assalto corpo e mente,
Domina totalmente e então a gente
Percebe que viver se faz urgente...


93

Não posso pôr arreios neste sonho,
Empoço-me nas águas deste amor
Que traz ao mais teimoso trovador
O novo que em delírios eu componho.

Um coração moleque é mais risonho
E traz a sensação de recompor
Erguendo-se depressa, cala a dor
Negando um pesadelo tão medonho.

A voz deste menino sem juízo
Que bate ensandecido por quem passa,
E quando uma tristeza se esfumaça

Vem o danado e volta num sorriso
Teimoso, procurando outra paixão.
Que faço deste insano coração?
Marcos Loures


94

Não posso permitir tal grosseria
Que grassa entre os estúpidos ladrões
Vestindo paletós, tal confraria
Desfere duros golpes, quais falcões

Banquetes que o poder já propicia
A quem devia dar as soluções.
Matando calmamente todo dia,
Apunhalando sempre os pobretões...

Na súcia que se forma no Congresso,
Talvez já se resolva esse problema
Do crime que se diz organizado.

Prendendo essa canalha, eu te confesso
Não há nenhum bandido que não tema
Pelo bando de amigos, ser roubado.


95


Com estrambote

Não posso permitir nossa cegueira,
A vida que passamos, momentânea...
Por certo navegamos noite inteira,
Não vejo mais sinal da nossa insânia...

Sumimos espectrais nessa poeira...
A saudade é cratera subterrânea!
Uma última visão, lança certeira,
É nossa precisão contemporânea.
Viver a decisão mais verdadeira...

A verdade surgindo, noites mortas,
Como iremos abrir fechadas portas?
Na cegueira arrancaste nosso grito...

Eu te quis preciosa, diamante...
Fugiste de meus braços, vai errante,
Te caço, desde então, nesse infinito!
Marcos Loures


96

Não posso perceber quanta vitória
No gozo deste amor que sempre quis.
Se nessa amarga vida fui feliz
O gosto da delícia na memória.

Vencido pelo amor em plena glória
Não deixo meu caminho e peço bis
Recebo do teu céu lindo matiz
E mudo, num segundo minha história...

Bem sei que sempre sofres por enganos.
Teu coração permita novos planos,
Quem sabe encontrarás quem sempre quis.

Nos castelos sem fadas nem princesa
A vida se transcorre em tal leveza
Que sempre sonho ser mais feliz...


97

Não posso perceber quanta vitória
No gozo deste amor que sempre quis.
Se nessa amarga vida fui feliz
O gosto da delícia na memória.

Vencido pelo amor em plena glória
Não deixo meu caminho e peço bis
Recebo do teu céu lindo matiz
E mudo, num segundo minha história...

Bem sei que sempre sofres por enganos.
Teu coração permita novos planos,
Quem sabe encontrarás quem sempre quis.

Nos castelos sem fadas nem princesa
A vida se transcorre em tal leveza
Que sempre desejou minha Tais...
Marcos Loures


98

Não posso os ócios fáceis como fuga
Arrasto os restos meus pelo jardim.
Espelhos? Posso ao vê-los cada ruga
Os rastros contratempos contra mim.

Minha alma tenta a calma e já se aluga
Vencida vai vendida vendo enfim
O quanto o tempo tonto tudo suga
A carga tudo embarga e pesa sim...

Palácios e fantasmas e correntes,
Em trâmites comuns, alguns dos dentes
Perdidos pela estada nesta Terra.

Abraço este cadáver que cultivo
E tomo mais um trago. Não me privo
Do todo que este pouco ainda encerra.


99


Não posso nem sequer, senhora da beleza,
Saber donde roubaste o brilho que incendeia,
O teu olhar sem par! É como a lua cheia,
Altar de tanto sonho, amada fortaleza!

Em tal encantamento, a vida; com certeza,
Trouxe-nos seu encanto, um canto da sereia,
Que busco no meu mar, deitada em plena areia.
De tudo que já tive, a mais bela princesa...

Embora tenhas ido em busca de teu Fado,
Deixaste uma saudade imersa no passado
De quem se fez feliz por ter te conhecido.

Distante deste amor, eu abençôo a vida
Por ter me dado a sorte , embora já perdida,
De ter Raimunda amado, um sonho enlouquecido!
Marcos Loures


9400

Não posso nem pensar que te perdi
Decerto não seria muito bom,
Os ecos repetindo perdem som
Talvez o bom da vida esteja aqui.

Saber felicidade plena em ti,
Amar é quase sempre um raro dom,
A vida nos mostrando em claro tom
Dizendo deste amor que conheci.

Legados de alegria, eu quero dar,
Na imensidão azul de um belo mar
Os barcos da esperança buscam cais.

Vencer cada procela com firmeza,
Depois de tantas lutas, a certeza,
Da mesa em que nós somos comensais.
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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