Nos últimos dois anos, o meu despertador
Toca, invariavelmente, às seis.
Antes disso, queixava-me da falta de espaço
Numa cama demasiado pequena.
Não mais o faço
Porque, agora, tudo na minha vida
Parece enorme.
Acordo cedo, se as noites estão
Cada vez mais longas…
E quero que terminem sem delongas.
Percebi tarde demais que, só podemos
Dar-nos ao luxo de permanecer na cama,
Quando já temos o que pretendemos.
Se o deixamos fugir, a incerteza do futuro
E a lembrança do passado
São um fardo excessivamente pesado
Para transportar no escuro.
Voltei a dormir com a luz acesa…
Porque temo os fantasmas
Da minha dureza.
Ainda que continue infeliz,
Preciso de um perdão sério e sentido,
Caso contrário, a inquietude
Com que tenho dormido
Perseguir-me-á, amiúde.
Ah… Se eu tivesse despertado para a vida
Antes do anoitecer,
Quando tudo era claro,
O Mundo perfeito e diminuto
O medo de adormecer…