UM POETA MIXURUCA
Tempo de criança.Lá no bar do Arrelia,
numa lousa, deixava tanto recado,
era tudo escrito em forma de poesia,
tudo naquele quadro, deixava rimado.
Embora não soubesse escrever bonito,
achava rimas até para berro de cabrito,
alguns me chamavam de poeta do pé rapado.
Nessa terça feira, na casa da Filomena,
vamos lá para rezar para São Sebastião,
será o último dia, o final dessa novena,
que começou mês passado, no sítio do Simão.
Alguém precisa de um cavalo emprestado,
não pode andar, está com o pé enfaixado,
mas quer de todo jeito, participar da procissão.
E vejam, no final dessa próxima semana,
vamos prestigiar a festinha do bolo,
terá de abacaxí, de laranja e de banana,
lá vai vender, trocar, fazem qualquer rolo.
Tem uma novidade, que é doce no palito,
tudo será para a igreja de São Benedito,
se está sem dinheiro, eles aceitam até tijolo.
Assim também cooperava o poeta mixuruca,
naquele tempo não existia os jornais,
fiz propaganda até para o festival da papuca,
que era lá na fazenda do Morais.
Onde me chamavam de poeta relaxado,
depois de anos fui lá, relembrar o passado,
mas tudo acabou, nem o bairro existe mais.
GIL DE OLIVE