Crise infeliz e apertado Ano Novo
Nunca antes as quadras festivas do Natal e Ano Novo sofreram tantos cortes orçamentais. Este ano, não devemos esperar muito mais no sapatinho do que prendas mais económicas, e até o champanhe do Ano Novo, quem sabe, será de marca barata. Persiste a lengalenga da crise que afeta o país e esta promete ensombrar muitas festas que deveriam ser de libertação de problemas e não de “aperto de cintos”. Este ano, o Natal vai mostrar timidamente o ar da sua graça que tende a esmorecer por entre as medidas de austeridade e o Orçamento de Estado.
A tradição já não é o que era. Nas cidades e vilas deste país, todos gostamos de apreciar os ornamentos colocados nas avenidas, ruas e praças mais emblemáticas, mas a crise ditou um corte nos gastos em iluminações. Apesar da beleza desta quadra com que todos sonhamos, a verdade é que o Pai Natal não dispõe de um Fundo Monetário Internacional que nos permita festejar esta quadra de forma mais próspera em finanças.
Só para termos uma ideia, em Setúbal o investimento deste ano foi de 66 mil euros, menos 15 mil do que os gastos pela CM em 2009. Esta é a tendência que se repete de norte a sul, e para aprovação de algumas pessoas que consideram até desnecessárias as luzes, tendo em conta as dificuldades, há municípios que este ano não acenderão uma única lâmpada, como acontecerá em Palmela. Por cá, é de louvar a contenção de despesas, desde que luzes mais económicas e de tecnologia LED iluminem as ruas, nos alegrem e façam, pelo menos, rejuvenescer o comércio tradicional que tanto sofre com a escassez de clientes.
Porém, nem tudo mudará: decerto se repetirão os cenários de consumismo de última hora e de pagamentos a prazo de presentes dispendiosos, no típico perfil de um português que se endivida. Sim, de entre os países da Zona Euro que se veem a braços com a recessão das economias, Portugal continuará ironicamente no topo da lista das nações que mais gastam em prendas, apesar de todos os alertas.
Resta desejar as melhoras a este país atacado pela gripe da crise. O Natal não é apenas feito de luzes e de presentes embrulhados em papéis brilhantes. É feito de paz interior, de calor humano e de disponibilidade para os outros. E esses valores não pagam imposto.