1
Minha lembrança guarda o teu sorriso,
Serenidade em meio a dissabores.
Roubando uma tristeza, mata as dores
E mostra que viver é mais preciso.
No verde de teus olhos me matizo
E sonho com futuro em outras cores
Recendendo ao jardim repleto em flores.
A sorte que se esvai não manda aviso.
E sinto que te apartas deste sonho
Distância que se aumenta no silêncio...
Coração! Haverá, pois quem convence-o;
Prevendo teu futuro mais tristonho;
Dos erros que cometes tão freqüentes?
Seus sonhos, para sempre, inconseqüentes?
2
Minha infância longínqua, entardecida,
Lembranças esquecidas neste outono,
Passando tão veloz a minha vida,
Vivida nestas cores do abandono...
Depois de tanto tempo tão distante,
Os campos e arvoredos desta infância,
Percebo no teu colo, minha amante,
O brilho desse tempo, uma fragrância...
Cansado dos caminhos mais doridos,
Arrasto minhas dores nas saudades
Das penas e das ânsias, nos olvidos,
Ficaram tantas luas, tempestades...
Agora que retorno deste mundo,
Deste teu puro amor, eu já me inundo...
3
Minha funérea amiga, que saudades...
A vida parecia tão distante.
Sem a tua presença delirante,
Passando todo o tempo em veleidades...
Viver sem ti, simples frugalidades
Oferecidas, sinto-me inconstante.
Vago assim ... Simplesmente, vou errante...
Tua distância nas sombrias tardes...
Vértice das agônicas esperas,
Bebo essa taça, rogo pelas feras
Horas... Faço teu cântico, meu hino!
Nas tuas garras, gélido persisto,
Nas devassas manhãs, jamais insisto,
Antiga companheira, meu destino...
Marcos Loures
4
Minha alma feita em fumo já se esvai,
Exposta às intempéries do caminho.
Dos altares dos sonhos, frágil cai,
E tenta inutilmente o velho ninho...
Retalho do que fomos, pedacinho
Do amor que enlouquecendo agora trai
Aos escombros, querida, em vão me aninho
Nem mesmo a poesia me distrai...
Quem fora e desejara ser também
Apenas ilusão, não volta mais...
Dos frangalhos desta alma, ouço o jamais
Que a cada pesadelo, sempre vem...
Falar do amor que um dia foi meu cais
E agora está vazio, sem ninguém...
Marcos Loures
5
Minha alma escravizada perde a cor.
O brilho que trazia não reluz!
Nos seus palácios sobrevive a dor,
Pesada, arrasta pelas ruas, cruz...
Lavas, derrete. Não detém amor
Às armas da saudade, velho obus...
Revivendo ascos que me dão torpor,
Minha alma sangra e se escondeu da luz
Tive saída? Solidão me nega...
Já me calei diante disso tudo...
Quem fora amor, a realidade esfrega.
Minha alma serva ja não mais encanta
Palavras calo, ficarei mais mudo..
Essa dor entalada na garganta!
6
Minha alma envelhecida não percebe
Beleza que se faz amanhecer.
Espinhos espalhados pela sebe
Não deixam mais os sonhos percorrer.
O vento em tempestade que recebe
O corpo que navega sem prazer
Uma alma envelhecida, pária, plebe,
Decerto sem ninguém, deve morrer...
Outrora em fantasias, mocidade
Deixara suas garras benfazejas,
Porém somente resta uma saudade
De luas em mortalhas escondidas.
Àquelas que serenas; sertanejas,
Volvi num labirinto sem saídas...
7
Minha alma enamorada, agora canta,
Ao ver chegar o Rio de Janeiro,
Descendo do avião, saudade tanta,
Entrego o coração me dou inteiro.
Lembrando de Ipanema, o Corcovado,
O jogo do Fogão, Maracanã
O tempo de viver dói um bocado,
A sorte inda resiste no amanhã;
Um gole de cerveja, um mexilhão,
As pernas das morenas pela areia,
Meu Rio vai mostrando na canção
Encantos da cidade, uma sereia.
Saudades da cidade, o mar sem fim,
Rio, você foi feito para mim!
Homenagem a Vinicius de Moraes e Tom Jobim
8
Minha alma enamorada de tua alma
Numa alameda feita toda em sonhos.
Traduz a luz que emana e que me acalma
Portanto, vem portando sóis risonhos.
Quem teve em sentimento medo e trauma
Ressentimentos idos tão medonhos.
Percebe nesta sebe imensa calma
Deixando para trás dias tristonhos.
A voz apaixonante da pantera
Que espero desnudada em minha cama
Trazendo toda a flor em primavera
Num reboliço mostra ebulição
Com sorriso maroto então me chama
E acende com um beijo, este vulcão...
Marcos Loures
9
Minha alma em trevas dorme e assim pranteia
Não leva mais sequer uma saudade
Da lua que pensara eterna e cheia
Nem mesmo algum resquício – claridade;
A dor que no meu peito serpenteia
Aos poucos se tornando iniqüidade.
Minha alma sem destino, ainda anseia
Amor que seja puro e de verdade.
Do luto de minha alma transparente,
Sorrisos espelhando uma esperança
De um dia renascer bem mais contente
Amor que já se foi sem dar aviso.
Vivendo tão somente da lembrança,
Eu sonho ser feliz. No paraíso?
10
Minha alma tão voraz, desconhecida
Sorvendo mil pecados me amofina
Quem dera se encontrasse uma estricnina
Talvez tivesse a sorte resolvida.
A morte que se mostra como sina
Pudera reservar em outra vida
A cura procurada e descabida.
A mente que pairando se alucina
Encontra tão somente uma resposta
Que possa refazer sem sofrimento
Depois de ter cortado a carne em posta
Um vento mais suave em liberdade
Batendo na janela num momento
Demonstra bela estrela na amizade...
Marcos Loures
11
Minha alma tantas vezes, vã, perdida,
Legada à solidão, temível sorte.
Buscando inutilmente, rumo e norte,
Transita nos espaços, dolorida...
Nas névoas e neblinas embebida,
Por mais que o pensamento seja forte,
Sucumbe, sem defesa, ao fundo corte
Letárgica ilusão, apodrecida...
Seguindo pelas ruas, bar em bar,
Alcança tão somente embriaguez.
Imagem que tristonha sempre vês
Exposta em noite escura sem luar.
Sob o peso cruel de seus amores,
Cultiva em ermos pântanos, as flores...
Marcos Loures
12
Minha alma solitária se deleita
E pensa que, ao final, de tudo sabe
Ainda que a saudade ainda acabe
Tristeza se aproxima enquanto deita
As mãos sobre o meu rosto, satisfeita.
Ainda que esperança já desabe
Um resto de ilusão ainda cabe
Palavra tantas vezes imperfeita.
Sonhara ser alguém, trazer um mundo
Aonde em fantasias me aprofundo,
Porém minha alma segue amargurada...
Olhando para trás, não vejo nada,
Apenas o que resta deste sonho,
Que agora, em solidão, sei ser medonho!
Marcos Loures
13
Minha alma sem alarme mal desperta
E busca da janela deste hotel
O quanto se perdeu em negro céu
A morte sem juízo não me alerta.
A porta da ilusão se mostra aberta
Enquanto me recobre um falso véu
O tempo girassol em carrossel
A poesia atroz já se deserta.
Navego por estrelas tão vulgares
E bebo tantas plêiades sem nexo.
No choro a gargalhada faz altares.
Colares de mulheres que guardei
Refletem fantasia feita em sexo
No trânsito em mil luzes mergulhei...
Marcos Loures
14
Minha alma segue em prantos, vã tristeza,
Dolente necessita dum amparo.
Lasciva mergulhada em sutileza
Buscando uma alma gêmea apura o faro.
Envolta em tal delírio da beleza
Percebe que se encontra em desamparo.
Frágil, tímida, plena de incerteza,
Anseia pelo amor que sabe raro...
Soberbos sofrimentos meu idílio,
Lamúrias e senões, silenciosa.
Exposta a tais torturas, triste exílio...
Tantas vezes padece desolada...
Minha alma sofredora e carinhosa,
Procura pela tua, não há nada...
15
Minha alma se reflete nos teus olhos
Espelho em que mergulho o sentimento,
Vencendo nos caminhos os abrolhos,
Deixando para trás qualquer tormento,
Beijando a tua boca, vou contigo
Buscar dentro de ti o que sou eu,
O meu olhar ao ver perfeito abrigo,
Num momento sublime se perdeu…
Tocando a tua pele de mansinho,
Sentindo o teu perfume junto a mim
Sabendo desfrutar cada carinho
Encontra o que buscara, em ti, enfim.
Ser teu é na verdade o que eu mais quis
Certeza de ser sempre tão feliz...
Marcos Loures
16
Minha alma se refez em nova aurora
Assim quando te vi, num outro dia,
Qual tônico que logo revigora
Bebi de tua boca esta alegria.
Tristeza e solidão jogadas fora,
A vida de repente renascia,
Agora uma alma nova aqui já mora
Envolta com delícia e maestria.
Paixão ardente e louca me trazendo
O gosto tão febril da mocidade.
Aos poucos me sentindo renascendo,
Em desvarios, tonto de emoção,
Refez-se a juventude, na verdade,
Moleque sem juízo: o coração!
Marcos Loures
17
Minha alma se perdendo, aguarda a sorte
Que há tanto desejei e nunca tive.
A mera poesia, imenso corte
Dizendo do vazio aonde estive.
Sem ter, na minha andança algum suporte
Apenas a esperança sobrevive,
Mudar a direção em outro Norte
Imensa fantasia não se prive.
Envolto nas sombrias paisagens
Querências tão distantes, onde irei?
Saber do coração sua vontade
Marcando o meu olhar, frágeis miragens,
Buscando no infinito, cais e grei,
Quem sabe enfim terei felicidade?
18
Minha alma se perdendo em meio a curvas tantas
Derrames de agonia atingindo meus versos.
Quem fora desespero aguarda novas mantas
Que possam me trazer caminhos mais diversos.
Por vezes encantando enquanto desencantas
Os ares que encontrei; decerto são perversos.
Quebranto, pedregulho, espinhos, não sei quantas
Palavras em tormenta, os sonhos vãos, dispersos...
A cada flor plantada a frustração aumenta.
As asas/ liberdade atadas não voaram,
A vida vai passando, e cada vez mais lenta.
Quem sabe inda terei, além desta saudade
Do quanto que não tive e os versos não negaram,
Um fio de esperança, ao menos, na amizade...
19
Minha alma se entregando a tal tristeza,
A solidão entranha em mãos sombrias,
Figuras perambulam, vãs e esguias
Quem sabe amar o faz com tal destreza
Que nem a poesia mais despreza
Moldando em suas mãos as fantasias,
O verso que invadindo as cercanias
Vencendo com ternura as correntezas.
A chuva vai caindo e já não pára,
O passo que me guia desampara
E a gente não concebe mais o trilho.
A neve empalidece este arrebol,
Jamais conhecerei a luz do sol
A morte aperta forte o seu gatilho...
Marcos Loures
20
Minha alma se encontrava, antes perdida
Beijando qualquer boca no caminho,
Bebendo com vontade amargo vinho,
Vencido pela sorte distraída
De toda esta ilusão foi abstraída
Até morrer sem dó, ledo e sozinho.
Chicote me cortando de mansinho,
A noite sem vigia está perdida.
No pé de manacá eu me estrepei,
Verrugas quando estrelas apontei,
Amor deu seu sorriso mais boçal.
Despido dos desejos meu prazer
Agora é tão somente já me ver
Subindo calmamente este degrau.
Marcos Loures
21
Minha alma se aposenta em teus carinhos,
Deitada em tua cama, gozo e dor,
Guardando o sentimento em escaninhos,
Me entrego ao teu desejo e teu furor...
Abusas dos folguedos mais vorazes,
Acendes a fornalha da loucura
Mostrando teus delírios tão mordazes,
Me morde e me maltrata com ternura.
Sentindo-me um joguete nos teus braços,
Dominas cada qual dos meus sentidos,
Riscando em cicatriz, tatuas traços
Nas costas, nos meus pés já combalidos...
E vamos noite adentro em tal bailado;
Sangrando nosso amor, apaixonado...
22
Minha alma se alegrando neste porto
Aonde o coração encontra abrigo,
O bom é caminhar sempre contigo,
Embora o meu destino seja torto.
A vida preparando esta surpresa
De me trazer a cria dos meus sonhos,
Que sana velhos dias mais tristonhos
E faz de uma alegria, mansa presa.
Sorrisos de menina; peito aberto,
Nas margens do Guaíba, o brilho certo,
A dor da solidão, agora extinta;
Seguindo de uma estrela, a bela trilha,
Com alma resoluta e farroupilha
Encontro a luz no paralelo trinta...
23
Minha alma se abrasando na tua alma,
De forma que se entrega totalmente,
Descubro que minha alma só se acalma
Aos olhos de tua alma mais clemente...
Nos tempos de descuido sofri tanto
Por ter uma alma assim tão dependente,
Vencida por tua alma em tal encanto
Que tudo se sublima de repente.
Por quanto tempo uma alma sobrevive
Sem ter essa tua alma como amiga.
Nos sonhos mais divinos onde estive,
Minha alma sem tua alma já periga.
Por isso, minha amada, te preciso,
Minha alma na tua alma, em paraíso...
24
Minha alma repartida, aparta-se de mim...
Do meu corpo se solta em busca de paragem.
Num vôo delirante, inicia a viagem.
Mal sabe seu começo, espera tenha um fim.
Na boca de Luisa, um vivo carmesim;
A promessa de paz passou a ser miragem.
Minha alma, transtornada; em plena decolagem
Pressente, nesta boca, um promissor jardim.
Nas mãos desta guerreira a santa piedade,
Promessa de viver, enfim, felicidade.
Minha alma já se encontra em manso vôo, em brisa...
Na glória deste amor, a vida esplendorosa.
Na trilha da guerreira, a lua gloriosa...
Minha alma, adormecida, em pleno amor, Luisa!
Marcos Loures
8625
Minha alma que antes fora uma andarilha
Vagando bar em bar pela cidade,
No grito solitário da novilha
Espreita o fim da tarde com saudade.
O par que se perdeu renova a trilha
E vence com carinho, a tempestade.
Andando nos espaços cada milha
Seguindo busca a tal felicidade.
Parceira dos detalhes que negaste,
Entalhes nestas pedras, no desgaste
Diário molda a noite em vários breus.
Depois de ser vencido, sigo só,
Voltando novamente ao ledo pó
Não quero mais seguir rumos ateus.
Marcos Loures
26
Minha alma oferecida nas quermesses
Vendida a qualquer preço num leilão,
Em lances duvidosos da paixão,
Nem sabe quanto ou quando me ofereces.
Às vezes me escondendo atrás de preces
Dispara no meu peito um carrilhão,
No fundo sempre a mesma negação
Eu sei que no verão já não me aqueces.
Verdade acondoplásica se torna
Quando tu mentes sobre a vida morna
Que adorna cada passo sonegado.
Participando sempre deste engodo,
Buscando o meu retrato então me açodo
Bebendo os erros todos do passado.
27
Minha alma ocidental e italiana
Latina e eternamente atada ao lírico,
Às vezes com certeza sendo empírico
Desfilo minha origem lusitana
Enquanto a poesia em mim se ufana
O mundo que imagino quase onírico
Num átimo diverso deste etílico
Caminho em que a verdade desengana
Mergulho nas distâncias amazônicas
E quando em fantasias tão hedônicas
Procuro no final ser mais eclético.
Ao fundo este cenário vasto e lúdico
Aplausos; não espero deste público,
Mas mostro o meu caminho atroz, poético...
28
Minha alma no teu cais não mais perdida,
Encontra ancoradouro que buscara
Durante quase toda a minha vida
Nos braços da mulher que agora ampara.
Revendo tantos erros cometidos
Eu sinto ser possível novo dia.
Momentos em penumbra, desvalidos
Adentram noite afora, poesia.
Pesadelos distantes, dentes, fogo.
Velhos ritos satânicos, terror.
Olhar enunciando o mesmo rogo
Procura em outro encanto recompor
O quanto se perdera da ilusão,
Mudando destes ventos, direção...
29
Minha alma neste outono da existência,
Refém do pouco tempo que me resta,
Adentra a solidão, fria floresta,
E pede pelo menos indulgência.
Não quero deste inverno, a penitência,
Se bem que a primavera ainda gesta
A doce fantasia em que se atesta
A réstia desta luz feita demência.
As folhas vão caindo devagar,
O vento muda tudo de lugar,
A mocidade morre após a curva.
Quem dera a juventude... Isto é passado...
O velho caminheiro maltratado
Enfrenta: peito aberto, a fina chuva...
30
Minha alma necessita de reboco,
A casa embolorada tem nas teias
Ainda a velha marca das candeias
E a antiga cicatriz ganha num soco.
Da alameda dos sonhos, resta um toco,
O sangue se perdeu, mudou de veias,
Se as luas que sonhei seguem alheias,
Não posso suportar mais tal sufoco.
Quando a constelação, teimoso eu toco,
A vida vai mantendo o mesmo foco,
E entoco-me depois da tempestade.
No porto solitário a solidez,
Se tudo o que eu tentara não se fez,
Reforma nesta casa? Uma inverdade...
31
Minha alma não conhece mais brandura
E tantas já sofreu que vai cansada,
Recebe este carinho que degrada
Nas mãos da solidão, velha tortura.
O amor ao refazer tal varredura
Não deixa mais sobrar sequer a escada,
E a queda, insensatez, preconizada
Ainda me domina e assim perdura.
Sério, sob os meus óculos o olhar
Que sorrateiramente ainda finge
Procura decifra a velha esfinge
Sem ter o que sequer comemorar.
Bebendo com fartura esta tristeza
Só resta então seguir a correnteza...
32
Minha alma na tua alma tatuada,
Tu és a minha doce cicatriz...
Sentindo tua pele, aqui deitada,
Unidos, somos quase um só matiz.
A mão que te procura, extasiada,
A boca te roçando... estou feliz...
E quero te fazer, de novo, amor,
E sinto que tu queres novamente,
Teu toque insinuante, sedutor,
Entrega-se ao desejo totalmente,
Encontro em tua sede este esplendor.
Na pele que me esbarra, ardor se sente...
Assim recomeçamos... tão unidos...
Suspiros, arrepios e gemidos...
Marcos Loures
33
Minha alma na tua alma se completa
Esmeros delicados influindo.
A vida que eu queria qual cometa,
Aos poucos em carinhos diluindo.
Amar e ser feliz se mostra a meta
De quem quer um futuro claro e lindo.
Um límpido azulejo invade o espaço
Decoro em pedras raras, cristalinas
O campo do prazer, divino paço,
Em raras expressões diamantinas.
O amor cerrando assim, com firme laço,
Explode em luas fartas, belas minas.
Termino cada verso te clamando
Ao mundo que entre nós vai se mostrando...
Marcos Loures
34
Minha alma na tua alma já se ufana
E segue os descaminhos vida afora,
Enquanto a fantasia nos engana
O sonho sem juízo revigora.
A morte não desejo, assim temprana,
Tampouco quero a luz que se demora,
Se o vento da paixão ainda abana
O gosto do vazio invade e ancora.
Seria muita audácia, pois sonhar
Com toda a maravilha do teu mar,
Deixando estas procelas na gaveta?
Eu sei que tu virias feita em sonho.
A paz em nosso amor, o que proponho,
Não quero em minha vida um vão cometa...
35
Minha alma na tua alma já se aninha,
Roçando com fervor os meus sentidos.
Não quero uma esperança assim sozinha
Morrendo entre mil beijos já perdidos.
Eu sinto que talvez possa sonhar
Depois de tantos anos pesadelos
Tocando a tua pele devagar,
Roçando com meus lábios teus cabelos
Sentindo o teu aroma inesquecível,
As peles que se encontram, mil promessas,
Deixando no passado, a dor incrível
Em noites tão vazias quão possessas.
Somando nossas forças, posso crer
Num novo e mavioso alvorecer...
Marcos Loures
36
Minha alma na tua alma enveredada
Passando por tais pontes perigosas
Que valorizam sempre mais as rosas
Por terem sua senda perfumada.
Pretendo te fazer o que sonharas
Nos tempos doloridos da saudade
Amor que se traduz felicidade
Libertando os corcéis dos tristes haras.
Não posso me caber se não te sei
Nem sinto teu suspiro junto ao meu.
Minha alma de tua alma se perdeu.
O rumo que buscamos; nova grei,
Passando por distantes arvoredos,
matando pouco a pouco tolos medos...
Marcos Loures
37
Minha alma na sarjeta já mendiga
Pedindo por amor ou caridade,
Que aquela a quem amei, ao menos diga
Se resta alguma hipótese ou verdade
Que faça demonstrar em mão amiga,
Ao menos um restolho em claridade,
Deixando que esta vida assim prossiga,
Ficando por consolo uma amizade...
Quem tem uma incerteza como trilha,
Desfrutando dos restos com ardor,
Sugando das goteiras maravilha,
Fazendo-se do nada quase um rei,
Poeira consagrada de um amor,
É tudo o que na vida, em vão, busquei...
38
Minha alma inebriando-se em tristeza,
Neblinas ofuscando cada dia.
A noite em pesadelos, segue fria.
Entrega sem limites, sem defesa.
Nefastos pensamentos põem a mesa
O vento na janela, uma agonia
Nesta álgica expressão da fantasia.
Inútil resistir à correnteza
Nevascas e tempestas, vendavais...
Ouvir a tua voz? Creio jamais
Apenas teu retrato inda persiste.
E traz como ironia, o teu sorriso
Agrisalhada noite sem aviso
Cada vez mais soturna, amarga e triste...
Marcos Loures
39
Minha alma com tua alma vai unida
Às vezes capotando, outras nem tanto.
Se o gesto diz paixão, mais comovida
É quem não conhecia o velho canto.
Da boca uma aguardente bem bebida,
Na dança que fazemos, desencanto.
Não tendo quem me açode nem me agrida
A gente reconhece cada manto.
Querendo ser o que talvez não fosse
Se a vida não mostrasse que agridoce
O tempo de sonhar agora foi-se;
Não suportar o velho coice,
Nem mesmo irei cortar, esqueço a foice,
Se dos sonhos de outrem não tomo posse...
Marcos Loures
40
Minha alma carcomida vou expondo
Nos versos que espalhei em noite triste.
De toda a solidão que em mim resiste
Um novo amanhecer contigo eu sondo
A cada novo dia recompondo
O resto de esperança que inda existe,
Palavra mais tranqüila, mero chiste
Negando um canto manso em alto estrondo.
As vísceras em pútrido desgaste
Não deixam perceber uma esperança.
Na mão que em ironia me negaste
A queda se mostrando inevitável.
No olhar de quem vagando já se cansa,
A vida passa a ser dura, intragável...
Marcos Loures
41
Minha alma bate à porta deste inferno
Criado por meus erros e delírios,
Cobrindo esta nudez um roto terno
Imerso em poucos cravos, rosas, lírios.
Apenas os parentes no velório,
Amigos? Esqueci de convidar.
Depois da cervejada, no mictório
Conversas: como é bom desabafar!
Incrível que pareça: um outro assunto;
A saia da viúva, o futebol,
Deixando assim de lado, este defunto:
Como demora, enfim, nascer o sol.
Termina na manhã, o ritual,
E tudo retornando ao seu normal...
42
Minha alma aprisionada nos teus sonhos...
Vetusta e tão austera, morre encantos...
Os olhos que te miram, mais tristonhos
Servis, esperarão teus mansos cantos...
Os dias que passei, tão enfadonhos,
Decerto se tornaram belos, santos...
Matando pesadelos vis, medonhos...
Num átimo, se tornam acalantos...
Para amores, sonhares, fabulosos...
Minha alma aprisionada em teus desejos!
Perfumes delicados, olorosos,
Navego nos teus braços sem ter medo...
Minha alma procurando por teus beijos
Descobre, desta vida, seu segredo...
43
Minha alma ao perceber quanto é sutil
O canto enamorado de quem sonha,
Depois de ter passado por medonha
Estrada, tantas vezes, dura e vil,
Recebe este bafejo mais gentil
Da vida que promete ser risonha,
Deixando aquela senda tão tristonha
Em busca deste dia que previu
Uma alma que se mostra e se desnuda
Sabendo procurar qualquer ajuda
Que a torne então macia e bem mais calma
Viceja no calor de uma amizade,
Ao transbordar em paz e claridade,
Em ânima se mostra porque é alma.
Marcos Loures
44
Minha alma ao contemplar-te segue errática,
Teus olhos embuçados vãos, perdidos...
Não posso nem saber desta temática,
Meus erros em teus braços divididos...
A fera que me deste, queda estática,
Deveres que jamais serão cumpridos...
Minha alma ao te chamar de forma enfática,
Espera por lembranças, tempos idos...
Não quero ter vergonha dos meus falsos,
Nas sendas que passaste, caminhante...
Te prometo algo além destes percalços.
Não quero que se engane nem confie,
A boca que me morde, tenebrante.
Espero um novo tempo que se estie...
Marcos Loures
45
Minha alegria espalho pelos campos,
Em tantas melodias que pretendo.
Sabendo deste canto, em fantasia
Nos olhos tanto brilho convertendo...
Vivendo desta luz que me irradias
Nas danças e nas festas com certeza
Eu sinto tantos lumes e delírios
Nas cores e nas flores, natureza...
Floresce meu amor em cada dia
Brotando no jardim mais delicado;
A lua se derrama sobre mim
E vejo meu carinho extasiado...
Revendo os meus defeitos sei que tantos
Sem medo vou buscando teus encantos...
46
Minha alegria é faca, corta fundo.
Dilacera qualquer que tenha medo.
Vagueando, penetra todo o mundo,
Na ponta dessa faca, meu segredo.
Nas marés cheias, enche tudo, inundo...
Faca foi amolada, no degredo.
Temperada a coragem, vagabundo,
Nas tardias da vida, cortou cedo.
Faca vadia, trava guerra à toa.
Embarca na arapuca preparada
Por essas mãos, as mesmas, que canoa
Fizeram virar, tomba marejada.
Inda por cima, fala: faca boa!
Minha alegria, faca enferrujada...
47
Minha alegria às vezes te incomoda;
Bem sei que isto parece um contra-senso
Porém eu não admito qualquer poda,
Se trago em minha vida amor imenso
Permita que eu sorria; companheiro...
Se espero desta vida algo melhor,
Talvez pela metade, ou bem inteiro,
Talvez pouco menor, até maior,
Só sei que tenho em mim esta esperança
De que num belo dia, esteja bem,
O bom humor me traz boa lembrança
E dá felicidade para alguém.
Espero em ti, também, esta harmonia
Que traz, em sintonia, uma alegria!
48
Minha açucena, bela, porém álgica...
Nasceste em jardim fúnebre, nostálgico
A vida me ensinou, defesa antálgica,
Um coração tão frio fosse plástico...
Minha açucena, flor de minha vida...
Quem nasce em tal jardim, recende a dor...
De todas cercanias, esquecida,
A beleza sutil, mágica flor...
Açucena, serena companheira...
Não me deixes sozinho, eu tanto peço...
És brilho de esperança verdadeira...
És o que me restou desse universo!
Resplendes toda a luz, minha existência!
Açucena, não vás... Peço clemência!
49
Minh’alma sonhadora quer um porto
Onde possa parar e descansar,
Depois deste futuro quase morto,
Depois de tanto tempo flutuar...
Quero o teu recanto e teu remanso,
Quero o teu carinho e teu afeto...
Distante da esperança que eu alcanço,
Vivendo nesse jogo predileto...
Amar passou a ser um desvario,
Um sonho sem igual, forte e risonho.
Descendo meu amor trafego um rio
Que perde-se em cascatas mais medonho...
Sou teu amante triste e vaporoso,
Porém do nosso amor, mais orgulhoso...
8650
Mineiro sentimento diz deste aço
Nos olhos e nas pedras do caminho.
Retratos na parede, velho traço
De quem entre as montanhas me avizinho.
Olhando para trás, eu mal disfarço
E passo tão somente, vento e vinho.
Silente caminheiro, ganho espaço,
Nas rimas de mim mesmo, vou sozinho.
Se o mundo fosse apenas adereço,
Se o sonho diz das pedras seculares,
Às minas do passado eu me endereço
E cato os diamantes desta terra.
À noite em serenatas, ruas, bares
Imagem refletida se descerra...
Marcos Loures
51
Mineiro se esgueirando pela porta
Fechada por montanhas e mentiras.
O coração poeta exposto em tiras,
A natureza aos poucos bem mais morta.
Não sei se ainda tenho ou se comporta
Os arcos com os quais teimas e atiras
Sem academicismo cismo em miras
No sismo que destrói; mas não aborta.
Estrelas do cruzeiro americano
O galo canta às quatro da matina;
Duchamps quis o bidê, vendo a latrina,
Depois de tudo entramos pelo cano.
Quintana no quintal rio-grandense;
Das Minas quero a mina ipanemense...
52
Mineiro não despreza um desafio,
Não foge desta raia, segue em frente,
Não temo nem sequer um ser vivente
E teimo em discorrer horas a fio.
Se assim bem mais feliz eu fantasio
Eu fujo do meu mundo num repente,
Dizendo o que minha alma crê ou sente
Não quero mais inverno, busco o estio.
E sei que talvez seja a solução
Viver sem dar qualquer satisfação
A quem não me suporta nem me quer.
Eu bebo esta alegria gota a gota
Até que esta alma fique quase rota
Nos braços delicados da mulher...
53
Mineiro coração não perde o trem,
Que quando descarrila é fim de estrada.
Não deixo como herança quase nada,
Tampouco quero o gozo de outro alguém,
E enquanto a morte torpe inda não vem,
Eu bebo sem juízo a madrugada,
Usando da palavra como enxada,
Cevando mesmo estando sempre aquém.
Queria pelo menos ser ouvido,
Mas quando condenado ao vão olvido
Polvilho meus luares com poemas.
Ninguém sabe decerto o que virá,
Mas deixo rabiscado desde já
Rompendo com o tempo tais algemas...
54
Mineiro com mineira faz bom trato,
Silenciosamente vou em frente
Bebendo com carinho do regato
Felicidade imensa se pressente.
No coração, amor, querida é mato
O que me faz tristonho e tão contente
Nos olhos de quem amo eu me retrato
Sem medo deste brilho tão luzente.
Triangulo Mineiro, Muriaé
Distância, na verdade não importa
Amar é ser liberto e ter com fé
A sorte de poder estar liberto,
Meu sonho nos teus sonhos abre a porta
E faz de qualquer longe, ficar perto...
Marcos Loures
55
Mineiras esperanças bem que quis
Na espera sem ter tréguas nem cansaço.
O gesto da morena mais feliz
No gosto que se acena no seu braço.
Querendo ser da vida um aprendiz
Uma beleza rara pega a laço.
Espera tão feliz, mata mineira,
Valendo a pena ser tão insistente.
Descendo pelo Vale em cachoeira
No Paraíso o verso mais contente.
Lerdeza de sonhar a vida inteira,
O mundo fica belo, de repente....
Espera Feliz, nunca mais só,
Morena que sonhei, Caparaó...
56
Mineira por mineiros desejada;
Rainha dos meus sonhos, deusa plena.
A vida sem teus braços vira o nada,
A sorte no teu canto já se acena.
Recebo o teu carinho, doce amada,
E vejo em minha vida a bela cena
Mostrando uma rotina mais amena
Refeita com a luz de uma alvorada...
Eu quero estar contigo, e sempre mais.
Embora uma outra gente com ciúme
Também te quer, amada companheira.
Subimos as montanhas das Gerais,
Chegando em nosso amor, bem cedo ao cume
Nos braços da morena, uma mineira...
Marcos Loures
57
Milhões de paraísos eu cometo
Usufruindo desse amor sincero
Encontrei o que desejo e quero
No teu olhar em perfeição, dileto
O meu caminho se tornando reto
Sem estas curvas não será mais fero,
Apenas luz ao te encontrar, espero
Contigo amor eu conheci o afeto.
Agora os dias não serão bravios
A calmaria me permite assim
Chegar ao cais que desejei enfim
Quem no passado recebera os frios
Ventos; sabe que em mares tão revoltos,
Sargaços e bagaços: ossos soltos.
Marcos Loures
58
Milagres a granel, vendas à vista.
Melhor não resistires, pobre presa.
Nas mãos de quem te explora, uma defesa?
No olhar de teu Pastor, venal artista.
Ainda se quiseres, tem cambista,
O preço deste ingresso? Uma surpresa!
Pululam vários Judas nesta mesa,
Do amor que ELE pregou, nenhuma pista.
Se queres, podes ter um crediário,
Cordeiro transformado em um otário,
Entrada para o Céu sem preços fixos.
Variando conforme cada bolso,
Depois Jesus garante o teu reembolso,
Nem que seja em “dourados” crucifixos.
Marcos Loures
59
Milagre em primavera nosso caso,
Depois de tantas noites sem ter flores.
Quando já pensava em meu ocaso,
Surgindo, nos teus braços, os amores...
Nas flores estampadas na camisa,
A mansa solução, felicidade.
O vento devagar, a mansa brisa;
Trazendo a maciez, fragilidade...
Depois que se pensara nada mais...
Depois da prometida mansidão,
Descubro quanto amar eu sou capaz,
Nas ondas desta temporã paixão...
Que invade e que derruba, nada resta...
Amor que nos carrega; imensa festa!
60
Mil sonhos que me levam ao teu lado
E moldam um porvir bem mais risonho.
Vivendo em harmonia cada sonho
Eu sinto-me por ti apaixonado.
Ouvindo o coração em seu recado
Um novo amanhecer eu te proponho,
Juntinho, adormecida do meu lado,
Meu barco no teu mar, amada, eu ponho.
E vejo num sorriso, a calmaria
De um rosto tão bonito em plena paz.
Tua beleza, amada, sempre traz
O gosto delicado da magia
Que invade, de mansinho, a poesia
Em cada novo verso que se faz...
Marcos Loures
61
Mil laços de ternura reproduz
Farturas encontradas no canteiro
Aonde nosso amor negando a cruz
Derrama em maravilhas seu tinteiro.
Eu tenho aqui comigo esta alegria
Que a cada novo dia se renova.
Deitando a fantasia em poesia
A lua se refaz, pra sempre nova.
Na trama feita em rede, nas esteiras
Rolando a tarde inteira, espero a noite.
Palavras muitas vezes corriqueiras
Às vezes se transformam num açoite
Porém quando em verdades, num torpor,
O bom da vida mostra o seu valor.
Marcos Loures
62
Mil fronteiras separam nossos sonhos,
Mas saibas que também sonho contigo.
Tu fazes os meus dias mais risonhos,
Meu verso nos teus braços quer abrigo...
Os dias se passaram tão tristonhos
Vieste iluminar e assim prossigo
Matando tantos medos mais medonhos,
Que falem, que perturbem, já não ligo...
Eu quero a tua boca e teu carinho,
Deitando do teu lado a fantasia.
Um sonho que se sonha se sozinho,
Apenas morre sonho. Outra verdade:
Se quando em outro sonho se extasia,
Quem sabe; de repente, é realidade?
63
Mil filhos! Parabéns querida amiga,
Estrelas que espalhaste no recanto,
Trazendo um multicor e raro encanto
No qual a poesia já se abriga.
Que a luz inebriante assim prossiga
Cobrindo todos nós com este manto
Que em pobres, simples versos, ora canto,
Porém é tão sincera esta cantiga
Que ousando; nestes versos dedicar
A quem se fez tão bela em luz solar,
Eu venho, neste instante em alegria
Dizer humildemente, num soneto
Que audaciosamente; ora cometo,
Fartando-me de néctar e ambrosia...
64
Mil fases
Poemas
Se fazes
Não temas
Que as gemas
São bases
Dilemas?
Mordazes.
Fazer
Do verso
Diverso
Prazer.
Quem sabe...
NÃO CABE...
65
Mil beijos prometidos e já dados,
Mil dados onde jogas minha sorte
Amores que tivemos são fadados
Lançando flechas, dardos; bem mais forte.
Sedados pelos sonhos maviosos,
Se dados com amor e com prazer
Sentidos os cabelos mais sedosos
Somados nossos sonhos de viver.
Se somos o que somos temos sumos
Iguais em perfeição, nossos destinos,
Seguimos por iguais sendas e rumos,
Sentindo esses desejos peregrinos...
Que roçam nossas peles e nos tragam,
Para os desejos tontos que se afagam...
66
Miasmas do que um dia uma alma sonha
Eflúvios que, dispersos, vão ao ar.
Depois de tanto tempo, fui notar
A imagem refletida; vil, medonha.
A face carcomida que envergonha
Aquele que se fez tolo luar,
Morrendo a cada dia, devagar,
O inferno pouco a pouco, já enfronha.
Nefastos querubins, vis carpideiros,
Rondando estas desérticas searas;
Escárnio tão somente e nada além.
Afasto dos meus olhos os viveiros
Cevando frias larvas nas escaras
Que à noite em pesadelos sempre vêm...
67
Minha alma em tantos lumes se decora,
Um zíngaro procura acampamento
Vivendo a cada vez todo momento
Eu quero e necessito disto agora.
Da boca que se dá na qual se aflora
O gozo que invadindo o sentimento
Não deixa mais espaço ao pensamento
Teimosamente sorve e revigora.
Luzindo sobre nós intensidade,
A par da soberana liberdade,
Soberbas ilusões já não resistem.
Enquanto em força intensa sempre existem
Espaços para amor mais atrevido,
A cada instante o sonho é revivido...
68
Minha alma em suas pétalas perdida,
Beberrona; aguardentes não dispensa.
Vadia; nas saudades vai carpida
Comendo toda a carne da despensa.
Minha alma nos bordéis prostituída
Deseja a santa orgia em recompensa,
Entrando nestas coxas vê saída
E sangra a noite inteira, ereta e tensa.
De leites e deleites sendo feita
Minha alma vagabunda se deleita
Em lúbricos desejos em gandaias.
Nas gôndolas deixadas no passado,
Um templo divinal adivinhado
Ao suspender morena, as tuas saias...
69
Minha alma em solidão, triste chorou,
Buscando a quem amei perdidamente,
Lamento de minha alma, vem urgente
Clamar por quem depressa me deixou.
O tempo sem te ter, duro passou
Agora a noite cai suavemente,
Nos braços do quem sabe, vou contente,
Trazendo o doce gozo que sonhou
Um coração vadio e vagabundo,
Vagando em vento incerto pelo mundo
Até chegar às sendas da ilusão.
Agora em novo amor, minha alma acalma,
Sabendo desfrutar com toda calma
As novas diretrizes da paixão...
Marcos Loures
8670
Minha alma desemboca em tua foz
E resta tão distante do passado,
O tempo que já fora assim nublado,
Mudando de faceta logo após
Ter conhecido o bem de audazes nós,
Aos quais permanecendo em paz, atado,
Florindo em esperança o antigo prado,
Que um dia imaginara sempre atroz.
O fardo de sonhar inutilmente
Já não sufoca mais meu coração,
O amor que a cada dia mais se sente
Ungindo nossas vidas, tão benquisto,
De todos os meus males, solução,
Provando que em verdade ainda existo...
8671
“Minha alma de buscar-te anda perdida”,
E cada amanhecer sempre renova
Esta esperança amarga e tão querida,
Amor se colocando assim à prova.
Não posso suportar tal despedida,
A vida preparando a fria cova
Aguarda tão somente uma saída
Na lua que renasce bela e nova.
Meus olhos procurando o teu olhar
Em meio a constelares viajantes.
Estrelas que encontrei a divagar
Acendem pirilampos deslumbrantes;
Jamais me cansarei de procurar
Teus raros e mais belos diamantes.
Marcos Loures
8672
Mulheres do passado? Não as quero,
Prefiro a que me nega e me concede
Ao menos neste fato sou sincero,
Desejo não tem nada mais que mede.
Um beijo representa muito além
Dos anseios do sexo e da vontade,
Querendo ser tão teu sereno bem,
Na soma que se faz em liberdade
Multiplicando os gozos e as carícias,
Depois de repartirmos, a partilha
É feita em divisão, tantas delícias,
Dos metros vejo mais que simples milha.
E assim, somos parceiros de viagem,
Tornando mais viçosa esta paisagem...
73
Mulher, perfeita dádiva divina
A diva, a companheira, amiga, amante,
Estrela que se mostra deslumbrante
E todo este cenário já domina.
Eternamente traz uma menina
Razão desta beleza ser constante
Na frágil fortaleza, uma gigante
Meu peito enamorado segue a sina
De ser assim somente um teu cativo,
Na busca de teus lábios sonho e vivo,
Sabendo a perfeição que existe em ti.
Meu verso se mostrando mais feliz,
Engalanado, em glória vem e diz
Da deusa que em meus sonhos concebi.
Marcos Loures
74
Mulher que nos lampejos mais venais
Encerra a podridão em cada riso
Trazendo insanidade nos bornais.
Nas vergastadas vende o paraíso.
Prostíbulos desta alma feita em cais.
Dilacerando sonhos sem aviso,
Nas lúbricas carícias demonstrais
Espinhos que espalhais enquanto eu piso.
Mas amo cada beijo que, sarcástica
No rosto enternecido fingis dar.
Nesta ilusão terrível e fantástica
A face verdadeira dos desejos
Ao semear assim, venais lampejos
Percebo no agridoce o bem de amar...
8675
Mulher que me levou para o infinito...
Nos beijos e carinhos que trocamos.
Amor que nós fizemos, tão bonito...
Nas noites que sem fim, nós nos amamos...
Passeio minhas mãos e te procuro.
Meu coração sofrendo, tanto frio...
Procuro teus cabelos, tão escuros.
Mas nada encontrando, só vazio...
Mulher que me deixou aqui sedento.
Promessas tantas fez e não cumpriu.
Palavras se soltaram nesse vento
Amor que como veio, assim partiu...
Procuro por teu beijo onde estiver.
És tudo o que desejo enfim, mulher!
76
Mulher que me jogando aos mansos braços
Trazendo tantos sonhos e delícias
Depois de várias lutas e cansaços
Vem salpicando amor entre malícias.
Trazendo tanto rosas quanto espinhos
Forrando meu caminho de flor e urzes.
Decora destruindo nossos ninhos
Ao mesmo tempo beijos e cruzes.
Mulher que proclamando uma grandeza
E um desejo de guerra insaciável
Leva para os meus sonhos a beleza
E o medo de viver, inconsolável...
Mulher que emoldurando minha cama,
Entre mordidas, beijos; diz que me ama!
77
Mulher que me entolece com olhares
Sutis e penetrantes qual um raio...
Em meio a cataclismos estelares,
Deponho meus desejos. Tonto, caio...
Levando meus anseios, corcel baio,
Desesperadamente, lejos mares...
Ausculto teus cantares nos altares
Ofusca-me este lume, então desmaio...
Mulher que me entristece se não vejo!
Emblemático manto do futuro.
No canto que decifro, meu desejo.
Uma abelha rainha , sou zangão,
Esperando esta morte, com apuro,
Débora, me devora o coração!
78
“Mulher nova, bonita e carinhosa”
Que sempre desejei estar aqui,
Tramando teu sorriso, mansa rosa,
Em todos os momentos que vivi...
Eu quero teu ciúme, meu tempero,
No tempo que te espero, vou cantando,
O mundo que pretendo, tanto esmero,
Aos poucos coração se conquistando..
Eu sempre desejei amor igual
Sabendo da criança que nascia,
Vivendo meu amor, percorro astral,
Em cada noite mansa, brilha o dia...
Amada, não se esqueça do meu verso,
Em teus desejos singra esse universo
79
Mulher na plenitude que não teme
Amor santo e profano, sabe bem,
Que sabe ter nas mãos, decerto o leme
E mostra sem temores o que tem
De belo em ser amada e desejar
E que isso se completa por si só.
Quem tem medo de ter e de se dar,
Nas próprias pernas logo dá um nó.
Bendita diferença que nos faz
Ser homem e mulher, ou fêmea e macho;
Somente esta verdade é bem capaz
De incendiar o mundo em belo facho
De luz que nos dourando, santifica,
Do amor que sendo imenso, glorifica...
Marcos Loures
80
Mulher maravilhosa; uma criança
Que o tempo esculturou em obra prima.
O vento tão gostoso da lembrança
Trazendo no teu peito tanta estima.
Na mão direita a rosa da esperança
No coração, amor fazendo rima.
Amor que já domina e não se cansa
De lhe trazer calor em qualquer clima.
No riso delicado, na loucura,
Os olhos radiantes do desejo.
Uma alma tão sutil, ardente e pura.
Nos sonhos um abraço da alegria,
Na boca ansiedade, quer o beijo
Nos lábios da ansiada fantasia...
81
Mulher dos meus delírios e defeitos,
Espero teu carinho e tua glória.
Não sigo por caminhos mais perfeitos,
A dor que me consome, na memória.
O verde de teus olhos, mansos leitos,
As matas que carregam minha história.
Persigo, nas vontades, tantos pleitos.
A luta que travamos, peremptória...
Amada que não queixa nem ciúme,
Amada que feliz, permite sonho....
Não posso ter de ti qualquer queixume;
Encontro-te nos olhos desta fada
Futuro; nos teus braços, mais risonho.
És próspera mulher, meus sonhos, ADA!
82
Mulher deliciosa, mas casada
Com homem mais leal ao rei que um dia
Ao ver tanta beleza já queria,
Tomar a bela moça desnudada...
Porém maldisse a sorte, que a coitada,
Era fiel, jamais fora vadia,
O rei querendo muita putaria
Em um momento teve esta sacada.
Tirando do caminho o que atrapalha,
Faremos tudo aquilo que mandar,
Da forma que quiser e que vier,
Mandando o tal soldado pra batalha,
Entrou com lança em riste a se fartar
Na doce bocetinha da mulher.
83
Mulher amada! Vivo esta magia
Das terras amorosas num estio.
A cútis calejada aos poucos cria
Um sonho delicado e bem macio.
Meus olhos embotados de tristezas
Se tornam meigos, mansos, companheiros.
Tu vês assim tantas belezas
Nascidos nos espinhos costumeiros...
Um príncipe se erguendo em seu castelo
Surgido nos barracos e taperas.
Num trono imaginário, num rastelo,
As flores numa eterna primavera...
Mulher amada; sonha eternidade
Distante desta rude realidade....
84
Mulata que se assanha em minha cama,
Balançando os quadris, fenomenais.
Delírios entre sonhos sensuais,
Vontade de loucura o corpo clama.
Pecado é não viver. A noite inflama
E pede novamente, muito mais,
Vertendo em fantasias, doces, sais,
Roçando pele a pele, acesa chama...
No encontro de nudez, mil fogaréus,
Cometas percorrendo nossos céus
Garantem farto brilho, o tempo inteiro..
Bebendo desta fonte à me fartar,
Declinas sobre nós alvo luar
Encanto deste sonho. Brasileiro....
Marcos Loures
85
Música ao longe, canto tão suave;
Noite perpetua-se mais tranqüila,
Nem os grilos entoam nessa vila;
A música distante vem do vale;
Chega para os ouvidos, traz a chave
Que poderá afinal fazer da argila,
a vida que da vida se destila
E me fará ver luzes dessa nave
Que seguindo sem rumo, pensei morta...
A música atravessa, o tempo corta
Deixando a solidão lado de fora...
Quem me dera pudesse ter outrora
o som que dissonante agora aflora
arrombando do peito, a velha porta...
Marcos Loures
86
Musa, minha rainha e minha amada,
Permita que eu te fale uma verdade,
Por mais que a vida esteja transformada
Ainda é bom se ter boa vontade.
O amor prepara em cada barricada
Uma armadilha para a liberdade,
Não deixa-se prender em tola grade,
Bandeira libertária desfraldada.
Permite que eu te fale com franqueza,
Gostoso é variada e farta mesa,
Eu não suporto, amor tal mesquinhez.
Por isso, por favor mude o cardápio
Senão este desejo um vil larápio
Encontra outra rainha desta vez...
87
Murmuro pelas noites o teu nome,
Em busca do que foi felicidade.
A noite que te trouxe também some...
Aguarda sem sentidos, u’a saudade...
Meus versos não se calam nem pretendo,
Viver do que sonhei e que perdi.
Aos poucos, sem saber irei morrendo,
Amores que estiveram bem aqui...
Perfumes de minha alma tão cativa
São rastros que não posso mais deixar...
A mando da saudade sempre viva
A vida vai custando a se passar...
Murmuro pelas noites que te amei,
Depois de todo sonho que penei...
88 Murmurava a chorar; bela menina
A quem amor fingira ser fiel,
Roubando toda a cena em negro céu
Nublada madrugada descortina.
A dor em desamor que desatina
Amarga na verdade todo o mel,
Neste riso sardônico, cruel,
Tristeza vem surgindo, fria e fina
Lateja dentro da alma, rasga o peito,
Invade e nos destroços que deixou,
Num riso de ironia, contrafeito,
Alçando em desvario a tempestade,
Somente uma esperança assim restou:
O renascer nos laços da amizade...
89
Murchou num triste vaso sem ter flores
O velho sentimento que trouxeste.
Rasantes que em momentos vários deste
Não foram nem as sombras dos louvores
Que um dia tu pensaste e não quiseste
Somando o que dissemos sobre amores,
Matamos desde sempre por supores
Que a vida não seria tão agreste...
Mereces o que tens, néscia e vazia,
O quase não permite qualquer gozo.
Amor é tantas vezes caprichoso
Uma alma solitária fantasia
Erguendo em taças falsas de cristal,
Um brinde repetido e sempre igual...
90
Mundo cruel, fizeste-me plebeu...
Quem dera se pudesse fosses minha...
A noite esconderia o triste breu,
A vida não seria mais sozinha...
Meu coração, outrora vil, ateu,
Encontraria luzes, velas, linha.
Seguiria caminho todo meu,
Distante da gaiola em que se aninha...
Ah! Como a solidão, medonha fera,
Esfrega suas garras no meu peito.
O mundo que sonhei se degenera.
Ao menos se pudesse ser alcaide,
Decerto, assim tivesse jeito
De poder vislumbrar bela Adelaide!
91
Multicêntricas rotas, rotos rumos
Levando à mais sombria decisão.
Estrambóticas luzes, velhos prumos
Soerguem-se na noite, uma ilusão.
Unidos tais escombros, podres grumos,
Aportam o cenário outrora são,
Mastigam o que resta da emoção
E bebem meus cadáveres, seus sumos.
Esfuma-se a esperança, velha algoz,
Que há tempos maldizia a minha sorte.
Dos velhos carretéis, os mesmos nós
Impedem minha fuga, titubeio
E ouvindo a gargalhada atroz da morte,
Eu perco, em paradoxo, algum receio...
Marcos Loures
92
Mulheres, tantas tive, tão diversas...
Negras, louras, mulatas e morenas.
Todas as formas, gordas, magras, pequenas...
Muitas ganhei, perdi, simples conversas.
Brasileiras, latinas, russas, persas.
Mulheres não faltaram. Açucenas,
No meu jardim plantei, colhi apenas
As que plantei, nenhuma foi às pressas...
Desses amores falsos, nada resta,
Nem me permitirei falar de festa,
Pois sei desses amores, tudo em vão!
Mulheres, sem pensar, tantas troquei...
Eu, na verdade, tantas encontrei;
Mas não a que detém meu coração...
93
Mulheres perdidas
São tão procuradas
As horas vencidas
As noites chegadas,
Distantes, curtidas,
Novas madrugadas,
Se encontram as vidas,
Tão despedaçadas...
Não falo da sorte
Do amor que não tive,
Procurando a morte,
Contigo eu estive,
Porém bem mais forte
Esperança revive...
Marcos Loures
94
Muitas vezes andei tão sozinho
Que nunca poderia imaginar
Depois de tanta pedra no caminho
Houvesse ao fim da tarde tal luar
Que mostra em poesia de mansinho
Beleza tão sublime, que sem par
Adentra na janela, com carinho
E não me deixa em nada mais pensar...
Ciúmes? Meu amor ... Não sei do quê.
Mesmo nos meus cigarros quando fumo,
E em todos os meus sonhos, pensamento.
Tu és toda esperança em que se crê
Amor que além do amor, querida assumo,
Num êxtase sublime: o sentimento...
95
Muitas glórias a Deus por ter deixado
Neste momento imenso de beleza;
Um ser repleto, manso, iluminado,
Que não deixasse sombras de tristeza...
Agradeço-te Pai, ajoelhado.
Pelo Teu belo gesto de grandeza,
Permitindo-me, pleno de pecado,
Conhecer tua glória e realeza...
Bendito sejas, Pai, te glorifico.
Perdão pelos meu erros que cometo...
Entre todos os homens, sou mais rico,
Mais feliz... Minha vida abençoada...
Por isso, com certeza, te prometo,
Trazer felicidade a minha amada!
Marcos Loures
96
Muié se me atiçá vancê vai vê
Cum quanto pau se faiz uma canoa.
Juntim e coladim eu e vancê
A noite vai ficá, garanto boa.
Se ansim vancê promete dá prazê,
Eu deito inté na prancha de taboa.
No corpo da morena recoiê
As gota mais gostosa da garoa..
Eu quero tê vancê bem safadinha,
Debaxo das cuberta, maravía.
Dexano bem pelada a piludinha,
Encheno nossa cama di cubiça
Vem logo, meu amô, vem minha fia
Tô doido prá fazê tanta bubiça..
Marcos Loures
97
Mudaste com ternura cada imagem
Que um dia cultivei, certo ou errado.
Restituindo flores, deste ao prado
Divina compleição, quase miragem.
Por tanto amor dourando esta paisagem,
Deixando o que pensara deformado,
Não sei o que restou do meu passado,
Bebendo a fantasia em mansa aragem.
Teus olhos permitiram, bons luzeiros,
Que os raios percebidos se filtrassem
Tornando bem mais clara a caminhada.
E assim eu pude ver quão verdadeiros
Os brilhos sem as nuvens que os disfarcem
Holofotes expondo a nossa estrada...
Marcos Loures
98
Mudarás cada passo desta estrada
Em que dizes amor em profusão,
Depois de tanto tempo resta nada
Daquilo que se fora uma emoção.
Jamais te negarei, ó minha amada,
A doce namorada, meu coração.
Porém logo que chegue outra alvorada,
Por certo eu ouvirei, teu duro não.
Mas saiba que te quero mesmo assim,
Em cada novo dia, outra festança.
Morrendo o teu amor tão grande em mim,
Eu sei que sorrirás um outro dia
Verás dentro de ti, em gozo e dança,
Outro semblante pleno de alegria...
99
Mudar a trajetória de uma vida,
De uma outrora pária; vencedora,
Usando da palavra mais sofrida
Cevando a luz suprema e redentora.
Buscando, da esperança uma jazida,
Tentando a fantasia como escora,
Minha alma com destreza ora lapida
A jóia em que alegria se decora.
Pudesse ser assim; ah quem me dera,
Talvez ainda houvesse primavera
Ao coração que cisma em hibernar.
Se a chuva molha mansa o meu quintal,
O florescer dos sonhos bem ou mal
Já ultrapassa a mesa deste bar...
8700
Mudando de caminho e de calçada
Ao ter a sensação de uma mudança,
O velho assassinando esta criança
Devora o seu cadáver, resta o nada.
A boca que se mostra escancarada
Impede o revoar de uma esperança.
Pensando: “quem espera sempre alcança”
Mal vê que quem se cansa já se enfada.
O dia não retorna, com certeza,
E a vida se esvaindo em correnteza
Não deixa nem resíduos, se embaça.
Ao esperar que volte a primavera
Não vê que uma alma só, se degenera.
O tempo que se quis, agora passa.
Marcos Loures
1
Mudando, de repente o seu papel,
Estreito os nossos laços, sem temor.
As nuvens vão dançando em nosso céu,
Traçando este cenário encantador.
Metáforas entranham nossos dias,
Porteiras do meu peito estão abertas,
Além do que mais queres; tu já crias
Desenhos em palavras sábias, certas.
Cirandas espalhadas por estrelas,
Escarpas não impedem nossos passos,
O barco sem destino abrindo as velas,
Ganhando a plenitude dos espaços.
Refletem cada sonho que tivemos,
Fortalecendo assim, os nossos remos...
Marcos Loures
2
Mudando totalmente esta paisagem Eu sigo, cabisbaixo, vida afora,
Mudando totalmente esta paisagem
Eu sigo, cabisbaixo, vida afora,
O tudo que eu queria se demora,
O amor se transformou numa bobagem.
O olhar que desejei, falsa miragem,
O barco sem destino, não ancora,
A velha solidão que nos devora
Sonega desde sempre nova aragem.
Lutar inutilmente. Estou cansado,
Cenário tão agreste, desolado,
Após diversos anos em batalhas.
Sombria madrugada nos cercando,
Meus olhos no vazio estão mirando
Tristezas que ora rondam, frias gralhas.
Marcos Loures
3
Mudando todo o rumo em nossas vidas
Um velho timoneiro não descansa
Enquanto em mar imenso vê saídas,
Exibe a mais sublime confiança.
As cargas devem ser bem dividas
Trazendo a mais completa temperança,
Amor que nos transforma em novos Midas
De toda essa alegria, faz fiança.
A mansa sensação que traz poder,
A dura tempestade que nos toma,
Nos laços bem mais fortes do prazer
Amor é bem querer em rica soma,
Meu verso enamorado, assim, de ti,
Encontra o Xangrilá que em sonhos vi...
Marcos Loures
4
Mudando todo o rumo de uma vida
As tramas desdenhosas da esperança.
Já sei que quem espera nunca alcança
E a sorte há tempos fora decidida.
A sina deve ser sempre cumprida
E nela não encontro uma aliança,
Morrendo mesmo assim, quero a pujança
Deixando para trás a alma perdida.
A chuva vem caindo no telhado,
Trazendo em cada gota o meu passado,
Mostrando quanto é dura a velha trama.
Aos poucos vem chegando aos borbotões
A tempestade faz em furacões
Alagação no peito de quem ama.
Marcos Loures
5
Mudando toda a sorte em um momento
As fases deste amor bebem da lua.
Às vezes diminui, noutras aumento
Porém o sentimento continua.
Nascendo de mansinho em lua nova
Aos poucos como em mágica envolvente
Quanto mais se pensa mais se prova
Até que em outra fase está crescente.
Chegando ao apogeu nada receia
Poeira toma assento noutro instante
A lua que se fez tão plena e cheia
Depois de certo tempo na minguante.
Mas saiba que entre as fases do luar
Eu nunca deixarei de sempre amar...
Marcos Loures
6
Mudando o trivial (arroz/feijão)
Preparas um banquete insuperável.
O amor pra ser sincero e palatável
Procura noutro amor, diapasão...
Por mais que ainda teime, o coração,
É sempre; se sozinho, insuportável,
Viver sem emoção sendo execrável
Aborta sem esterco, muda e grão.
De tantas variantes, água e fogo,
Delírios que encontramos neste jogo
Preparam com carinho a sobremesa.
Talheres estendidos sobre a mesa,
Condimentos picantes e gostosos
Momentos sem igual. Maravilhosos
7
Mudando nossa história, de repente,
Um vento vem chegando de mansinho.
Necessidade mostra o quanto urgente
Cuidarmos com carinho deste ninho
Deixando como herança há tantos anos,
Ao ser que se pensara ser perfeito.
Soberba dominando os soberanos
Matando pouco a pouco e desse jeito
Apenas o vazio sobrevive
À fome insaciável desta fera
Que em nós, tenha a certeza sempre vive
Negando aos nossos filhos, primavera.
Poder ensandecido do dinheiro,
No orgulho que se mostra corriqueiro.
Marcos Loures
8
Mudando em transparência, opaco norte
Recolho as minhas baixas no caminho.
Azar que em minha vida foi consorte
Do reflorestamento ceva espinho
Grileiro da esperança, risos fáceis,
Delitos cometidos, sobretaxas,
Bailando sobre nós estrelas gráceis
Barris em ilusões, velhas cachaças
Não acho o que buscara em cada bar
Na ronda pela vida, num bordejo
Atrelo o meu luar ao teu olhar
Coleto com prazer, fiel desejo.
Amor, qual trombadinha, este pivete
Jogando em nossa vida mais confete...
9
Mudando em temporal, tranqüilidade,
Olhar que me bendiz em fogaréu.
Arcano querubim estende o céu
Tentando transmitir a sobriedade.
Porém amor insano, em liberdade
Indômito e frenético corcel
Galopa em ventania e mesmo ao léu
Espalha sobre nós felicidade...
Geleira que derrete; o amor corsário
Num vôo que se mostra temerário
Vislumbra do infinito este tesouro,
Cigano ao enfrentar mar revoltoso
Estende como rastro o pleno gozo,
Descobre no teu corpo; ancoradouro...
Marcos Loures
10
Mudando em pensamento, o meu porvir
A vida é muitas vezes caprichosa,
Não quero mais falar; quero sentir
Teu corpo em noite clara, maviosa.
No brilho de teus olhos, refletir
A lua que luzindo é fabulosa.
Somente o que me resta é te pedir
Que voltes para mim, bela e fogosa,
Senão esta saudade a maltratar,
Pode, mais depressa, me matar.
Calando em cores gris os belos sóis
Dos olhos de quem amo, a luz persigo,
Vislumbro o que sonhara, está contigo
Meus olhos de teus olhos, girassóis...
Marcos Loures
11
Mudando em calmaria, a tempestade,
Não temo mais sequer a ventania,
Vivendo o nosso amor no dia-a-dia,
Percebo junto a mim, tranqüilidade.
Caminho pelas ruas da cidade,
Encontro a solidão em agonia
Nos laços deste amor que agora invade,
A dor morre deveras tão sombria.
Somando nossos passos pela vida,
Iremos resgatar o que perdemos,
O barco recupera antigos remos,
Tomando esta tristeza de vencida,
Farturas de delícias sobre a mesa,
O amor enfrenta a dura correnteza...
Marcos Loures
12
Mudando do meu céu, todo o matiz,
Eu crio uma fantástica ilusão.
Pensando ser deveras tão feliz,
Encaro com mais força esta explosão
Não temo mais o corte e a cicatriz,
Exponho, destemido, o coração.
Amor vem dominando e já me diz
Do fogo em desvario da paixão.
Acendo o meu cigarro, tiro um trago,
Nos olhos da esperança, quando afago
Espalho os meus caminhos, vou sem medo.
O cheiro do café adentra o quarto,
Do gozo deste amor, eu não me farto,
Descubro a bela fonte e seu segredo...
Marcos Loures
13
Mudando destes ventos, direção
Um flamejante barco ronda a noite
Nos seios da mulher, a sedução
No colo deste sonho, o meu pernoite.
Do quanto a vida fora insânia e treva
O coração apenas um granito,
Amor em precisão prepara e ceva
Um rumo que se mostre mais bonito.
Na boca tão voraz da dura fera
Um grito desumano ronda a casa,
Porém amor refaz a primavera
Incendiando a vida nos abrasa.
Os desencantos rudes, mais atrozes
Calaram já faz tempo nossas vozes...
Marcos Loures
14
Mudando destes ventos, direção,
Entalhes no meu rosto, cicatrizes.
Ao menos recolhendo a solidão,
Os olhos vagam velhas meretrizes.
Durante a madrugada, a negra lua
Vencida pelas nuvens me angustia.
Cadáveres de amores pela rua
A boca escancarada, podre e fria.
Temíveis pesadelos, rota estrada,
Olhares me observando, desapegos.
A fonte feita em sonho ensangüentada
Rondando minha cama, mil morcegos...
Esquálida presença ainda dança
Trazendo em suas mãos, velha esperança...
15
Mudando a face algoz a nos tocar
Uma esperança feita em amizade
Talvez inda consiga transformar,
Trazer a quem deseja a liberdade.
Desértico país que se deixou
Levar pelos carrascos mais temidos,
O céu que em tempestades se nublou,
Mata-borrão sorvendo tais gemidos,
Estampa em ironia, ordem progresso,
Bandeira que jamais foi nossa glória,
Nas artimanhas vis deste Congresso,
A face do poder expõe a escória.
Abutres rapineiros não se cansam,
Enquanto os pés mendigos não descansam...
Marcos Loures
16
Mudando a direção de um triste fado,
Guinando num momento para frente,
Deixando todo o medo no passado,
Promessas de um futuro mais ardente.
Alçando ao infinito em firme brado,
Na força da amizade se pressente
Um mundo mais feliz e iluminado
Que traga um canto belo e tão contente
A força que se mostra, assim perene,
Permite que sejamos mais libertos
Ao enfrentarmos todos os desertos.
Contemplo uma alegria que me acene
Mostrando um novo tempo de viver
Na eternidade imensa de um prazer.
17
Movimentos dos barcos no meu porto,
Parecem com amores que perdi,
Renascendo outros tantos, vivo, morto...
A paz que bebi há muito esqueci...
Sem rumos nem correntes, esmo, torto...
Ressurgem madrugadas, já vivi,
Obsessão, meus navios. Matas, horto,
Tantas vezes pensei estar aqui,
Mas as marés não deixam, sigo a sina
Das algas, sem pousada. Da menina
Que deixei, nem ao menos um sorriso...
Movimento dos barcos, das marés...
Sofrendo por quem sou e por quem és.
Ancorar minha vida, isso preciso...
Marcos Loures
18
Movimento lascivo e tão intenso
Rebola sobre mim, quadris em fogo,
Em túrgidas manobras, fico tenso,
Assim eu participo do teu jogo
Enlaças minhas pernas desde logo
E adentro estas entranhas, recompenso.
No ardume da luxúria então me afogo
Desejos sem limites, me convenço.
Gozar amor perfeito, fendas, rocas,
No mar que vai entrando em belas tocas,
Murmúrios de prazer, roucos gemidos.
Ocupo os teus espaços, viro a mesa,
Depois de toda a festa, a sobremesa
Que roça e convulsiona os meus sentidos...
Marcos Loures
19
Movido por motivo inconfessável
Assombro tua casa, a noite inteira.
Lascivo o meu desejo interminável
Parece até vontade corriqueira
Mas mostra quanto amor é formidável,
Mulher que me domina, feiticeira...
O teu afrodisíaco perfume
Explode com loucura, nas narinas,
Atinjo dentro em ti, do jogo, o cume,
Em jatos, sem pudores me alucinas.
Depois dos nossos gozos, de costumes,
Vagueio em solidão outras esquinas.
Nos óvulos perdidos, tantos filhos
Jogados nas janelas, ruas, trilhos...
20
Motivos pra falar de amor sem fim
Não tive desde que te conheci.
Mordendo em minha boca, sendo assim,
O quanto deseja me esqueci.
Cansado de pastar, deixo o capim
Somente, meu amor, todo pra ti,
Da merda em que nasci, por onde vim,
Chegando noutra bosta, estou aqui.
Ganhar qualquer aposta com a sorte
E ser já condenado então à morte,
É tudo o que garante este namoro
Que mata enquanto lambe e não sacia,
No fundo esta mulher de tão vadia
Desrespeita a moral, cadê decoro?
21
Motivas o soneto que hoje faço.
Manso, doce, pacífico e tão cru...
Tropeço, mergulhando me embaraço.
Desejo simplesmente o corpo nu.
Amada quero a boca, forte laço.
A rosa apodrecida, um abaju
Aceso, descobrindo meu cansaço.
Novas asas partidas, seminu...
Amor traga paixões e despedidas...
Estragando as cantigas, solidão...
Nossas portas fechadas, divididas...
As noites que enluaram o sertão...
Motivas meus sonetos, fomos vidas.
Destrambelhado bate o coração!
Marcos Loures
22
Muito bom ter sabido na viagem
Dos ventos benfazejos que trouxeste
Aliviando o peso da bagagem
Tornando o meu viver menos agreste.
A grácil silhueta desta diva,
Desfila em minha casa semi-nua,
Mirando no horizonte, segue altiva,
Trazendo para a Terra a luz da Lua.
Surgiste na hora certa. Eu não duvido
Que nada valeria sem te ter.
Quem dera se eu pudesse ter sentido
Outrora o que trazes com prazer.
É tarde, minhas mãos tão calejadas
Bem na hora da colheita, espedaçadas...
Marcos Loures
23
Muitas vezes, entregue aos meus tormentos,
Adormeço nos jardins dessa casa.
Sem saber, mergulhando numa brasa.
Procuro me esquecer dos velhos ventos,
Vagas vozes volvendo, ventos lentos,
Todos os totens, tolo o tempo atrasa.
O quanto que procuro se defasa
No jasmim nos jardins dos sofrimentos...
Em mim, nada assim, símio sinto o fim;
E cravo o desagravo dentro em mim.
Nos galhos da roseira sou espinhos...
Nas dálias, peito em tralhas fiz enredo
Desses lírios, delírios, meu segredo
Hibisc