Cheira a cidade ao suor da roupa. Os vidros embaciados da lavandaria era no tempo em que os anjos deixavam as asas a secar. Esses anjos não eram homens em espírito. Não sabemos que forma tinham, passavam por nós rápidos como água a correr e nós atribuiamos uma forma que se moldasse á ideia livre das palavras. Numa ocasião passou o anjo mudo. Na lavandaria não havia vidros embaciados, só uma sensação de frio, uma manifestação de silêncio decifrada na margem do nosso espanto humano.
Cheira a cidade ao suor da roupa, houve um tempo em que a noite era uma mulher fatal, sabia versos e cheirava a tabaco.
Nesse tempo os anjos eram os nossos olhos a subir ao céu
lobo 05