RIOZINHO
Meu rio pequeno, braço líquido dos campos.
Rodeado de barrancos corroído pelos anos
Vai arrastando folhas mortas e saudades
Pôr do sol de muitas tardes, ilusões e desenganos.
Cruzando vales, chapadões e pantanais
Bebedouros de pardais, campo espelho de luar.
O seu roteiro não tem volta só tem ida
Pra findar a sua vida na amplidão azul do mar
Riozinho amigo, são iguais as nossas águas.
Também tenho um rio de mágoas a correr dentro de mim
Cruzando n'alma campos secos e desertos
Cada vez vendo mais perto o oceano do meu fim
Riozinho amigo, nasceste junto à colina.
Era um rio d'água de mina e cresceu tão lentamente
Varzeando matas, ramagens, juncos e flores.
Passarinhos multicores seguiram vossa corrente
Riozinho amigo, quantas vezes assistiu.
Acenos de quem partiu, encontro dos que chegaram.
Foi testemunha de muitas juras de amor
Quantas lágrimas de dor suas águas carregaram
Riozinho amigo, sobre a areia do remanso
Animais em seu descanso, ali vêm matar a sede.
As borboletas em suas margens se amontoam
E depois alegres voam, na amplidão dos campos verdes
A brisa encrespa o seu rosto de menino
Como o mais terno e divino beijo da mãe natureza
Lindas paisagens, madrugadas coloridas.
Encontros e despedidas seguem vossa correnteza.
Autoria - José Fortuna (1923 Itápolis/1983 São Paulo)
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