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A cigarra e a formiga

 
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A cigarra e a formiga

Tendo a cigarra em cantigas
Folgado todo o Verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha muita riqueza e brio,
Alguns grãos para manter-se
Até que voltasse o tempo estio.

«Amiga, diz a cigarra,
Prometo, à fé de animal,
Pagar-te antes de agosto
Os juros e o principal.»

A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso ajunta.
«No Verão, em que lidavas?»
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: «Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora».
«Oh! bravo!, torna a formiga:
- Cantavas? Pois dança agora!»

BOCAGE - Poeta português - 1765-1805.

(Com base na Parábola de La Fontaine)




verde

 
Autor
João Marino Delize
 
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