401
Eu bebo desta fonte noite e dia-
Insânia com carinhos misturada
Ferrolho que emoção decerto abria
Imagem que restou; imaculada.
O verso em que desenho o meu futuro
Esbarra numa métrica infeliz.
O chão vai se moldando árido e duro
Residual desejo que ontem quis
As cinzas do cigarro se espalhando
Nos céus que imaginara serem nossos.
Migalhas do que eu quero vão tomando
O quanto são profundos velhos poços
A lua que se fora enamorada
Dormita em noite vã, fria e nublada...
Marcos Loures
]
402
Eu deixarei em paz, tenha certeza
Não vejo para o caso, solução,
Quem sabe discernir o que mais preza
Prefere ao falso sonho, a solidão.
O prato que esqueceste sobre a mesa,
Expondo esta terrível refeição
Aonde devoraste com presteza
O que restou de um traste/coração.
Apague da memória, o nosso caso,
Condeno-me aos escombros e ao ocaso
E faço uma bandeira deste canto
Jogado pelos cantos, morre amor,
Que um dia imaginar ser senhor
E agora tão somente, desencanto...
03
Eu datilografei minha emoção
Deixando o que sentia no papel.
Depois de terminada este edição
Palavras que eu usei, foram ao léu.
Num barco de papel ou avião
Servindo de brinquedo- isto é cruel,
Amor perdeu o prumo e a direção,
Quem sabe na fogueira alçou o céu?
Ou mesmo se perdendo pelo ralo,
Desceu pelos esgotos da cidade,
Amor já foi embora e num estalo
Parece que deixou, talvez saudade,
Quem sabe se eu salvasse num arquivo,
Amor inda estivesse, ao menos, vivo...
04
Eu dançarei contigo a dança boa
Que deixa a gente louca de vontade
De ter neste dançar privacidade
E a noite inteira vibra e passa à toa.
Chovendo devagar traz em garoa
A festa que se diz felicidade
Vibrando de loucura na verdade
Minha alma nesta dança logo voa
E vai buscar no mar a correnteza
Um xote diferente, qual xaxado,
De noite em nossa festa uma certeza
Na dança feita em riso, sem pecado.
Contigo, toda dança é uma beleza.
Depois deixando o corpo lambuzado
Marcos Loures
05
Eu creio que fiquei, amor no lucro,
Depois de me perder no Paraíso,
O vento veio vindo e sem aviso
Indômito cavalo, meio xucro.
Dos sonhos, realidade é um sepulcro
Jazendo o meu desejo que impreciso,
Deixou em polvorosa qualquer siso,
Jogado pelo espaço, amor é fulcro.
Bifurco meu caminho e nada vejo
Senão o que sobrou do velho engodo,
Pedaço que tentou ser quase todo
Quasar que se perdeu em meu desejo.
Vestígios do que fomos, sem litígio,
No olhar a luz não vence este pterígio...
Marcos Loures
06
Eu creio neste amor que é tão imenso
Que traz revolução, muda os costumes.
Amor que na verdade é tão intenso
Regado a tantas flores e perfumes.
No teu amor, o meu já recompenso,
Deixando bem distantes meus queixumes,
Eu creio neste amor que é tão divino,
Que é feito da esperança e da alegria.
Nele o meu futuro descortino,
Abrindo uma janela à fantasia.
Meu sonho que carrego qual menino
Num mundo que é mais pleno em harmonia...
Procuro finalmente a liberdade
No amor que se supera na amizade...
07
Eu concordo: estou velho e até banguela,
A gente deve ser mais moderninho,
Falar do sentimento bem baixinho,
Fingir que o barco segue sem ter vela.
Na cama de um motel, amor congela,
No coxão da morena, um bom caminho,
Que danem-se palavras de carinho,
Trepou, gozou, calou. Senão já mela.
Chamar a periguete de querida,
É coisa de babaca ou de imbecil.
Potranca, com certeza uma saída,
“Vem” logo, o garanhão te espera aqui.
Prefiro algum cortejo mais sutil,
Romântico sem flores, me perdi...
08
]
Eu com certeza; amada, faço jus
Dos teus carinhos, gozos e promessas,
E sei que muitas vezes já tropeças
Deixando velhos sonhos, todos nus.
Amor que na verdade nos induz
Às vezes nos pregando muitas peças
Enquanto a caminhada, recomeças
Estende em cada trilha treva e luz.
Na soma do que somos e queremos,
Recolho os mais sublimes dividendos
Além de perceber os meus remendos
Em fartas emoções sobrevivemos
Rompendo tal corrente atada aos pés,
Remando contra a fúria das marés
Marcos Loures
09
Eu chego bem depressa quando chamas
Voando sem parar, mil oceanos,
Deixando para trás os desenganos
Enredo meu destino em tuas tramas.
Fogueira que se mostra em vivas chamas
Refaz a minha vida em novos planos
Momentos que sabemos, soberanos,
Em versos mais bonitos, logo clamas
E vou sempre correndo, apaixonado,
Querendo estar contigo do meu lado
Deixando as cicatrizes para trás.
Amor que faz amor e a sorte traz,
E cada vez que escuto a tua voz
Meu mundo já te alcança, tão veloz...
Marcos Loures
6410
Eu carreguei as brumas das saudades
Por toda a imensidão da minha vida.
Um resto de canção, poucas verdades,
Sem ter parada, caço a despedida.
Tua presença espanta essas neblinas
Causando o sol inteiro do meu jeito.
As gramas se refazem nas esquinas
Do tempo que se dá por satisfeito.
Não faço mais perguntas, sigo sendo,
O quanto nunca fui nem bem queria.
Deixei o purgatório mal me rendo
Desconheço-me ao ver a luz do dia.
Refletida nos olhos cor de mel,
Abertos dois luzeiros para o Céu...
11
Eu carrego comigo uma certeza amarga:
Por vezes esquecida em momentos de amor!
A mão mais carinhosa, aberta num louvor,
Nossos caminhos vis, por vezes ela alarga.
No momento seguinte uma voz já se embarga
Imersa totalmente em pálido torpor,
Quem fora mais risonho afoga-se na dor...
Neste peito sofrido a marca de uma adaga
Que penetrantemente, esmaga o coração.
E nos traz, quase sempre, a triste solidão!
Quem fora feito amor, esvai-se no tormento...
Nos gumes desta faca, a cicatriz medonha.
Em lágrimas termina a promessa risonha...
A dor sempre acompanha um grande sentimento!
Marcos Loures
12
Eu canto uma esperança de te ver,
Refém deste desejo, vou ao léu
E vejo em cada estrela em belo céu,
A luz que me dirá aonde ter
Delícia feita em cana, em doce e mel,
Gostoso de provar e de reter
Nos lábios e depois ao te sorver;
Voar imaginário, ser corcel...
Vivendo esta ilusão que não termina
Nem mesmo quando o sol nos ilumina,
Eu sigo noite e dia nesta busca.
Mas sei que tu virás. Isso não tarda,
Apenas a distância nos retarda,
Porém eu te garanto, não ofusca...
6413
Eu canto simplesmente por prazer.
Desafinada a voz, resta a palavra.
Embora tanta coisa por dizer,
Um lavrador escolhe sua lavra.
Poderia dizer da dor terrível,
Da solidão, do medo e da saudade.
Do mundo que derrama mal incrível
De todas as agruras, na verdade...
Poderia falar deste vazio
Que toma todo peito vem em quando.
Da seca, da miséria ou mesmo o frio,
Que queima; que tortura e vai matando.
Em meio a tanto mal e tanta dor,
Recheio esses meus versos com amor
14
Eu canto sem querer saber se agrado,
Apenas por prazer e nada mais.
Os versos mesmo quando são banais
Traduzem de minha alma, o seu recado.
O quanto neste mundo malfadado
Eu bebo sem temer estes boçais
Tampouco estes pernósticos chacais,
Que vivem devorando o meu gramado.
Não uso mais arreios, nem chibatas,
Com toda imprecisão nas porcas patas
Somente vão fazendo o meu sucesso.
Aos críticos eu dou esta banana,
Palavra de ciúme não empana
O brilho que imodesto, aqui confesso...
6415
Eu canto o nosso amor por sob as fráguas
Da lua que se encanta e se abandona;
Ouvindo, ao fundo, o ritmo destas águas
Que correm devagar, amor à tona.
Embora estejas perto, não me escutas
Ou finges que não ouves meu cantar,
As chances deste amor são diminutas
Mas tenho um aliado: este luar;
Que entrando no teu quarto já te banha
E beija-te nas coxas, boca e seios,
Vontade de te ter já é tamanha
Que perco meu juízo e meus receios,
Mergulho no luar, invado o quarto,
Depois deito ao teu lado... Morto... Farto...
16
Eu quero essa ventura de viver
Trazendo uma esperança que se espalha
Por versos vaporosos vou saber
De toda a poesia que me valha.
Eu quero uma ilusão que irei bebendo
Tragando uma volúpia adormecida
Meu corpo no teu corpo se escondendo,
Na vida que progride noutra vida.
Eu sinto teu suspiro extasiado,
Na morenice bela e tão brejeira.
Pois saiba que por ti, vou encantado,
O sonho que pensei a vida inteira.
Eu amo teu amor em meu amor,
Serei o teu destino, p’onde for!
17
Eu quero essa penugem, passarinho,
Saindo da garganta no meu canto,
Vivendo neste peito, faz seu ninho,
Trazendo para os sonhos, seu encanto...
Quero essa sensação de liberdade
Que veio nestes ventos, devagar...
Eu quero o gosto amargo da saudade,
Que invade e não se cansa de adoçar...
Eu quero essa menina, minha amada;
Nas danças, nas promessas e nos gestos.
Fazendo minha vida iluminada,
Brilhando nos meus sonhos tão modestos...
Eu quero o teu amor, tanta ventura,
Nos teus braços querida, u’a ternura...
18
Eu quero essa morena, alumbramento.
Divina, escultural, tua presença.
Loucuras sempre fazem do momento,
A vida sem demora, recompensa!
Na morna tarde sempre te desejo
Amorno o meu sorriso te esperando.
Agora que prossegue o nosso beijo,
Em tantas alegrias mergulhando...
Sementes que se espalham vão brotar
Das flores granarão outras sementes.
A vida noutra vida começar,
Assim como fizemos tão contentes...
Não meço mais palavras pra dizer
Que alumbro minha vida em teu prazer!
19
Eu quero enveredar por tuas sendas,
Ir explorando toda esta floresta
Tirando toda roupa, rasgo as vendas,
Tua nudez completa é o que me resta
Só peço que teu fogo em mim acendas,
Nesta ânsia desejosa que se empresta
Ao nosso grande amor, em tantas lendas
No fim sinto o torpor de dança e festa.
E macular teu corpo em cicatriz
Das marcas deleitosas da luxúria,
Que faz de cada tempo mais feliz
Numa velocidade louca, alucinante,
Tornando toda insânia em mansa fúria
Numa sensualidade estonteante...
20
Eu quero engravidar-te de poesia
Em noites sedutoras e fogosas,
Abrindo o belo cofre da alegria
Aonde tuas fontes mais gostosas
Encharcam de umidade e fantasia
No instante em que percebo que tu gozas.
Enlace de desejo em sintonia
Nas curvas e nas frases caprichosas...
Contigo numa uníssona explosão
Sentir o derramar de doce lava,
Momentos de total inspiração
Sorvidos gota a gota, intermináveis...
Na festa em que faminto, te encontrava,
Prazeres sem ter fim, inumeráveis...
Marcos Loures
21
Eu quero empapuçar-me deste amor
E todo lambuzado te beber
No gole generoso em tal ardor
Que morra fielmente ao teu prazer.
Na pele tatuada, ao teu dispor,
Aprofundar vontade, gozo e ser.
Recebo deste amor proposta e senha
Nos cofres esquecidos no porão
Que a noite em teu perfume sempre tenha
O cheiro do armistício e da paixão.
Ardendo brasa e chama, fogo e lenha
Na cama que é disfarce da emoção.
Eu quero no teu mel me embriagar,
Antes que uma ressaca vá chegar...
22
Eu quero em teu desejo mergulhar
Sorvendo tua boca junto à minha.
O vento que te trouxe vai mostrar
A fome que me cerca e se avizinha...
Aos poucos, sentimento desnudar
E ter toda a certeza que se tinha
Da vontade enorme de te amar,
Sem medos nem segredos... À noitinha...
Beber de tua boca inebriante
Rasgar as nossas vestes ser teu homem.
E te trazer prazer forte e vibrante.
A resposta eu bem sei que continua
Na fome com que os corpos se consomem
Na sede de te ter, deitada e nua...
23
Eu quero em teu amor, qual doce brinco,
O gosto carinhoso de teu toque.
Amor por quem lutei com tanto afinco,
Perdendo todo o rumo neste enfoque.
Não deixe esmaecer o sentimento,
Por mais voraz, intenso, não sossega.
O fogo que nos queima, mesmo lento,
Incêndio em minha alma, nunca nega.
Eu quero seu perfume e seu matiz,
Eu quero desse amor sua um só concerto.
Nos versos que te canto, ser feliz,
Saber que quem desejo, está por perto.
Não quero a desventura de saber,
Que em meio a tanto amor, vou me perder
24
Eu quero em teu amor a sensação
Ditosa de ser mar e de ser rumo.
Navego tanto em tua direção,
Que várias vezes, sinto, perco o prumo.
Se vamos prosseguir nessa viagem,
Buscando, num futuro, ser feliz;
Saibamos enfrentar uma estiagem,
Assim como a tristeza, por um triz.
Atormentados, somos, pelo medo,
Que torpe, nos inflama e traz lembranças…
Se vamos nos lançar por nosso enredo,
Reavivamos sempre as esperanças...
As mágoas que carregas e carrego,
Diários do passado, que te entrego...
25
Eu quero em teu amor a eternidade
Sutil em cada verso e cada beijo,
Trazendo para nós, felicidade
Vivemos sob essa égide: desejo.
Amar e ser feliz, isso eu prevejo.
Calar dentro de ti cada vontade.
Futuro mavioso; assim tracejo,
Pois saiba que eu te quero de verdade!
Tu és força bendita que recebo,
No rumo mais certeiro, vida plena.
Contigo a cada dia enfim concebo
Uma alvorada bela e mais serena.
Por isso o teu amor revitaliza
E traz a mansidão doce da brisa...
Marcos Loures
26
Eu quero em nosso caso, amor perfeito
Sem ter o que tirar nem mesmo pôr
Que traga todo o gozo que é direito
De quem se fez em vida um sonhador.
A mansidão distante da rotina,
O gesto benfazejo da amizade
O fogo por detrás desta cortina,
O sexo feito em plena liberdade.
O riso mais safado e mais moleque,
Um canto de alegria que não cessa
Abrindo no horizonte todo o leque
Vivendo muito além de uma promessa.
Amor sem preconceitos ou limite,
Permite que num Deus eu acredite.
27
Eu quero em nosso amor, cumplicidade;
Que traga uma alegria sem igual.
Também que se permita, na verdade
Ser algo mais que um sonho sensual...
Amor que nunca cede às desventuras
Nem mesmo quando a dor bater mais forte.
Entregue em mil carinhos e ternuras,
Maior que a solidão. Do amor, a morte...
Amor que seja imenso no prazer
Na entrega tão voraz quando alucina,
Em versos; meu amor; venho dizer
Que o sentimento assoma e me domina...
Contigo quero estar, cada momento,
Mesmo que venha a dor. O sofrimento...
28
Eu quero em cada verso te falar
Que estou contigo para o que vier.
Do jeito e da maneira que quiser
O coração de quem só sabe amar.
Revejo nos teus olhos um luar
Da deusa que encarnada em ti, mulher;
Que sabe conquistar, em nosso affaire
Um sonho tão gostoso de provar...
Teu passo em direção aos meus caminhos,
Em farta sedução me conquistou,
Agora assim, contigo eu sempre vou,
Na busca interminável por carinhos,
Só quero o teu querer e nada mais,
Chegar devagarzinho, mas audaz...
Marcos Loures
29
Eu quero é ser feliz e nada mais,
Poder usufruir de cada riso,
Sabendo quanto é doce ser preciso
Tocando teus desejos sensuais.
O vento da alegria em temporais,
A chuva da esperança, um Paraíso,
O quanto não maltrato ou traumatizo
Permite que te cante amor demais.
Bucólicas manhãs, noites serenas,
Só quero estar contigo, e nisso apenas
Ter todo este carinho que prometes.
Seguindo cada rastro de teu sol,
Espalhas fantasia no arrebol
Enquanto nos meus braços te arremetes...
Marcos Loures
6430
Eu quero e nunca nego
Carinho de quem amo,
Meu canto descarrego
No pranto em que te chamo.
No mar em que navego
Um sonho não difamo,
Apenas como um cego
Tateio, assim eu tramo
Um resto de esperança
Que chega devagar,
Laçando em aliança
Sem nunca mais parar,
Amor que já me alcança
É luz a me guiar...
31
Eu quero e necessito de um momento
Que seja todo nosso, com certeza
Sem nada que me impeça o sentimento
Eu deixo-me levar pela beleza
Dos olhos da mulher que sem lamento
Transporta em galhardia, com firmeza
Sabor deste delírio solto ao vento,
Seguindo em alegria, a correnteza.
Retorne para os braços de quem sabe
O quanto nosso amor é necessário.
A solidão, um barco temerário
Agora em nossa vida já não cabe,
Vem logo que te espero, por favor,
Em ti eu já traduzo todo o amor...
Marcos Loures
32
Eu quero dividir cada sorriso
Com quem eu desejei a vida inteira,
O amor que veio manso e sem aviso
Desfralda da alegria esta bandeira.
Enquanto nos teus olhos me matizo,
Sentindo esta presença lisonjeira
Deixando no passado dor, granizo,
Tua presença é santa, milagreira.
Eu trago na algibeira uma tristeza
Herança do que tive noutros dias.
Porém ao perceber quando me vias
Nos olhos estampada uma leveza.
Da carga tão pesada me desfiz
E finalmente, agora, eu sou feliz...
33
Eu quero desvendar teu poço escuro,
Roubar desta umidade; fonte e mel,
No gosto mais suave e, sei, tão puro,
Atento ao teu desejo viajo ao céu...
Por vezes, o meu passo é inseguro,
Por outras, me tonteio em carrossel;
As mãos tão delicadas que seguro,
Desnudam-me e retiram o teu véu...
E vivo agonizante nos teus braços,
Gemidos, alaridos suspirosos,
Numa paixão vadia, nossos passos,
Maravilhosamente te desnudo,
Abrimos os caminhos mais gostosos,
E mergulhamos livres... Sim... com tudo...
34
Eu quero desvendar cada segredo
que um dia eu encontrei no corpo teu.
Fazer em tua pele o meu degredo
deitando tanto amor que é teu e meu
meu mundo nos teus braços se perdeu,
e a vida percebendo desde cedo,
buscando me entranhar em nosso enredo
que em loucuras de amor se converteu..
sacio meus desejos, belas fontes,
sorvendo de teus lábios as vontades
em meio a doces méis, suor e sal.
Passeio por montanhas, vales, montes
e vejo em teu olhar felicidades,
num riso mais gostoso e sensual...
Marcos Loures
35
Eu quero desfrutar
Do amor que a vida traz
Nos braços me entregar
Saber amar em paz,
No corpo a navegar,
Amor que satisfaz
Beijando sem parar,
De tudo ser capaz.
Na chama, mil anseios,
Em fogos de artifício,
Tocando nos teus seios,
Amar é nosso ofício,
Teu corpo, teus enleios,
Por certo, amado vício...
Marcos Loures
36
Eu quero desfrutar desta loucura
Que é feita nos desejos mais insanos,
Tramando meus anseios tão profanos,
Aprofundo meu corpo na procura
Das sendas delicadas, na tortura
Distante dos meus erros, meus enganos,
Decoro o teu perfume, faço planos
E venho derramar-te esta ternura...
Renovo as sensações, lubricidade,
E invado estes portões, tanta vontade,
Batendo corações, taquicardia,
Envolto nas paixões, já bendizia
As santas tentações, que me dizia
O corpo, ebulições, felicidade...
Marcos Loures
37
Eu quero desde sempre e mesmo agora
Jogado neste palco sem platéia
O tempo sem ter vento revigora
A marca da pantera, vil atéia.
Nesta alcatéia a teia feita em ostra
Promete perolar o meu caminho.
O quanto de demonstra quando mostra
Nudez ensandecendo cama e ninho.
Glorificando o templo em que adormeço,
Mormaços são bem vindos, vidros quebram
O quanto que se fez no recomeço,
Quadris sobre lençóis belos requebram.
Em ébrias fantasias, cios crias,
Causando em reboliço, as alegrias...
Marcos Loures
38
Eu quero descobrir para onde vai
O amor quando termina, de repente.
Enquanto a poesia me distrai
Extraio do meu peito e vou descrente.
Se está em Nova Iorque ou em Xangai
No fundo o que me resta é ter somente
A cicatriz banal que ora me trai
Precisa que se trate, e isto é urgente.
Jogado nos baús de uma saudade
Eu tranco à chave e guardo os seus segredos
Mudando novamente estes enredos
Trancafiando o sonho atrás da grade
Eu vejo o renascer em outra moça,
E a chuva nunca pára. Forma poça...
Marcos Loures
39
Eu quero decifrar teu corpo inteiro,
Sem tréguas namorar, é tão gostoso.
Brincando devagar, sentir teu cheiro,
Depois usufruir, divino gozo.
Deixa-se ser amigo e companheiro,
No jogo que fazemos, prazeroso,
Delírio que nos toma, verdadeiro,
Teu jeito de amar: maravilhoso!
Querida quero ser o teu brinquedo,
Teu bicho preferido, teu enfeite,
Deitando nosso amor, sem ter mais medo,
Permitindo assim o teu deleite.
Te desvendar inteira sem segredo,
Ter peço, com que carinho, que me aceite...
40
Eu quero crer num sonho sem temores
Refeito do vazio de onde eu vim,
Bebendo em cada boca meus amores
Que guardo, bem retintos, dentro em mim.
Se enfoco sem sentido meus temores,
Talvez toda essa culpa venha enfim
Dos holofotes, fortes refletores
Que vejo do princípio até o fim.
Morrer nesta paixão que me moveu
Do futuro impossível que não veio,
De toda uma esperança que perdeu
Quem fora companheira e mais não quis.
Rever uma alegria, aberto o seio
Por onde mergulhando, fui feliz...
41
Eu quero com urgência imenso amor
Que não deixe jamais de estar presente,
Não sei inda é preciso que se invente,
E venho a cada verso te propor.
Não vou dizer que sou um corruptor,
Porém quem sabe assim, consiga a gente
Atar em nossos sonhos a corrente
Que possa nos prender com tal vigor.
A viga que sustente cada passo
Vencendo a tempestade sem cansaço
Num traço delicado e mais sutil.
Abraços e carícias, beijos tantos,
Ao entranhar desejos entre encantos
Porém ela, distante, nem me ouviu...
Marcos Loures
42
Eu quero cada vez mais forte, intenso,
Amor que se faz belo e resistente.
Fazendo nosso mundo mais contente
E o dia se acalmando, menos tenso...
Eu quero nosso amor que não termina
Jamais derrama lágrimas de dor.
Da pura fantasia, doce mina
Trazendo para a vida o resplendor
De um sol que vai nascendo bem mais forte,
Da lua que se entrega sem limites.
Eu peço que tu venhas e acredites
Na mansa sensação que nos comporte
De um mundo mais alegre e mais feliz
Vivendo da maneira que se quis..
43
Eu quero cada estrela
Que o céu puder me dar,
Vagando no luar,
Poder já recebê-la
Na cama que revela
Momentos de encontrar
Num toque me encantar
Somente por revê-la
Mulher que assim se fez
Estrela em poesia,
Por certo, amor e guia,
Tomando a sensatez
Com força e com magia,
Amor, sabedoria...
Marcos Loures
44
Eu quero cada beijo prometido,
Também cada carinho que me ofertas
Desejo que tão forte me despertas
Precisa ser depressa resolvido.
No fogo da paixão ser consumido
Deitar amor debaixo das cobertas
Nas portas da emoção que sempre abertas
Encharcam de suor cada tecido.
Nas rendas e nas sedas tão macias,
Fazer em nossa cama este banquete
De um jeito tão gostoso que vicias,
Jamais tu falarás em solidão.
Do amor que sempre quer e já repete
Aquele que se entrega à sedução...
45
Eu quero esta canção de mocidade
Que possa renascer a cada dia,
Enquanto a solidão feroz invade,
O vento do passado ressurgia
Trazendo o suave aroma, liberdade,
Que é feita com sublime maestria
Rompendo da ilusão fronteira e grade
Moldando o nosso passo com magia.
Alquímica mistura de nós dois,
É tudo o que queremos, eu sei, pois
O tempo não retorna, mas coleta
O que nós cultivamos pela estrada,
Que quando com carinhos adubada
Nas cevas mais felizes, se completa...
Marcos Loures
46
Eu quero esta cachaça que me traz
A boca mais gostosa da sacana,
Eu sinto esta loucura que se emana
Deixando a minha vida mais em paz.
Eu fico, de repente, mais audaz,
Neste produto mago de uma cana,
À noite me tomando de campana,
Tornado em nossa cama mais voraz.
Eu quero o teu prazer, e o meu também,
Depois na nossa veia, a tal glicose,
Contigo, minha amada a noite vem
E quer que em seu caminho sempre goze,
No tempo anunciado por meu bem,
Depressa antes que chegue uma cirrose...
47
Eu quero esta alegria de poder
Chamar teu nome sempre que puder,
Na fantasia enorme de saber
Que além de minha amiga é a mulher
Que sempre desejei estar aqui
Compartilhando o sonho mais risonho
Depois de tanto tempo que perdi,
Depois do vendaval forte e medonho
Da solidão dorida que enfrentei
Por vezes, esquecido em algum canto,
E, sinto que depois que te encontrei
Cessaram-se: tristeza, dor e pranto.
No labirinto extenso desta vida,
No nosso amor intenso, uma saída...
48
Eu quero esse querer que nunca cobra
Que quer só por querer o querer bem,
Que sabe que querer sempre desdobra
No amor desta querência por alguém...
Eu quero um querer que nos complete
Sem farsas sem mentiras ou promessas.
Querer que sempre venha e não delete
Assim tão mansamente, sem ter pressas...
Eu quero o paraíso do querer
Que é feito todo dia, a todo instante,
Sabendo que te quero e vou viver
Intensamente amor amado, amante...
Eu quero o teu querer sem ter horário,
Luar que não tem fase ou calendário.
49
Eu quero esse mergulho no teu mar,
Nas delicadas ondas que decoram
Trazendo essa vontade de encontrar
Nas ânsias que me marcam e devoram.
Eu quero esse teu brilho mais errante,
Constantes os desejos mais audazes.
Fazendo nosso amor mais delirante,
Sabendo a que limite são capazes
Nossos momentos livres e sedentos.
Nossas vontades tantas e possíveis.
Não vejo em nossa vida sofrimentos,
Vivemos os momentos mais incríveis...
Eu quero tantas horas radiantes,
Bebendo o nosso vinho, o dos amantes...
6450
Eu quero esse mergulho bem profundo
Nas águas deste sonho, sem temores.
Vivendo o sentimento, num segundo,
Teus olhos são dois belos refletores
Que lançam tuas luzes pelo mundo,
Só sigo estes teus rastros sedutores...
Da paz deste carinho já me inundo
Sorvendo teu amor sem ter amores...
Querida, não me deixe mais, te peço,
Tu és a glória infinda de viver.
Eu amo bem além e te confesso,
Não tenho mais vontade se fugir
Deitando do teu lado meus prazeres,
Amar-te sem limites.... Vim pedir...
51
Eu quero esse cantar em liberdade
Rompendo os meus grilhões, soltando a voz.
Sempre louvando a solidariedade
Criando uma corrente em vários nós.
Eu quero que o futuro traga à vida
Todo o valor que sei, a vida tem.
Não haja mais infância desvalida
Nem a velhice triste, sem ninguém.
Que em toda terra espalhe uma esperança
De um povo mais unido e mais feliz,
A noite tão vazia já se cansa
De ter somente o não; como raiz.
Que o AMOR seja infinito e sempre eterno
Que surja o belo estio após o inverno!
52
Eu quero a sedução destes teus olhos,
Eu quero esta beleza feita flor
Que traz tanta alegria, tantos molhos,
E faz brotar assim, meu grande amor...
Eu quero neste orvalho matinal,
Matar a minha sede e meu desejo.
Levando a fantasia no embornal.
Deitando em meu amor, um doce beijo...
Sonhando com amor, distante mundo,
Carinhos que preciso quando afagas.
Deste dilúvio, tonto, já me inundo,
Buscando teu amor, infindas plagas...
Eu quero ser acaso sem ocaso,
De tanto amor que tenho, até me caso
53
Eu quero a placidez de um claro lago,
Cercado por distante proteção,
E mesmo num inverno, o teu afago
Permite a mais completa mansidão.
No verde que circunda as calmas águas
A vida se refaz, em primavera,
Acalentando, impede que tais mágoas
Adentrem este lago, afasta a fera.
Azul de brigadeiro toma o céu,
Mudando a paisagem, tranqüiliza,
Minha alma como o lago, se matiza
Neste azulejo raro, imenso véu,
Tomando a minha vida em claridade,
Nos laços bem mais firmes da amizade...
54
Eu quero a maciez de tua pele
Colada no meu rosto, valsa e sexo.
Como uma maripose se compele
À luz num sentimento mais complexo,
Eu sinto-me atraído a cada dia
Bem mais intensamente que pensara
Que alguém, na minha vida, poderia;
Num tropismo com força assim tão rara...
Tu és a minha deusa e minha escrava
Sou teu mestre e também sou teu cativo,
Minha alma se batiza enquanto lava
Teu corpo, divindade por quem vivo...
Assim, num hedonismo encantador,
Renasço, vivo e morro em teu amor!
55
Eu quero a maciez de teu carinho
Com doce e com total suavidade,
Nas ruas e nas sendas, no caminho
Que leve desta vida uma saudade...
Sabendo que te quero por querer,
Não temo nem calor nem mesmo frio.
Em todos os passeios posso ver,
Amor que se escondendo, vai macio...
As bocas que se tocam, mansamente,
Provocam nos luares, os ciúmes...
Eu quero teu amor tão docemente,
Apenas não escutes meus queixumes...
São trevas que me impedem de saber,
Deixando a madrugada se acender...
56
Eu quero a liberdade de viver
Deitado toda noite do teu lado.
Amor que tanto tenho me faz crer
Que um dia posso ser teu namorado...
Requento teu café, preparo a mesa,
Esquento meu amor neste fogão,
Depois desta fartura, a sobremesa,
Empaturrando assim, meu coração...
Levanta minha amada, vem comigo;
Manhã ensolarada traz promessa.
Vivendo plenamente, nosso abrigo;
Quem sabe faz agora, vamos nessa...
Porém te vendo assim calma, deitada...
Eu digo: Adeus manhã ensolarada!
57
Eu quero a fantasia que prediga
O tempo de viver e de sonhar.
Quem sabe decifrar jamais se obriga
Ao vento que só pode atormentar.
Benesses da presença mais amiga
Tomando este cenário devagar,
Não quero e não suporto mais intriga,
Apenas necessito o caminhar...
Benéfica manhã que mostrará
O quanto desejando desde já
Poderia quem sabe ser suprema.
Rompendo do que fui qualquer algema
Trazendo para o peito imensa festa
Que apara com ternuras tal aresta...
Marcos Loures
58
Eu quero a bucetinha mais gostosa
Roçando em minha boca, bem safada.
Mulher em fantasia, a mais gostosa,
Deitando seu prazer, arrepiada.
A puta que é sacana e refinada,
Delírio provocante. Caprichosa,
A fonte dos desejos, desnuda
A deusa vagabunda e melindrosa.
Vencer os seus pudores, ser tão teu,
Enquanto a noite passa, no apogeu
Chegar sem ter limites nem paragem.
Dois corpos sem pecados, dois pagãos
As tocas descobertas, dedos, mãos,
Na louca e desmedida sacanagem.
59
Eu queria ser livre eternamente,
Livre do tédio dessa longa espera.
Livre para tentar saber de outra era
Livre como a criança que não mente,
Apenas sonha. Quero simples mente,
Sem as perguntas tantas, vida impera
Sobre essas vastidões, dúvida fera,
Eu quero a liberdade, simplesmente...
No marfim dessa lua que me cobre,
Não queria jamais ser o que sobre,
Nem perceber vergonha em tantos medos.
Queria conhecer os teus segredos
Penetrar mais fundo em teus enredos
Ao olhar o teu rosto amor se encobre...
60
Eu que sonhara amar em noite plena
Deveras esqueci deste meu sonho.
Por mais que a noite clara já se acena,
Eu trago na minha alma um mar medonho.
Quem teve uma esperança mais amena,
De um dia reviver canto risonho,
Nos braços da saudade, amor eu ponho,
E o vento da paixão inda envenena.
Ao entoar meu canto em verso triste,
Percebo que este amor inda resiste
Deixando o coração em desalinho...
Querida, se soubesses quanto eu quero,
Um sentimento vivo e mais sincero,
Juro: não me deixava mais sozinho...
Marcos Loures
61
Eu quando bem te vi sem direção
Andando pelas ruas sem destino,
Sentindo bater forte o coração,
O velho colibri doma o menino.
E sinto novamente esta aflição
Do amor que na verdade não domino,
Fazendo-me meu vinho, sendo o pão
Moleque sem juízo e tão ladino.
Receba cada flor que hoje te oferto,
O amor sinto rondando aqui por perto,
Deixando este deserto para trás.
Não canso de chamar pelo teu nome,
Contigo o sofrimento logo some,
E a noite se transcorre plena em paz...
62
Eu pus meu amor num barco
De papel que se levou
Na corredeira fez arco
Pouco depois naufragou...
Não me esqueço quanto dói
A saudade, minha amada.
Outro barco se constrói
Depois vem outra enxurrada...
Eu só peço a Deus do céu
Que não deixe mais sofrer
Tanto barco de papel
Tanto amor que vai morrer.
Naufragando o coração;
Qual será a solução?
63
Eu pude constatar o quanto é vário
E multifacetário o sentimento
Do coração, senil celibatário
Exposto novamente ao forte vento
Resiste qual um velho dromedário
Errôneo caminheiro, num lamento,
Tornado quase um jovem temerário
Bebendo a mocidade em vão momento.
Risível garatuja; sei que sou,
Colhendo tão somente o que restou
Escombros andarilhos vão sem rumo.
Os dedos engelhados, olhos baços,
Um bufão ressurge dos cansaços
E trôpego, procura ainda o prumo...
64
Eu preparo a canção se for bonita
Pra moça que desfila em meu carinho.
Refeito da surpresa de pepita
Chegança em minha vida de mansinho.
No fundo tanto vejo que acredita
O marco que se fez assim sozinho
Rasgando este vestido, velha chita,
A moça só desfila em puro linho.
No limo que não veio, tecla gasta,
Cheguei quase sem tempo de beber.
A mão que esbofeteia logo afasta
Mas deixa qualquer rastro de prazer.
Meu sabiá morreu em tanto agouro,
Nas penas deste amor apenas couro.
65
Eu preciso encontrar um certo alguém
Que seja simplesmente como tu.
A deusa tão perfeita deste bem,
Toda a delicadeza em corpo nu.
Alguém que seja assim, um sonho vivo,
De um dia bem melhor que irá chegar,
Há tanto sem amor, eu sobrevivo,
Que espero enfim, de novo, me entregar.
Desejo-te demais, além de tudo,
Tu és meu raro sonho, ser feliz.
Quem veio em versos tristes, vai, contudo,
Viver contigo amor que sempre quis.
Eu posso até quem sabe, amar enfim,
Mas jamais outro amor, tão belo assim...
Marcos Loures
66
Eu posso te dizer que sou feliz
Sabendo do carinho que tu tens.
Quem fora do amor, um aprendiz
Reconhece e deseja fartos bens.
Nas bênçãos mais sublimes adivinho
Um Éden tantas vezes procurado.
Bebendo da amizade o doce vinho,
Encontro o meu caminho iluminado;
Não ando mais sozinho, disso eu sei,
Toando em harmonia, um belo canto.
Fazendo da alegria a nossa lei
Percebo num momento o raro encanto
Trazido pelas mãos tão camaradas,
Em noites mais perfeitas, estreladas...
Marcos Loures
67
Eu posso finalmente ser feliz
Sabendo que tu queres meu desejo
O quanto deste amor já se prediz
Permite que se encante neste ensejo.
Do beijo, na verdade, eu quero bis
A glória deste sonho, eu sempre vejo
Rondando minha noite outrora gris
Agora iluminada com traquejo.
Um colibri que pousa numa flor,
Reflete esta vontade insofismável.
Dizendo com clareza farto amor.
Estrelas espalhando em minha vida,
Prometem um momento inenarrável
Trazendo uma alegria já perdida...
Marcos Loures
68
Eu posso enfim dizer que tenho alguém
E nada mais eu temo em minha vida,
Sabendo que encontrei o grande bem,
De tantos labirintos, a saída.
Por mais a noite escura eu sei que vem
Não vejo mais a sorte assim perdida,
A mão que acaricia sempre tem
A força de acolher a alma perdida.
Àquele que morreu por todos nós,
Senhor de cada passo, mensageiro,
De todo amor que seja companheiro
Matando com certeza a dor atroz,
Eu posso assim dizer do grande amigo,
Andando o tempo inteiro aqui, comigo.
Marcos Loures
69
Eu ponho na tigela sonho e gozo,
Misturo jurubeba com cachaça,
Mulher em qualquer canto eu sei quem caça
Porém jamais serei assim formoso,
Um moço em alvoroço é caprichoso,
A moça com vontade dá e passa
Depois não vou fazer lenda e chalaça
O dedo pede a lua, verrugoso.
Geléia de maçã com jerimum,
Não vejo na verdade bem algum
Em ter mais que a delícia do desejo
Que sendo saciada, sempre esgota,
Do doce quero até uma compota
Morena, nos quadris, farto molejo...
6470
Eu perco-me de mim no nosso amor,
Que invade e que me toma por inteiro.
Meu rumo no teu rumo. Seguidor
De cada passo teu. Vou verdadeiro
Vestido de teu corpo, tua pele,
Sabendo o quanto quero ser só teu,
Na luz que nos acende se revele
O quanto nesse amor, amor se deu.
Não sei mais do meu rumo, mas nem quero,
Apenas sinto sempre esta vontade.
De nunca mais ter canto amargo e fero,
Vivendo do teu lado, sem saudade
Do que já fui e sei que não restou,
Entregando aos teus braços o que sou.
Marcos Loures
71
Eu penso ter cumprido as penitências
Expondo esta carcaça do que fui,
Buscando tão somente tais clemências
O tempo de viver, vazio flui.
Na mística esperança abandonada,
Os dados com certeza mal lançados
Não deixam que se veja quase nada
Senão os olhos vagos, destroçados.
Colibris seguindo sem as flores,
As flores sem sequer um colibri,
Mergulho nos mosaicos multicores
Do nada que me deste, eu me perdi.
Quem dera se colhesse alguma sorte
Mudando em transparência, opaco norte...
Marcos Loures
72
Eu pensei te dizer num belo adeus,
As coisas que traguei contra a vontade,
De nada restaria tal verdade,
Se não pudesse, ao menos, ver os breus
Que me trarão certezas, meu bom Deus,
Das dores te cobrirem de saudade!
As portas que fechaste, crueldade,
Te trarão, por lembranças, sonhos meus...
Receba essa missiva como um míssil;
Não queira nem saber como é difícil,
A quem comeu, cuspir no próprio prato...
As mãos que já lambi, num cego afeto,
Mordendo vou mentindo, perco o teto.
A sede inda procura teu regato...
Marcos Loures
73
Eu pego na peteca da moleca
E taco fogo, amor, no quarteirão.
O fogo que me queima e te sapeca
Aumenta num momento a tentação.
Quem pensa que na fome a gente peca
Não sabe do poder da sedução
Que tem quem me jogou esta peteca
Sapecando menina, o coração.
Brincando toda noite – cabra cega
A mão que te apalpou foi bem certeira,
Sem medo e sem juízo, o seio pega
Depois já sai rolando nesta esteira
Vem logo, por favor vê se sossega
Que eu quero é só me arder na brincadeira...
Marcos Loures
74
Eu peço tua ajuda, minha amada,
Suavize esta mão que pesa tanto.
De várias cicatrizes, tão marcada,
Que sei, se olhares bem trará espanto.
Quem sabe em teu carinho amaciada,
Consiga te trazer algum encanto.
Não trago flores, risos...trago o nada.
Remendos de magias e quebranto.
Não fira nosso amor, pois ferirás
Não a mim, calejado pela vida.
No corte tão profundo que farás
Trarás somente o resto que perdi.
Porém na pele frágil, m’a querida
Tu ferirás somente mesmo a ti...
75
Eu peço tanto a Deus que me ilumine
E deixe que eu prossiga minha luta
Nascida desse amor que sei sublime
E nega por si só a força bruta...
Eu peço tanto a Deus que me dê paz,
Para que eu possa crer no ser humano.
Que eu seja, nessa vida, forte, audaz,
Pretendendo evitar um ledo engano...
Eu peço tanto a Deus por liberdade
Que o povo mais sofrido, possa ter,
O sonho de viver felicidade
E tenha, todo dia o que comer...
Embora tanto tempo mais ateus
Nas preces que dedico, eu peço a Deus!
76
Eu peço mais um gole e nada mais,
Não vejo outro caminho senão esse
Sem ter a fantasia que comesse
Eu lambo os teus sonetos imortais.
Macacos não me mordam; quero paz,
Escrevo as baboseiras que quiser
Se eu tenho muita queda por mulher,
Amigo: vá procurar teu rapaz...
Capaz de chover forte, até granizo,
Se eu trouxe ou se não trouxe o guarda-chuva
Escondo-me no quarto da viúva
Dinheiro do motel; economizo.
E que se dane enfim a poesia,
Safada e sem vergonha; uma vadia...
77
Eu peço encarecido à luz solar
Que não desfaça o sonho desta dança
Que sabes muito bem nos faz sonhar
Com gosto e com magia sempre alcança
Os lumes verdadeiros corre o mar
E traz neste seu canto uma esperança
Divina de poder enfim amar,
Com toda uma alegria que não cansa.
Não deixe este poeta solitário
Que vive por teu brilho em seu caminho.
Por mais que o sonho te pareça vário.
No fundo tu bem sabes quanto a quero.
Em teus raios de luz, em teu carinho,
O bem de toda a vida sempre espero...
78
Eu peço a luz do dia que te roube
E leve para mim, amor imenso.
De tudo que na vida não me coube
Vital felicidade, sempre penso.
Ao ver tua beleza, assim, infinda;
O sol em desvario quis levar.
Em raios na manhã o sol deslinda
A forma de poder se enamorar.
Não deixe que este deus, de mim te leve;
Não deixe que estas luzes te seduzam.
Amor por ser sincero nunca é breve,
Que os nossos sonhos sempre nos conduzam.
Minha amada, agasalha-me em teu seio;
Impeça que se viva em tal receio...
79
Eu passei pela vida, tão somente,
Esculpindo o que pensara liberdade.
A vida sonegando esta semente,
Cevando ervas daninhas. Fria grade.
A cada novo tempo que degrade
O que restou dos sonhos, se pressente
A faca que se afia na inverdade
No corte mais profundo que atormente.
Levado pelas águas, quis a foz,
O amor que não chegou, pobre de nós,
Calando a minha voz trouxe o vazio.
Porém um coração cego e vazio,
Ainda teima, vaga pelo mundo,
Qual pária, sem destino, vagabundo...
80
Eu ouço alguém batendo em minha porta,
Mas quem será que nessa madrugada;
Bate assim, procurando pelo nada...
Minha esperança há muito está tão morta...
Batendo, fortemente, quem se importa,
Uma vida vazia, abandonada...
Esquecida num canto, assim jogada...
Quem irá se importar? O frio corta,
E na porta sinais duma existência,
Lutando mais feroz, a persistência
Com que bate, trará um novo alento...
A quem ,abandonado, não tem paz;
Quem será? Ao abrir, sofrer não mais...
Porém, ninguém batia, só o vento...
81
Eu quero beber toda esta aguardente
Guardada no teu corpo, com furor.
A noite se passando sempre ardente
Em fogos delirantes tanto ardor.
Em toda fenda e toca um porto quente
Aonde desembarco e quero por
Profana sensação, demais urgente,
Em lânguida vontade a se compor...
Jograis desenvolvidos nos lençóis
Folguedos entre sedas e cetim,
Jornadas de querência e muito mais
Trazendo para o jogo em raros sóis
Todo o desejo vivo dentro em mim,
Total lubricidade que ofertais...
Marcos Loures
82
Eu quero amor canalha da princesa
Domínio da total inconsciência.
Comendo e me fartando nesta mesa
Mandando para a merda uma decência;
Amor que já não tendo coerência
Expõe qualquer vontade sem defesa
E crava com desejo em eloqüência
Mudando ao bel prazer velha tristeza.
Sem ter a falsidade como lema
Amor já se entregando sem problema
Faz festa e se permite mais safado.
Não quero mais censura nem juízo,
Abrindo devagar o paraíso
Na delícia sublime de um pecado.
83
Eu quero amar liberto das amarras
Sem farras sem ter tramas sem entranhas...
Amar tão livremente sem ter garras,
Apenas nossas noites pouco estranhas...
Amar com gosto leve da maçã
Com cheiro dessa terra já molhada,
Sem medo se terá um amanhã.
Apenas ser amado, minha amada...
Eu quero amor que traga a fantasia
Suave desse canto sem promessa.
No riso se estampando uma alegria
De ser assim somente sem ter pressa...
Eu quero um grande amor que me acompanhe
Que sempre esteja aqui, nem perca ou ganhe...
84
Eu quero amanhecer junto contigo,
Depois de tantos sonhos em conjunto.
Sabendo que vivemos em perigo,
Amor que desfrutamos; mesmo assunto...
É muito bom saber o teu sabor,
Nos sabres e nas tocas, a guerrilha...
Vertendo nas entranhas, tanto amor.
Fazendo em cada sonho, maravilha...
Não deixe que esta noite determine
A seca que devora e que destrói...
Permita assim que sempre se alucine
A vida que carinha e tanto dói.
O vento que bateu tão molemente,
Precisa de carinhos, novamente...
85
Eu quero além do mar de uma amizade,
Estar ao lado teu a cada dia.
Compartilhar assim felicidade
Mostrando ao mundo inteiro esta alegria
De ter a moça bela que sonhara
Há tempos do meu lado, companheira
A jóia mais gentil, perla tão rara
Trazendo uma harmonia verdadeira
Fazendo de meu canto, uma oração
À luz desta amizade dedicada,
Palavra que demonstra esta emoção
A cada novo dia demonstrada.
Amada amiga, venha neste instante
Seguir por esta estrada deslumbrante!
86
Eu quero a tua boca em meu caralho
Lambendo devagar a cabecinha,
Depois irei chupar tua xaninha
Enfiando meus dedos no teu talho.
Na cama em que te fodo e até me espalho
Te quero bem safada e gostosinha
A dona dos meus sonhos, bem putinha
Fazendo do meu corpo um agasalho.
Empinando este rabo, uma potranca
Espera com desejo o garanhão
Seguro bem mais forte com tesão
Requebras engolindo o pau, cada anca
Presa em minhas mãos, enfio fundo
Com meu leite, a xoxota, agora inundo...
Marcos Loures
87
Eu quero a sensação da liberdade
Do vôo deste canto que te fiz.
Bem sabes navegar eternidade
Por mundos que procuras, mais feliz...
Amor-hemorragia, nunca estanco;
Não deixa de sangrar por cada poro.
Em toda esta esperança me alavanca,
Num sonho em fantasia me evaporo.
E sinto teus desejos satisfeitos
Nos gozos mais profanos e benditos.
Lençóis e travesseiros vão desfeitos
Nos toques mais profundos e bonitos.
Amada, delirantes nossos vícios,
Mergulhos neste mar, nos precipícios
88
Eu não quero sentir mais solidão;
Cansado de bater na tua porta
Bem sei que raramente isso te importa
Mas, quem sabe, talvez hoje, isso não.
O meu peito em total ebulição
Ao quarto de meu bem, já me transporta,
Enquanto a fantasia vem e aporta
Encontro o que sonhei: atracação.
Realizando enfim o meu desejo,
O corpo num mergulho esquece o pejo
E vaga por teus portos e fronteiras.
Alheio aos desencantos do passado,
Futuro em claridade anunciado,
As nuvens se dispersam tão ligeiras...
89
Eu não quero mais palpite
Nem suporto algum otário
Que não sabe do limite,
Pois não ganho nem salário
Se o lacaio me permite,
Nunca tive um adversário,
Por mais que este porco grite
O meu verso é um corsário
Arrebentando o navio
Destroçando o seu paiol,
Acendendo o meu pavio
O teu rabo se incendeia
Se eu jamais fui girassol,
Não suporto mulher feia...
6490
Eu não quero estas juras que fizeste
Amor quando é sincero não quer juras,
De tanto sentimento se reveste
Não digo que por isso tu perjuras.
Apenas não precisa ajoelhar-se,
Eu sei quanto te quero e quanto queres,
Não cabe em nosso caso algum disfarce
Conheço este banquete e seus talheres...
Não faço nem promessas, sei que te amo,
E basta pra que eu seja mais feliz,
Bem sabes que teu nome sempre chamo,
Por isso, meu amor, sempre te quis...
Tu és toda a certeza de uma paz,
Te amo e simplesmente, quero mais...
91
Eu não quero esquecer o que senti.
Guardado no meu peito, um relicário,
Amor, eu sei o quanto é necessário,
Por isso é que hoje escrevo para ti.
O resto da canção, ouvido aqui
Falando ao coração tão solitário
Dizendo ser decerto temerário
Viver a relembrar o que perdi.
Mas danem-se os arautos da tristeza,
Saudade quando põe e tira a mesa
Permite pelo menos que se sinta
E ainda se perceba a antiga tinta
Que um dia matizou nosso passado,
Sabor mesmo que seja requentado...
Marcos Loures
92
Eu não quero a contemporaneidade
Das velhas novidades num museu.
Se até o modernismo já morreu,
A discussão virou banalidade.
Ninguém pode ser dono da verdade,
Eu sei que não és tu, nem tampouco eu,
Cultura desconhece o apogeu
Na escuridão de um mar: boçalidade.
A moça surfistinha faz sucesso,
A poesia viva no Congresso
Assume a presidência, está de Fogo.
Não quero discutir alho ou bugalho,
Pensar sobre o vazio dá trabalho,
Amigo, caio fora deste jogo...
93
Eu não que dinheiro que me atente
Nem mesmo uma riqueza sem proveito,
Vivendo por viver vou, de repente
Singrando cada porto no teu leito.
E espero ser decerto, sempre aceito,
Deixando o dia-a-dia mais contente,
Estrelas que vislumbro quando deito
Num brilho fascinante e tão freqüente...
Na sala de jantar, canteiro e quarto,
Até que extasiado, pleno e farto,
Adormecendo após mil devaneios
Sabendo desfrutar de cada gole,
Enquanto a poesia chega e bole,
Meus dedos vão roçando belos seios...
Marcos Loures
94
Eu não lamentarei a minha sorte,
Por ela procurei o tempo todo,
E enquanto mergulhei fundo no lodo,
Preparava seu bote a doce morte.
Fazendo poesia por esporte,
Na lua que minguou; passando o rodo,
Não posso me queixar mais deste engodo,
Pois sempre adivinhei tamanho e porte.
Coloque esta viola então no saco,
Contente-se em comer somente um naco
E deixe em paz quem sempre foi simplório.
Convite preparado, meu amigo,
Pode vir. Não existe um só perigo,
Espero te encontrar no meu velório...
95
Eu não irei jogar minha toalha,
Teimoso, não me canso de tentar,
Buscar no céu escuro, este luar,
No amor jamais um campo de batalha.
Enquanto farta luz, meu sonho espalha,
Chegando mansamente, devagar,
Encontro o que pensei poder tocar,
O que sinto não foi fogo de palha...
Bendita seja a sorte que nos guia,
Causando um maremoto em calmaria,
Fulguras sem ser fátua nem fugaz.
Acendes o pavio e me incendeias,
Prazeres que revelas são candeias
E à noite vens sedenta e tão voraz...
Marcos Loures
96
Eu não irei fazer o que tu pensas,
Tenha a certeza disso, companheira.
Não traria sequer as recompensas,
Pois não seria sempre verdadeira
Atitude que quero mais sincera.
O fato de ser teu não significa
Que possamos viver sem ter espera,
Mesmo a dor, muitas vezes, edifica...
Eu quero, o que tu fazes, meu amor.
Adoro cada gesto mais audaz,
Mergulho no teu mundo sem temor,
Encontro tanta guerra em santa paz.
Eu amo o que tu pensas, cada gesto,
Mesmo aquele que, sabes, eu contesto...
97
Eu não desejo o mal a ti, mulher;
Embora maltratasse quem te adora.
Porém, meu amor haja o que houver
Te quero, sem ter medo e sem ter hora.
Eu sei que irás sofrer; mas o que faço?
Trouxeste tantos males para mim.
Vencida pelo amor e por cansaço,
Adormeceste calma... Mas assim
Como fizeste, sinto que terás
As dores que outras vezes me causaste.
Por mais que te desejo amor e paz,
Não posso me ocultar deste desgaste.
E mesmo que eu te cubra em ouro e cobre
Eu não posso impedir que a vida cobre...
98
Eu não consigo crer na liberdade
Vendida nas Igrejas e nos bares,
Matando Jesus Cristo em seus altares
Pastores sonegando uma verdade.
Mantendo vergonhosa e dura grade,
Quilombos de esperança, novos mares,
As luzes invadindo ledos lares,
E o fim salgando o porto. Falsidade...
Servindo aos mais terríveis despropósitos,
Os bolsos com certeza são depósitos
Aonde se profana o Deus menino.
Cadáveres deixados no caminho,
A rosa sonegada em prol do espinho,
Gerando dia a dia, o desatino...
Marcos Loures
99
Eu não conhecerei mais liberdade
Na morte que não quero carregar,
Martírios vão distantes do meu mar
Se a gente renovasse a mocidade...
Mas vendo tão somente o que em verdade
Não posso e nem consigo desfrutar
Eu bebo toda noite este luar
Sabendo em cada raio, falsidade.
Quem dera a vida fosse em paz, harmônica
Porém a solidão se faz atômica
E deixa o coração em sobressalto.
Tomando a minha vida já de assalto,
Interagindo sempre com vazio
Invento um novo dia sem fastio...
Marcos Loures
6500
Eu não carrego a sombra que já fui
Nem lembro de esperanças lá deixadas.
Os olhos renasceram, vida flui
Nem deixa nos caminhos; mais pegadas.
A noite agora é quente e tão febril
Em beijos e carinhos que se trocam,
Amor que é delicado e assim sutil
Humores e desejos que se tocam.
Versejo sobre chamas que incendeio
E faço tantos versos benfazejos
A lua que reflete no teu seio
Espelha nos meus olhos, os desejos.
Sugando nas aréolas meus prazeres
Fulgores que terás quando quiseres...