Foge como o tempo, como quem do tempo foge, aquele que do tempo só medo tem!
Pois quem foge do tempo, digo eu, não tem medo de ninguém!
Foge do tempo, o dia em que nos cruzámos,
em que fomos naquele segundo tudo o que podiamos ser,
de mar a terra, tudo sem medo de nada perder,
fomos tudo e mais, fomos nada,
cruzamos não só olhares, não só sorrisos, não só as mãos,
partilhámos vidas de vidas que tivemos, antes das que temos agora.
partilhámos sítios onde estivemos sem sair do mesmo lugar,
partilhámos ínfimas noites com e sem luar.
Partilhámos olhares para alem de olhares!
Enquanto da partilha, do momento, do segundo,
fomos morrendo, morrendo de um agora que nunca foi,
de um passado que não se fez, de um futuro que não quis ser,
no segundo em que fomos tudo, em que nada fomos,
naquele momento que éramos perfeitos, que tudo era perfeito porque não existiu
que tudo foi sendo perfeito... porque era perfeito!
No segundo depois tudo ficou feio, as paredes pareciam paredes,
o chão igual a chão, eu igual a mim mesmo,
o céu igual ao céu, as rodas da carruagem iguais a rodas de carruagem,
cavalos que pareciam cavalos, pessoas que eram pessoas.
Nesse momento tudo parecia vulgar, tudo existia, tudo era tacteável, tudo se cheirava, tudo se via,
tudo era tudo.