Verifico se fechei a porta
Mesmo antes de sair
Hoje eu vou andar
Mas não sei para onde ir
A porta está fechada
E o caminho bem aberto
Hoje quero ser alguém
Sem a tua mão por perto
A distância eu não meço
É estranho de novo sair
Primeiros passos e logo tropeço
Mas hoje não vou cair
Chove miúdo mas não me apresso
Sigo em frente
Tenho de ir
O cenário é pesado
E o acto deprimente
És actor em todo o lado
És boneco feito de gente
Meu calçado está molhado
E o corpo pouco quente
Indiferente ao calor de Verão
Olhos perdidos na rua
Braços caídos no chão
Com artérias quase nuas
De sangue em ebulição
Na esquina um pedinte
Comendo o lixo que produzo
Na igreja um em vinte
Estará sóbrio assim deduzo
No meio de destroços antigos
Que já ninguém recorda
Eu encontro uma memória
Presa pela corda do tempo
Se puxo
Posso soterrar
Se sigo
Tu vais-me faltar
Mas a vida é mesmo isso
Texto em falta num poema
Traço trémulo num esquiço
Decido então o meu dilema
Hoje é pra prosseguir
Vou pela rua sem viela
Em direcção a nada conhecido
É então que vejo um rosto
Que na janela
Minha marcha vai seguindo
Nesta noite de Agosto
Eu somente lá vou indo