O poeta tem sua cadeira,
mesmo não sendo sua é sua naquele instante infinito de tempo que ele está nela sentado, não há nada que ele não ouça, nem sinta, devido ao facto dele apenas ouvir e sentir com toda sua atenção os passos ou qualquer outra coisa que ele resolva ouvir e sentir,
mesmo mentindo diz a verdade acerca da conversa banal que ouviu e que na sua visão era um dos mais importantes combates da história universal,
existe mais poesia dentro do poeta que fora, o poeta pode ser gordo, magro, delicadamente vestido ou esfarrapado,
o poeta é sempre nobre, mesmo que esteja a beber num bordel,
ele atravessa todas as camadas da sociedade,
as camadas sociais para o poeta não tem sentido,
não que ele seja comunista,
como muitos ditos poetas dizem que são,
apenas acham que é muito redutor pensar em classes sociais divididas por rendimentos,
o poeta não necessita realmente de fazer-se ouvir,
precisa da poesia,
mas não precisa que ela seja lida,
nem sequer por ele próprio,
não procura a arte, é arte,
não necessita de preciosismos, é precioso,
não precisa de palmas,
o verdadeiro poeta precisa apenas despejar suas energias numa folha de papel, como um homem qualquer precisa despejar seu esperma,
não é nem mais nem menos que ninguém,
é o que é,
e ser-se mesmo é ser-se,
não é mostrar que se é,
nem afirmar o que não é,
para descobrirem o que é.
Mais textos
Rss do autor
Estatísticas
Enviar
Imprimir
Criar um pdf
