Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 055

 
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401




Donde vem o corcel no qual flutuas?
As asas, unicórnio galopante...
Ao ver-te maviosa, as costas nuas,
O sonho se demonstra radiante...

Sublime e delicada, corres luas,
No céu és como estrela fascinante!
Nas bocas entrelaças, continuas
Cavalgando beleza alucinante...

Quem dera cavaleiro formidável,
Nas frestas destas nuvens que cavalgas,
De tudo que seria imaginável,

Meu mundo esqueceria vil temor,
Nos mares dos amores, tantas algas,
Nos céus das ilusões o nosso amor...
Marcos Loures


402

Donde vem este amor tão desvairado?
O sol vermelho queima tuas coxas.
Mergulho neste mar, extasiado,
As flores da saudade morrem roxas...

Meu doido coração bate depressa
Beijando a carne inteira deste sol.
E sinto que minha alma já se apressa,
Morena, teu amor, meu girassol...

Voluptuosamente te procuro,
Sereia que encantou meu coração.
Teu verso enamorado, sempre puro,
Invade meu viver, louca paixão...

O sol vermelho trama nesta praia
Morena meu amor... Coxas e saia...


403

Dona do claro olhar, por ti estou chorando...
Em toda vida tive o sonho, a fantasia;
De ver aqui do lado, um brilho qual o dia.
Pergunto-me em silêncio : sonharei até quando?

Depressa foste embora, a vida foi passando;
Ao mesmo tempo fui, porquanto já sabia
Que nunca mais aqui, teu brilho encontraria.
Serei feliz? Jamais! A vida se escoando...

O brilho deste olhar não sai do pensamento,
Relembro deste azul em cada vão momento.
A noite dolorida, em sonhos, me revela

O canto da esperança está pleno de enganos.
Jamais hei de encontrar, depois de tantos anos,
Beleza sem igual, olhar de Manoela!
Marcos Loures


404



Domine esta palavra meu amigo,
Receba cada verso que ora faço
Mínimas as chances que persigo,
Fazendo a poesia traço a traço

Solfeje cada nota, sem perigo
Lamento, e te replico sem cansaço,
Simulo outro verão no olhar mais baço
Doendo no meu peito em desabrigo;

Revejo cada dia que vivi,
Miríades de estrelas, luz tão vária
Fatídica verdade queima em fogo

Sol, esta estrela que una chega aqui
Lançada sobre o céu, e solitária
Sinônimo de brilho, Botafogo!
Marcos Loures



405

Dominando em prazer, meu paladar,
O gosto de teus lábios sedutores,
Invadem minha noite, num luar,
Semeia em minha cama, chama e flores.

Prometem em delícias, os albores
Que cedo, na manhã vêm entornar
Em luzes e perfumes tentadores,
Na espreita do calor de luz solar.

Teus beijos, minha amada, paraísos,
Que tanto imaginei ter noutra vida.
Meus passos que antes foram indecisos,

Agora sem temores, decididos,
Mostrando que encontrei uma saída,
Para os meus passos tortos, desvalidos...
Marcos Loures


406

Dominam, tal cenário, as solidões,
Emoldurando as telas, o vazio.
Rolando pelas trevas, amplidões
Fantasmas que imagino, cedo crio.

Arrasto pelos pés, duras correntes,
Estrangulando os sonhos que tivera,
Os gritos desumanos e dementes
Prenunciando a vinda desta fera.

Refúgios renegados já faz tempo,
Apenas o silêncio ainda eu ouço
Reflexos da vida em contratempo
Do parapeito entranho o calabouço

Bem antes que esperança me socorra,
Adentro a profundeza da masmorra...
Marcos Loures


407

Domasse o tempo. Então a eternidade
Pudesse ser além de um simples sonho.
No azul do céu imenso assim componho
Bem mais do que pudesse a liberdade.

Mantendo sob as rédeas, mocidade,
Distante do futuro tão medonho,
De todos os gradis, o mais tristonho.
Vencer tal dissabor, não há quem há de.

Voltar aos dezessete. Ser mais forte,
Beber a juventude novamente.
Decifrar os desígnios, ter na morte

Somente uma distante fantasia.
No fim que se tornasse, assim, ausente
A cíclica visão de noite e dia...


408

Domada pelo amor, divina fera
Entrega-se ao furor desta vontade
De ter a rebeldia em que se esmera
Poder já desfrutar felicidade.

Meu corpo no teu gozo se tempera
Encontra, ao mergulhar, saciedade.
Numa ânsia ilimitada, sem espera,
Adentra no teu corpo com vontade.

Eu quero que porejes fontes, mel,
Zangão, vou procurando uma rainha,
Fecundo com tesão, arranco o véu

Tendo tua nudez fenomenal,
Decoro deste mapa cada linha,
E aporto em teu prazer, sacro e carnal.

409

Dois velhos caminhando pela praça
Futuro nos trazendo um bom passado,
A vida no momento em que se abraça,
Meu braço nos teus braços, apoiado...

Amiga que me deu a vida inteira
Nos braços que me dás, tantas histórias...
De vida que mostrou-se verdadeira
Guardada num recanto, nas memórias...

Aos poucos nos unindo sempre mais,
Tornamos espelhares mas distintos,
Unido sem ser uno, isso, jamais...
Nos sangues tão diversos, todos tintos...

Dois velhos caminhando com ternura,
Depois de tanta vida, uma ventura...
Dois velhos caminhando pela praça
Futuro nos trazendo um bom passado,
A vida no momento em que se abraça,
Meu braço nos teus braços, apoiado...

Amiga que me deu a vida inteira
Nos braços que me dás, tantas histórias...
De vida que mostrou-se verdadeira
Guardada num recanto, nas memórias...

Aos poucos nos unindo sempre mais,
Tornamos espelhares mas distintos,
Unido sem ser uno, isso, jamais...
Nos sangues tão diversos, todos tintos...

Dois velhos caminhando com ternura,
Depois de tanta vida, uma ventura...


5410

Dois pássaros voando para o ninho
Depois de revoarmos emoções
Chegando em teu ouvido de mansinho
Falando do desejo e tentações

Prometo te fazer tanto carinho
Causar em cada veia ebulições
Estar sempre contigo e tão juntinho
Misturar mesmo sangue, os corações...

E em festas repetidas sem enjôo
Fazermos toda noite este revôo
Chegando ao doce altar destes prazeres.

Castelos que sonhamos: nossa cama,
Rainha tome os lábios de um vassalo,
Causando no reinado tanto abalo...
Marcos Loures



5411

Dois meia nove nove quatro cinco,
Foi este o telefone que me deste,
Ligando o tempo inteiro com afinco,
Não tendo nem resposta, isto foi teste?

Telhado em meu barraco, eu sei, de zinco,
Porém meu coração mesmo que agreste
Jamais desbotará, mantendo o vinco
Há quem isso garanta e até ateste.

Eu tento e vem de novo aquela voz,
Numa repetição tão chata atroz.
Dizer que o telefone não existe.

Meu Deus o que fazer do coração
Que teima em se perder, louca paixão,
E toma a minha mão, de novo insiste!
Marcos Loures



412

Dois filhos tão diversos; concebeu
Mater original: Abel, Caim,
Depois de ser expulsa do jardim,
Na inveja do mais velho, padeceu.

A mão de um assassino, fratricida,
Na fúria sem motivo; à traição
Tirando o bem maior de seu irmão
Caim rouba de Abel a própria vida.

E sendo, por castigo, deportado,
Saindo da presença de Jeová
Encontra em Nod aquela que será

A mãe de Henoc que ao ser assim gerado
Distante do Senhor não reconhece
A invocação de Nome feita em prece...


5413

Donzelas tomem cuidado
Com o demo disfarçado
Num poeta sem vergonha,
A figura é tão medonha

Mesmo sendo desdentado,
O bicho endemoniado
Faz do verso uma peçonha.
Pobre mocinha que sonha

Com seu príncipe e castelo,
Caindo na sua lábia
Vida segue em retrocesso,

O seu nome, eu não revelo,
E essa é decisão sábia
Pois senão tomo um processo,



5414

Donzela tão sacana no meu leito
Tirando de repente esta calcinha,
Deixando que perceba a bucetinha,
Depois de um belo monte um vale estreito.

O rabo mais gostoso e mais perfeito,
Aberta e bem raspada, esta xaninha
Tão gostosa, cheirosa e bem lisinha,
Licor que me deixando satisfeito

Produto deste orgasmo esparramando
Entre suspiros mágicos, gemidos.
Potranca que de quatro, requebrando

Engole o meu caralho em seu cuzinho,
Nos teus buracos todos, já fudidos,
Melando com a porra, de mansinho...

415

Em busca de emoções- loucos cometas,
Andei por entre braços languescentes,
Bebendo em vários gêiseres ardentes,
Camas avermelhadas, violetas.

As rosas que eu desejo não prometas;
Apenas me ofereças noites quentes,
Em fome desenhadas; indecentes,
Loucuras que eu imploro – amor, cometas.

Aromas sensuais e perturbantes,
Desnuda insensatez que sem turbantes
Se faz em turbilhão idolatrada.

Que amor não seja fogo manso e breve,
Que uma explosão divina enfim nos leve
À fonte do prazer, escancarada...

416


Em devaneios trago esta esperança
Risonha de intocável majestade…
Tramando para a vida, temperança,
Apenas me tocando, veleidade...

Um sonho que se faz pura fiança
Tal qual fosse um delírio/ realidade.
A mão que quando busca nada alcança
Identifica aqui a liberdade

Os meus olhos procuram pelo corpo
Porém em total éter se desfaz
E qual fosse um fantasma que eu encorpo

Domina minha vida totalmente,
Poder que neste mundo ninguém traz,
Existe em plenitude. É inerente...
Marcos Loures



417

Em desespero busco uma saída
Por entre sombras, gritos, tento a porta
Que sei a tanto tempo destruída
Apenas a loucura ainda aporta

Tantas mãos me agarrando, eu não consigo
Sequer já vislumbrar a liberdade.
No alpendre não pressinto algum perigo
Voar por sobre os prédios da cidade...

O sopro que me toca, glorioso
Redime dos meus erros? Mas quem sabe
Saltando no vazio encontre o gozo
Do pouco que me resta e que inda cabe...

A vida sem valor algum; decerto
Mergulho em desespero num deserto...


418

Em desencanto pleno e sem mortalhas
Vestido de ilusão por ti, querida.
As horas se jorrando; qual navalhas,
Formavam a grinalda dolorida...

Os céus resplandecendo parcas tramas
Em tantas tramas loucas me dizia
Das farpas e dar marcas das escamas
De serpentes marinhas que trazia...

Sem nexo ou talvez sem ser possível,
Amor me derrocava sem ter penas.
Sobrara tão somente a dor incrível,
Entranha em minha pele, morro, apenas...

Mas eis que superar calamidade
Somente necessita da amizade!



419

Em contradança encontro nossa dança
Que trança as pernas plenas num bailado,
Quando alças nossos sonhos mão avança
E toca sutilmente o bem guardado.

Se exprimo o meu desejo de criança
Amanso o coração que cora ao lado,
Meus víveres se fazem da lembrança
Da dança que esqueci, tempo passado.

Mas suo em cada passo com vontade
De ter sem ter disfarces diapasão
Batendo bem mais forte o coração

Que sabe seduzir felicidade.
Menina, fases, frases, fazes festa,
Amor tocando a mente, gozo atesta...
Marcos Loures


5420


Em agonia leva a vida em festa
Imaginário gozo que se dá
Aonde o sol de novo brilhará,
Depois da noite amarga e tão funesta.

Ouvindo a melodia que em seresta
Trazendo uma alegria desde lá
Porém diapasão esquece o lá
E a vida ao desafino já se empresta.

Ao mesmo tempo o beijo e o bofetão,
A chuva se aproxima e em supetão
Transforma o que era seca em alagado.


421

Elípticos caminhos
Vagando sem destino,
Andara tão sozinho,
Sem rumo em desatino.

Um sonho determino
De ter um novo ninho,
Qual fora um passarinho
Que cedo, me alucino...

Apenas amizades
Ajudam a saber
Por certo, as qualidades

Do que pretendo ter,
Nas solidariedades
Encontro tal prazer...


422

Elipse em carrossel, rondando cai,
E a máscara não tapa e nem esconde.
Enquanto a nervo aflito se contrai
Amor perdendo tempo, esquece o bonde.

Aonde fiz a casa de sapê
Tapera não espera mais resposta.
Procuro e tão somente vem cadê
No quê do quanto quero não se aposta.

Tostando nossas costas farto sol,
Soleiras invadindo num mormaço.
Nas brônzeas cercanias, no arrebol,
Rebola essa morena a cada abraço.

Compasso mais perfeito em contradança
O fogo que ela espalha já me alcança...


423


Em brônzeos nimbos, tarde vem caindo
A Natureza em plena rebeldia
Em brumas tantas vai reproduzindo
O que, faz tempo, o coração sentia.

Futuro imaginado, calmo e lindo
Morrendo sem vontades, dia a dia.
Desesperança aos poucos vem agindo
Portando em todo sonho uma agonia.

Mas quando, ao ver amiga o riso franco
Que trazes com ternura e sensatez
O céu de escuro breu torna-se branco

E faz da tempestade, leve brisa,
Num porto de bonança e placidez
Meu céu em belas cores já matiza...



424



Em brancura suave tal qual neve
Minha alma embevecida te suplica.
Num sonho delirante que a enleve
Não tem porque e nunca sacrifica.

Espera pelo altar manso que eleve
Branduras e carícias, se edifica
Trazendo a calmaria. Quem se atreve
A erguer-se contra uma alma que adocica?

Portando as esperanças de mudança
Levando por caminho deslumbrante.
Convida tão festiva à nova dança.

Nossas almas penetram-se, em conjunto,
Tatuam-se de forma inebriante.
Conversam; calmamente, o mesmo assunto!



425


Em belo altar, sonho introduz um deus
De amores e vinganças; soberano.
Teus olhos ao trocarem com os meus
Palavras percebidas, desengano.

Quem teve em seu olhar, brilhos ateus
Nos cardos/ solidão, alça seu plano,
Um sentimento vil e desumano
Deixando por legado duros breus

Ateia num momento dor imensa,
Fazendo deste sonho um pedestal
Louvando na verdade todo o mal

Legando uma tristeza em recompensa.
Porém estreita fresta, claridade,
Adentra com vigor, uma amizade...
Marcos Loures



426

Em auras claras vejo a tua imagem
Caminhas lado a lado com meus sonhos.
Por vezes quero crer numa miragem
Que torne meus caminhos mais risonhos.

Qual rio que se espalha pelas margens
Em tempestades; ventos tão medonhos
Ao ver tua presença são aragens,
Deixando para trás dias tristonhos...

Isenta da maldade e da malícia,
Nos braços da amizade, uma carícia
Permite que renasçam esperanças

Adormecendo em paz, tranquilamente,
Mudando o meu destino, de repente.
Trazendo para a vida, temperanças.
Marcos Loures


427

Em asas mais libertas e felizes,
Angélica figura, mas mecânica
Mudando o seu disfarce, diz satânica
Que apenas foram tolos, seus deslizes.

Os céus que arremessou, agora grises
Demonstram tal vontade quase onânica
Do gozo ensimesmado. Sendo orgânica
No fundo só deixou as cicatrizes.

Na senda, a maravilha em monte cônico
Deixou meu coração audaz, afônico
Sem tônico e sem técnica, sou quase.

Películas diversas que encobriam
A fonte aonde os sãos já se inebriam
Mudando feito a lua em cada fase...


428

Em argênteas doçuras, branca neve,
Quando em trevas noturnas, um oásis...
Aos poucos; com carinho leve e breve
Mudando sua face em tantas fases.

Se das névoas, coberta é fino véu...
Vagando solitária no deserto.
Reina, maravilhosa, no meu céu
Em seus braços - futuro vai incerto...

Eu amo as suas rendas, seu cetim.
Em brancas, alvas luzes, me inundando.
O bom de todo amor que existe em mim,
Nas horas mais tardias, transmudando.

Beleza que me encanta clara e nua...
Deitada em minha cama, amada lua...


429

Em Águas de Lindóia ou num boteco,
Se a roupa é sensual, é puro incêndio,
Não quero ler livreto nem compêndio,
Graças a Deus, contigo eu sempre peco...

Bendita esta explosão de farto muco
Ungida por sussurros e gemidos,
E os gestos costumeiros repetidos,
Espalham nesta cama, doce suco.

Cansaço tão gostoso de se ter...
Iluminando a noite; o teu prazer,
Certeza de que a dose se repita.

Até que a morte ou vida nos separe
Retorna o velho bonde à mesma gare
Na progressão voraz, porém finita...


5430

Egrégio sentimento, nobre amor,
Insigne soberano da emoção,
Nas vergastas inúteis da paixão
Um néscio clama em luzes, o louvor.

Escárnios que provocam dissabor
Sorrisos, ledas chuvas de verão.
Nos beijos, um absinto. Esta ilusão
Profana o que se espera redentor.

Da vala negra, estúpida esperança,
Sorvendo cada gota, pensa ter
Ao menos placidez e temperança,

Faminta, não percebe sobre a mesa,
Imagem decomposta do prazer
Tornando esta alma inútil e tão obesa...
Marcos Loures


431

Egrégias sensações, belos cenários
Em flamas e delírios decoradas
Egresso dos meus sonhos temerários
Em pênseis expressões mal decifradas.

Tetânicos desejos que sectários
Abóbadas há tempos arqueadas,
Nas pétreas ilusões, escárnios vários
Esferas entre nuvens disfarçadas...

Borrascas que, terríveis se aproximam,
Efeverscência em lúbricas promessas,
As tramas que embrenhamos são egressas

Dos ventos que torturam e se esgrimam,
Na luta interminável, mal e bem,
Estrelas, meu farnel, quer e contém...


432

Edinho, veste a calça por favor
A bunda quando exposta ao forte vento
Resfria, depois chega então a dor,
E aí compadre é puro sofrimento.

Um tal de sentir frio no calor,
Decerto te trará tanto tormento
Melhor eu te garanto é recompor
Mesmo que tenha enfim, um outro intento...

Menino, quem provoca e não agüenta
Depois vai reclamar, pedir colinho.
A coça mesmo sendo violenta

Não basta, tu não tomas mais juízo;
Procure tua turma então Edinho
Senão eu não me responsabilizo...
Marcos Loures


433


Ecoa pelos astros, mas sem pressa
A verdade inegável e irrefutável
Sobretudo, na qual já se confessa
Um gozo outrora frágil e improvável.

Eu sei que; muitas vezes, eu menti
Ao falar sobre coisas que não sei.
Se em tantos descaminhos me perdi
Da rota, eu percebi a nova lei.

Estampada, em meu rosto, esta certeza
Buscada em arredios arrebóis,
Ao ver tua presença, com surpresa,
Deitada em minha cama, meus lençóis;

Sem titubear falo em destemor.
A verdadeira força vem do amor.


434


Elevo o pensamento ao Pai supremo
Que sabe distinguir joio de trigo,
E quando, muitas vezes, eu extremo,
Socorre nestas horas de perigo.

Contigo, Meu Senhor, eu nada temo,
Reconfortante colo de um amigo,
Cadáver dos enganos; logo cremo,
Num libertário encanto que persigo.

Saber de Tuas mãos acolhedoras,
As luzes do perdão tão redentoras,
Vivendo esta alegria de ser Teu.

O Pai que entre os irmãos se fez Cordeiro
Salvando com Seu gesto, o mundo inteiro,
Criador que em amor total se deu...



435

Elevaria o tom desta conversa
Se houvesse ainda um rito a se cumprir.
Enquanto sobre o sonho já se versa
Eu mato; sorrateiro, o que é porvir.

Um gole de café; outro cigarro,
E o olhar refém das velhas tradições.
As cordas; lentamente desamarro
Relego antiguidades aos porões.

Mas tanto que inda teimo e nada vem
Sequer algum proveito; não mudei.
Mirando no horizonte, estou aquém
Daquilo que em verdade, procurei.

E sei que, mesmo sendo um antiquário
Ainda busco as chaves deste armário...


436

Elétricas faíscas que irradias
Tomando toda a cena, num segundo,
Na intensa claridade ora me inundo
E vivo as mais sublimes fantasias.

Matizes de neons, belas orgias,
Prismáticas loucuras vagam mundo
E o coração poeta e vagabundo
Decifra em plena noite, fartos dias.

Orgásticos caminhos deslindados,
Desígnios de vitórias lançam dados
Encharcam de beleza a terra e o mar.

Galácticos reféns, bêbados olhos,
As florescências tantas, vêm em molhos
Esplêndidas estrelas. Teu olhar...


437



Elementos que formam a paixão,
O fogo se mistura então com a água,
A lava delicada de um vulcão
Nos lábios de quem ama já deságua
Torrente se transporta em mansidão,
Herança do prazer vertido em mágoa.

A tua voz me chama meigamente
E disso faço o rito mais sublime,
Rondando um cata-vento em minha mente,
A louca sensação de gozo e crime.
Enquanto a maravilha se pressente
A tempestade insana nos redime.

Viver cada momento deste amor,
Mosaico de emoções a se compor..


438

Elejo-te a rainha, mas não queres,
Se nada inda puder fazer por ti,
Seria muito além destes talheres
Banquete que decerto não comi.

Não posso ser talvez teu escolhido,
Embora me julgasse meritório,
A porta que bateste, não duvido,
Impede meu acesso ao escritório.

Deixado na ante-sala, nada espero,
Contratos esquecidos na gaveta
Olhando pela fresta ainda quero,
O que escondeste após, mesma falseta.

Gananciosamente eu te pergunto,
Porque vives fugindo deste assunto...
Marcos Loures


439

Ela, a mulher que sempre desejei...
Entrego meu amor completamente.
Estrela que, nos céus, eu procurei.
Vivendo seus caminhos, minha mente...

Agrado que à natura, fez Bom Deus,
As formas mais perfeitas, formosura...
Quem dera se esses olhos fossem meus.
Teria em minha vida, uma ternura...

Ela, que ao caminhar recende rosas...
Que traz, nas suas mãos, os meus segredos.
Destila em sua boca as olorosas
Manhãs que se prometem sem ter medos...

A luz que dentro da alma se revela,
Mostrando os meus destinos, todos: Ela!


5440


Ela sempre retoca o seu batom
Não deixa nem sequer saber seu nome...
Viaja o pensamento, eleva o tom
O quadro que apresenta me consome,

São tantas as batalhas neste front
Meus olhos a procuram, e ela some
Eu sigo rastreando cada som.
Espero que me dê seu telefone

O bem que me quisesse nunca viu,
Perdi o meu caminho em bem-me-quer
Também a flor, decerto já mentiu

Pois sei que ela também se faz mulher
De coração volúvel, mesmo vil.
E sigo perguntando: ela me quer?

441

Ela esperando a noite que não vem
Do amor mais comportado em que preveja
Tranqüilidade imensa neste bem
Que louco, tresloucado tanto beija

E rouba os seus sentidos. Ser alguém
Além do que queria relampeja.
Na sorte despencada e dorme sem
Trocada por amigos e cerveja.

Deseja que outro dia seja santo,
E o sonho não se mostre pesadelo.
Refeito o rarefeito e manso encanto.

Da saia da menina curta e justa,
No gosto prazeroso de sabê-lo.
Realidade entanto, sempre assusta...


442

Ela chegava, amada e tão silente,
Deixara minha porta escancarada,
Passo a passo, senti que simplesmente
Quase em nada lembrava minha amada...

Os olhos faiscantes do passado,
Agora estavam foscos, parco brilho.
Quiçá o que mudou, atordoado,
Foi o sentido claro do meu trilho.

Talvez aquele ardor que já sentira
Dormita nalgum canto tenebroso.
Embora o fogo queime em mesma pira
Contava nesse corpo o mesmo gozo...

Mas creia, meu amor inda é mais forte,
É meu último trunfo contra a morte!


443

Eis o neto do soneto
Que vivia muito bem,
Escondido em poemeto
Mas agora quer e vem,

Nos meus versos eu cometo
Heresia com meu bem,
Nos vazio me arremeto,
Nem o nada me contém.

Um sujeito sem ter eira
Quer a beira desta cama,
A paixão quer ou não queira

Terminando sempre em drama,
Hasteando esta bandeira
Poesia já me chama...
Marcos Loures


444

E transformando nossa realidade
Em todos os espaços, santo, invade
Não deixa nem sequer algum resquício
Da velha solidão, meu precipício.

O amor que além de sonho é meu ofício,
Nos versos que se tornam quase um vício,
Sem ter melancolia que me enfade,
Tampouco o mel amargo da saudade

Conheço as efemérides, procelas,
E tinjo esmeraldinas minhas telas,
Azulejando o pátio da esperança...

E mesmo que isto seja uma ilusão,
O passo eu não refugo e da paixão
Arqueiro coração faz sua lança...



445


E toma a nossa vida num repente
A festa em amor feita, em que se esbalda
O sonho mais gentil já se desfralda
No qual farta alegria a gente sente.

Amor que em gêiser arde enquanto escalda
Num verso que nos toma plenamente,
Um doce que se faz em farta calda
Encharca nosso sonho em fogo ardente.

Irei contigo amada aonde fores,
Colhendo no caminho raras flores
Extremas emoções são prometidas

A quem em verso e riso faz seu mundo
Vislumbro a maravilha em um segundo
Mudando todo o rumo em nossas vidas...
Marcos Loures



446

E toda esta alegria que se sente
Reflete uma amargura original.
Sorriso de uma dama virginal
Esparso, mas ainda tão presente.

Devoro tua boca, qual demente
Que bebe dos teus mares todo o sal,
Escada que partida, sem degrau
Leva ao despenhadeiro. Tolamente.

Se ao menos eu tivesse um ás, um trunfo,
Sonhando com vitórias num triunfo
Que ao menos me trouxesse alguma glória.

Ceifando o que plantamos,tempestade
Domínio da ilusão, a dor invade
Mudando todo o rumo desta história...


447



É teu aniversário, disso eu sei,
E tenho muito orgulho de poder
Dizer da imensidão deste prazer
Que sempre nos teus braços desfrutei.

Amiga, eu devo muito e posso crer
Que tantas vezes quando procurei
Eu encontrei em ti o que busquei.
Só posso, nesse dia, agradecer.

Espero que inda possa estar contigo
Usufruindo sempre deste abrigo
Contando com palavras carinhosas.

Tu és uma pessoa soberana,
Além de uma figura tão humana,
Derramas quando passas, flores, rosas...
Marcos Loures


448

É teu aniversário minha amiga
E eu tento decifrar o sentimento
Que toma a nossa vida no momento
Em que esta maravilha nos abriga,

No teu abraço a sorte já prossiga
Falando da alegria e deste alento
Que trazes e que aqui, querida eu tento
Traduzir, muito embora eu não consiga.

Festeja o coração de quem conhece
A saga deste encanto feito prece,
Este soneto é pouco pra dizer

O quanto em emoção, sublime data,
Perfeita sensação, medida exata
Numa grata expressão, tanto prazer...
Marcos Loures



449

É terna a sensação de eternidade
Que trazes com teus versos e carinhos.
Estrela que o amor, manso, arrecade
Imprime farta luz nos nossos ninhos

Assim quando emoção; mais forte, brade,
Não ligue, meu amor, para os vizinhos,
Mal sabem desta fúria quando invade,
Sabendo penetrar vários caminhos.

Desejo se mistura com ternura,
Causando comoção num louco incêndio.
O fogo que devora enquanto cura

Num pêndulo de dores e prazeres,
Amor igual ao nosso? Nos compêndios
Jamais eu conheci: sopras e feres...
Marcos Loures



5450


Eclodem-se desejos e vontades
Libidinoso sonho em raro altar,
Na sebe delirante desvendar
Caminhos que eu descubro quando invades

Fronteiras? Não trarão felicidades,
No jogo do prazer, perder, ganhar,
Antônimos que fazem belo par,
Do mesmo naipe irmanam qualidades.

Espalhas teu rocio no meu rosto,
Num vício sem pudores sorvo o gosto
Da lava que se escorre nos lençóis.

E volto ao percorrer sagrados campos,
Envoltos por brilhantes pirilampos,
Espalham-se no quarto cem mil sóis...



5451


E um gozo tão divino se esparrama
Tocando tua boca mais sedenta
Paixão que se demonstra violenta
Acesa com fulgor em nossa cama.

Tua nudez faminta já reclama
Abertas tuas pernas, língua esquenta
E passa a te chupar sedosa e lenta
Até reacender a fúria, a chama...

E sinto tua boca devorando
Lambendo com vontade o duro mastro
Que invade perseguindo cada rastro

Deixado com volúpia e com tesão.
E novamente, sinto-te gozando
Molhando com teu lago, ebulição..



452

E viva a sacanagem, pois é nela
Que encontramos o tudo que buscamos,
Embora sendo escravos, somos amos,
Toda nossa loucura se revela.

Quando no teu corpo o meu se atrela,
Os céus mais variados; navegamos,
Em novas aventuras mergulhamos
Felicidade assim, então se sela.

Falar nos teus ouvidos, de mansinho,
Xingando-te em formato de carinho,
Saber que sendo teu, eu me completo.

Fazer do teu prazer o meu remanso,
E quando este infinito, enfim alcanço,
Deleito-me no prato predileto...


453

É tudo o que pretendo e que cobiço
A boca sensual desta morena
Fazer, se necessário, uma novena,
Teu corpo e teu desejo; quero e atiço.

Mergulho nas vontades e inteiriço
Fartura que esta noite clara acena,
Mereço algum favor em sorte plena?
Com sonhos e delírios, compromisso.

Sinais que talvez tenha algum sucesso
Desordenando tudo, te confesso
O quanto necessito de teus lábios.

Preparo o coração para a viagem,
Acumulando em sonhos a milhagem
Que possa permitir caminhos sábios...
Marcos Loures



454

É triste perceber quanto incomoda
A roda que se faz em alegria.
Na mão sinto a tesoura de quem poda
O sol que não sabia e não queria.

Desculpe se um perfume bom açoda
E traz para as narinas, a magia.
Poeta que se fez fora de moda
Eu canto amor, amigo todo dia.

Nos leves bruxuleios, lamparina,
Vestidos de cetim, rios e riso,
Na saia tão bonita da menina

Vislumbro a perfeição do paraíso.
Um velho coração que descortina
Amor que me tirou, decerto, o siso...
Marcos Loures



455



É transformar o uno; universal,
É não olhar por cima e nem debaixo
Saber que o bem maior, da terra o sal,
E perceber da luz, inteiro; o facho.

É ver no sofredor um seu irmão,
Não suportar calado, uma injustiça.
A todos perdoar, vivo perdão,
Distante da ganância e da cobiça.

É dar tudo de si, sem querer nada,
Estar sempre por perto e consolar.
Não permitir a vida abandonada,
Ainda mesmo assim, para se amar

Ainda falta muito o que fazer.
Precisa; dos desejos, esquecer...


456

É tanta guloseima nesta cama
Amor se bobear: indigestão
O leite condensado ela derrama,
É vinho com cereja em profusão,

Sorrisinho safado; logo chama
Morango misturado com melão,
A camisola bela de uma dama
Na transparência vira tentação.

Até chegar ao prato principal
O quarto revirado, um festival,
Devoro tudo, tudo sem parar...

Porém, empaturrando o meu desejo,
Final da bela história eu já prevejo
Desculpe, mas preciso vomitar...


457

E também a loucura e o sofrimento
Fazem parte do jogo dos sentidos,
Ao acolher os párias desvalidos
Entendo finalmente o bem do alento.

Enquanto em outros braços me apascento,
Destinos tão diversos percorridos,
Os dias já serão por Deus ungidos
Cegando este passado tão sangrento.

Montado nos cavalos da ilusão,
Corcéis que vencem léguas infinitas,
Ourives que se encanta com pepitas

Fazendo com amor lapidação,
Entrega a jóia rara e diamantina
No olhar que reluzindo nos fascina...


458

E surge, renascendo em cada verso
A vontade inerente de poder
Vivenciar um mundo tão diverso
Daquele que pensara conhecer.

Vagando em liberdade no universo
Mergulho num instante no meu ser,
E vejo num retrato mais perverso
Reflexos do que eu quis sempre esconder.

Estampo o meu sorriso, este falsário
E quando for preciso e necessário
Disfarço esta vontade de esganar

Além do que julgara, agora eu sei,
Mirando neste espelho um Dorian Gray
Disforme, não resisto ao meu olhar...
Marcos Loures


459

E sonho com delícias deste mar
Depois de estar sozinho em fria areia,
O vento vem chegando devagar,
Tramando ao fim do dia, a lua cheia.

Sabendo quanto quero o teu querer,
Sereia encantadora me domina.
Vivendo a fantasia em teu prazer,
Encontro com certeza a rara mina.

Na fonte delicada dos teus lábios,
Sacio minha sede, estou feliz.
Meu barco percebendo os astrolábios
Adentra o cais do amor, sabe o matiz.

Depois da tarde cris, vou finalmente,
Deitando esta vontade, claramente...
Marcos Loures


5460


E solto meu desejo em sentimento
Senzalas do passado? Nunca mais!
Herdeiro dos cruéis e vastos sais
A morte não me serve então de alento.

Sem paradeiro busco do tormento
Singrar os violentos temporais,
Fazendo do vazio, porto e cais.
Enquanto um outro mundo ainda invento.

Não sou este excremento que tu pintas,
Tampouco o que pensaste antigamente.
As forças das palavras tão distintas

Tomando em corredeira minha mente,
As luzes do que fomos vão extintas,
Embora o sonho tolo siga, ardente...
Marcos Loures


461

É tempo de viver e de sonhar
Um sonho mais audaz e mais moleque
A vida quando é feita pra se amar
Querida ela nos abre imenso leque.

Não digo que é preciso navegar
Antes que o mar um dia já se seque
Transformado em sertão, e neste altar,
Permita sem demora que se peque.

Galopa mais depressa o pensamento
E toma teus castelos com magia.
Amor, mesmo que faça turbulento

Um rio que vai calmo para a foz
Mercê de uma vontade ou fantasia
Alimenta, querida, a todos nós...
Marcos Loures



462

É teima e nada mais, por isso escuse,
Arestas aparadas, me liberto.
Não tendo os meus cadáveres por perto
Impeço que, do açoite, amor abuse.

Ao aguçar sentidos não mais cruze
Caminho que inda possa ser deserto,
Enquanto em outro braços eu me alerto,
Concebo algum sinal que ora me acuse.

Luzindo sobre nós a lua mansa,
Arejado solar das fantasias,
Marulho se percebe da esperança

Lampreias e moluscos estrelares,
Não nego meus temores e fobias,
Somente apago, à noite, os meus luares...
Marcos Loures



463

É tarde quando o sono me domina,
Envolto em tantos medos e lamúrias.
A sorte que não veio me extermina
O vento se transforma, vem em fúrias...

Quase não reconheço meu sorriso,
De aberto e de tão franco morre triste...
Meu passo vai mais trôpego, impreciso,
Nem Minas que eu amava, não existe...

Restando a solução: morrer de tédio,
Morrer na solidão que eu cultivei.
Quem sabe o quanto é um remédio
Sou eu que tantos males enfrentei...

Mas vejo uma esperança derradeira,
No teu sorriso amigo, companheira...
464

É tanto pé quebrado nesta mesa
Que a gente mal percebe vai ao chão.
Poeta que se mostra em gentileza
Às vezes não consegue a solução

E o verso mesmo embora com beleza
Expressa sem ter métrica a lição
Que um dia disse o velho Gentileza
Fazendo das pilastras seu telão.

Cada macaco fique no seu galho,
Eu me atrapalho, às vezes nunca nego.
Porém na refeição plena e completa,

Amiga, por favor, penduricalho
Que trago no pescoço e que carrego
Jamais tentei dizer que sou poeta...
Marcos Loures


465

É sempre bom poder cantar em versos
O quanto uma amizade nos faz bem,
Por mais que os dias sejam maus, perversos,
O abraço de um amigo nos convém.

Trazendo ao dia-a-dia os universos
Distantes que a verdade em si contém,
Unindo estes pedaços tão dispersos,
Permite-nos saber que existe alguém

Com quem nós poderemos caminhar
Por mais que seja escura e sem luar
A noite tenebrosa que virá.

Amiga, estou contigo, e com orgulho,
Vencer qualquer espinho ou pedregulho
É tudo o que proponho, desde já...


466

E se fosse quem pensas que não é
A mulher que trará felicidade.
Não sabes que na vida tanta fé
Às vezes se traduz em liberdade.

Pois veja na beleza dessa vida
O lume que traçou uma esperança.
Por vezes, nossa trilha vã, perdida,
Renasce num momento de lembrança...

E se fosse a mulher que imaginara
Aquela que ao teu lado sempre esteve.
De tudo que na vida mais sonhara,
Apenas esperança em ti, conteve...

Amigo, tua vida se revela
Nos braços da mulher que sempre


467


E se esbalda num sonho tão feliz
Aquela que se fez maracutaia,
Enquanto o coração tomando vaia
Morreu sem ter no fim o que mais quis.

Um velho se disfarça em aprendiz,
Tomara que ao final, seu mundo caia,
E agente da ilusão não sobressaia
Apenas refletindo o que desdiz.

Liberto-me das tralhas que trouxeste,
Assumo os meus pecados, sigo em frente.
Arranco a garatuja que reveste

A cara que se fez madeira dura.
Do quanto fora gozo, em dor de dente
Termina simplesmente em desventura...



468

É rumo que me perde e que redime
O fato de saber que não virás
Tirando totalmente a minha paz
Enquanto me alivia me deprime.

Andaimes da esperança tramam crime
Aonde a fantasia nada traz
Senão o que vivendo a dor voraz,
Ainda com meus sonhos não me oprime.

Beirando ao suicídio vou capenga,
A vida não permite nova arenga
E acaso se vieres venha logo.

Que teimo ser arrimo da ilusão
O amor que tanto enfarta o coração
Um lago em placidez onde me afogo...


469

É resto deste copo, nenhum trago
Apenas o vazio como herança,
Um espectro tão fúnebre: esperança
Ainda em ironia traz afago.

Do quanto nada tive, o resto eu trago
Tão somente, tristezas por fiança
Enquanto o vento frio nos alcança,
Procuro em vão um sonho audaz e mago

Que possa permitir um novo tempo
Distante do passado em contratempo,
Porém sem ter futuro, perco o sesmo,

E vago noutra grei, ledo destino,
No quanto em desespero, desatino,
Qual triste borboleta; vou a esmo...
Marcos Loures


5470

E quero que tu voltes. Já me atrevo
A ter tua presença, mesmo em sonho.
Um sentimento nobre, se longevo,
Permite esta ilusão que ora componho.

Dos velhos corvos ouço o crocitar,
Rapineiros abutres que nos rondam,
Penetram nos alpendres. Devagar,
Antes que as aves frágeis lá se escondam.

Preparam numa espreita o salto, o bote
As garras afiadas desafiam
Os pássaros que, céticos, confiam

Expondo-se em fatal ingenuidade
Até que a morte chegue e o tempo esgote,
Iludem-se com tola liberdade...
Marcos Loures



471

É querida, o amor é mesmo assim
A noite morrerá em outro dia...
E quem pensar que achou amor sem fim,
Tão tolo... Morrerá na fantasia

De que encontrou a boa sorte, enfim...
Quem quiser ser escravo da alegria
Vai ter o meu destino. A dor em mim
Ecoa refletindo uma agonia...

De tanto que sonhei, nada restou...
Somente uma saudade. O que fazer;
Se eu já nem sei sequer para onde vou?

Eu peço paciência, por favor...
O que eu disse? É melhor já esquecer...
Mesmo com saudade, viva um grande amor!


472


É que de amor, enfim meu mundo inundo
Por isso é que não cabe quase nada
Senão o teu sorriso, amante amada,
Lotando o coração tão vagabundo.

Se a vida já não vale um só segundo
O resto se perdendo noutra estrada,
Permita que eu te mostre esta alvorada
Que toma em maravilha todo o mundo.

Seria muito bom se tu viesses,
Ouvindo com certeza as minhas preces,
Carinhos espalhando pelo chão.

Assim com tal candura me extasio,
Tomado de emoção, num arrepio
Entregue aos desvarios da paixão...



473

É prenda que se faz, voraz e amena,
Morena que demente me enlouquece
O quanto me seduz tanto envenena
Vontade feita em gueixa se oferece,

Bandida que em vazante é minha foz,
Estrela que seduz, sou girassol,
Do todo que se mostra em nada após
Estremecendo assim todo arrebol.

À toa sem ter culpa no cartório
Catando os seus retalhos pelas ruas,
Embora o meu futuro seja inglório
Eu quero os cernes, todos, carnes nuas

Perpétua redenção em noite clara,
O tempo de sonhar marca e declara.
Marcos Loures


474


É pouco, pode ser, mas já me basta
Saber que ainda tens tal sentimento.
As cordas que me prendem, arrebento,
Por mais que a poesia esteja gasta.

Sem credo, sem perdão, resta a vergasta,
E o verbo renascido do tormento,
Pertuito salvador, deveras tento,
Jamais respeitarei nenhuma casta.

Se é caso de tentar, recomeçamos,
Podamos no passado, velhos ramos,
E árvore foi ficando bem mais forte.

Na solidez do solo, a garantia
A fome superando a bulimia
E o sonho sobrevive à própria morte...


475


E sinto o belo sol que vem surgindo,
Trazendo amanhecer tão esperado.
No quanto nos teus braços eu deslindo
O sonho tanta vez anunciado.

Na face oculta lumes mais diversos
Promessa que pensei nunca viesse
Na trama que me entrego alma entre versos
Amor eu sei além de simples prece.

Projetos de alegria que esquecemos
Jogados nalgum canto desta casa
Em teimas com certeza nos perdemos.
Porém a vida segue e não se atrasa

Espaços entre espaços, fogo brando,
Meus dedos andarilhos procurando
Marcos Loures



476



E sinto a chuva mansa e promissora
Tocando minha pele quando cantas,
Vivendo a maravilha desde agora
Promessas e carícias, sempre tantas.

Esquife das tristezas, nosso amor
Um tráfico sublime de emoções.
Porquanto tantas vezes sedutor
Explode sem quaisquer explicações

Percebo nestas lúdicas mensagens
Os mágicos caminhos percorridos,
Depois das mais estúpidas bobagens
Agora tenho os sonhos concebidos

Trazendo realidades tão brilhantes
Nas sendas mais longínquas e distantes.


Marcos Loures


477

É sempre bom poder contar contigo,
Amiga e companheira predileta.
A mão que me protege do perigo,
Futuro que pensei em linha reta.

Palavra mais bonita que persigo,
Um coração que sonha ser poeta,
Teu colo representa sempre abrigo,
A sensação divina e mais concreta

De termos alegria e tanta paz,
Capaz de nos tornar bem mais felizes.
Ao perdoar meus erros e deslizes

Uma certeza enorme já me traz.
Ao impedir que a dor, enfim prossiga,
Fernanda, eu te agradeço. Minha amiga...


478

E perco em teimosia, a direção;
Devastações e guerras são constantes,
Olhando para os sonhos fascinantes,
Endosso os meus pecados sem perdão.

A voz em sortilégio diz do não
Feridas entre noites fulgurantes.
As trevas se espalhando por instantes,
A lua se perdendo na amplidão.

E embora frágil, tosco, um idiota,
A sorte que se mostra tão remota
Rondando a minha mesa, aguarda o sim.

Tal qual um retirante num retorno,
Sonhando superar qualquer transtorno,
Espera florescer o seu jardim.
Marcos Loures


479

E o verde talvez volte- solução,
Nos olhos da morena que deixei,
O quanto desejar já desejei
Só tendo por resposta a negação.

Nas aves da alegria, arribação,
O parto em fantasias procurei
Apenas solução não encontrei
E o tempo vai tomado em viração.

À cântaros chovendo dentro da alma,
A noite vai passando, a lua acalma.
Quem dera se chovesse sobre a terra?

Talvez o mar não fosse mais meu porto.
Do parto que eu queria, sem aborto,
Uma esperança sobe agora a serra.


5480

E o toque dos teus lábios; mais preciso,
Permite que eu me sinta satisfeito
De tudo nesta vida que eu preciso
Amor em paraíso dá seu jeito.

Afeito a tal vontade eu nada falo
Apenas vou sentindo a suavidade
Do beijo dado em forma de regalo
Marcando com carinho esta verdade,

Pela cidade afora, feito um louco,
Não olho para trás, atiço o vento,
E bebo da alegria pouco a pouco
Enfoco sem sufoco o pensamento

E vejo retratada a tua imagem,
Amor que para a vida, dá coragem...


481

E o tempo vai passando soberano...
Por mais que a vida trague a tempestade,
Vivendo tão somente o quanto explano
Estendo no caminho a liberdade.
Não quero mais saber de desengano
Colhendo a flor divina da amizade.

Menina que se fez amante amiga,
Trazendo esta florada ao meu canteiro.
No quanto a vida às vezes desabriga
Eu quero ser amigo e companheiro.
Ao ter em meu caminho a forte viga
Percorro sem temor, o mundo inteiro

Na força da amizade, amor sincero,
Eu tenho o que desejo e que mais quero...
Marcos Loures



482

E o sol abrasador, enfim, aporta
O coração moleque de um poeta
Que tanto já se expôs à fina seta
Jogada por Cupido atrás da porta.

Eu sei quanto a saudade sempre corta
Aquele que sonhando com tal meta,
Na dura fantasia se completa,
Deixando esta amargura quase morta.

No passo quase trôpego de quem
Vivendo por sonhar procura alguém
Que sabe na verdade nunca vem,

Tentando a perfeição não mais contém
As marcas desta noite de meu bem.
Eu abro esta janela. Sem ninguém...


483

E o jogo recomeça em transparências,
A porta se fechando pra tormenta,
Nesta penumbra brilham florescências
Minha alma de teu corpo se alimenta.

Tomados por insânias e torpor
Revoltoso mar adentra o quarto,
Expondo depois disso no langor
Quebrantado, feliz, exausto e farto.

Problemas que enfrentei não vêm ao caso,
Apenas desfrutar deste direito
Antes que venha e chegue o duro ocaso,
Eu posso assim dizer que satisfeito

Vivi tudo o que eu tinha que viver,
Sabendo desfrutar cada prazer...
Marcos Loures



484

E nunca se perdeu, jamais disperso
Aquele a quem amor se deu inteiro.
Exprimo com ternura em cada verso
O sentimento livre e verdadeiro.

Rondando as minhas noites, sonho manso,
Fragrante maravilha que me entranha.
Nirvana desejado; agora alcanço
Lançando o meu olhar sobre a montanha

Encontro, no luar teu brilho intenso,
Espelho de minha alma, constelar
No quanto eu te desejo e sempre penso
Traduz completamente o bem de amar.

Além do entorpecente que vicia,
Amor é soberana fantasia.



485


E nunca mais farás qualquer download
Das minhas fantasias, dos meus versos.
Matando o nosso amor que jamais pode
Vencer os sentimentos mais diversos

De quem tanto deseja e não promete
Ao navegar abrindo outra janela,
Num movimento audaz joga confete
Ao mesmo tempo em que nada revela.

Somemos nossos sonhos e ganhemos
Os infinitos bens que a vida traz.
Eu quero tão somente céus amenos,
Depois de tanta luta, simples paz.

Sou teu e nada disso mais importa,
Apenas peço amor, que abras a porta...
Marcos Loures



486

É noite em plenilúnio dentro da alma,
Em festas meus desejos qual crisálidas
Percebem teu carinho que me acalma
Deitando em tua cama flores cálidas.

Eu tento percorrer o teu sacrário
Sabendo que encontrei a solução
Que mata meu destino temerário
E invade de prazeres a paixão.

Vogando meus carinhos nos teus mares
Na doce sensação destes sargaços,
Entregue aos teus delírios, meus luares,
Encharcam-se na alvura dos espaços

E quero teu amor vivo e noctâmbulo
Que sempre me procura, amor sonâmbulo...


487

E ninguém calará tão grande amor,
O teu semblante estampa esta certeza.
Em cada novo dia te propor
Um passo que se dê com tal firmeza.

Deitando nos teus braços com langor
Depois do principal, a sobremesa,
Deixando-me levar na correnteza
Margeio com magia, sem temor.

Amor que nos tomando; insensatez,
Na luz de uma emoção ele se fez
Tornando nossa vida bem mais clara.

Meu verso enamorado já te diz
Do quanto do teu lado sou feliz,
E em cada novo canto se declara...
Marcos Loures


488

No silêncio que toma as cercanias
Palavras nem precisam mais ser ditas,
Se eu sei reconhecer raras pepitas,
Lapido as mais sublimes pedrarias,

O encontro inevitável; não adias,
Vivendo finalmente o que acreditas
As horas serão calmas e benditas,
Imersas nas mais nobres fantasias.

E por incrível que pareça ecoa
A voz do coração tomando a proa
Do barco que se entrega ao mar revolto.

Por mais que ao soçobrar pense em naufrágio
Escapa das procelas, seguindo ágil,
Sem conhecer correntes, livre e solto...



489



É necessário, saiba muito amor,
Para vencer o medo e todo o tédio,
A vida nos concede este remédio
Que aplaca o sofrimento, e traz calor.

Apascentando a fúria acalma a dor,
Permita então que amor te faça assédio
E adentre o coração e jamais vede-o
Calando a doce voz, matando a flor.

Amar sem ter medidas, simplesmente,
A quem te gosta ou não, traz lenitivo
Secando as mágoas tantas; água o chão

E muda a nossa vida totalmente,
Deixando o coração bem mais altivo.
O segredo do amor? Pleno perdão...


5490


É por que sou teu amigo
Que eu te falo companheiro
Que o amor em desabrigo
Não se faz mais lisonjeiro.

Tendo tudo o que persigo,
Sem enganos, vou inteiro.
Já não temo algum perigo
És dos sonhos, mensageiro.

Dia-a-dia, corriqueiro,
Quando tento e não consigo,
Vou seguindo rastro e cheiro

O farol trago comigo,
Na amizade um bom luzeiro,
Separando joio e trigo!
Marcos Loures



491

É pleno contra-senso, um barco sem destino
Andar nesta procura inútil pelos sonhos.
Eu guardo ainda viva a face de um menino
Que um dia se perdeu em mundos vãos, medonhos...

Agreste coração que busca em desatino
Momento de alegria em meio aos mais bisonhos
Caminhos que inda guardo em vasos cristalinos,
Do diamante falso, os brilhos são risonhos...

Na ausência deste encanto a vida não tem graça,
E mesmo que isso seja apenas ilusão,
É dela que inda tento alguma solução.

Esvaindo-se nas mãos o tempo se esfumaça
E nada restará, senão o meu reflexo
Inexato e disforme, um mosaico sem nexo...


492


É muito bom poder falar dos sonhos
Em plena tempestade; aplaca a dor,
Da vida; quem me dera, condutor,
Talvez os dias fossem mais risonhos.

Enfrento com sorriso os mais tristonhos
Momentos; imagino o bem do amor,
Realidade surge furta-cor
Tornando tais cenários tão bisonhos...

Propondo ao coração alguma trégua,
Errando de medida, perco a régua
E volto ao mesmo tom acinzentado.

O dia não virá trazendo o sol,
Enquanto houver a sombra no arrebol,
Não frutificará jamais meu prado...


493


E mude, num momento, o velho Fado
É tudo o que desejo de um amor.
Do peito tão inglório e sonhador
O sonho possa ser abençoado.

Quebra-cabeças; monto do passado
E sinto que é possível recompor,
Se não houvesse nada a contrapor
O dia nasceria ensolarado.

O peito que se ilude assim se estronda
Porém ao perceber reveses da onda
Na areia, em plena praia se esvaindo.

Encontra o mesmo não, como a resposta
Com alma solitária e fria exposta,
O mundo desabando, vou sentindo.
Marcos Loures



494

É mote principal das poesias
O amor, insaciável mandatário
Enquanto muitas vezes fantasias
Realidade muda itinerário.

Mas saiba que estarei sempre contigo
Havendo a tempestade que vier
O vento da esperança abre o postigo
E amor faz a festança que quiser.

Mulher que, redimindo, traz a cura
Livrando a minha vida deste tédio.
Nos olhos com doçura e com brandura,
Expressa com certeza toda a cura.

Antes de perceber este caminho,
Querida, tantas vezes fui sozinho.
Marcos Loures


495

E mostra a claridade em mesmo tom
Aquela se fez amante e amiga,
O verso se espalhando tem o dom
De produzir o sonho que me abriga

Urtigas que colhi em teu jardim
Retratam todo o bem que tu me destes,
Mantendo a fantasia até o fim
Recolho em meu caminho tombos, pestes.

Carcaças carcomidas deste amor
Montanhas de vazias esperanças.
Do nada simplesmente vou compor
Os cantos que tu trazes; tuas danças.

Depois de certo tempo eu percebi
O quanto de amigável resta aqui


496


É necessário ter sempre o apoio
De quem durante a noite nos traz luz.
Por menor que pareça um ledo arroio,
Matando a nossa sede, aplaca a cruz.

O tempo separando trigo e joio
Permite que se veja quem conduz
Ao enfrentar deserto este comboio
Demonstra onde esperança eu sei e pus.

Ao ter tua presença, companheira,
A vida se tornou alvissareira
Colheita prometida, se fez farta.

Do braço que estendeste em alegria,
Eu vejo simplesmente quem me guia
De quem o meu olhar jamais se aparta...
Marcos Loures


497

É necessário o gozo, com certeza;
Prazeres são vitais, mas há quem negue;
Depois não reclamar, se o carregue
O diabo/solidão. Desfeita a mesa,

Ainda esperará por sobremesa?
Depois uma vida oca, à sorte entregue,
Reclama se uma luz, tão frágil cegue,
Tentando desviar a correnteza.

O vento toca a face, um arrepio,
Palavras sussurradas, ereções;
Se a natureza traz desejos, cios,

Não venha me dizer que isto é pecado
Ou outras- me desculpe – aberrações.
Gozar e ser feliz: somente um Fado...



498

É na amizade a força destas crenças
Que possam permitir um novo tempo,
Distante das antigas desavenças
Não vejo mais sequer um contratempo

Que possa nos calar se a voz é forte
Além deste estribilho num coral,
Selando em paz intensa nossa sorte,
Matando em nascedouro todo o mal.

Ascendo em esperança ao que se expõe
Em luzes tão sublimes e magnéticas.
O verso que em justiça se compõe
Tentando usar figuras tão poéticas

Com força e com vontade agora flui
No poder da amizade se conclui...


499

É musa dentre musas, na alegria,
Na dor, no sofrimento e na esperança.
Encharca-se de amor e fantasia,
Ao mesmo tempo mostra a contradança

Maltrata e nos alenta todo dia,
Convida novamente a ser criança,
Num canto deste ator, é melodia,
E traz ao sonhador, elo, aliança...

É quase um sofrimento que se ri,
Transborda mansamente em explosão,
Distante, tudo muda e está aqui...

E mente quando mais é verdadeira,
Do nada faz surgir tanta emoção,
A minha companheira derradeira!


5500


É muito mais que penso, nem espero
Saber deste final, caindo fora,
Quem vive com cuidado não demora
E deixa para trás caminho fero.

Desvencilhar, decerto ainda quero,
Porém quando ameaço, a moça chora.
A jaca que sonhou ser uma amora,
Num gesto gutural procura esmero

Qual rato vou fugindo deste gato
Que mostra em suas garras a potência
Tornando insuportável convivência.

Dizer que estou cuspindo neste prato
Que um dia me serviu pra refeição?
Carregue este estrupício, amigo, então...
Marcos Loures
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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