Sou
Sou uma ilusão
que um dia pensou existir
Sou um pedaço de mar
que pensou ser nuvem
errante, serôdia, refrescante
Sou um degrau da tua escada
volátil, acessível, descartável
Sou uma gaveta de soluções
fáceis, prontas, liquidas
vivendo de angústias alheias
neste cruel pensamento cruzado
propício, permanente e cru
Não sou chave
pedra, casa
âncora de fragata amena
resposta sábia, serena
Nada sou
Apenas eu
Longe de tudo
em turbilhão revolto
toco na vida e presumo viver
Em tempo não meu
solto palavras sinceras
em penitências escusadas
Quebro sonhos alheios
na minha verdade inútil
Nada me resta senão partir
Fechar a porta ao tempo
Esperar pelo dia
sem portagem
Sorrir
Ir na boleia do estribo da vida
e um dia
talvez a encontre
não longe
sem muralhas
sem certezas
sem feridas por sarar
Talvez te lembres de mim
Uma peça no teu puzzle
Uma cor no teu quadro
Uma palavra no teu conto
Talvez me embales em histórias
aos filhos de filhos
Como a vida é rica
quando se vive
vertendo gavetas
vazias de nadas
Quebrando muros
de vidro fino
por onde vês
mas não tocas
Queres, mas não ousas
Sou
a minha ilusão
um pedaço de pão
um dia perdido
um sorriso
uma lágrima, sem chão
sou
Rui Santos