Choro agora
tudo o que o tempo decidiu guardar,
Oiço agora o relógio que não quer parar.
Abri os olhos,
Li a sentença,
Colada na parede à espera
que acordasse de uma fantasia imensa.
Estive longe a sonhar
com tudo aquilo que não se pode concretizar.
Acordei...
E percebi
que lua é impossível de tocar,
Que quem odeia também pode amar,
Que um dia o céu negro
de branco se poderá pintar.
Mas não hoje...
Ainda não.
Desde que acordei,
Preferia ter continuado a sonhar,
Mais valia ficar longe,
Do que aqui vir parar.
Aguardo sentada
os beijos que ficaram por chegar,
Anseio o toque dos braços
que me costumavam abraçar.
Oiço os passos
que te vão levar,
Sinto as lágrimas
que irão chorar.
Mas onde estás tu agora?
Já longe...
Lá bem longe...
Estás aqui,
Sempre estiveste,
Mas já há algum tempo distante de mim,
Apenas há espera
que um dia alguém proclame
que é o fim.
O tempo não pára,
Nem em suspender-se pensará,
Amanhã será outro dia,
E tu já não estarás cá.
Armários vazios vais deixar,
E uma cama vazia e cheia de
sonhos que costumavas sonhar,
Vão apenas haver
paredes há muito tempo pintadas,
Deixadas no escuridão
de umas cortinas fechadas.
O que o tempo
me segredou ao ouvido,
Foi aquilo que me fez ver
o que poderá vir a ser,
Aquilo que sempre esteve escondido.
Quem me irá apanhar quando eu cair?
Quem me irá proteger
do perigo que irá vir?
Quem me ensinará
tudo aquilo que me resta aprender?
Quem me ajudará
a dar o primeiro passo
nos caminhos que terei de percorrer?
Está a ir...
Ele está a ir...
Ele já se foi...
E ainda muito tem
de deixar partir.
Foi muito o tempo!
Foram longas as horas...
"Tick-tack",
O relógio sussura...
Não posso trazer de volta
o tempo que deixámos ir,
O tempo que precisarei
quando fores,
O tempo de rir,
O tempo não da chuva,
Apenas das flores.
Mesmo que doa,
Nada vou fazer,
Vou deixar o tempo ir,
E eu sei que vai doer.
Vou esperar pelas as desculpas
que não deixaram hora de chegada,
Vou esperar...
Esperar pelo o regresso
de uma alma amada,
Que soube também amar.
Laura Justino