Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 046

 
Tags:  sonetos    Marcos Loures  
 

4501


Da boca benfazeja e tão formosa
O beijo se disfarça e quase foge,
O rumo desta noite presunçosa;
Trazer tantas estrelas neste alforje

Chamado coração. Neste embornal
Carrego todos, vários sentimentos
Do amor que prometia sensual
Agora se esgarçando perde o vento

Se torna burocrático demais,
Apenas escolhemos nossas armas
Amor vai se esvaindo sem ter paz,
Envolto em milhares desses karmas

Que pesam sobre nós tal qual a cruz,
Restando tão somente a fraca luz...


4502

Da dura ventania, apenas resta a brisa
Tocando na janela aberta do meu peito.
O bem que eu procurara; agora, já me avisa
Que o rio voltará depressa pro seu leito.

E vejo em plenilúnio, o céu quando me deito
Nas luzes desta lua, a vida se matiza
E a cada novo dia, amor aromatiza
Trazendo a mansidão me deixa satisfeito.

Aos poucos aprendi que a dor é necessária,
Pois mostra que alegria é sempre temporária
E toda a maravilha existe num contraste

Fazendo-nos sentir, mais forte a correnteza
Que trama ao fim de tudo, a luz que me embeleza
Sanando em redenção o mais duro desgaste.


4503


Da dor um diadema me circunda,
Um fardo que carrego; inesgotável
Amor é tantas vezes intragável
Nem sempre em alegria ele redunda.

A mão que acaricia se aprofunda
E rasga, simplesmente o imaginável
Sorriso muitas vezes amigável
Esconde a gargalhada vagabunda.

Mas gosto do prazer, isso não nego,
Talvez no gozo dê algum nó cego,
Quem sabe, encontrarei libertação.

Na opaca luz dos olhos de quem ri,
As tramas da serpente eu descobri,
Jamais serei Raimundo ou solução...
Marcos Loures


4504


Da dor que me elegeu como parceiro
Num casamento quase que perfeito,
Em flores dediquei meu verdadeiro
Canto que se mostrara satisfeito.

Meus versos que se encantam com a dor,
Também vão procurando uma saudade.
Se falo deste caso com amor,
A dor vem me nublando a claridade.

Mas sei que no final ela me vence
Convence e me deixando a solidão
Que é tudo neste mundo que pertence
Ao pobre e distraído coração.

O que fazes aqui, minha querida?
Mudar todo o destino em minha vida?


4505

Da deusa que em meus sonhos concebi
Persigo cada rastro que deixou
Caminho que deveras deslumbrou,
A beleza sem par que eu conheci,

Sem freios, num momento chega a ti,
Pois devo, e disso eu sei, tudo o que sou
A quem durante a vida me guiou
E vejo, com certeza bem aqui.

Agradecer a Deus a companhia
De quem ao demonstrar tanta alegria
Acolhe com carinho e com afeto.

Um homem pra ser forte de verdade
Reconhece a total fragilidade,
Por isso, nos teus braços me completo.
Marcos Loures


4506

Da chuva que teimosa não se esgota
Nublando toda a Terra, traz em águas
Imagem destrutiva e sempre rota
Tramando no meu peito tantas mágoas.

Retratam cada parte deste sonho
Que agora eu posso ver em pesadelo.
O barco noutro mar, teimoso eu ponho
E sei que assim jamais irei revê-lo.

Mas tento, num instante olhar o céu,
Sonhando com o azul que nunca veio.
Galopa o pensamento qual corcel
Buscando a liberdade sem receio.

Olhando para a noite uma utopia:
A lua se espalhando invade o dia.



4507

Da calma em um momento, a tempestade
Formada pelo fogo da paixão
Arrasta com volúpia, um furacão
Restando quase nada; já me invade

Tomando com total voracidade,
Ardendo em minha pele, meu tesão,
Neste redemoinho uma explosão
Com toda esta loucura, tal vontade

De ter teu corpo nu, paradisíaco
Amor que se permite afrodisíaco
Insânias entranhando. Vento audaz,

Da fome que bem sei insaciável
Da sede em fonte imensa, inesgotável
Do fogo que consome e satisfaz...



4508


Da bola muitas vezes dividida
Sem ter sequer desculpa, caio fora.
Se a gente com prazeres se demora
O fogo dissimula outra saída.

Por mais que a solidão ainda agrida
Um velho coração não comemora
Sabendo que incerteza se assenhora
Do que restou de bom da nossa vida.

Seguir o rastro claro de uma estrela
Que amor com toda força já revela
Usando da alegria que buscamos

É tudo o que desejo. Convenhamos-
A sorte volta a ser, quem sabe; bela
Agora que deveras encontramos.
Marcos Loures


4509

Da boca que beijei em noite clara
Sequer sobraram sombras ou resquícios
Quem sabe sejam lúdicos, fictícios
Momentos em que a vida me enganara.

Distante deste rio, esqueço a vara
E volto aos meus antigos precipícios
Dos sofrimentos gozo os seus ofícios
E galgo o mesmo nada que encontrara.

Esboço, agora insone, a reação,
Na mítica e complexa sedução
Das cordas em bemóis desafinadas.

Esgueiro pelas ruas, seus esgotos,
E em meio vagos sonhos, quase rotos,
As manhãs que virão; abandonadas.
Marcos Loures

4510

De que valem meus versos sem ação...
O medo tantas vezes me transtorna,
A massa silenciosa faz o pão,
A gralha vendilhona vem, deforma...

Meus versos vão perdidos pelo vento,
Diversos espetáculos revejo...
Promessas de melhora... Sofrimento.
A gralha encarniçada dá um beijo...

Meus versos incansáveis mas remotos,
Espreitam por verdades encobertas...
Quem fora num retorno, terremotos.

As chagas que deixaram vão abertas...
Aos jovens as lembranças, simples fotos,
Meus versos servirão enfim de alertas?
Marcos Loures





11


De mármore; coluna trabalhada
Na sala e no teu quarto, mansa espalha...
A manhã ao chegar traz, orvalhada,
O gosto desse dia de batalha,

No gesto que me mostra a caminhada,
No corte e nesse fio da navalha...
Vou amar-te e no fim não terei nada,
A não ser essa mágoa que me orvalha...

Rocio se anuncia um novo dia.
Nas areias o mar, onda se espraia.
Quem me dera viver da fantasia.

Da morena, ventando erguendo a saia,
Tesouros espalhados, poesia...
Nosso amor invadindo toda a praia...
Marcos Loures


12


De Lourdes para Loures, flores belas
Em trovas e sonetos, dois parceiros
Enquanto em alegria sonhos selas
Os dias nascerão alvissareiros.

Encontro em teus poemas mil estrelas,
Sentidos tão reais e verdadeiros
Beleza em poesia tu revelas,
Momentos delicados, costumeiros.

Mineiros companheiros de poesia
Sangrando pelos dedos fantasia
Rondando as Musas todas, nossa festa.

Tu sabes que eu admiro cada verso
Que fazes traduzindo este universo
Que farta maravilha à vida empresta...

PARA A GRANDE POETISA SILVIA de Lourdes ARAÚJO MOTTA


13


De lágrimas, meus olhos vão vestidos,
Destinos solitários já traçados,
Meus dias lá se vão, apodrecidos,
Os rumos sem ter nexo, desgraçados

Sem direção, caminhos que perdidos
Depois de tantos dias disfarçados
Permitem que não sejam esquecidos
Os dias de tristezas demarcados

O vazio da vida me tomando
Total insensatez por companheira
Os sonhos e esperança desabando

Palavras são cruéis, isso eu garanto,
A solidão me toma e vem inteira
Bebendo cada gota do meu pranto...
Marcos Loures


14

De guerreiro feroz qu’apascentaste
Não resta nem sequer sombra ou pedaço,
Metade do que foi para o espaço
Sem dúvidas tu sempre provocaste.

O que fazer de uma árvore sem haste,
A fronde é necessária. Se um ricaço
Agüenta uma porrada ou embaraço,
O pobre se condena ao vil desgaste.

Mas não suportarei qualquer chacota,
Este terno, filho único, amarrota
A mão que chicoteia não se esquece.

O certo é que me deste de lambuja,
A foto do passado é garatuja
E o peito em desamor não sabe a prece...
Marcos Loures

15


De finíssimas rendas, lingerie
Que vestes nesta noite tão ansiada,
Desejos explodindo... Estou aqui
Tentando vasculhar cada pegada

E descobri o mapa do tesouro
Em busca desta mina que entontece
Sabendo que terei as jóias d’ouro
Debaixo desta capa que enlouquece.

Se nessas transparências adivinho
A forma tão gentil desta morena,
Eu quero ter o gosto do carinho
Que a lingerie sugere e que me acena.

Permita que eu desfrute deste sonho,
Em que querer demais, já te proponho...


16


De dores e de bênçãos, divisória
A força que suplanta céu e mar
Meu sonho de amizade é feito em glória,
Sem medos que nos possam maltratar,

Mudando num momento nossa história,
Alçando a liberdade de um luar.
Quem dera se eu pudesse sem vanglória
De toda esta alegria desfraldar.

Assim, talvez não venha dor profana,
Que mata e; muitas vezes, desengana.
Supera com firmeza, medo e intriga.

No encanto que se mostra em clara luz
O nobre sentimento se conduz
Nos passos de meu sonho, minha amiga.
Marcos Loures


17

De Deus a mais sublime semelhança
Amor muda o cenário, traz a luz.
Enquanto o verso manso sempre alcança
O brilho, farto amor o reproduz.

Entrego o pensamento à liberdade
Alçando a mais perfeita redenção.
Amor quando se mostra de verdade
Decerto se faz sempre a solução.

Vencendo em calmaria a correnteza,
Eu tenho dentro em mim, a força plena
Que trama com delícias a beleza
Aonde um bem sublime já se encena.

Distante da saudade que emparede,
Deitando meu amor em mansa rede.


18

De pétalas de rosa, onde me aninho;
Fizemos um canteiro de esperança.
Enquanto a noite cai, amor avança
Tomado por desejos e carinho.

Meu canto sem te ter, triste e sozinho,
Morria sem sentidos, pobre dança.
Amor ia esquecido sem lembrança,
Das rosas tão somente cada espinho...

Agora, a redenção de teus desejos,
Fez-se tão soberana em minha vida.
Marcado por teus lábios, doces beijos,

Percebo que serei bem mais feliz,
Pois tenho minha sorte decidida,
Amor que imaginei e tanto quis...
Marcos Loures


19


De pétalas de rosa uma coberta
Na lúdica emoção que nos conquista,
A porta da alegria estando aberta
Permite que se tenha a bela vista

Aonde se percebe imensidão,
Brilhando no horizonte a plena lua.
Versejo sobre tal transformação
Da deusa que se entrega bela e nua.

Recebo este bafejo de alegria
Decerto da bonança algum sinal,
Tomado pela forte ventania
Num gesto de convite sensual

Vislumbro no teu corpo este Eldorado,
Tesouro tantas vezes, procurado...
Marcos Loures


20

De onde pusera sonho barco e nau
Perdendo todo o rumo em desespero.
Fazendo de meu verso a pá de cal
Na qual nem me disfarço nem tempero.

Planando neste céu sou sol e sal,
Distante do que temo e não mais quero,
Meu sonho na alameda tropical
É quase uma paixão ou corte fero.

Não temo e nem pretendo essa piedade
Que é quase que um disfarce da alegria.
Se dane teu carinho, uma amizade.

Não quero mais saber de algum consolo.
Se tenho minha voz e a poesia,
Os pés em podre lama eu sempre atolo...


21



De onde nasce o amor? Não sei, te juro...
Amor nasce do encanto, da magia?
Muitas vezes nascendo em peito duro,
Aos poucos, bem devagar, me amacia...

Como chega o amor? Devagar, lento?
Na fúria das tormentas, alucina...
Amor vem ao sabor de cada vento?
Fragilidade imensa que domina...

Amor é sentimento doloroso
Que trama com prazer um belo duo.
Fazendo na tristeza, imenso gozo,
Pesando no meu peito, já flutuo...

Amor, pressentimento de esperança;
Atado aos nossos pés, levanta, dança...


22

De novo retornei a ser criança
Envolto nos teus braços, noite amena,
Depois de ser escravo da lembrança
A sorte benfazeja, amor acena.

No verde dos teus olhos, esperança,
Delícia só se encontra na morena,
Menina, reconheço cada trança,
A flor da minha sorte, uma açucena...

Não falo e nem reclamo da velhice,
Apenas recomeço dia a dia,
Amor que me invadiu sempre me disse

Que o tempo recomeça a cada instante,
Na boca carmesim uma alegria,
No corpo da morena amada amante...


23

De noite recomeça a zumbilança
Que não pára jamais de incomodar.
Do meu sangue este bicho faz festança,
Mas não basta, ele tem que me acordar.

Zumbindo o tempo todo já me cansa
A luz, acendo e nada de parar.
Porém um dia, eu tenho esta esperança
Tudo com certeza vai mudar.

Pois já que não bastou inseticida
Nem mesmo o cortinado resolveu
Tampouco dar tabefe, até sopapo,

A coisa vai ficar bem resolvida
Se Deus ao atender pedido meu
Um dia transformar-me em gordo sapo...


25

De Noé, seus herdeiros se espalhando
Criando reinos vários, capitais,
E os povos assim vão multiplicando,
Habitam paisagens desiguais.

Nemrod, homem valente de Javé
Um grande caçador; serve de exemplo,
O grande defensor que traz na fé
Erguido com firmeza imenso templo.

Famílias tão diversas, mil linhagens,
Que guardam em Noé, o patriarca,
Ao manterem-se unidos pelos gens
Daquele construtor da divina arca,

Após a tempestade, a dispersão,
A cada herdeiro cabe uma nação...


26


De alguns vários fantasmas que me habitam,
O sexo juvenil, sempre escondido,
Em tantas ilusões, bem mal servido
Ainda nos meus sonhos, vêm, palpitam.

Desejos que morreram, mas que gritam
Na cripta do cadáver revolvido
Nas noites infantis. Houvera sido
Momentos e resíduos que exercitam

A juventude feita quase em pó,
Mas velho safardana não tem dó
E o coração sacana se apaixona.

O fruto apodrecido traz semente
Que mostra; quase ao fim, amor urgente,
Melancolicamente, vou pra zona...



27


De carinhos sublimes desejoso,
Querendo esta presença iluminada
De tanto que eu vivera receoso,
Encontro nos teus braços, doce Fada
Um mundo mais feliz e venturoso,
Depois de tanto espinho em minha estrada.

Vivendo nosso amor a cada instante,
Dourando nosso dia em fantasia.
Amor que se fazendo mais prestante,
Garante toda a glória que eu queria.
Num sonho que se mostra deslumbrante
Concebo amanhecer divino dia.

Contigo eu sou feliz, isto eu garanto.
Coberto por teus braços, belo manto.
Marcos Loures


28

De cada vez mais firme procurar
Saída para as dores que carrego,
Invado num momento o teu luar
E bebo do teu rumo, feito cego.

No rum de tua boca, me embriago,
Sentindo o teu perfume pelos ares.
Tomando de teu corpo cada trago,
Estendo o meu prazer a raros mares.

A moça poetisa se mostrando
A deusa que eu queria em minha vida,
A fonte dos desejos me entornando
A glória de encontrar clara saída.

Assim um navegante benfazejo
Encontra o cais perfeito em teu desejo.
Marcos Loures


29


De cada nova noite nem restolho...
As pútridas certezas me minaram...
Vazio, perfurando, cego um olho;
As luzes que brilhavam se acabaram...

Tranquei meu coração com um ferrolho.
Vis emanações fátuas soçobraram...
Em meu caminho feito em puro abrolho
Espinhos, pedregulhos. Já roubaram

Toscos sonhos. Ofusco meus delírios.
Mártires se pretendem meus martírios...
Me deste os teus transtornos por herança!

Sorvi desses matizes, cores tétricas.
Meus versos se perderam sem ter métricas.
A morte me rondando, vil criança!


30


De bruços, nesta cama, estás deitada;
As tuas costas sempre tão macias...
As minhas mãos nas costas desnudadas,
Percorrem sem juízo... As fantasias
Nos tomam, novamente arrebatadas
Prometem mais delícias e alegrias...

Abraça-me, enlaçando em tuas pernas,
Meu corpo no teu corpo se entrelaça
As horas de prazer são quase eternas,
Me prendes com as coxas... Sou t"a caça,
Em tão sofreguidão, volúpia terna,
Arranhas minhas costas... Vida passa

Assim em nossa cama, noite afora...
Até que o sol se mostra e o dia aflora...


31

De bar em bar noturno peregrino
Noctâmbulo vagando pelas ruas
Nas sarjetas conheço o meu destino
Da carne em podridão, palavras cruas;

Destilo o meu veneno, bebo a sobra
E nisto me inebrio o tempo todo,
Rastejo nos botecos, réptil, cobra
Arrasto-me entre pedras, trevas, lodo...

E cuspo nesta boca que me beija
Exponho o sentimento e na nudez
Minha alma tão vadia já se aleija
E torpe, vomitando insensatez

Sandices? Acumulo tempo afora.
E da carcaça podre, a vida aflora
Marcos Loures




32

De apagares a chama da paixão
Usando os mais diversos subterfúgios
Tramando sempre a mesma solução
Negando em ironia meus refúgios,

Estou cansado, amiga, e te garanto
Que tudo o que disseste noutro dia,
Além de não causar sequer espanto,
Já não provoca mais hemorragia.

Gerindo o meu futuro com presteza,
O amor jamais sossega enquanto exala
O doce aroma feito em sobremesa,
Deixando cada rastro em minha sala.

Vassalo da esperança sigo em frente,
Vencendo o teu sarcasmo incoerente...


33

De amores vou perdido pelo mundo
Percorro tantos astros que nem sei.
De tudo que te falo, já me inundo,
Da vida que sem tréguas eu busquei.

Paixão que me arrebata e me domina
Não deixa nem sequer achar o rumo.
Perfumando tua alma cristalina
Retendo dos prazeres todo o sumo.

Amar demais passou a ser a meta
Que traz o meu caminho mais florido
Por isso em minha voz, canta o poeta
Sem amor nada faz sequer sentido.

Amores percorrendo os universos
Vibrando nos desejos dos meus versos!



34


De amores que me fez o teu corcel
Sangrando o coração, gozo supremo,
Tirando a tua roupa rasgo o véu
E chego num segundo, ao mar extremo
Aonde com certeza nada temo,
Vibrante fantasia, fogo e mel,

Afãs que desejamos em fartura,
Fechando os olhos vejo-te comigo,
Abarco os teus delírios com ternura
E sabes que estarei sempre contigo,
Vivendo nesta insânia se afigura
Altar feito em delírio que persigo.

Assim, peles atadas sem pudores,
Roubando do luar, loucos fulgores.
Marcos Loures



35

De amores nada sei, querida amada,
Apenas eu percebo os seus sinais,
Vagando em solidão na madrugada
Só sei da solidão, terrível cais.

Minha alma em tua alma emoldurada
Aguarda teu carinho e pede mais.
Na boca que te espera, bela fada,
Vontades e desejos. São demais.

Crisálida esperança toma o peito,
Transforma todo sonho em realidade.
Eu quero o teu amor de qualquer jeito

Do beijo que me deste, uma saudade,
Tomando o coração traz paraíso
No toque mais suave e mais preciso..
Marcos Loures

36



De altares da esperança, um bom suporte
Mostrado neste incêndio em noite plena.
Fosforescente gozo que envenena
E ao mesmo tempo entranha riso e corte.

A música que entornas, bem mais forte,
No corpo levitando em mão serena.
Porquanto te busquei a cada cena,
Sabendo desde então da minha sorte.

Estrelas rutilando em profusão,
Arcanjos, querubins, asas abertas,
Num frêmito fantástico, emoção

Chocalha em guizos fartos, a alegria.
Enquanto calmamente tu despertas,
Mal percebes a luz que se irradia...
Marcos Loures

37


Das terras estrangeiras o meu sonho
Em forma de mulher encantadora;
Das dores que carrego, redentora.
De todos os caminhos, mais risonho.

Quem teve tanta dor, mundo medonho;
Já sabe que ao te ter a vida aflora
E jamais deixará quem tanto adora.
Nada quero saber e te proponho

Que vivas, do meu lado, o que me resta
Abrindo meu futuro. Na seresta
Onde sempre estivemos, par constante,

A nossa melodia nos levanta.
Com bela voz , Amor sempre encanta...
Deixa-me ser, da vida, novo amante!



38

Das tantas valentias que menti;
Ao menos fui poeta por um dia.
Enquanto a gente mata a fantasia
Ressurjo no que outrora, em vão perdi

Se tenho o meu destino junto a ti,
A culpa e desta lua que fulgia
Armando o bote, estúpida sangria
Que tantas vezes, trêbado, bebi.

Perigo em cada curva, desconheço,
Vereda que entranhada não esqueço
É parte do caminho rumo ao nada.

Vendendo meus grilhões, me libertei.
Os templos mais nefastos desenhei
Colhendo ao meio dia a madrugada...


39

Das rosas e do espinho, num rosário,
Perfumes exalando em sofrimento,
Do amor que se fazendo num calvário
Ao mesmo tempo luz e desalento.

Amor neste rosal, um relicário
Rasgando a minha mão em um tormento
Mudando o meu caminho, temerário
Amor se reproduz e segue o vento.

Uma rosa se entrega ao colibri,
E esconde em suas pétalas uma arma,
Nem mesmo o puro amor logo a desarma.

Agora, finalmente eu percebi
Beleza tão singela e traiçoeira
Guardada numa lúdica roseira...




40

Das retinas cansadas, meus delitos...
Não quero perceber esta saudade,
Nem quero mais sonhar sonhos aflitos,
Nem me perder : total ansiedade.

Teus passos são meus rastros, mas restritos
Às tardes que te perco: liberdade!
Demoras a voltar? Nos infinitos
Procuro; embora eu saiba, seja tarde.

Meus dedos dedilhando uma canção,
Lembrando do teu corpo/violão
Encontra estes acordes dissonantes...

Meus versos são mordazes e gentis...
Quem dera se pudesse ter teu bis;
Porém os dias seguem quais mutantes...



41


Das pétalas sangrantes que levava,
Colheita de um canteiro mal cuidado.
O amor que tanto tempo ela esperava,
Apenas um caminho malfadado.

A cada novo dia, a velha trava
Falando dos enganos do passado
Surpresa que esta vida resguardava
Invés de algum perfume, espinho e cardo.

Quem dera se pudesse recolher
A flor que imaginara, a mais bonita.
Um sonho que invadindo sempre excita

Tramando da alegria este prazer
Distante de seus olhos. Tentação.
Porém o amor negou tal floração...



42

Das pedras insensíveis do caminho,
Dessas mansas ribeiras sem destino...
Não quero me encontrar jamais sozinho.
Nem quero mergulhar, ser assassino,

Cortar os pulsos, livre sem ter ninho,
As ondas me levaram, desatino...
Os portos que deixei, já me definho...
Vou de banda, pesado, torto, esquino...

Misturando essas dores com prazer,
Vivendo simplesmente por viver...
Não quero combater minhas tristezas,

Nem quero mergulhar nessas represas,
Onde escondes fatal impaciência.
Amar é destruir toda ciência!


43

Das palavras; ourives que eu invejo
Um nobre sonetista em versos belos.
Usando em maestria teus rastelos
Talento sem igual em ti eu vejo.

Ao ler os teus poemas um lampejo
De intensa claridade, passo a vê-los
Tesouros valiosos que ao contê-los
Encontro a perfeição que tento, almejo.

Servidos num banquete, as iguarias
Que trazes em sublimes poesias
Saciam os que sabem degustar.

Amigo; me permita esta heresia
Que a mão de um repentista agora cria
E em versos tão banais a te louvar....


44

Das velhas tempestades que passei,
As sortes e presságios tão obscuros
Prometem velhos céus bem mais escuros
Em nada do que tive, me encontrei.

Ao homem que resiste à mansa lei
Certeza de momentos bem mais duros.
Porém aos corações suaves, puros,
A imagem deste Pai, supremo Rei...

Nocivas tempestades, furacões,
Nas mãos de quem se entrega ao Seu poder
Que é feitos dos amores e perdões

Transformam-se em bonança e calmaria.
O olhar tão generoso eu pude ver
Derramando estas bênçãos da alegria.


45

Das velhas emoções que sonegamos
Estendo no quintal o sol e a lua.
A sorte meretriz já nem atua
Enquanto em desvario nos amamos.

Não sendo mais cativos, pedem amos
As almas que caminham nesta rua,
O verso sem sentido continua
Arborizando os céus que desenhamos.

Herdando quais satélites o brilho
Da estrela que demonstra um andarilho
E antigo coração, faca entre dentes.

Mosaicos espelhares que se nexo,
Mostrando que em cenário mais complexo
Retratos de nós dois são congruentes.
Marcos Loures



46



Das velharias toscas, noves fora,
Sobraram dez mil réis e nada mais.
O beijo da pantera não demora,
Quem dera se nós fossemos mortais.

Coroando a festança com sangrias
Urgindo ser feliz, não temo a pressa;
Estrelas que buscamos são vadias
E a noite em plena luz já recomeça;

Repare no cangote da morena,
Poesia maior; inda não vi.
E quando com tesão; a moça acena
O Paraíso em vida é logo ali...

Dadaísmo, cubismo ou aforismos
Morena no meu colo? Cataclismos...


47

Das trinta mil sementes que plantei
Durante estes dois anos, no recanto.
Belezas sem igual eu encontrei,
Fartando-me de luz em raro encanto.

Bem mais do que sonhara, debrucei
Meus olhos sobre amores, raro manto
No qual por tantas vezes, tropecei,
Temendo, na colheita algum quebranto.

Eu agradeço a tantos que não posso,
Sem ser injusto, citar nome aqui
E em todos, maravilhas eu bebi

Por isso é que repito enquanto endosso
Com todo o meu ardor de repentista
Louvores que hoje faço a cada artista.
Marcos Loures

48


Das trevas que vivemos, no passado;
Das dores incrustadas, sem alento.
Tremula nosso sonho extasiado,
Salvando da tormenta num momento...

Escuto tua voz tão redentora,
No meio da tempesta que aproxima.
Uma amizade em paz, tão duradoura,
Retoma meu caminho em mansa estima...

Mereço uma amizade tão profunda?
Por vezes me indagando sem resposta,
Da solidez que sempre se oriunda,
A vida em amizade é mesa posta.

Amigo, me perdoe se fugi,
Os mares me trouxeram, eis me aqui!


49

Das noites sepulcrais, revivo, pasmo;
Grilhões que me maltratam, são quimeras...
Vivendo num caótico marasmo,
Não quis a parcimônia com que esmeras

Os casos teus de amor. Entusiasmo
Contido, sentimentos sem panteras
Nem garras, sem dentadas nem sarcasmo.
Amor que não promete loucas feras!

Distante de teus olhos, alma exora...
Presume teu perdão, com galhardia.
Preciso refazer meu mundo agora,

A dor desta saudade me alucina!
Não deixe-se acabar a fantasia,
Rebenta tais grilhões d’amor Cristina!


50


Das noites que tivera; sim me lembro,
Dos olhos tão tristonhos e distantes;
Duros dias sofridos de setembro,
O peso desta vida nos semblantes...

Passando por momentos dolorosos,
O peso da saudade machucava...
Os sonhos se tornaram pavorosos.
Um mar de solidão se aproximava...

Mas quando te encontrei, tudo mudou.
Teus olhos de promessa e de aconchego,
Vazio coração reflorestou
Da tempestade e dor, fez-se o sossego...

Setembro que me trouxe uma quimera,
Termina nos teus braços, primavera!



51

Das Ninfas que desnudas, já se banham
Nos lagos tão distantes do meu sonho,
Encantos e desejos, eu proponho,
Porém desilusões torpes me entranham.

As néscias madrugadas que me apanham
Num flagrante momento mais bisonho,
Fantasiam um mundo tão risonho...
Trevas da realidade, sempre ganham...

Áureas sensações, somente enganos.
Ao olhar sonhador, escuridão
Penumbras dentro da alma, tão somente.

As nuvens que dos céus tomam os planos,
Sobejas em terrível multidão,
Acordo, solitário, novamente...
Marcos Loures



52

Das montanhas mineiras, proteção;
A mãe que nos pariu e nos consola.
Nas mãos a mansidão de uma viola,
Nos olhos alegria e compaixão...

Riqueza se contrasta com sertão,
A voz que libertária até se imola,
Enquanto em poesia, a alma decola,
Vagando pelo etéreo, na amplidão...

Orgulho que em seu povo já se entranha,
Mirando muito além de uma montanha
Sabendo quanto é belo este horizonte.

Se às vezes me envergonho; brasileiro,
Meu peito vangloria-se, mineiro,
Bebendo desta imensa e férrea fonte...


53

Das minhas sensações tu és senhora,
A dona de meus sonhos, de meus passos,
Te quero minha amada, sem ter hora,
Deitado calmamente nos teus braços
Desfruto deste amor que, sem demora,
Amarra a minha vida nos teus laços...

Tinindo no infinito um som veloz,
Cometas percorrendo nosso beijo..
O gosto de te ter, ser tua foz
Aquece todos sonhos que pré vejo.
Ouvindo em minha cama, a tua voz,
Aumenta por demais o meu desejo..

E sinto-te rolando em nossa cama,
No fogo que se explode em forte chama...


54

Das minhas esperanças, o regresso
Voltando das batalhas, duras lutas.
O quanto eu te ofereço, agora eu peço,
E sei que temerosa, já relutas.

Presságios que tivera; traiçoeiros,
Marcaram cada dia em tua vida.
Deitando a solidão nos travesseiros
A travessia; eu sinto, está perdida.

Mas tendo alguma luz ao fim de tudo,
No túnel feito em tempo e temporal.
Do quanto que desejo, resto mudo,
Olhando imenso mar, descomunal.

Sonhando com desditas e falências,
Eu penso ter cumprido as penitências...
Marcos Loures


55


Das Minas Gerais
Eu trouxe este sonho
De ter sempre mais,
Um mundo risonho,

Aonde jamais
Vivesse tristonho,
Já me satisfaz
Amor que proponho.

Falar de amizade
De queijo e de broa
A felicidade,

Tão perto revoa,
Na roça e cidade,
Eta coisa boa!

56


Das mágoas que causei-te, meu amor,
Guardadas num recanto da lembrança.
Vencendo as tempestades sem pavor,
Vivendo simplesmente da esperança.

Alcanço teu olhar e já me aparto,
Me afasto de teus lábios, mas te quero...
Amor que se partiu deseja um parto,
Renovo os sentimentos, sou sincero...

Amada essa certeza me acompanha,
Eu quero me entregar aos teus caminhos..
Nas águas desta vida amor se banha
E sonha com montanhas de carinhos...

Desculpe se te causo algum rancor,
Querida; peço; aceite o meu amor!


57

Das ondas deste mar intensidade
Que tanto desejei em nosso amor,
Deixando a sensação de um bom torpor
O quanto de prazer diz da vontade.

Enquanto a areia branca uma onda invade
Deitando junto a mim já vem compor
Paisagem deslumbrante ao meu dispor
Delírio em meio a tal serenidade.

Somemos os pedaços, união,
Venceremos dilemas e procelas
Enfrentaremos juntos o tufão

Do amor que agora em luzes queres, selas,
A tenra maravilha de saber,
Ter toda a paciência pra colher!


58

Das nuvens que enegrecem nosso céu,
Dos raios e trovões que nos assustam,
A natureza cumpre seu papel
Bem mais do que tristezas já nos custam.

Ao ver-te aborrecida, ensimesmada;
Pergunto-te qual causa tem a dor;
Por vezes me respondes quase nada
Mas sei quanto tu sofres tal temor;

Da vida que querias mas não veio,
Das tempestades tantas que passaste.
Perceba, minha amiga, que o esteio
Da vida, posso até dizer uma haste;

Que sempre nos apóia e nos transforma:
Numa amizade; amor já toma forma...



59


Das noites tão frias
Sozinho no quarto,
Promessa de dias,
Que penso e descarto

Sem ter alegrias
De dores tão farto,
Porém me darias
Carinhos de fato.

Amiga agradeço
A sorte que dás,
Será que mereço

Todo esse carinho,
Que sempre já traz
Calor em meu ninho...

Marcos Loures


60


Deitando meu amor em mansa rede
Não quero mais problemas nem rancores,
A boca que se entrega em tanta sede
Procura nos teus lábios sedutores

A fonte inesgotável de prazer,
Fazendo de teu corpo porto e cais.
À noite lado a lado eu posso ver
Momentos fabulosos, magistrais.

Estampas num sorriso o que tu queres,
Recíprocas vontades, disso eu sei.
Festança no banquete em mil talheres
Durante a vida inteira, amor; busquei,

Do amor que feito luz em nós incide
Já tenha uma certeza, não duvide.


61

Deitando junto a ti carinhos tantos,
Vontade de ficar sempre ao teu lado,
O olhar há tanto tempo enamorado
Vislumbre sem igual, fartos encantos.

O amor que emoldurando belos cantos
Permite acreditar que, do passado
Futuro fabuloso anunciado
Vencendo com ternura vis quebrantos.

E a gente não consegue disfarçar
O quanto nosso amor já nos faz bem,
E quando o amanhecer sublime vem

Tocados pela intensa luz solar,
Sentimos quanto é bom poder dizer
Do amor que nos mantêm em seu poder...


62


Deitando esta vontade, claramente
Escrevo no teu corpo meus prazeres.
Sentindo todo o fogo num repente,
Esqueço os meus problemas e afazeres.

Amor que não se aprende no colégio,
De fato é nosso prumo, nossa meta.
Amar é com certeza um privilégio,
Quem dera se eu pudesse ser poeta,

Cantar o nosso amor que não tem fim,
Razão de minha vida. Determina
O rumo que encontrei, melhor pra mim
Na fome insaciável que alucina.

Vibrando de prazer e de loucura,
Amor, o meu destino, já moldura...
Marcos Loures


63

Deitando em teu leito
Amor mais voraz
Estar satisfeito
Mas querendo mais.

Mansinho, com jeito,
Amor que me traz,
Carinho perfeito,
Corajoso, audaz.

Carícias e beijos,
Vulcão, relampejos
Querendo te ter,

Demais, teu prazer,
No gozo, sedento,
Amor violento.
Marcos Loures



64


Deitando em nossa cama maravilhas
Esqueço dividendo e crediário
Amor em loucas sanhas, riscos, trilhas,
No fogo que se mostra um bem diário.

Balões rondando a noite, em tal festança,
Quadrilhas dançarinas, claras francas,
O quanto nós trançamos nossa dança
Depois de certo tempo me desancas.

Tomando em tua boca o meu quentão
Salvo conduto encontro em tuas pernas,
No jogo que se faz ebulição
As horas sem limites são eternas.

Asperges fantasias nos meus olhos
Encontro as alegrias, colho em molhos...
Marcos Loures



65


Deitando sobre a relva da esperança
Amor tanto nos salva quanto embuste.
Por mais que a gente queria até deguste
Cupido faz a mira e joga a lança.

Enquanto a poesia nos alcança
O amor além de tudo o que mais custe
Fazendo em nossa vida tal ajuste
Motivo mais sublime sem pujança.

Preparando o seu bote não nos deixa
Vencendo em alegrias qualquer queixa
Madeixas da ilusão nos recobrindo.

Abrindo o coração sempre contigo,
Não tendo sequer tempo pro perigo
Eu vejo um novo dia audaz e lindo...
Marcos Loures


66



Deitando sob estrelas, lua mansa,
Amor já determina a caminhada
Enquanto a fantasia aqui se alcança
A boca desejando ser beijada.

Além do que pensara uma esperança
Imagem desta Deusa desfraldada
A Musa dos meus sonhos, na lembrança
Adentra em emoção a madrugada.

E vejo o amanhecer tão deslumbrante
Do lado de quem sempre desejei.
Que tudo seja sempre fascinante

Diante deste corpo magistral
O amor nos ensinando traz em lei
Encanto com certeza, sem igual...
Marcos Loures


67



Deitando nos teus braços meu remanso
Cabocla sertaneja, um gozo, um riso.
De tudo o que eu mais quero eu afianço
Está neste teu corpo mais preciso.

Ventando sobre nós a mansidão
O campo se promete em verde intenso.
Vencendo toda angústia e solidão
No quanto eu sou feliz agora, eu penso.

Fumando o meu cigarro, o peito aberto,
Alertas entre espreitas e tocaias,
Do rumo que pensara ser incerto
Encontro finalmente mar e praias

Deitando o nosso amor em lua cheia
Castelos construídos são de areia...



68


Deitando no teu colo com ternura,
Sentindo a luz chegar à minha vida,
O vento da esperança me murmura
Palavra tão macia e decidida.

Clarão que iluminando a noite escura,
Demonstra a sorte plena e mais querida
Vencendo a caminhada amarga e dura
A cada nova etapa já vencida

De quem tendo o seu mundo desbravado
Tem o canto ao amor já consagrado
Em versos e palavras redentoras.

Sabendo do final de cada história
Ao pressupor assim farta vitória
Encontra na amizade tais escoras.
Marcos Loures



69

Deitando neste chão, te peço colo,
Embora nada mais tão obsoleto
Fingir que tão sozinho já me enrolo,
Não passo, sem te ter, simples inseto.

Mas vejo nos teus olhos a promessa
De termos espalhados nosso sonhos.
De tudo que carrego, uma remessa,
Levando por caminhos mais risonhos...

Acordo sem teus braços e me queixo
De amor que não possuo mas desejo.
Rolando nestas águas, triste seixo,
Espera ansiosamente por um beijo.

Que tanto prometeste mas negaste,
Amor para crescer pedindo uma haste



70



Deitando meu prazer em teu prazer
Vibrando de emoção e de alegria
Sabendo o quanto é bom poder viver
Amor que nos fartando a cada dia

Permite sempre um novo amanhecer
No gozo da perfeita sintonia.
Querida é necessário te dizer
Do amor que há tanto tempo eu bem queria.

Sacio meus desejos e vontades,
Enquanto te aconchegas junto a mim.
Nos olhos de quem amo, claridades

Que trazes com sorrisos. Sendo assim
Que Deus sempre te faça a companheira
Que um dia imaginei; a derradeira...
Marcos Loures



71


Deitado nos teus braços, tão serenos,
A noite vai passando calmamente.
Distante dos perigos, dos venenos,
Meu barco singra o mar e assim pressente

Os cais que tanto quis, bem mais amenos
Vivendo em calmaria, de repente,
Sabendo: ser feliz se faz urgente,
Percebe deste amor, os seus acenos..

E vai sem ter nem dúvidas nem medos,
Na busca pelo sonho mais audaz
De ter na vida inteira a plena paz.

Sabendo conhecer os meus segredos,
Afasta para longe, a tempestade,
Amor a traduzir felicidade !
Marcos Loures


72




Deitado no teu colo, olhos fechados,
Querendo teu amor e proteção...
De tantos os caminhos machucados,
De tanta e tão profunda decepção...

Eu peço teu abraço e teu consolo,
Eu quero tua boca tão macia.
Na doce mansidão, gostoso colo.
Tem tudo o que procuro; a fantasia.

Amiga derradeira; tão querida...
Teus braços acalantam meu cansaço.
Durante boa parte em minha vida,
Nossa amizade foi de intenso laço...

Te quero tão eterna, todo dia.
Amiga e tão amada poesia!



73

Deitado no colchão, macias plumas
Espumas e sensíveis sedas, rendas...
Meus versos em delírios tudo esfumas
Nos risos e nos gozos, oferendas...

De tantos espetáculos vestígios
Deixados nesta cama sem cuidado...
Amores que se foram já prodígios
Aos poucos vai ficando mais calado.

Mas sinto teu amor, sempre singelo
Em torno dos meus sonhos, seus contornos.
Refletem nosso caso, vivo e belo,
Mas órfão, precisando mais adornos...

E sinto que também pensas assim,
Queremos novas danças, mais festim...



74

Deitado neste leito perfumado,
De rosas, alecrim; logo reclinas.
Me sinto em teu aroma, apaixonado,
Essências maviosas, tão divinas...

Soltando teus cabelos, bela crina;
Descubro na nudez, os teus mistérios...
A boca tão fremente; desatina;
Esquece de cumprir quaisquer critérios....

Eu pouso em tua boca um longo beijo,
Suspiros de ventura e de prazer.
Sonhando com teus lábios eu versejo
E tenho tanta coisa por dizer...

Falar de meu amor, tão deslumbrante,
Embarco neste sonho delirante!



75


Deitado em teu regaço tão macio
Ouvindo esta canção que me acalanta,
As águas vão descendo pelo rio,
Aguando em suas margens, cada planta,

Assim como este sol que esquenta o frio
Assim como a saudade não me espanta,
Meu coração batendo tão vadio,
Sentindo o teu carinho já se encanta

E se acomoda manso no teu colo,
Sentindo tuas mãos nos meus cabelos,
Os sonhos mais bonitos vou vivê-los

Fechando os meus olhos, me consolo...
E sinto que sou forte, teu guerreiro,
Teu par, amante, eterno companheiro...


76


Deitado em minha cama um baby doll,
Envolve tuas formas generosas.
No bronze que ganhaste sol a sol,
As carnes se mostrando belicosas,

Cantigas e mandingas de arrebol,
Soando em tua boca; maviosas
Repito cata-vento e girassol
E bebo de teu corpo, água de rosas.

Abrindo este botão da camisola,
Eu abro o teu botão rosa vermelha.
Recebo o teu perfume em que se embola

Os cernes desta noite em poesia.
Acendes com teus lábios a centelha
Da lua que se entrega mais vadia...



77

Deitando em minha cama, mansamente,
Trazendo toda a dor duma ilusão;
Que viera e se fora, totalmente,
Deixando em arremedo, o coração...

Deitando em minha cama, doce momento;
Numa explosão de sonhos e desejos...
A vida que se foi, duro tormento,
Ressurge em tal loucura, nossos beijos...

Deitando nos meus sonhos, abandonos...
Trocamos nos olhares, nossas vidas.
Até que a madrugada traga os sonos,
Recuperamos luas esquecidas,

Amores esquecidos, maltratados...
E num milagre de amor; ressuscitados!


78


Deitando do teu lado, eu me recolho
E tramo mil vontades de prazer.
Na janela trancada com ferrolho
O vento vem sedento receber

Perfume que tu trazes, cada molho,
Vagando a noite inteira a nos dizer
Que a sorte nos mirando com seu olho
Garante sempre amor e bem querer...

Querida assim percebo e mal disfarço,
Ciúmes te garanto que ocultei
Em sentimento vago e tão esparso

Abraço fortemente enquanto entrego
Meu mundo nos teus laços, pois achei
Em ti, amor no qual enfim sossego...


79

Deitando calmamente sob o monte,
Sentindo o vento calmo da promessa,
O sol brilhando intenso no horizonte,
Beleza de um momento se confessa.

Fazendo com o Céu, perfeita ponte,
Não vejo mais motivo que me impeça
De ser o que sonhara e que desponte
Um dia soberano. Vamos nessa!

Sorrindo em alegria, vago o tempo
Tragando cada gota de esperança.
Um novo paraíso já se alcança

Depois das cordilheiras- contratempo.
E um canto em acalanto vai tomando
A noite em que sonhei, te namorando...


80


Deitando calmamente no teu colo,
Depois desta batalha sem ter fim.
Forjando nova vida deste solo,
Plantando tanta luz de amor em mim..

Granulo uma esperança formidável
Nos versos irmanados, tu e eu.
Ouvindo teu carinho, tão amável,
O medo de morrer, enfim, morreu...

E quero ser semente que engravida
A vida sem temores que propomos;
Tristeza nada faz, morre esquecida,
E como da alegria, tantos gomos.

E quero lambuzar-me neste sumo
Perder, no teu quintal, meu senso e rumo...


81

Deitando a solidão em minha cama
Esconde logo a lua que inda teima,
Do amor que fora um dia guloseima
Vivendo em descaminho, perco a trama.

Apenas a saudade vem e chama
Tristeza no meu peito sempre queima
Trazendo para o olhar a velha teima,
Que cisma em maltratar enquanto inflama.

De todos os duendes, gnomos, fadas
Que um dia povoaram os meus sonhos,
O vento traz em outras baforadas

O rosto tão somente de ninguém;
Em meio a versos tristes e medonhos,
Agora tão vazia a noite vem.
Marcos Loures


82



Deitados nesta rede ou numa esteira,
A tarde desfilando seus azuis
Distante o rádio toca um velho blues,
A noite se anuncia alvissareira.

Dois corpos que se tocam com carícias
Detalhes descobertos pouco a pouco,
O gozo prometido, manso ou louco,
Entregues sem temor, fartas delícias.

Realces de sobeja precisão,
Amor anunciando inundação
Sem margens que limitem correntezas.

Nas doces corredeiras, mil cascatas,
Embrenho sem pudores tuas matas
E encontro estas fantásticas belezas..



83




Deitado sobre as pedras; vejo a lua
Eterna soberana, no horizonte,
Derrama suas luzes pelo monte
E como deusa impávida flutua.

A lenda das sereias se cultua
Na areia prateada, bela fonte
De todos os desejos. Nesta ponte
Presente com passado continua...

E as ondas, o marulho... Céu e mar.
Certeza de dormir e de sonhar,
As conchas são colares perolados

E a moça se debruça sobre mim,
Andrômeda, mergulho e vejo enfim
Tesouros por Netuno abençoados...



84


Deitado sobre a areia nessa praia,
Roubando cheia lua, o seu luar.
O vento mansamente, tudo espraia,
Deixando meu amor me navegar...

Presença carinhosa destas ondas,
O canto deste mar; traz a sereia,
Mil luas todas plenas tão redondas,
Brindando tanta prata nessa areia...

Eu sinto teus desejos aflorados,
Nos beijos que pedi; doce umidade,
Amores reproduzem; delicados,
O que sempre pedi: felicidade...

Eu quero me integrar nesta paisagem,
Mirando em teu olhar, bela visagem...


85



Deitada no divã em sua alcova
Espera com frescor, alegremente.
A vida que na vida se renova
Revolta, transtornando tolamente...

Pertence aos teus encantos branca lua.
Divina em placidez angelical,
Espelha essa beleza quase nua
Caminha em minha cama, sensual...

Amada nos vergéis por onde passas,
Espalhas tantos brilhos delirantes,
Mal vejo os teus passos, pois disfarças,
Em meio a tantas sendas verdejantes...

Amada nas estradas e cascatas,
Despontam tuas luzes, serenatas...


86


Deitada nesta sala, adormecida
Te vejo ressonar, tão calmamente...
Amada que se fez bem mais querida
E deita em minha cama, minha amante...

Ao ver sua nudez, já descortino
Futuro tão tranqüilo que preciso...
Amor que me invadiu desde menino,
Agora reconheço em paraíso...

Eu quero te tocar cada segundo
Sabendo que não tenho mais tormento
Em cada nova senda me aprofundo
Da boca irei sorver o meu provento...

Amando quem sonhara em juventude,
Assim amar demais; mais do que pude...



87

Deitada nesta cama me provocas
Com teus doces sorrisos sensuais
Qual fera que procura em tantas tocas
Nas suas explosões mais animais...

Derramo meus anseios nos teus seios
Sem medo nem receios do que espero.
Os olhos se permeiam, devaneios,
Em todos os sentidos me tempero.

Eu quero o turbilhão dos teus perfumes
Que encharcam meu desejo, te beber.
Nas horas mais dolentes sem queixumes
O teu orvalho em brasa vou sorver.

Invado tuas matas, arvoredo,
Esqueço o que passei, e me enveredo...


88

Deitada na verdura do arvoredo,
Desnuda sob o sol, desfalecida...
Espera por carinho desde cedo,
Aguarda uma esperança adormecida.

Eu sinto que tu queres tanto amor
Que não posso te dar, nem receber.
Teus braços que sei plenos de calor,
Abraçam essa vontade de viver...

Mas amo teu amor e teu desejo,
Desejo teu amor bem junto ao meu.
Meus lábios aguardando por teu beijo,
Teu beijo que em lábios se perdeu...

E chamo calmamente por teu nome,
Entre as estrelas, nua, a lua some...


89


Deitada na minha cama,
Em tremendo reboliço
Acendendo logo a chama
Meu amor florindo em viço,

Recomeça logo a trama,
Que é feita em louco feitiço,
Moreninha, amor te chama,
Vem comigo que eu te atiço.

E te atirando pro leito,
Em cetins, nosso dossel,
Meu amor tão satisfeito

É caminho para o céu,
Mas venha de qualquer jeito
Desde que entorne teu mel...


90


Deitada entre meus braços adormeces,
Adornas minha casa, bela dama.
Tecendo no teu corpo raras preces,
Acende neste outono a nossa chama.

Vasculho por segredos, tua pele,
Encontro as mais suaves maravilhas.
A cada novo ponto que revele
O quanto são divinas tuas trilhas

Percebo que não tenho mais saída,
Sou teu e nada além. Vivo feliz.
Em tuas mãos entrego a minha vida.
Prazeres que se buscam, peço bis.

E assim amor se faz devagarinho,
Suavemente e manso, com carinho...
Marcos Loures


91



Deitada, quase nua, toda exposta...
Nessa janela aberta tantos sonhos...
Distraída, merece toda aposta
Dos corações vibrantes, tão risonhos...

Eu sonho com seu corpo transparente.
Maldades da janela, meu desejo...
Quem dera ser vizinho, até parente,
Desta beleza toda que hoje vejo...

Menina não maltrate tanto assim...
Deitada nesta cama ...Que tortura!
Transborda quase tudo, que há em mim.
Nos sonhos desta moça, u’a aventura...

Daria; na verdade, todo um mundo..
Entrar naquele quarto, um só segundo!


92
Deitada sob a lua, nua em pelo,
Coberta pelos raios desta lua,
Ao vê-la não resisto ao teu apelo
E a saga de querer-te continua...

Te beijo, delicado e desejoso,
Meus lábios percorrendo teus caminhos
Até te conhecer, voluptuoso
Sorvendo cada toque, mil carinhos...

Na areia, sob a lua, sob o sol,
Coberta por meu corpo, alas abertas,
Eu sou teu mensageiro, o teu lençol

E trago mil prazeres, não se espante.
As nossas peles nuas, descobertas,
Entornam-se em delírios, neste instante...
Marcos Loures


93


Deitada num dossel, és virginal,
A deusa dos amores te deu luz!
Montado em meu corcel, no longo astral,
Caminho transtornado. Me seduz

O lume que emanaste neste umbral
Do castelo dos sonhos. Andaluz
Cavalo a me levar, na sideral
Trilha, o teu brilho sempre me conduz!

A vida, sem demora me deu vez,
O campo das estrelas no infinito...
A morte de meu mundo se desfez,

O tempo sem querer me deu seu rito.
Emocionado solto um berro, um grito,
Envolto em tal pureza, minha Agnes...



94


Deitada no jardim, qual flor mais bela,
O sol vai bronzeando tua pele.
Olhando-te o desejo me compele
Nesta nudez divina que revela

Um quadro magistral em rica tela,
Quem dera se meu corpo ao teu se atrele
E o tempo por momentos se congele
No amor que assim cavalga, sem ter sela.

Não vês minha chegada, nem percebes
Que estou perto de ti, tão distraída...
Num beijo delicado, sigo as sebes

E toco tua carne, assim querida.
Com um sorriso manso me recebes
E toda a resistência está vencida...


95


Deitada no divã enlanguescida
O vento ter assoprando, delicado...
Percebo esta delícia em minha vida
E me sento; sereno, do teu lado..

Sentindo as vibrações que logo emanas
Roçando o teu cabelo com meus lábios...
Depois de minha ausência por semanas,
Meus dedos te vasculham; são bem sábios...

E quando, ao perceber que te entregaste
Aos meus carinhos; beijo tua boca,
Percebo que também o desejaste
E a tarde terminando, nua e louca...

Mulher por quem sofri, amei; um dia,
Amante, deusa e musa: poesia!


96




Dei um chute no saco de Cupido!
Cansado desta peste que não pára.
É seta que me fere e desampara,
Inda se ri, safado pervertido!

Não quero mais um beijo deslambido
De quem com ironia me escancara
Sorriso com sarcasmo e se faz cara,
Num gesto em desamor envilecido.

Fazendo que não quer o que deseja
Mostrando sob a saia um cadeado.
No beijo que pensei tivesse dado,

Um dardo sem juízo já me alveja
E vendo o resultado desta farsa
Percebo no moleque, o teu comparsa.


97


Defesa de mineiro é o come quieto,
Porém nós somos mais que algum objeto,
O fato mais real e até concreto
É que não trago aqui mais desafeto.

Se às vezes eu sou franco e até direto,
No quase cometido me arremeto,
E faço das palavras de um soneto
As cinzas que sobraram do meu teto.

Jamais suportaria algum decreto,
Que trague desde sempre corte ou veto,
Prefiro ter morrido quando feto.

Caminho pelas ruas, vou discreto
Buscando o meu futuro mais dileto
Nas mãos do velho engano, o predileto...


98




Deitada em sua cama, tanto sonha;
Carinhos prometidos, delicados...
A noite se deseja mais risonha,
Trazendo seus amores ansiados...

Na seda dos lençóis, perfumes, rendas,
O gosto deste amor que sempre quis.
Sonhando um beduíno, oásis, tendas.
Percebe que não custa ser feliz...

Detrás de uma cortina, a clara lua,
Vem invadindo o quarto, mansamente...
Beijando sua pele quase nua
Roçando a camisola transparente.

Olhando extasiada para o céu,
Sonhando com amor do seu corcel!


99



Deitada em solidão no apartamento
Espera quem se fora há tanto tempo,
Depois de tão cruel apartamento
O dia vai passando em contratempo.

Não tendo mais palavras pra dizer,
Esquecida num canto desta casa,
Apenas encontrando algum prazer
No jogo de esconder a dura brasa.

A moça se permite em mil delírios
Pensando no que fora e não voltou,
Amores na verdade são martírios
Há dias que, percebo, ela notou.

Em nome da amizade, eu te garanto,
Ajudo a dirimir teu triste pranto...


4600

Deitada em meio a sedas e cetim
Espera ansiosamente pela lua
Que sobe pela escada plena e nua,
E lambe sua boca. Sempre a fim

De todo este prazer que chega enfim
Depois de tanto tempo em vaga rua,
Matando o seu desejo, ela flutua
E entrega-se com fúria. É bom assim.

Saber da companheira mais fogosa,
Fomentos de loucuras e vontade
Sorvendo com delírio em claridade,

A lua junto dela, maviosa,
Lábios abertos mãos em liberdade,
Num ato de loucura, a moça goza...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
Leituras
739
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.