não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
sinto-me entre a espada e a parede – tempos houve em que estava entre a parede e a espada – as palavras devolveram-me a razão. a minha razão – no passado invisível. envergonhada. escondia-se no silêncio – havia barulho a mais para os meus medos – nas minhas mãos havia ainda um par de papoilas. loucas por cores. viviam do sol. de um sol que nunca imaginei meu – assim. estava tão longe. e nem sequer bicicleta tinha – os outros. já eram enormes. falavam tudo com tanto saber. eram gigantes. com umas bocas que quando abertas podiam guardar todas as bicicletas do meu imaginário. passavam velozes. nunca sorriam ou acenavam. penso que iam com pressa. talvez fossem donos do sol – se eu um dia tivesse uma boca assim. talvez também pudesse chegar ao sol – acreditei. no passado alguém me disse para acreditar. sempre – aos poucos. comecei a juntar todo o ferro-velho que fui encontrando pela estrada. separei todas as porcas e parafusos. fiz uma corrente. uma corrente resistente aos orvalhos das noites frias – enchi os pneus de papeis escritos com os meus nadas. levantei os pedais que um dia o meu pai me ensinou a fazer. vendi um anel de família para comprar um casaco de couro e um boné – tirei-lhe as mangas. fiz um selim de couro – à frente do guiador um livro de eugénio de andrade. ilumina a estrada que escolhi para dizer ao sol que um dia ele também será meu – encontrarei a campainha que abrirá caminho entre os gigantes. mesmo aqueles que pela força dos deuses se fizeram pedra –