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nem nunca

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


sinto-me entre a espada e a parede – tempos houve em que estava entre a parede e a espada – as palavras devolveram-me a razão. a minha razão – no passado invisível. envergonhada. escondia-se no silêncio – havia barulho a mais para os meus medos – nas minhas mãos havia ainda um par de papoilas. loucas por cores. viviam do sol. de um sol que nunca imaginei meu – assim. estava tão longe. e nem sequer bicicleta tinha – os outros. já eram enormes. falavam tudo com tanto saber. eram gigantes. com umas bocas que quando abertas podiam guardar todas as bicicletas do meu imaginário. passavam velozes. nunca sorriam ou acenavam. penso que iam com pressa. talvez fossem donos do sol – se eu um dia tivesse uma boca assim. talvez também pudesse chegar ao sol – acreditei. no passado alguém me disse para acreditar. sempre – aos poucos. comecei a juntar todo o ferro-velho que fui encontrando pela estrada. separei todas as porcas e parafusos. fiz uma corrente. uma corrente resistente aos orvalhos das noites frias – enchi os pneus de papeis escritos com os meus nadas. levantei os pedais que um dia o meu pai me ensinou a fazer. vendi um anel de família para comprar um casaco de couro e um boné – tirei-lhe as mangas. fiz um selim de couro – à frente do guiador um livro de eugénio de andrade. ilumina a estrada que escolhi para dizer ao sol que um dia ele também será meu – encontrarei a campainha que abrirá caminho entre os gigantes. mesmo aqueles que pela força dos deuses se fizeram pedra –
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 30/11/2010 22:00  Atualizado: 30/11/2010 22:00
 Re: nem nunca
«encontrarei a campainha que abrirá caminho entre os gigantes. mesmo aqueles que pela força dos deuses se fizeram pedra –»

Tenho sempre essa impressão quase sem nexo, quando a naus partem com destino impreciso.

Excelente prosa!

Parabéns Poeta.

Com carinho
Assiria


Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 30/11/2010 22:24  Atualizado: 30/11/2010 22:24
Colaborador
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Mensagens: 4812
 Re: nem nunca
caro amigo,

apetece-me apenas dizer" Pelo sonho é que vamos" e assim, mato dois coelhos de uma só cajadada, amparo-me embevecido a Sebastião da Gama e acompanho-te na tua viagem de luz, como Quixote(?) "a estalagem é melhor que a hospedaria"...

abraço fraterno
arlindo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/12/2010 01:16  Atualizado: 01/12/2010 01:16
 Re: nem nunca
Sabe poeta, eu visualizei essa bicicleta com papéis nos pneus, escritos de nadas, de tudos, de histórias... visualizei essa corrente resistente aos orvalhos da noite fria, visulizei o caminho... rumo ao sol!

Belíssimo, como tudo o que vc escreve, parabéns beijos