Abandona-se o quarto.
Distancia-se dos lençóis envoltos em abraços, sexo, ternuras, carícias e desejos de se dar.
Um pingo de alma deposita-se com o sonho de depositar-se toda.
Como queria chover-te torrencialmente em ti, despejar trovões de desejos completos de dar-me.
Desfilar-me mais nu que o tirar da roupa pode desnudar.
Há Mascaras!
Quantas mais tiro, mais descubro que algumas já não me lembravam que existiam.
É tão difícil tirar essas!
Quanto mais tempo as usamos mais colam-se a pele,
fazendo de nós elas, pensado que elas também somos nós,
Não somos!
Só somos realmente uma coisa imutável e intangível chamada alma!
E entre nós, no contar decrescente em procura de nós,
vamos vendo mais claramente que:
35, 34, 32, 31, 30, 29, 28, 27, 26, 25, 24, 23, 22, 21
Faz-nos desejar
21, 20, 19, 18, 17, 16
Como quem ama eroticamente a primeira vez e:
15, 14, 13, 12, 11, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0
Como que deposita toda confiança nos braços que abraçam por nem saber o que é confiar.
Pois confiar é nos depositarmos por completo em alguém!
Mas o:
0, 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9, 11, 13, 16, 19, 21, 24, 28, 32…
Vai fazendo com que tenhamos cada vez mais dificuldade de o fazer e…
Abandona-se o quarto.
Distancia-se dos lençóis sem saber bem ao certo se voltaremos aos mesmos braços.
Com a certeza que deixamos um pouco de nós.
Levando um pouco de calor também.
E desejando que esse pouco seja como semente.
Que basta regar, adubar e cuidar que transforma-se em arvore