Na hora do desespero
treme o facínora e, tíbio,
lambe o sangue da navalha
que traz o oponente à mão;
Calígulas assombrados -
em trajes comuns, soturnos,
sanguinolentos caudilhos,
se ocultam na multidão.
Na hora do desespero,
aristocratas da guerra,
como porcos (e é o que são),
chafurdam na lama podre
que lançaram sobre o chão.
Fingem ser apenas homens.
Convencem, mesmo aos mais sábios
que apenas humanos são.
Na hora do desespero,
carrascos, pedem perdão.
Num átimo, recompostos,
de volta ao “dolce far niente”,
mefistofelicamente,
já não disfarçam nos lábios
o esgar da dominação.
... Crêem-se mais do que homens,
reconduzidos aos postos
em que nós os distinguimos
por medo ou por omissão.
(Do Livro de Sersank, "Estado de Espírito")