Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 032

 
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1


Apenas um resquício, o que sobrou
Do dia em luz mais frágil e tão tacanha.
O sol que por momentos me enganou
Esconde-se detrás desta montanha.

Ambição de nudez em carnaval
O preço que se paga vale a pena?
Farol que se disfarça em sensual
Segredo repetindo a velha cena.

Molambos que coleto enquanto peno
Apenas fingimentos e lençóis.
O resto serpenteia o seu veneno,
Deixando quase nada, mesmo após.

Apostas que perdi, a vida mente
Enquanto luz me banha corpo e mente...


2


Apenas uma fístula e não mais.
Postulo o que jamais perceberia
Não fossem os anseios de alegria,
De tantas serventias, nave e cais.

Por mais que tantas vezes ancestrais
Idílios em tramóias, alquimia,
Desértico momento que se cria
Em cardos, percevejos, nem notais.

Desejos e destinos boca e sexo,
Fagulhas que não fazem fogaréus,
Embora sem destino, rasgo os véus

E busco no vazio qualquer nexo
Enquanto tua língua me percorre,
Até que o farto líquido socorre...



3

Apenas uma noite e nada mais,
É tudo o que eu desejo. Pelo menos.
Dos gozos tão supremos, assim plenos
Estrada que em delírios decorais.

Dos sonhos, arabescos em vitrais,
Momentos tresloucados e serenos,
Teus lábios com certeza tão amenos,
Vontade que em ternura decifrais.

Vencendo os velhos pejos e pudores,
Entre viagens mansas e suores
A noite de meu bem tanto aguardada.

Se tu vieres nua e mais audaz
De toda insânia; juro, sou capaz
De crer no sol dourando a madrugada.



4


Aperte os cintos! Vamos decolar
Em rumo da total felicidade,
O pássaro de luz bebe o luar
E vive a mais perfeita claridade.

O templo dos prazeres vai mostrar
Que a vida merecendo liberdade
Expressa esta alegria que sem par,
Aos poucos com delírio nos invade.

Entregue a tais propósitos, querida,
A gente modifica a nossa vida
E traz um Eldorado em fantasia.

Por isso, venha logo e não se esqueça
Que amor só se entregou a quem mereça
Saber de seu poder, sua magia...


5


Apesar de todo podre mundo fero
Que enquanto nos corrói, não deixa nada.
Seguindo com firmeza a minha estrada,
Encontro a paz suprema que ora espero.

Enquanto perceber tudo o que eu quero
No brilho sem igual de uma alvorada,
Uma esperança audaz decerto brada
Trazendo à fantasia um raro esmero.

Assim, vencendo os medos, vou em frente,
Por mais que a dor insista e ainda tente,
Eu tenho um lenitivo na esperança.

Serpente que pulula nesta senda
Aonde à fantasia o amor arrenda,
Na mansa servidão, a paz alcança...


6


Apesar dos pesares, mais felizes
Corremos para o mar, buscando a foz
Deixando no passado estes deslizes
Amor que é tantas vezes qual algoz.

Em nós a profusão de lua, estrela
Estende na varanda um farto brilho.
Delírios de poder; sempre, sabê-la
Na prata que emoldura nosso trilho

Um andarilho vaga em noite imensa
Em buscas sem limites vago insano.
Na boca da mulher, a recompensa
O tempo se promete sem engano

E assim, ao adentrar salgado mar,
Eu vejo o mel da vida se espalhar...


7


Aplacará em paz estes tormentos,
A força deste amor que nos domina,
Toando em alegria os pensamentos
Já sabem, reconhecem, cada mina

Os dias sem amor são sonolentos,
A glória de sonhar se determina
Realizando em todos os momentos
O que uma fantasia vaticina.

Eu tenho esta certeza inabalável
De ter esta emoção irrefutável
Trazida pelos braços em ternura.

O quanto eu te desejo e tu me queres
Nos gozos que te dou e me transferes
A vida sonegando uma amargura...


8


Aplaudes, tão irônica esta cena
Aonde me desnudo em tua frente
Amarga realidade surge plena,
Sem ter sequer um brilho que a contente.

Arrasto em cada verso esta corrente,
Negando em voz sombria, a noite amena.
Nas mãos como um flagelo, o penitente
Arranca os tristes olhos, se envenena...

Auto-retrato feito com minúcias
Qual pária que emergindo de outras súcias
Expressa na nudez, os seus sentidos.

E quero que me vejas face a face.
Porém por mais que a vida, tola, embace
Eu não darei um tiro em meus ouvidos...



9


Aplausos aos estúpidos canalhas
Que fazem dos seus sonhos dura lei
Na qual por tantas vezes escarrei
Comendo a fantasia, podres gralhas.

No peito a falsidade de medalhas
Nas guerras contra os frágeis, observei
Pisar sobre os farrapos fazem rei
Aquele que se esconde sob navalhas.

Vencer o frágil povo sem defesa
Não traz a galhardia pra ninguém,
Sugando este cadáver, sobremesa

Na fétida manhã ocidental,
Da história esta gentalha perde o trem
Mostrando o seu sorriso, mais boçal.



10


Apocalíptica visão do fim
Aproximando-se feroz demônio.
Mundo resume-se, navego enfim.
Desde o primeiro virtual mecônio.

Em trevas frias más e desumanas,
Reflexos desta podre solidão
Nas hóstias as vontades mais mundanas,
Revelando total escravidão.

Me lassas, danças resumindo, riso
Me cremas farsas, resplendor e canto...
Partícipe voraz me negas friso,

Destróis todos os lastros, satisfeito
Terremotos marinhos, celacanto,
Minha morte esperando-me no leito..



11


Apoderou-se inteiro, já de mim
O sentimento nobre e soberano,
Tomando em redenção o meu jardim,
Professa um canto ameno sem engano.

Celebro a cada noite em harmonia
Bebendo desta fonte cristalina.
Concebo fielmente tal magia
Que emana deste amor e nos domina.

Carrego nos meus lábios a lembrança
De cada beijo dado em noite clara,
A vida se fazendo em temperança
A quem andara só, decerto ampara.

Secando cada lágrima, um sorriso
De toda a sorte e glória, um doce aviso...



12

Aprisionados, loucos e desnudos,
Na embriaguez insana, pele em pele.
Momentos delicados, mais agudos,
Insaciado amor sempre compele.

E juntos caminhamos sem repulsa
Estradas extremadas pernas, seios...
Vontade sem limites, cedo pulsa
E nada nos detém, não temos freios...

Tomado por insânia em frenesi,
Requebros e meneios, teus quadris.
Recebo este calor que vem de ti,
Em teu gozo, querida, sou feliz...

Estamos lado a lado, a vida inteira,
Paixão que nos decora, verdadeira...


13


Apodrecendo em vida, as larvas companheiras,
Amigas mais fiéis, bocas que me tocam.
As luzes do meu quarto, ao tremularem focam
Imagens do passado. Estrelas, nuvens, beiras...

A perna decomposta exposta à tais bicheiras
Enquanto as emoções diversas se deslocam,
Crisálidas do sonho, as moscas já se alocam
E mergulham no esgoto as línguas derradeiras...

Encontro no cigarro, um contumaz abrigo,
Vejo nas espirais reflexos do que fomos
E o tempo carregou. Estúpido, os persigo.

Esvaem-se no fumo, e no bafejamento
Da fera solidão, a carne em podres gomos
Decepando-se traz enfim algum alento...


14

Apóia cada passo, dourada haste
Que ergueste com cuidado em noite mansa.
Do quanto tanto amor tu me entregaste
A sorte desejada já se alcança.

Amor que se assenhora dos meus versos,
Forrando a minha vida em calmaria.
Legando à solidão vento reverso,
Expressa tão somente poesia...

Talvez possas pensar ser pleonasmo,
Falar do amor da forma que eu bendigo
Embora repetido, sem marasmo
Telúrica expressão; sempre persigo.

Atrelado no amor vou a reboque
Usando cada verso qual bodoque...


15


Apoio mais seguro num tropeço,
Percebo em tuas mãos quentes, macias,
As flores, com ternura eu ofereço,
Fazendo benfazejos nossos dias.
Futuro feito em paz; deveras teço
Dourando as minhas horas, alegrias.

No amor abençoado enceto os laços
Forjando o quanto quero ser feliz.
Seguindo os teus caminhos, nossos passos,
Eu vejo que terei o que prediz
Os sonhos mais sutis, sem embaraços,
Sem ao menos deixar vil cicatriz.

Alçando ao infinito em cada verso,
Não quero o caminhar, ledo e disperso...



16


Apontam outros mastros desde agora,
Caminham em trieieros, são as pistas,
Deixadas por quem veio lá de outrora
Ardente fogo, temo, não resistas...

A chama que os ouvidos tanto viram
E sempre se atraíram pelo lume.
Tantos resguardos foram e sentiram
No teu oculto vulto bem sei miro-me

Nestes segredos tantos meus abraços
Sem vistas entre nossas vãs paredes.
Sem trancas me despindo nos teus braços
Me entrego, minha amada em nossas sedes.

No fogo que devora nosso amor,
Na cama onde estou a teu dispor...



17


Aportas no meu cais em beijo e riso,
Fazendo sempre mais do que eu pensara,
Eu agradeço enfim, a jóia rara
Que traz em boca e corpo o paraíso...

No toque mais sutil e mais preciso,
Nudez maravilhosa se escancara,
Adoça a solidão, peito dispara
E pára a tempestade que em granizo

Caíra a noite inteira, sem parar.
Agora que percebo neste altar
A marca da cigana sedução,

Em luas argentinas sobre a mata,
Reflexo de desejo já desata
E trama em nosso caso, uma explosão...


18


Aporto neste cais cada desejo,
Avanço por limites mais audazes,
Usando sutileza, assim prevejo
Momentos de loucura, tão vorazes.

Nas pernas que em prendem, já latejo
Agradecendo a força das tenazes
Na festa que se faz em louco ensejo
O quanto satisfeita satisfazes.

E o gozo mais profano se revela
Na intensa maravilha que singela
Um lago em placidez bebendo a lava

Assim na ardência feita em calmaria
O sonho mais feliz usufruía
Amor que uma amizade sustentava.



19


Aporto o meu desejo no teu cais
E encontro o que buscara a vida inteira,
Depois destes mergulhos abissais
Agora tenho em ti a companheira

Que mostra ser possível noutro passo
Vivenciar o fogo das paixões.
O quanto te desejo, amor eu traço
Espaços infinitos, tentações.

Perceba quanto o sol já nos aquece
E mesmo num mormaço nos suprime,
Amor que quando vem rejuvenesce
No encanto que quem ama não reprime

Estende sobre nós e em vento bom,
Garante ao manso dia o raro dom.


20


Após a luta intensa; um aconchego
Que encontro nos teus braços, mostra a paz
Que em nome deste amor, enfim, carrego

Mostrando quanto amor se faz capaz.
Num mundo mais sincero em que navego
A vida em esperança, amor me traz.

Eu quero o teu desejo e tua sina,
Eu quero a maciez de teus cabelos.
Bebendo meu amor em ti, menina
Meus braços nos teu corpo são novelos.

Eu quero ser eterno namorado
Desta morena bela e sedutora,
Estar o tempo inteiro do teu lado,
Num vôo sem cansaço, a vida afora..


21


Após a noite feita em fantasias
Rondando mil estrelas, perfumando
O mundo em maravilhas, alegrias
O sol já vem nascendo e nos mostrando

Que a vida se refaz em novos dias,
O céu tão depressa azulejando
Do jeito que sonhavas e querias
Amores e promessas nos guiando.

Juntinhos; caminhamos pela vida
Sabendo de que sempre vale a pena
A sensação que é mágica, sentida

Bebendo desta luz; estrelas, somos.
A eternidade em lumes nos acena
Comemos da esperança doces gomos.



22


Após a tempestade, uma bonança
E à Terra assim desnuda aporta o sonho
Depois de um pesadelo tão medonho,
Refeita a humanidade na aliança

Do Pai que demonstrando a Sua lança
Expressa um novo tempo mais risonho,
Sorriso sobrevindo ao tão tristonho
Caminho onde morrera uma esperança.

Nas mãos de uma família, a redenção,
Promessa de total transformação
Ungida pelas mãos do Bom Javé.

Colheita agora farta, prometida,
Mudando a direção de cada vida
Surgida após a vida de Noé.


23


Após as dores tantas que passei,
Os medos que invadiram minha vida,
Agora que, feliz, eu te encontrei,
Do labirinto, encontro uma saída,

No mar de tanto amor, eu mergulhei
Deixando a dor distante e já vencida.
Entôo uma esperança, ser teu rei
Vertendo esta emoção tão desmedida.

Eu quero que tu saibas deste encanto
Da noite constelada em claro manto
Na transfusão de estrelas pro meu quarto.

As luzes entornando maravilhas,
Do quanto te desejo e não me farto,
Percorro as mansas tramas, nossas trilhas.



24


Após o banho, nua, tu desfilas
Tua sensualidade pela casa.
Mil olhos acompanham, fazem filas,
Distantes, na janela, o fogo abrasa.

Eu sonho com teu corpo junto ao meu
Entregue numa lúbrica avidez.
Nas curvas deslumbrantes se perdeu
Meu corpo com divina insensatez...

Não percebes ou finges quanto encanto
Emanas nos teus passos, descuidados.
Adentro em pensamento todo canto
Os que vejo e os que são adivinhados

Ao ver tão bela cena eu me perturbo,
Sozinho, sem remédios, me masturbo..



25



Após um cansativo e longo dia
Procuro descansar meu corpo lasso
Deitando no teu colo, teu regaço,
No fogo do desejo e da alegria.

O canto que distante não ouvia
De pássaros canoros. No teu braço
Se mostra divinal, cura o cansaço.
Refaz meu mundo inteiro em tal magia.

A força que me trazes, vivifica
Uma esperança a mais de ser feliz.
A sorte se demonstra rara e rica

Em cada novo toque uma certeza:
És tudo o que desejo, amor que eu quis,
Um verso mais perfeito da beleza...




26


Aposto que não gostas de ninguém!
Apenas sou remendo e nada mais,
Se a gente inda enfrentasse os vendavais...
Apenas frágil laço nos contém.

Seria prazeroso ter alguém
Que um dia me mostrasse um novo cais.
Meu canto sem talento, de pardais,
Procura qual radar quem queira bem

Um péssimo poeta, um vagabundo
Que mostra os poucos dentes para o mundo,
Deixando o seu traseiro descoberto.

Menina, vê se toma algum juízo,
Meu passo sendo trôpego e impreciso
Conduz somente aos ermos de um deserto...


27



Apraz-me te saber assim tão forte,
Amigo tantas vezes partilhamos
Fazendo com vigor o nosso norte,
Mostrando enfim poder o que sonhamos.

Ao passado tu queres que eu reporte
Lembrando dos caminhos onde andamos.
Guardado na memória qual recorte
De tudo o que vivemos nos lembramos.

Nossa amizade sempre foi completa
E encarniçadas lutas e batalhas
Contaram com teu braço e sem ter falhas

A vida era, decerto, mais dileta.
Depois de tantos anos, eis aqui.
E saiba que jamais eu te esqueci.



28


Aprazo em noite clara o sentimento
Que molda a plenitude, num momento.
Trazendo um canto alegre e solidário.
Querida, minha amiga e companheira

A Terra se vestindo em glória, inteira
Festeja assim o teu aniversário.
Quem tem uma alegria por bandeira
Percebe este festejo necessário

E sabe desfrutar de tal carinho,
Seguindo calmamente encontra o ninho
Nos braços de quem sabe ser feliz.

Já tendo como guia uma esperança
Encontro em ti decerto esta aliança
O bem que desejei e sempre quis.


29


Aprendi respeitar o ser humano,
Mesmo que decepcione, pois quem erra
Merece ter perdão. Fugir da guerra
Que mesmo com justiça, é sempre engano,

Fazendo da alegria um altiplano
Alçando em fantasia a bela serra,
Reinando sobre os mares, Inglaterra,
Mudando cada sina em alto plano.

Não quero mais servis caricaturas,
Nem mesmo quem desdenha as criaturas
Encontra ao sofrimento, lenitivo.

O lobo que devora este Cordeiro,
Matilha que se espalha, mundo inteiro,
Mantendo este delírio corrosivo...


30

Aprendo a traduzir felicidade
Entregue a tal magia deslumbrante
Outrora recebera da saudade
Um gosto em azedume, nauseante

Herdando dos amores, o lirismo,
Mortalhas esquecidas sem bravatas,
Saltando sobre imenso e grave abismo
Os sonhos mais felizes tu resgatas

Criando em raro encanto um verso breve,
Destinos que se tocam; sinas, fados,
Saudades para longe, o vento leve
Deixando no lugar serenos prados.

Acendo novamente esta fogueira
Na flama que se entorna, verdadeira.



31



Aprendo com o velho caminheiro
Que sabe decifrar sutis sinais
Do amor guardando estrelas nos bornais,
Colhendo em cada flor, sublime cheiro.

Dos sonhos perolados, garimpeiro,
Lutando, não desiste e quer bem mais
Que meros devaneios sensuais,
Ao dar-se intensamente, por inteiro.

Nas mãos de um lavrador, rara colheita
Usando da alegria como esterco
De belas fantasias eu me acerco

Olhando a lua quando ela se deita
Por sobre estas montanhas no horizonte,
Percebo em cada ciclo eterna fonte...



32


Aprendo com teus versos, liberdade,
Um dom que se pensava tão distante.
A vida traduziu tranqüilidade
Nos braços deste encanto fascinante.

Entre bares, calçadas, na cidade,
Calada a madrugada de um amante
Sem ter qualquer sarjeta que me enfade
Teu canto tem a força de um gigante.

No reino da sublime poesia,
Jamais eu andaria ausente e só,
Pois tendo a companhia de Jacó

Permito-me saber desta alegria
Que adestra o coração de um sonhador
E nisso já distingo espinho e flor...


33


Apressa o coração saber que existe
Um raio de luar após a serra,
E quando a fantasia ali se encerra
O sonho persistente não desiste.

Usando da emoção, meu peito em riste,
Não quero a solidão que vaga a Terra,
Tampouco esta amargura que desterra
Quem cede aos vãos temores e vai triste.

Tu tens lugar cativo e sabes disto,
Por isso é que decerto não desisto
E sigo cada passo que tu dás

Na busca desta tal felicidade,
Atemporal, tu rompes qualquer grade
E bebes do infinito feito em paz...


34


Aqueces com teu corpo, a minha noite.
Num jogo que; sem jugo, compartilha,
Seguindo sem perguntas, mesma trilha,
Saber cada delícia do pernoite...

Sarjetas que ainda trago na minha alma,
Heréticos desejos do passado,
Perdoe se hoje sigo tão calado,
Sequer a fantasia já me acalma.

Os olhos marejados lacrimejam,
A pútrida expressão do que vivi,
Escombro dos meus sonhos; eis aqui

Em meio a tempestades que porejam,
O verme que, teimando cisma e resta,
Tentando insanamente riso e festa...



35


Aquecida ao calor deste verão,
Felicidade faz-se sem cobiça
Abrindo mansamente o coração,
Não planeja nem guerra sequer liça.

Amor, se verdadeiro rega o chão,
Não traz notícia falsa em dor postiça.
Exorciza tristeza e solidão.
Não precisa de padre e nem de missa

Amor sem ter mentiras nunca jura,
Seus gestos traduzindo uma certeza.
É feito de delícia e de ternura,

Não carece de sonhos temerários,
Resiste a qualquer baque em correnteza,
Navio que não teme mais corsários...



36


Aquela por quem meu ninho
Se cobriu em flores tantas,
Espalhando no caminho
Rosas puras, belas, santas.

Quando em luzes me agigantas
Já não sinto-me sozinho,
Dos teus braços faço mantas
Desta boca, bebo o vinho

Que inebria e que me farta.
Nesta manga última carta,
O meu trunfo derradeiro.

Dados lanço sobre a mesa,
E o amor com tal destreza
Vence o jogo. Vou inteiro...


37


Aquela por quem tenho rara estima
E neste dia está bem mais contente,
Por ter tanta amizade já se prima,
Tocando o coração de toda a gente.

Amor com amizade traz a rima
Que muda o meu caminho de repente,
O sol quando da lua se aproxima
Clareia a terra inteira, totalmente.

No teu aniversário, minha amiga
Mergulho nas palavras pra dizer
Do quanto é necessário ter prazer

Aonde uma esperança assim se abriga
E mostra num sorriso, esta saída
Na glória imaginada e tão querida.


38


Aquela que se foi e não me quis
Não teve mais saudades nem saídas
Entrave do que tanto tempo em bis
Esbarra nas estrelas, distraídas

Colide contra os prédios e lambris
Colando cada parte em novas bridas,
Na boca dos anzóis os lambaris
Estendem tuas farsas nas mordidas

Ardentes temporais vogando soltos,
Em mares que não foram mais revoltos
Assuntos diferentes se professam.

Os erros cometidos no passado
Apenas cada fato revogado
Nos ermos de teus braços se confessam...


39


Aquele amor que sonho, sei, virá
Trazendo um manso beijo, tenso e puro
Aos poucos, meu destino mudará
Remédio que entorpece onde me curo..

Da moça, da menina que me anseia
O gosto desta flor, perfume e cor;
Invade o coração, penetra, ateia
Neste fogão de lenha, imenso ardor,

E vai queimando lento, devagar,
Seu nome em minha boca, quase explode,
Um dia com certeza, vai chegar,
No templo deste amor, altar, pagode,

Que a chama deste amor já se revele,
Neste ar, no mar, no céu, nossa alma e pele...


40


Aquele cujos passos vão guiados
Pela amizade imensa que se sente,
Tem olhos nos espaços assentados,
E toda a glória o faz ser mais contente,

Seus dias com certeza são honrados,
E a voz do coração tão envolvente.
Expressa o que deseja em altos brados
Vivendo amor de forma previdente;

Não sabe de outro dia mais horrendo,
As flamas da alegria, recebendo
Mudando o seu caminho de repente.

A vida se transforma ao mesmo instante
Em que sinto o reflexo deslumbrante
No olhar de brilho farto, reluzente.



41


Aquele jardineiro que cuidava
Com toda uma alegria desta flor,
Um dia, adoecido não pensava
Senão como era belo tanto amor.

Ardendo numa febre tão insana
Sonhava com perfume inesquecível.
Porém toda a certeza que se emana
Não conta com fator imprevisível...

A flor não percebera que o jardim
Por mais que parecia estar cuidado
Não tinha mais o cheiro dele enfim,
Daquele jardineiro adoentado...

Não sofra assim, dizia o velho cardo,
À jovem bela flor lá do cerrado...


42


Aquele que deseja amor profundo
E perde a direção, capota o sonho,
Deixando um rastro amargo e tão bisonho
Morrendo sem saber cada segundo...

O coração eterno vagabundo,
Aonde a fantasia quero e ponho,
Além da cordilheira que eu suponho
Nos mares tão distantes me aprofundo.

E vejo no mergulho a solidez
De quem ao desejar amor se fez
Bem mais do que um vadio sonhador.

Fazendo do meu verso o mensageiro
Clamando com vigor ao mundo inteiro
O quanto é necessário e bom o amor!


43


Aquele que dirá do tempo em rito,
A cargo da esperança segue em frente,
Por vezes dos teus olhos necessito,
Enquanto esta saudade mata a gente.

O amor que com carinhos é bonito
Farturas entre sonhos já pressente,
No corpo de quem amo, quando habito
Eu vibro de emoções e vou contente.

Ausente tanto tempo, esta saudade,
Derrama no meu peito enquanto invade
Buscando nos teus lábios o bom dia.

Da seca agora tenho inundação
Arando com vontade nosso chão,
Tornando realidade uma utopia...


44


Aquele que em ternuras ensinou
Que a vida deve ser bem mais suave,
Usando o coração divina nave
Amor, intensa glória nos legou.

Aos doentes, no amor apascentou
Tirando do caminho algum entrave,
Fazendo da amizade única chave
Segredos são tão simples, nos mostrou.

Amar quem nos ofende e nos maltrata
Usando do perdão que é sublime arma
Que o peito dos ferozes já desarma,

E as tramas mais temíveis desbarata,
Eu faço este poema em oração,
Louvando o terno AMOR feito em PERDÃO...


45


Aquele que escapar do mau amor
Embrenha seu futuro em plena sorte,
Fugindo deste inferno, sem calor
Aguarda bem mais calmo, a sua morte...

Amor que me parece ter dois gumes,
Cortante ao mesmo tempo, caricia.
Das luas em que rouba tantos lumes,
Amor que tanto apruma já vicia.

Herméticos meus versos pueris
Talvez de amor não façam suas tendas
Amando com palavras mais gentis,
Tampando a claridade, negras vendas.

Agora, num minuto já te digo,
Amor quando é demais, sou teu amigo...


46


Aquele que jamais; ontem dizia
Canção que te alentasse, vã, profana,
Enquanto a noite chega soberana
Mergulho o meu olhar num frágil dia.

A mão que se revela em falsa guia
Ao mesmo tempo molda e desengana,
A força insuperável feita em grana,
Granando tal aborto, vil sangria.

Dos séculos e séculos, milênios
A morte desatina em vãos convênios
E muda a minha sorte ao mesmo instante

Em que rondando a casa, alerta, astuta
Ambígua e de tocaia, a voz escuta
E dá sobre o meu corpo este rasante...


47


Àquele que nos fez, sublime Pai
Eu ofereço amor pleno e sincero.
A vida muitas vezes já nos trai
E mostra um sentimento amargo e fero.

Aos olhos de Oxalá ou de Adonai
Felicidade imensa, o que mais quero.
E a dor que nos maltrata já se esvai
Nos braços de quem amo e que venero...

Nós somos passageiros desta Terra,
Planeta abençoado e destruído.
O mundo sempre foi mal repartido

Porém amorizade já descerra
Cobrindo nossa casa de esperança
No choro tão bendito da criança...


48


Aquele que somente se perder
Nas asas deste amor mais envolvente
Verá que encontrará no mesmo ser
A boca que mordendo, sangra e mente.

Não mais que certas coisas na lembrança
Guardei do que desprezo; me deixaste
O vento que trazia essa mudança,
Se avança rebentando uma fina haste.

Isento dos percursos da paixão
Escrevo meu futuro em teu passado.
Não presto mais a mínima atenção
Ao gosto que roubamos do pecado.

Sorvendo cada gota do teu gozo,
A mando deste amor tão desditoso...


49


Aqueles que se jactam de amadores
Sentimentos ferozes, traiçoeiros,
Perdendo o seu caminho timoneiros
Dos sonhos quase sempre sofredores

Não vêm que a vida forja encantadores
Caminhos mais reais e verdadeiros
Deixando com certeza; lisonjeiros
Momentos mais amigos onde fores.

Passos direcionados, na verdade
Ao máximo fulgor/ felicidade,
São dados por quem ama e sabe ter

Nas mãos toda a certeza necessária
Deixando para trás a temerária
Ausência de alegria e de prazer...



50

Aquém de todo sonho que tivera
Espreito uma verdade insofismável.
Amor perfeito eu sei inencontrável,
É como regressar à primavera.

Sabendo que terei esta quimera,
A fonte de esperança, inesgotável,
Aos poucos se tornando dispensável,
Mostrando em suas garras, louca fera.

Eu quis amar demais e me perdi,
Eu quis felicidade e nada tive.
Um louco coração que sobrevive

Ainda busca amor, deseja a ti.
Será que inda terá, pois, solução,
Quem quer em todo amor, a perfeição...


51


“Aqui jaz quem não jazera
Se jazessse a medicina”
Tanto amor que não nascera
Se não fosse essa menina.

Na pele branca de cera
Tanta coisa descortina.
Procurei a vida inteira
Essa beleza assassina...

Foste brilho das estrelas,
Vives solta neste céu
Onde posso recebê-las?

Quero tirar o teu véu...
De tal brilho virei presa.
Escravo dessa beleza!



52



Aquilo que vivemos restará
Guardado na memória, nas lembranças
Que cortam e maltratam como lanças
Na dor que, fatalmente marcará.

Eu sei que no futuro não terás
Daquilo que sonhei, recordação;
Porém hei de saber não foi em vão;
Ao olhar com saudades para trás

Terei a tua imagem radiante,
E assim renascerei no mesmo instante
E uma lágrima descendo no meu rosto

Salgando mansamente o meu sorriso,
Então, neste momento, mais preciso,
Cadáver da ilusão, de novo exposto...

53


Ar intelectual? Tanta besteira...
Matar as emoções é ser poeta?
Perdoe uma alma frágil e incompleta
Que vê a rosa aberta e nunca cheira...

Não quero botar fogo na bandeira
Que fez de tanta gente, a predileta,
Tola imortalidade é tosca meta
Eu quero a poesia verdadeira!

Falando do luar e da beleza,
Deixando-me levar por correnteza
Que entregue-me em teus braços tão somente...

O fato é que preciso deste verso
Que mostre no infinito do universo
A força de um amor, grão e semente...



54



Aragens e frescor de primavera
Nas flores, nas abelhas, borboleta.
Libélulas voando. Quem me dera
Poder seguir seus passos, ser poeta...

Falar da imensidão do sentimento
Que sinto sem segredos por você,
Na doce poesia deste vento
Amor que tudo sabe e tudo vê.

Fluir tão mansamente como um rio
Que desce por cascatas, mais ligeiro.
Vivendo a fantasia que recrio
Do sonho deste amor mais verdadeiro.

Na música que canta um passarinho,
No colo da mulher fazer meu ninho...


55


Aramos os canteiros, colho flores;
Fazendo então o mais belo buquê
Decoro nossa vida nestas cores,
Perfeita sintonia é o que se vê;

Albores divinais, perfeito lume,
No cimo dos meus olhos, monte e sol
A mão que na colheita tem perfume
Encontra a magnitude do arrebol.

Embosco teus desejos, de tocaia,
Aguardo a ventania que virá,
Levanta num segundo a tua saia,
Belezas sem igual encontro cá.

Colírio pros meus olhos, eu garanto,
Jardim que se floresce em teu encanto.


56


Aranha conquistando o seu parceiro,
Fatalidade; estúpida quimera,
Entregue aos desvarios de uma fera
Que come sem ter pena o companheiro,

Um fato entre os humanos, costumeiro,
A seca quando toma a primavera
Sujeito não permite alguma espera
E pros braços desta outra vai ligeiro.

Depois vem a pancada e o machadão,
É sangue se espalhando no colchão
E o riso embasbacado do defunto.

Rainha se livrando do zangão
Aguarda o renovar de uma estação
Novo acasalamento e o velho assunto...


57


Aranha preparando a sua teia
Uma armadilha marca a triste sina
Daquele que não vendo se alucina
E mata em noite escura a lua cheia.

No quarto a solidão que te incendeia
Às vezes o futuro descortina,
Não vês quanto eu desejo-te, menina,
O amor vai estourando cada veia.

Mas deixe isto pra lá, sejas feliz
Enquanto a poesia for teu alvo,
O coração tão velho, amargo e calvo

Batuca por quem nunca, eu sei, me quis.
Faz parte dos meus dias a esperança.
Quem luta sem ter armas nunca alcança....


58


Aranhas e moleques, bocas, becos.
O gado vai passando na porteira
Eterna sensação do que se queira
E muitas vezes morre em repetecos.

Depois no bate papo traz botecos
Numa impressão de eterna domingueira
Na casa que se fez sótão soleira,
A juventude segue sem ter ecos.

Amizade moldada na cachaça,
Nas velhas discussões, sentido algum,
O rumo tantas vezes foi nenhum,

Conversa que afiada, é só chalaça.
O tempo ruminando feito boi,
E tudo o que eu sonhei, depressa foi...


59


Arcádias que carrego, mineirices.
Tolices entre vasos que quebrei.
Matando uma princesa, não fui rei,
Jamais me encantarei com falsas misses.

Os amores eternos são crendices,
Quem disse que contigo não sonhei.
Servindo ao que pretendo, mergulhei
Nos vastos que deixaste e não cobices.

Apátrida emoção, amor é todo,
No quanto ainda fora algum engodo,
Rolando sobre as pedras, sigo inteiro.

Quem vê cada faceta desta cena,
Não sabe que ilusão se concatena
E mostra o alagamento no ribeiro...


60

Arcanas fantasias? Não suporto,
Seria muito bom ser mais feliz,
Quaresma de minha alma isso desdiz,
Singrar inutilmente sem um porto.

Estando há tanto tempo quase morto,
Não quero ser de novo um aprendiz,
E quando em teus brilhantes eu me corto,
A sorte vai mudando o seu matiz.

Acaso nada tendo senão isso,
A vida não premia o compromisso
E deixa ao deus-dará tal vaga-lume.

Catando cada vento que não vem,
Queria ter quem sabe um novo bem,
Porém a solidão virou costume...



61


Arcando com meu sonho mais constante
Vagando pelo corpo ensandecido
Bebendo desta fonte deslumbrante
Meu passo sempre ereto e decidido.

Amor em louca entrega num instante
Ao fogo do desejo recendido
Vertente das vontades, triunfante
O vencedor por ele foi vencido.

Delícias neste karma desejado,
Alvíssaras, augúrios e festejos.
No poderoso rei, um delicado

Momento em que decerto vou entregue,
Na calmaria intensa relampejos,
Na luz que se deseja, sempre cegue..


62


Arcando com meus erros e vitórias
Jamais me arrependendo, sigo em frente.
Lauréis entre derrotas tão inglórias
Depois de tudo, em ti, ando contente.

Aprendo a cada dia em novo enfoque
Olhar com mansidão este horizonte.
Por mais que tão distante eu nunca toque
A lua tão sublime enfeita o monte.

Porém quanto é possível perceber
A magnitude plena deste amor.
No dar sem procurar nem receber
Felicidade expressa o seu valor.

Assim amar além e sem fronteira
Uma emoção maior, pois verdadeira...


63


Arcando com os desejos mais profanos,
Encontro nossos corpos bem unidos.
Os cantos que me encantam, nossos planos,
Adentram noite inteira em mil gemidos.

Assaz feliz me fazes, saiba disso.
Sou teu e neste sonho eu me entreguei.
Amor quando demais não perde o viço,
Amar é na verdade, a nossa lei.

Somando nossos corpos, peles, vícios,
Salivas e sussurros noite afora,
Amar não tem momentos mais propícios,
Preciso de teu corpo, justo agora.

Inundações atlânticas rebentas,
Paixões que nos dominam, violentas...


64

Arcos e marcos, passos nesta escada.
Abrindo uma janela ao paraíso.
Vertendo em mil gemidos, nossa estrada
Perdendo em teus caminhos meu juízo.

Nas cores de teu corpo eu me matizo,
E quero tua pele transformada
No altar em que percebo sem aviso
A fonte do desejo iluminada.

Oráculos perfeitos, peitos, lábios,
Meus dedos com certeza vão bem sábios
Até que ao encontrarem teus regatos

Molhados nos rocios dos prazeres,
Fazendo de teu corpo, em mil talheres,
Banquetes divinais em finos pratos...


65


Ardendo um corpo em febre, latejando
As dores recebidas, desafetos.
Matando as esperanças feitas fetos
As facas dos canalhas dardejando.

O medo de viver vai se espalhando
Marcado pelos fatos mais concretos.
A vida permitindo sempre os vetos
Daqueles que decerto vão roubando

Os sonhos desta frágil multidão
Vendida nos palácios, nas Igrejas,
As carnes sem valor e malfazejas

Não sabem discernir a claridade
No aborto que se faz em profusão.
Talvez só reste um rumo: uma amizade.


66


Ardente sentimento diz do sol
Que toma nossa vida e nos faz crer
Quão belo e mavioso amanhecer
Tomando em fantasia este arrebol.

Não quero ser somente um triste atol
Que estando solitário, do sofrer
Não pode uma esperança conceber
De todas as belezas, girassol.

Assíduas emoções que se prometem
Enquanto tais loucuras se cometem
Fornalhas das perfeitas emoções.

O amor que nos domina traduzindo
Um dia tão fantástico surgindo
No fogo que não cessa, o das paixões...



67


Ardente; a nossa busca não se encerra
Somente num prazer tão corriqueiro,
A fúria dos desejos paz e guerra
Misturas deste insano feiticeiro:

O amor que vai cevando em fria terra
Sementes nesta espécie de viveiro.
O olhar extasiado já se cerra
Pensando neste amor mais verdadeiro.

Silêncio, não se escuta nesta noite,
O gozo tão fantástico, um açoite
Cortando nossas carnes, nos lambendo.

Salivas e suores; compartilhas,
Seguindo estes caminhos, belas trilhas,
Até que o sol ressurja, amanhecendo...


68


Ardentes maravilhas que descubro
No corpo da divina criatura,
O matiz de um desejo é sempre rubro,
Assim como os lençóis de seda pura.

Tirando a camisola, de mansinho,
Os seios pontiagudos pedem lábios,
E envoltos pelas tramas do carinho
Sabemos ser decerto bem mais sábios.

As chamas enrubescem nossa cama,
As tramas deixam drama para trás;
Vermelhas maravilhas entre as pernas.

A moça tão gulosa que me chama
Querendo todo o gozo que o amor traz,
Conhece estas carícias tenras, ternas...


69


Ardentes sensações que nos provocam,
Espero logo ali, tão mudo, inquieto.
Sabendo que somente me completo
Nos olhos mais divinos que me tocam.

Carinhos e detalhes que retocam
Um sentimento enorme e predileto.
Marcando cada noite com afeto,
Meus braços para os teus já se deslocam.

Numa exclusividade que não nego,
Amor sendo sensível, faz a festa.
Uma alegria imensa que se empresta,

Num sonho tão antigo que carrego.
Abrir de uma esperança mais que fresta
No colo de quem amo assim me entrego...



70

Ardis nos quais preparas cada bote,
O mel em tua boca diz ferrão.
A lua se enredando em solidão,
Permite que este sonho se desbote.

Ao ver tanta beleza em teu decote,
Meus olhos se encantando. Mas em vão,
Apenas em teus sóis a negação,
Apagas do caminho cada archote.

E sigo pela noite tão sombria,
Noctâmbulo fantasma da agonia
Amordaçando um sonho a cada esquina.

Embora tantas vezes eu quis crer
Que a vida seguiria em teu prazer,
Porém tanto vazio me alucina.

71


Ardores insensatos, mil segredos,
Apaixonadamente estamos juntos.
Percorrendo o teu corpo, vão meus dedos,
Decifro teus abismos mais profundos.

E crio um mundo louco onde o prazer
Se torna um aliado inseparável.
Em tantas alegrias converter
Amor que a gente faz, insuperável...

Paixão! Desejo! Sonhos... Vibrações...
Materiais que formam nosso canto.
Renovam-se loucuras, sensações,
Vasculho teus caminhos, cada canto.

Verter cada momento de emoção,
No toque mais veloz do coração...


72


Areias escaldantes do deserto.
As brancas testemunhas deste ocaso.
Amor que traduzimos por incerto,
Morrendo na tardinha, findo o prazo...

Um pobre beduíno, céu aberto,
Espera pelo oásis, ao acaso.
A miragem do amor, sem nada certo,
Olhar pleno e distante, morto e raso...

Areias escaldantes desta praia
Delícias de morenas e sereias...
O sol enamorado já desmaia,

Casais semi-desnudos se acasalam,
Desfilam seus hormônios nas areias...
Camelo e beduíno, nada falam...


73



Areias que em tufões sendo tocadas,
Vibrando em tempestades, se perturbam,
Nas dunas de teu corpo, derramadas
Marés que num momento nos conturbam,

Eu sinto nosso amor nos areais
Que em força sem limites não sossegam
E movediça senda quer bem mais
Que simples dedos mansos que navegam.

Num misto de loucura e sanidade
A sede de poder ser teu se instala
E a carne sequiosa então me fala
Da doce sensação, voracidade,

Prostrando meus desejos em teus braços,
Areias e procelas, sem cansaços...

74

Arengas e discórdias, cordas frouxas,
Governador careca, este fascista
Relembra-me a canção: “Pobre paulista”
Misturas que se fazem: velhas trouxas.

Culpados são vermelhos camaradas.
No fundo a burguesia sempre fede,
E enquanto à bala, a força vem e impede
Bem mais de mil pessoas infiltradas.

Outrora um comunista, agora expõe
A face que o Poder já decompõe
Cuspindo sobre o prato que comeu.

Descendo a serra, chego à conclusão
Que o galo, papo cheio, esquece o grão
Arrota o caviar que o elegeu...


75


Arenosos caminhos deste amor
Que se perdem desertos e desterros,
Vencendo duras urzes do rancor
Subindo por montanhas e por cerros.

As pedras da saudade nos maltratam
Espinhos-solidão nos ferem fundo.
As lágrimas nos mostram e retratam
O corte que percebo ser profundo...

Em meio a tantas vespas dos ciúmes
Nas pragas mais terríveis, tanta inveja,
Nos sobram poucas horas em perfumes
Mas nada faz; enfim, que amor reveja.

Vencendo as desvalidas, más quimeras;
Podemos conhecer as primaveras...



76

Ares de muares são luares
Que atares entre frases indecentes
Se os versos são versões incoerentes
Eu colho cada abrolho em meus pomares.

No molho furando olho risco bares
Calandras são meandros destas gentes
Assando meus temores em teus dentes
Pescando desde quando calabares.

As cáries vão roubando cada esmalte
Destilo teu amor em puro malte
E cevo da cevada a solução.

Se eu vejo o teu retrato na parede
Cerveja vai matando a minha sede
Depois não vem pedir explicação...


77


Argênteas doçuras, branca neve,
Nestas trevas noturnas, um oásis...
Aos poucos com carinho leve e breve
Mudando sua face em tantas fases.

Dessas névoas, coberta, fino véu...
Vagando solitária num deserto.
Rainha maviosa do meu céu.
Em seus braços futuro vai incerto...

Eu amo suas rendas, seu cetim.
Em brancas, alvas luzes, me inundando.
O bom de todo amor que existe em mim,
Nas horas mais tardias, transmudando.

Beleza que me encanta, toda nua...
Deitada em minha cama, amada lua...


78


Argutas seduções do verso fácil,
Da rima sempre pobre e sem primor,
Por mais que um mundo nobre, farto e grácil,
Tentara; inutilmente, recompor.

Sou ácido, meu canto é de aridez,
Na seca permanente, me atrofio,
E enquanto a fantasia se desfez
Perdi do meu destino, cada fio.

Apago os meus sonetos. Os renego.
São tolas expressões de um sentimento
Que um dia, ao caminhante amargo e cego,
Serviram pelo menos como alento.

Vomito sobre cada poesia
Que uma alma transtornada, aqui desfia



79


Armando nos beirais, um alçapão,
Ascendo à força estúpida do sonho.
Aonde, caricato, ainda ponho
O pássaro senil de uma ilusão.

Verificando os erros do passado,
Aleijo o que talvez fosse esperança.
A louca servidão serve de herança
A bola foi além deste alambrado.

Cercárias que carrego, cercanias,
Acerca do que a cerca não impede.
Nas mãos, as velhas flores já murchando.

Delírios se transformam em manias,
Sem crédito e sem sonho que me vede
O que restou de mim, fugindo em bando...


80


Armarinho divino, pois que seja,
Eu vendo qualquer cura ou um milagre
Se a empresa do fiel foi pro vinagre,
Ou se tua ferida inda lateja

Terá aqui por certo, o que deseja,
Desde que este Pastor, com grana sagre.
Se não tiver dinheiro. Ele fica agre,
E assim ninguém terá o que se almeja.

Só dez por cento, além destas ofertas
Que servem para a glória do Senhor.
As portas estarão, garanto abertas

Para aqueles que cumpram seu dever,
Sabendo que ao dinheiro tinha horror,
Eu faço um sacrifício: receber!


81



Aroma sem igual eu percebi
Além do que cultivo na lembrança
Chegando de mansinho junto a ti,
Recebo o doce vento da esperança,

Não quero mais saber do que perdi
Se um novo alvorecer amor alcança.
Depois que em alegria eu conheci
Alguém que me convida para a dança,

Não nego que encontrei felicidade,
Vivendo o nosso amor, que é de verdade...
Eu tenho esta alegria que eu almejo.

Não deixe que isso acabe minha amada,
A vida sem te ter, resume em nada
Eu quero o teu amor tão benfazejo.


82


Arpejos dissonantes e lascivos,
Carnívoras vontades luz sanguínea,
Tentáculos mordazes, decisivos
Decifro de teu corpo cada alínea

Convulsos e frenéticos espasmos
Numa expressão por vezes violenta
Serpenteando nua, seus orgasmos
A noite em explosões já se apascenta

Flameja-se esta insana atracação
Os mucos misturados entorpecem.
Letárgico opiáceo da paixão
Esculturando as cenas que se tecem

Enlanguescentes raios emolduram
Vorazes explosões que se procuram..



83


Arquitetara outrora, uma saída
Que pudesse fazer do labirinto
Somente algum vulcão há muito extinto,
Mudando a direção de minha vida.

Minha alma, sem destino, distraída,
Sabendo que deveras tanto minto,
Vestindo a carapuça em que ora pinto
Forjou a alegoria, vã, fingida.

Dos altos edifícios, sou o térreo,
O amor que antes julgara quase férreo
Esvai-se qual papel numa enxurrada.

Notícias do que fui? Já não as tenho,
Sementes que encontrei no mar que embrenho,
Morreram sem deixar qualquer florada...


84


Arranco as emoções, liberto o peito
Fazendo dos meus versos, lenitivo,
Nas tramas mais fantásticas meu pleito
Mantendo o sentimento ainda vivo.

Se tudo o que pedi tivesse aceito
O desgrenhado amor, porém altivo
Derrama a solidão sobre o meu leito,
De todos os desejos já me privo

E sigo em falsos risos, tropeçando,
Não tendo uma esperança uma alma à toa,
Apenas fantasia ainda ecoa,

Na busca insaciável desde quando
O vento que julgara manso e brando
Afunda a cada dia, esta canoa...


85

Arranco as velhas flores desbotadas
Deixadas por acaso em meu jardim...
Limpando o que pior existe em mim
As hordas em penúrias disfarçadas.

As farpas entre beijos demonstradas,
Não servem para nada, e sigo assim,
Rolando como as pedras vou ao fim
Das fúnebres e estúpidas estradas...

Relendo o que escrevi sobre este caso
Entendo cada vez o nosso ocaso,
E sei que a ocasião faz o bandido.

Semente apodrecida da esperança
Brotando num momento de vingança
Restando o coração, já desvalido....


86



Arranco com vontade o coração
Um simples adereço sem valor.
Não quero teu olhar de compaixão
Melhor matar o velho trovador.

Rasgando com vontade e sem perdão,
Meus olhos vomitando num louvor
Incandescências tolas, erupção
Num último soneto, ingênuo amor.

A fome de viver e ser feliz
Morrendo neste palco, pobre atriz
As mãos impiedosas e venais

Vibrando um golpe duro ao qual me presto,
Eviscerado e cego sigo resto,
Desfigurantes brilhos sensuais...


87


Arranco do meu peito o sentimento
E deixo para trás esta emoção.
O vento transformado em furacão
Levando para longe o pensamento

Encontra o teu retrato e num momento
Ainda roça leve, o coração
Verso como uma espécie de oração
Reflete o que se fez duro tormento.

Meus dias vãos passando mais dispersos
Dizendo de outros tempos tão perversos,
Tornando este cenário, então nublado

Quem dera se tivesse uma ternura,
A senda do viver sem amargura
Traria um novo tempo. Abençoado...



88


Arranco esta emoção e esmago o velho peito,
Matando o que restou de um louco sentimento.
Quem tanto se entregou, agora vai sem jeito
Depois da tempestade apenas manso vento

Tomando qual posseiro, inteiro o pensamento.
Qual fosse um viajante a cada curva espreito,
Aguardo, tocaiando, um novo e bom momento
Aonde em salto livre, invada o parapeito

E sinto, finalmente, o gozo libertário
Que faz do amor sereno apenas ilusão.
Não quero esta palavra algoz de um coração.

Arrancando de mim o cruel adversário
Meu verso se faz forte e até mesmo mais duro
Ao despolinizar, tornando-me, enfim, puro...



89

Arranco minha pele esmago os olhos,
E mostro uma nudez mal disfarçada.
Andando por caminhos com antolhos,
Durante tanto tempo não vi nada

Senão uma promessa que em abrolhos
Demonstra uma dureza nesta estrada.
Que é feita um puro espinho, extorque os molhos
Das flores que morreram na invernada.

Meus versos são mais rudes e venais
Porém só se amenizam quando escuto
Um laivo de esperança que me traz

Palavra carinhosa e mais amiga.
Por vezes escondido no meu luto,
Teu canto assim permite que eu prossiga...

90


Arranco o que restou de minha vida
Dispersas emoções, pratos quebrados.
Momentos fragilmente deslumbrados
E o gosto nauseabundo da partida.

Jogado sobre as pedras e alambrados
Quem sabe e reconhece não duvida,
A carne latejante e apodrecida
Ainda teima e, às vezes gera brados.

Aonde restaria o que não pude
Trazendo como brinde este alaúde,
Helmintos devorando o que sobrou.

Vertendo a fantasia em farto pus,
Percebo mais suave a minha cruz
Depois que a fantasia me deixou...



91


Arranco os olhos e bebo a tempestade
Na vastidão do nada que plantei.
Vestígios do que fomos nesta grade
Marcando o que em verdade não busquei.

Embalo os meus resquícios, liberdade,
E tento confundir, mas nem mais sei
Se o vento vestirá tranqüilidade
Ou mesmo matará o que sonhei.

Se há penas ou penhascos, não me importa,
A mesma solução é reta ou torta
Depende do que os olhos me diriam

Mas como os arranquei, apenas vejo
A boca escancarando um vão desejo,
Estrelas que distantes sempre esfriam...



92


Arranco os olhos falsos da pantera
Vencida pela força da ilusão.
Algoz da fantasia, sem perdão,
Matando o que restou em fria espera.

Beber felicidade. Quem me dera.
Vivendo ao deus-dará, sem direção,
A culpa destroçando o coração,
Não tenho mais nem flor ou primavera

Aroma putrefato, risco imenso,
Nem mesmo em teu retrato ainda penso,
Jogado na gaveta mais sombria.

Porém terrível fera não se cansa,
Voltando a reviver numa lembrança,
Um carrossel soturno, rodopia...



93


Arranco os podres galhos do arvoredo
Que trago dentro da alma carcomida
E assim procuro crer que uma saída
Virá no amanhecer. Assim concedo

E parto num cometa. Sei segredo
Que possa permitir na nova vida
A sorte que julgara já perdida;
Supero com firmeza o velho medo

Refaço dos escombros a jornada
Que tantas vezes, nunca deu em nada,
Espero após a poda; o florescer

Apóio os cotovelos na janela,
E o sonho que em teu sonho ora se atrela
Talvez inda me trague algum prazer.



94


Arranjo alguma chance, nada além;
Dos olhos feitos lanças, serviçal.
Ao par que se perdeu não quero o mal,
Mas posso confessar, não quero o bem.

Reflito sobre o espelho que ora vem
Falar do quanto sou frio ou boçal,
À velha fantasia digo tchau,
Cremando o que restou, sobra ninguém.

Dispenso a tola ajuda da ilusão,
Nem cálices nem bares, volto ao chão
De tantas pedrarias, queda à vista.

Arrebentando assim minhas correntes,
Trazendo a faca presa entre meus dentes,
Fingindo ser somente algum turista...


95

Arranco vorazmente do meu peito
As marcas deste amargo sentimento.
Amor já se perdendo num momento,
Teria o meu caminho satisfeito.

A noite se aproxima do meu leito
Trazendo entre neblinas, duro vento,
Teu rosto sobressai no pensamento.
Risonho, neste instante, tudo aceito...

Depois tanto vazio me tomando,
Aguardo alvorecer em vento brando,
Persiste o mais temível vendaval.

Quem dera... Mas o sol inda não veio;
O rio se perdendo do seu veio,
Recebe do teu mar o fel e o sal...



96


Arrasta-me depressa, a dura correnteza
Mostrando minha sina, eterno perdedor,
Farrapo a me cobrir, frágil aquecedor
Expõe a minha face, e nela uma certeza.

O dia que virá, imerso em tal tristeza
De novo me fará um mero sonhador.
Catando o que me resta um corpo exposto em dor,
Jogado friamente aos mares da incerteza.

Somando o que eu já tive; eu vejo muito pouco,
Andrajos que carrego, um riso insano, louco,
Gargalho como um rude em vagas ilusões,

Afago em ironia, os olhos da serpente
E bebo a fantasia em risos de um demente
Sentindo o frio intenso em vagas tentações.



97


Giros arrastados na cantiga,
Na roda que me deste nada fiz...
As mantas que me cobres, forte viga
Sustenta quem amou, foi aprendiz...

Não vejo nem desejo que consiga
A mão que se caleja nada diz,
O medo que me impede que prossiga,
Fornalhas que incendeiam, céu mais gris...

Nas bordas dos recôncavos estrias,
Nas cordas das sonoras melodias,
Nos bancos que me trazem teu passado.

Nos cancros que causaste sem perdão.
Amor que me percorre aliviado
Explode num momento, o coração!


98

Arrastando correntes pelas ruas,
Esfolo os meus joelhos na ilusão.
Minha alma na total putrefação
Procura na rapina carnes cruas.

Selando o paraíso que cultuas
Eu trago o meu olhar de servidão,
Porém sem ter sequer calefação
No inverno que eternizas, continuas.

Helmintos me devoram; sorrateiros,
Os olhos dos amores rapineiros
Eu sei que são agudos, frias garras.

Os lanhos que ganhei, sublime herança,
A morte talvez traga a temperança
Rompendo assim as últimas amarras...


99

Arrastas mendigando um gozo pleno,
Vergastas estalando em tuas costas,
Afastas me entregando como gostas
As pernas, me chamando em louco aceno.

Penetro com meus dedos cada loca,
Rasgando com furor e tu deliras;
Pedindo como escrava que te firas,
Teu corpo aprisionado me provoca

E chama para o gozo feito em dor,
Maltrato tal cadela que gemente,
Delira nos meus braços tatuada,

Marcada a ferro e fogo, num torpor
Numa explosão feroz e intensa sente
Prazer como uma fera alucinada...

3200

Arrastas o teu corpo moribundo
Por entre os espinheiros que cevaste.
Um ser tão desprezível vaga o mundo
Expondo assim seu cerne em vil desgaste.

Um verme simplesmente, nauseabundo,
É tudo o que em verdade te tornaste
Morfético canalha, ser imundo
Com o lodo jamais fará contraste...

E teima em respirar, tal criatura,
Cadáver ambulante, decomposto,
O olhar que rapineiro vai exposto

Incrível que pareça; isso perdura,
Um dia foi humano, hoje este bicho
Entranha-se no esgoto. Resto e lixo...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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