Quando o poeta Vinícius de Moraes morreu, eu era cronista e redator do Diário Popular, hoje Diário de São Paulo, onde também trabalhei com os dois títulos.
O editor chefe, sabendo do meu apego e amizade por Vinícius não quis me dar a notícia. Nunca leio jornais. Nem mesmo o que escrevo. Leio apenas as minhas crônicas para corrigir os erros. Mas muitas vezes fui salvo pelos revisores que hoje, com a informática, não existem mais. Pena. Eram tão jornalistas quanto eu que aparecia e eles não.
Mas a morte de Vinícius,ocorrida numa manhã, na sua banheira, onde ele sempre escrevia, com seu copo de uísque, só me foi dada à noite.
Chega à redação do Diário o compositor Zé Keti, autor de Máscara Negra e outros clássicos da música brasileira. Vai direto à minha mesa,onde eu estava dando um trato nos textos dos estagiários. Espera que eu termine. E me diz:
- Vamos descer até o bar. Preciso falar com você.
Zé Keti era meu amigo, mas nunca ia à redação. Pensei que quisesse matéria. Acabei de fazer o que tinha e desci.
Não queria matéria. Pedi uma bebida no bar Estadão, onde há até hoje o melhor sanduíche de pernil de São Paulo. Zé pousou a mão no meu ombro e teve calma para me contar:
- Fica calmo. Vinícius morreu. Já foi enterrado.
Me veio um nó na garganta. Pedi o segundo uísque. Entornei de um gole só. E vi que esta vida é uma merda. Se me tivessem falado no jornal, sabiam que eu ia ao Rio vê-lo. Mas me tapearam. Ou quiseram me poupar da perda do amigo querido. No dia seguinte, só me restou escrever, na minha coluna, uma crônica para ele. E a quem possa interessar, porque já escreveram muita bobagem a respeito, Vinícius não morreu da bebida,que tanto gostava. Mas de diabetes. Comia doce pra caramba escondido, sem poder.
___________
júlio
Júlio Saraiva