Hoje apetecia-me dar um passeio pela cidade
E pela praça do Geraldo andei a pé
Parei bem no centro
E contemplei o espaço
Como se de uma sala se tratasse
Perto de mim pousou um pombo
Talvez um residente daquela sala
Que debicava na calçada nua sem nada encontrar
Por gestos lá fui chamando
E veio até mim
Por algum tempo não me deixou
E olhando aquele pombo
De penas cinzentas e íris vermelhas
Com fome e um olhar ternurento
Deixando que eu lhe acaricia-se as penas
Ficando ali
Quieto sem voar
Era apenas um pombo que se queria alimentar
Fiquei feliz e agradecido
Por encontrar um novo amigo
Por momentos lembrei-me de todas as crianças
Que em condições semelhantes
Ainda possuem forças
Para nos lançar um simples sorriso
E um olhar igualmente cheio de ternura
Á espera que os corações dos homens se lembrem
Que também existem
Quando decidi ir embora
O pombo olhou fixamente para mim
E parecia dizer-me
“Quando regressares a esta minha enorme casa
Eu cá estarei junto de ti enquanto descansas
E verás que ainda existo
Como pombo e como teu amigo”